Literatura
Espírita
Editorial
Reformador
(FEB) Abril 1978
Se
é grande a responsabilidade de quem fala, muito maior é a de quem escreve ou edita livros. A palavra escrita, além de
guardar imenso potencial de sugestão, possui o poder da permanência, porque
resiste indeterminadamente ao tempo. Todas as grandes ideias que influíram
decisivamente na vida e na evolução da Humanidade se firmaram e se alastraram
através da escrita. Foi assim desde o Código de Hamurabi, editado já faz 4.000
anos.
Quem
pode avaliar com justeza o grau de influência que exerceram e ainda exercem no
mundo o "Pentateuco", de Moisés, o pérsico "Avesta", o
indiano "Bhagavad-Gitâ" e o árabe "Alcorão"? Que dizer no
"República", de Platão, e das obras de Aristóteles, que dominaram o
pensamento humano no decurso de séculos? Como estabelecer os limites de
repercussão, através do tempo, da legislação espartana de Solon? Como medir as
consequências das obras literárias de Agostinho de Hipona, ou da "Suma
Teológica", de Tomás de Aquino, ou das 95 teses de Lutero? Será possível,
mesmo agora, definir o que representou, para o gênero humano, a obra
enciclopédica dos franceses D' Alembert, Diderot, Voltaire, Montesquieu,
Rousseau e Jaucourt, editada pelo inglês Chambers? Ou até que ponto o livro de
Darwin, "Sobre a origem das espécies por meio da seleção natural",
revolucionou o campo dos conhecimentos humanos? E os escritos científicos de Copérnico,
Galileu, Newton, Freud, Descartes, Pasteur e Einstein? De que modo averiguar
até onde os romances de Júlio Verne inspiraram feitos
gloriosos à inteligência humana?
Por
outro lado, dificilmente teria surgido o Nazismo, de Hitler, sem as teorias
racistas do Conde de Gobineau e sem as ideias de Nietzsche e de Schopenhauer;
ou o Fascismo, de Mussolini, sem o arcabouço ideológico de Giovanni Gentile e
de Giuseppe Prezzolini. O Príncipe", de Maquiavel, e os "Exercícios
Espirituais", de lñigo de Oñez y Loyola, causaram mais danos aos povos do
que muitas guerras sangrentas. Lembremo-nos de que o Comunismo ateu de nossos
dias nasceu da obra filosófica de Karl Marx.
Iríamos
longe, se fôssemos alinhar aqui outros exemplos do poder das ideias escritas, do papel do livro na História.
Bastar-nos-á recordar o que o Evangelho de Jesus já fez pela Humanidade. Diz, a
esse respeito, Emmanuel, no livro "Roteiro" (FEB, 3ª edição, pp.
91/93): "Quando o Mestre confiou ao mundo a divina mensagem da Boa Nova, a
Terra, sem dúvida, não se achava desprovida de sólida cultura. Na Grécia, as
artes haviam atingido luminosa culminância e, em Roma, bibliotecas preciosas
circulavam por toda parte, divulgando a política e a ciência, a filosofia e a
religião. Os escritores possuíam corpos de copistas especializados e
professores eméritos conservavam tradições e ensinamentos, preservando o
tesouro da inteligência. Prosperava a instrução, em todos os lugares, mas a
educação demorava-se em lamentável pobreza. O cativeiro consagrado por lei era
flagelo comum. A mulher, aviltada em quase todas as regiões, recebia tratamento inferior ao que se dispensava aos cavalos. Homens
de consciência enobrecida, por infelicidade financeira ou por questiúnculas de
raça, eram assinalados a ferro candente e submetidos à penosa servidão, anotados como
animais. Os pais podiam vender os filhos. Era razoável cegar os vencidos e
aproveitá-los em serviços domésticos. As crianças fracas eram, quase sempre, punidas com a
morte. Enfermos eram sentenciados ao abandono. As mulheres infelizes podiam ser
apedrejadas com o beneplácito da justiça. Os mutilados deviam perecer nos
campos de luta, categorizados à conta de carne
inútil. Qualquer tirano desfrutava o direito de reduzir os governados à extrema
penúria, sem ser incomodado por ninguém. Feras devoravam homens vivos nos
espetáculos e divertimentos públicos, com aplauso geral. Rara a festividade do
povo que transcorria sem vasta efusão de sangue humano, como impositivo natural
dos costumes. Com Jesus, entretanto, começa uma era nova para o sentimento.
Condenado ao supremo sacrifício, sem reclamar, e rogando o perdão celeste para
aqueles que o vergastavam e feriam, instala no ânimo dos seguidores novas
disposições espirituais. Iluminados pela Divina Influência, os discípulos do Mestre consagram-se ao serviço dos semelhantes.
Simão Pedro e os companheiros dedicam-se aos doentes e infortunados.
Instituem-se casas de socorro para os necessitados e escolas de evangelização
para o espírito popular. Pouco a pouco, altera-se a paisagem social, no curso
dos séculos.
(
... ) Doentes encontram remédio, mendigos acham teto, desesperados se
reconfortam, órfãos são recebidos no lar. Nova mentalidade surge na Terra. O
coração educado aparece, por abençoada luz, nas sombras
da vida. A gentileza e a afabilidade passam a reger o campo das boas maneiras e, sob a
inspiração do Mestre Crucificado, homens de pátrias e raças diferentes aprenderam a
encontrar-se com alegria, exclamando, felizes: - meu irmão."
Todas
essas considerações vêm a propósito de mais um aniversário da publicação de "O Livro dos Espíritos", de AIlan
Kardec, em 18 de abril de 1857. Surgiu, com ele, a literatura espírita,
responsável pela inauguração da nova era que marcará a redenção da Humanidade.
Desde então, o Livro Espírita vem realizando sublime semeadura de
esclarecimentos superiores, de luz verdadeira, de consolação e de esperança. É
necessário preservar-lhe a dignidade, a pureza doutrinária e a construtividade
moral, porque, para o bem ou para o mal dos homens, são verdadeiras as palavras
do poeta: "O livro, caindo n'alma, é
germe que faz a palma, é chuva que faz o mar."
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