A dor
é
instrumento
da lei divina
Parte
4 e Final
Indalício
Mendes
Reformador (FEB) Abril 1973
Deixamos claro, em artigo anterior,
pela palavra do douto Emmanuel, que Jesus não veio à Terra como um enviado
qualquer, mas como o Grande Enviado, o maior de todos, por ser o Governador do
Planeta, cuja criação e desenvolvimento, inclusive o aparecimento e a evolução
da vida em suas múltiplas formas, orientou. Os emissários que o precederam
deixaram ensinamentos valiosos, proporcionais ao entendimento da humanidade de
cada era, foram seus mandatários, incumbidos de aclarar o caminho dos homens,
de lhes oferecer oportunidades para crescerem moral e espiritualmente. Mas não
lhe foram superiores, nem sequer iguais, embora tais ensinamentos estejam, em
muitos pontos, conformes com a essência do Evangelho. Não poderia deixar de ser
assim, sendo eles, como o foram, seus enviados. As crenças existentes, os ritos
estabelecidos, as interpretações dadas à origem do Homem e à sua vida, assim
como ao problema teleológico, diferem, em muitos casos, por haverem sofrido a
influência restritiva de pontos de vista humanos e também porque se ressentiram
de princípios destinados a atender a conveniências e interesses de grupos
religiosos, dogmáticos e prisioneiros do sectarismo, empenhados em assegurar o
poder e a sobrevivência de suas "religiões". Verificar-se-á,
entretanto, haver uma certa unidade nessa enorme diversidade, porque muitos são
os caminhos que levam a Deus, assim como inumeráveis os modos de compreender,
assimilar e sentir a Verdade.
O princípio comum a todas as
religiões é o BEM. A finalidade de todas elas é conduzir o homem à felicidade,
através do progresso moral e espiritual. Todavia, nada se consegue sem o
disciplinamento do caráter do homem, de sua educação, de sua preparação para
entender a razão de sua estada na Terra, o motivo de sua vinda e de sua volta
ao termo de cada encarnação. A dor é instrumento da Lei Divina e o seu meio de
fazer justiça é o Carma, convém repetir. Sendo a Terra um mundo de provas e
expiações, nela encontra o Espírito falido, pela oportunidade da reencarnação,
o ensejo de trabalhar por seu próprio progresso, colaborando, ao mesmo tempo,
para o progresso alheio. "Só a dor,
efetivamente, pode consumir e destruir os germes impuros, os fluidos grosseiros
que tornam pesado o ser psíquico e lhe retardam a elevação. Considerando este
ponto de vista, a doutrina dias reencarnações restabelece a justiça e a harmonia
no mundo moral. Sendo, como é, o mundo regido por leis ordenadoras, pode dar-se que no
mundo psíquico só haja desordem e confusão,
conforme ressalta da crença humana numa vida única para cada um de nós? A filosofia
das vidas sucessivas
vem restabelecer o equilíbrio e mostrar-nos
que a mesma
ordem admirável se verifica nas duas faces do universo e da vida, que se reúnem e
fundem numa unidade perfeita" - pondera Léon Denis, em "O Além e
a Sobrevivência do Ser", p. 93. Não
há justiça com egoísmo, tanto que, procurando reparar o mal, corrigindo-o, a
Lei torna evidente a necessidade do bem, deixando à inteligência humana
compreender, a princípio intuitivamente, que não há efeito sem causa e que toda
causa traz consigo fatalmente um efeito.
F. Kastberger apresenta algumas noções
gerais do Carma, mostrando que os hindus também
creem na existência de outros mundos, para onde são transferidos os Espíritos recalcitrantes
e endurecidos, quando não mais lhes for permitido continuar refratários às normas
divinas, por haverem esgotado as oportunidades que tiveram para se reabilitarem
de erros e infrações graves. Há mundos em que as condições de vida são muito
piores do que as da Terra, como outros há, do mesmo modo, bem melhores, mais
avançados, para onde se dirigirão os Espíritos redimidos, merecedores, por isto
mesmo, de incentivos maiores
à continuação de sua marcha ascendente para Deus.
Tais ideias são perfeitamente
aceitáveis pelos espíritas, embora outras, como a metempsicose, por exemplo,
não mereçam a sanção da Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec. " ... nós, todos, exceto aquele que foi
e será desde e por toda a eternidade, todos fomos, na nossa origem, essência espiritual,
princípio de inteligência independente, capaz de raciocínio, Espírito em estado
de formação; todos hemos passado por essas metamorfoses, por essas transfigurações
e transformações da matéria, para chegarmos à condição de Espírito formado, de inteligência
independente, capaz de raciocínio, com a
consciência da sua vontade, das suas faculdades e de seus atos, por efeito do
livre arbítrio, condição de criatura independente, livre e
responsável. O que voo revelamos não é metempsicose. O que pomos sob os vossos
olhos é a lei natural, é a igualdade perante Deus, de tudo o que existe, de
tudo que vos pode ferir os sentidos". (1)
O budismo lamaísta é reencarnacionista
e apresenta alguns pontos de contato com o Espiritismo.
