Arma de
dois Gumes
Lino Teles (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Fevereiro de 1956
O pensamento é uma
força criadora, sempre ativa, capaz de realizar milagres, quando exercitada com
perseverança e intensidade.
Essa poderosa força
não é, quase nunca, acionada pela lógica, com finalidade superior. É movida
pelo sentimento, bom ou mau, e pode tornar-se arma muito perigosa, criando
tormentos para o agente e para outrem quando mal dirigida.
Quando movida pelo
medo, essa força engendra coisas pavorosas como a guerra, a tirania, o
despotismo, as doenças graves, a loucura, o suicídio etc.
Pensando
medrosamente que estamos ameaçados de um perigo, praticamos as maiores loucuras.
Quando dirigida
pelo amor, essa força cria um paraíso para o pensador: retira-o de todas as
realidades penosas e fá-lo viver em seu próprio mundo mental, povoado de
alegrias que podem ser ilusórias, passageiras, mas de qualquer modo são
deliciosas. É esta a situação do verdadeiro idealista que já goza os encantos
de um futuro belíssimo, ainda inexistente no mundo objetivo mas para ele já
real e vivo.
Entre esses dois extremos, do bem e do mal,
há um campo muito vasto de banalidades no qual o pensamento está sempre criando
coisas de pouco valor, muitas vezes inspiradas pela sede de gozos pelas vaidades
fúteis, por egoísmos infantis, pelo desejo de salientar-se. Poderíamos dar-lhe o
nome de “campo de passatempo” ou “campo do tempo perdido”, porque nele realmente
ficamos estacionados durante tempo incalculável, até que a dor caridosamente
nos venha despertar da ociosidade.
As doutrinas que
nos amedrontam com ameaças de sofrimentos eternos no Além-Túmulo, como as das
igrejas, engendrando em nossa alma sentimentos negativos e desânimo, acionam nosso
pensamento para a criação de doenças, privações, desespero, profundas
tristezas, insucesso em todos os empreendimentos. Tais doutrinas, enquanto
foram realmente aceitas, causaram tremendos males à Humanidade. O último mal
que criaram, e que não foi o menor, foi a descrença generalizada em qualquer
forma de sobrevivência à morte do corpo, a negação pura e simples da vida
espiritual e de Deus, e, consequentemente, o desprezo pelo homem e pela vida. A
Humanidade passa hoje pela fase penosa dessa descrença que se originou do pessimismo
religioso das igrejas que criaram o Inferno para a quase totalidade dos homens
e negaram qualquer princípio espiritual aos animais.
As doutrinas
sublimes que ensinam a Salvação universa!, como o Espiritismo, a Teosofia, o Budismo,
criam pensamentos de fé que remove montanhas, engendram ideais para realização,
a longo prazo ou sem prazo, dentro da eternidade e do infinito. Transformam
tudo tais doutrinas de otimismo, e nos dão força de criarmos desde já o mundo
ideal que ambicionamos e que sabemos com absoluta certeza que virá a existir,
porque todos os seres são progressivos, quer queiram quer não, e rumam para a
perfeição moral que há de santificá-los e levá-los a organizações harmoniosas e
belas.
Com a posse de tais
doutrinas que ensinam e provam a reencarnação e o aperfeiçoamento espiritual, o
pensamento deixa de ser uma força perigosa e passa a funcionar como a mais
construtiva das ferramentas.
Sabemos que uma
grande parte dos terrícolas não se acha com evolução bastante para assimilar as
doutrinas idealistas como a do Espiritismo, porque conservam os velhos hábitos
da maledicência, da descrença, e passam superficialmente pelos grandes
princípios que nos são revelados. Fazem do Espiritismo novo campo de batalha
contra os adversários ou até contra companheiros, São espíritos que em tudo
encontram motivo para se aborrecerem; mas esta situação é passageira, terá que
ser substituída pelo otimismo sadio dos que já sabem criar seu mundo feliz e
nele habitar, ao abrigo de todos os perigos.
No movimento
espírita brasileiro, que já vem realizando obras maravilhosas em relação ao
número percentual da população, sentimos a força do pensamento canalizado para
grandes transformações, para uma verdadeira revolução do mundo. É dentro do
movimento espírita brasileiro que surgem os esperantistas mais ardorosos,
crentes fervorosos na vitória do ideal esperantista. A fé dos espíritas
esperantistas remove todas as montanhas na criação de um mundo melhor; firma a
segurança da vitória de todos os grandes ideais.
Para o espírita
esperantista consciente, não existe a força perigosa do pensamento; só existe a
força criadora invencível do pensamento. E como salário antecipado ele já vive
desde hoje no mundo ideal que seu pensamento sabe criar; já leva o seu céu no coração, quer esteja
na masmorra da carne ou nas luzes da Espiritualidade.
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