O pão é nosso
Vinicius (Pedro
de Camargo)
Reformador (FEB) Janeiro 1943
O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje... eis o que Jesus nos
ensina a pedir diariamente.
O pão nosso, notemos bem. Não é o meu, nem o teu, nem o
dele, nem o vosso: é simplesmente o "nosso". O possessivo
"nosso" quer dizer que é de nós, que respeita aos homens em geral.
Solicitamos, portanto, a parte que nos toca daquele pão que é de todos, que é
próprio e natural da terra onde nascemos, ou seja do planeta que ora habitamos.
O adjetivo "nosso" tem acepção genérica e não particular.
O pão, pois, que vem da terra é nosso, é do gênero humano,
por isso que constitui necessidade inalienável de todos, sem distinção de raça,
nação, povo ou classe. É Deus quem no-lo dá, porquanto, a germinação do grão no
seio da terra importa noutros tantos milagres da multiplicação dos pães,
prodígio esse que se opera à revelia nossa.
"O homem semeia, Deus dá o crescimento". O homem
ingere o pão, Deus o transmuda em sangue, base da vida animal. Daí por que
devemos pedir o pão a Deus e não a outros homens. Cumpre, pois, reconhecer com
humildade que o pão vem de Deus para todo o gênero humano. Rogamos que nos seja
dada a parte desse pão, necessária à nossa subsistência. A parte procede do
todo, desse "todo" que é de todos, não constituindo, por conseguinte,
propriedade exclusiva de ninguém.
O pão para o corpo, como o pão para o Espírito, isto é, tudo
o que concerne às necessidades humanas sob seu duplo aspecto - material e
espiritual - constitui um bem que vem de Deus, uma dádiva do Pai celestial a
todos os seus filhos, indistintamente, por isso que "Ele faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir as chuvas para
fecundar o campo dos justos e dos injustos."
Não existe diferença fundamental entre o pão do corpo e o da
alma. O pão simboliza os reclamos do homem, tanto em sua matéria, como no seu
Espírito. Por isso, na santa ceia, Jesus tomou o pão inteiro e, partindo-o, deu
a cada discípulo a parte que lhe tocava, dizendo: Tomai e comei. Na justa
distribuição do pão está a divina eucaristia; pois em tal importa o cumprimento
da soberana Lei do Amor.
A Terra é nossa, o pão é nosso, o planeta é nosso, o sol é
nosso, as chuvas são nossas, o ar respirável é nosso; as possibilidades são
nossas, as faculdades de melhorar, subir e crescer nos conhecimentos e na
virtude, no bem e no belo são, igualmente, nossas.
Enquanto os homens não compreenderem essa sublime verdade e
não se orientarem por esse critério, não haverá paz nem felicidade neste mundo.
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A crença cega
é morta, comparável à luz mortiça dos ambientes fechados.
É preciso
ler, estudar, perquirir sempre, como quem sabe que o progresso e a verdade são
infinitos.
Procurem os
bons livros e terão adquirido um cabedal de vida eterna, patrimônio da alma.
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