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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Literatura Espírita


Literatura Espírita
Editorial
Reformador (FEB)   Abril 1978


            Se é grande a responsabilidade de quem fala, muito maior é a de quem escreve ou edita livros. A palavra escrita, além de guardar imenso potencial de sugestão, possui o poder da permanência, porque resiste indeterminadamente ao tempo. Todas as grandes ideias que influíram decisivamente na vida e na evolução da Humanidade se firmaram e se alastraram através da escrita. Foi assim desde o Código de Hamurabi, editado já faz 4.000 anos.

            Quem pode avaliar com justeza o grau de influência que exerceram e ainda exercem no mundo o "Pentateuco", de Moisés, o pérsico "Avesta", o indiano "Bhagavad-Gitâ" e o árabe "Alcorão"? Que dizer no "República", de Platão, e das obras de Aristóteles, que dominaram o pensamento humano no decurso de séculos? Como estabelecer os limites de repercussão, através do tempo, da legislação espartana de Solon? Como medir as consequências das obras literárias de Agostinho de Hipona, ou da "Suma Teológica", de Tomás de Aquino, ou das 95 teses de Lutero? Será possível, mesmo agora, definir o que representou, para o gênero humano, a obra enciclopédica dos franceses D' Alembert, Diderot, Voltaire, Montesquieu, Rousseau e Jaucourt, editada pelo inglês Chambers? Ou até que ponto o livro de Darwin, "Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural", revolucionou o campo dos conhecimentos humanos? E os escritos científicos de Copérnico, Galileu, Newton, Freud, Descartes, Pasteur e Einstein? De que modo averiguar até onde os romances de Júlio Verne inspiraram feitos gloriosos à inteligência humana?

            Por outro lado, dificilmente teria surgido o Nazismo, de Hitler, sem as teorias racistas do Conde de Gobineau e sem as ideias de Nietzsche e de Schopenhauer; ou o Fascismo, de Mussolini, sem o arcabouço ideológico de Giovanni Gentile e de Giuseppe Prezzolini. O Príncipe", de Maquiavel, e os "Exercícios Espirituais", de lñigo de Oñez y Loyola, causaram mais danos aos povos do que muitas guerras sangrentas. Lembremo-nos de que o Comunismo ateu de nossos dias nasceu da obra filosófica de Karl Marx.

            Iríamos longe, se fôssemos alinhar aqui outros exemplos do poder das ideias escritas, do papel do livro na História. Bastar-nos-á recordar o que o Evangelho de Jesus já fez pela Humanidade. Diz, a esse respeito, Emmanuel, no livro "Roteiro" (FEB, 3ª edição, pp. 91/93): "Quando o Mestre confiou ao mundo a divina mensagem da Boa Nova, a Terra, sem dúvida, não se achava desprovida de sólida cultura. Na Grécia, as artes haviam atingido luminosa culminância e, em Roma, bibliotecas preciosas circulavam por toda parte, divulgando a política e a ciência, a filosofia e a religião. Os escritores possuíam corpos de copistas especializados e professores eméritos conservavam tradições e ensinamentos, preservando o tesouro da inteligência. Prosperava a instrução, em todos os lugares, mas a educação demorava-se em lamentável pobreza. O cativeiro consagrado por lei era flagelo comum. A mulher, aviltada em quase todas as regiões, recebia tratamento inferior ao que se dispensava aos cavalos. Homens de consciência enobrecida, por infelicidade financeira ou por questiúnculas de raça, eram assinalados a ferro candente e submetidos à penosa servidão, anotados como animais. Os pais podiam vender os filhos. Era razoável cegar os vencidos e aproveitá-los em serviços domésticos. As crianças fracas eram, quase sempre, punidas com a morte. Enfermos eram sentenciados ao abandono. As mulheres infelizes podiam ser apedrejadas com o beneplácito da justiça. Os mutilados deviam perecer nos campos de luta, categorizados à conta de carne inútil. Qualquer tirano desfrutava o direito de reduzir os governados à extrema penúria, sem ser incomodado por ninguém. Feras devoravam homens vivos nos espetáculos e divertimentos públicos, com aplauso geral. Rara a festividade do povo que transcorria sem vasta efusão de sangue humano, como impositivo natural dos costumes. Com Jesus, entretanto, começa uma era nova para o sentimento. Condenado ao supremo sacrifício, sem reclamar, e rogando o perdão celeste para aqueles que o vergastavam e feriam, instala no ânimo dos seguidores novas disposições espirituais. Iluminados pela Divina Influência, os discípulos do Mestre consagram-se ao serviço dos semelhantes. Simão Pedro e os companheiros dedicam-se aos doentes e infortunados. Instituem-se casas de socorro para os necessitados e escolas de evangelização para o espírito popular. Pouco a pouco, altera-se a paisagem social, no curso dos séculos.

            ( ... ) Doentes encontram remédio, mendigos acham teto, desesperados se reconfortam, órfãos são recebidos no lar. Nova mentalidade surge na Terra. O coração educado aparece, por abençoada luz, nas sombras da vida. A gentileza e a afabilidade passam a reger o campo das boas maneiras e, sob a inspiração do Mestre Crucificado, homens de pátrias e raças diferentes aprenderam a encontrar-se com alegria, exclamando, felizes: - meu irmão."

            Todas essas considerações vêm a propósito de mais um aniversário da publicação de "O Livro dos Espíritos", de AIlan Kardec, em 18 de abril de 1857. Surgiu, com ele, a literatura espírita, responsável pela inauguração da nova era que marcará a redenção da Humanidade. Desde então, o Livro Espírita vem realizando sublime semeadura de esclarecimentos superiores, de luz verdadeira, de consolação e de esperança. É necessário preservar-lhe a dignidade, a pureza doutrinária e a construtividade moral, porque, para o bem ou para o mal dos homens, são verdadeiras as palavras do poeta: "O livro, caindo n'alma, é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar."


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