Acha, no entanto, que "é somente o
Carma que sobrevive, e aciona, é o nó, em redor do qual se agrupam os fatores
da nova existência, dado que não haja uma consciência propriamente
dita que se radicaria numa alma substancial que tampouco existe". (2) A linguagem é
confusa e difusa, mas permite inferir que o Carma permanece em ação enquanto o
Espírito não se liberta totalmente das responsabilidades contraídas. Nos livros
ditados pelo Espírito André Luiz ao nosso Chico Xavier, encontraremos, em
linguagem clara e simples, a explicação espírita sobre a mecânica da justiça
divina, principalmente em "Ação e Reação". Dada a natureza
do assunto, os textos devem ser facilmente compreensíveis. "A missão de André Luiz é ( ... ) a de
revelar os tesouros de que somos herdeiroa felizes na Eternidade, riquezas
imperecíveis, em cuja posse jamais entraremos sem a imdispensável aquisição de Sabedoria
e de Amor"." "A morte
a ninguém propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca promoverá
compulsoriamente homens a anjos. Cada criatura transporá essa aduana da
eternidade com a exclusiva bagagem do que houver semeado, e aprenderá que a
ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são característicos
imutáveis da Lei, em toda parte. - Emmanuel." (3)
Os hindus admitem uma
"causalidade retribuidora" - acrescentamos a título
de complemento ao que dissemos acerca do Carma -, na qual "está radicada a ideia de que a ordem cósmica é simultaneamente uma ordem moral e nessa lei moral todo o fato, palavra e pensamento devem encontrar uma retribuição condigna - a que supõe adequada causalidade que funciona automaticamente como lei cósmico-moral". (4) Estamos concordes com esse pensamento hindu. Mas os tibetanos afirmam que "o Espírito não é um “indivíduo" distinto do corpo que o acompanha. Isso é o que o diferencia da alma, tal como os ocidentais a concebem. O Espírito depende do corpo para sua existência". ( 5 )
de complemento ao que dissemos acerca do Carma -, na qual "está radicada a ideia de que a ordem cósmica é simultaneamente uma ordem moral e nessa lei moral todo o fato, palavra e pensamento devem encontrar uma retribuição condigna - a que supõe adequada causalidade que funciona automaticamente como lei cósmico-moral". (4) Estamos concordes com esse pensamento hindu. Mas os tibetanos afirmam que "o Espírito não é um “indivíduo" distinto do corpo que o acompanha. Isso é o que o diferencia da alma, tal como os ocidentais a concebem. O Espírito depende do corpo para sua existência". ( 5 )
Rejeitamos
tal opinião, por considerarmos indiscutível a individualidade do Espírito, da alma,
conforma ensina a Doutrina Espírita: "As
almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos
seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente
revestem um invólucro comum para se purificarem e sclarecerem." (6) A frase "o
Espírito depende do corpo para sua existência" é inverídica. O Espírito
somente depende do corpo para a sua existência material, terrena. É o veículo
de que ele se utiliza para poder permanecer no plano físico, desempenhando as
funções inerentes à vida neste planeta. Fora disso, porém, o Espírito tem vida
independente e imortal. O corpo, sim, não pode prescindir do Espírito para
assegurar a sua sobrevivência material. E como matéria está sujeito ao fenômeno
a que denominamos morte, que ocorre desde o momento em que o Espírito abandone
definitivamente o veículo carnal.
Para os chineses taoístas, "o
homem contém, localizadas em seu corpo, diversas almas, entre elas três almas superiores,
os houen,
e sete almas inferiores, os p’o. (7) Pela morte do homem, essas diferentes
almas se dispersam, sem, entretanto, deixar de existir. Essa opinião é, porém,
contestada por outra corrente, que diz ser precisamente tal dispersão a causa
da morte... A nossa Doutrina, como se vê, é cristalinamente intuitiva, não tem
complexidades, superfluidades, extravagâncias nem absurdos. Os Espíritos
superiores nos deram uma síntese prodigiosa, evitando a floresta espessa das
dificuldades subjetivas, conservando-se
claros, lúcidos, compreensíveis e objetivos. E Allan Kardec mostrou-se à altura
da missão que lhe coube, revelando extraordinária capacidade de compreensão e transmissão
das mensagens que, depois do seu trabalho codificador, se transformaram na Doutrina
que nos ilumina e conforta, que nos esclarece e prepara para a Vida. Por isso,
e também
por não dispormos de espaço, eximimo-nos de esmiuçar tais doutrinas, embora as
respeitemos, pois têm muita coisa de útil. Ficamos com a nossa, que é
maravilhosamente
simples e perfeita em seu contexto, como inteligível, lógica e perfeita em suas
consequências.
Dispensamo-nos também de examinar a
teoria de que os animais estejam sujeitos igualmente à lei cármica, pela razão
óbvia de não possuírem o “estado de consciência” que alcança o “livre arbítrio”
pelo exercício do qual somos responsáveis pelo que pensamos, dizemos e fazemos.
O “livre arbítrio” é apanágio do ser humano, privilégio do seu elevado estágio
evolutivo. Nos animais prepondera o instinto, embora eles possuam notória
inteligência, principalmente determinadas espécies.mas não podem ser nivelados
ao homem, que pensa, reflete, pondera, julga e decide.
(1)
J.-B. Roustaing - "Os Quatro Evangelhos", I tomo, pp. 306/7.
(2)
F. Kastberger - "Léxico da Filosofia Hindu", p. 143.
(3)
André Luiz - "No Mundo Maior", ed. FEB, 1947, p. 9.
(4) F. Kastberger - Ob. cit., p, 14.
(5)
A. D. Neel - "Immortalité et Réincarnation", p. 43 (nota).
(6)
Allan Kardec - "O livro dos Espíritos", p, 100.
(7) A. D. Neel - Ob. cit., p. 10.
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