Andrew
Jackson Davis
Zeus
Wantuil
Reformador
(FEB) Abril 1978
Andrew
Jackson Davis, cognominado O "Pai do Espiritualismo Moderno", o
"Allan Kardec americano", filho de pais humildes e incultos, nasceu,
em 1826, num distrito rural do Estado de Nova Iorque (EUA), às margens do rio
Hudson, entre gente simples e ignorante.
Era
um menino pouco atilado, falto de atividade intelectual, corpo mirrado, sem
nenhum traço que denunciasse a sua excepcional mediunidade futura.
Tal
como sucedeu com Francisco Cândido Xavier, o célebre médium brasileiro dos dias
atuais, Jackson Davis começou a ouvir, nos derradeiros anos de sua infância,
vozes agradáveis e gentis, seguidas de belas clarividências, nele se
desenvolvendo ao mesmo tempo os dons mediúnicos - com aplicação em diagnósticos
médicos.
Em
6 de março de 1844, provavelmente em corpo perispirítico, foi transportado da
pequena localidade de Poughkeepsie, onde morava, às montanhas de Catskill,
quarenta milhas distantes. Nestas montanhas encontrou dois anciães, que lhe
revelaram ser seus mentores, posteriormente identificados como os
Espíritos de Galeno e de Swedenborg. Foi este o primeiro contato que o rapazinho
teve com os chamados mortos.
Com
o tempo, sua mediunidade ganhou novos rumos. Quando em transe, falava várias
Iínguas, inclusive o hebraico, todas dele desconhecidas, expondo admiráveis
conhecimentos de Geologia e discutindo, com rara habilidade, intrincadas
questões de Arqueologia histórica e bíblica, de Mitologia, bem como temas linguísticos
e sociais - apesar de nada conhecer de gramática ou de regras de linguagem e
sem quaisquer estudos literários ou científicos. De tal modo eram as respostas,
que "fariam honra- segundo o Dr. Jorge Bush, professor da Universidade de
Nova. Iorque - a qualquer estudante daquela idade, mesmo que, para as fornecer,
tivesse consultado todas as bibliotecas da Cristandade" .
Sua
pessoa chamou logo a atenção do Dr. Lyon, do Rev. Guilherme Fishbough e de
muitos homens sérios e cultos, entre os quais sobressai o nome de Edgar Allan
Poe.
Durante
dois anos Davis ditou, em transe inconsciente, um livro sobre os segredos da
Natureza, dado a público, em 1847, sob o título "Os Princípios da
Natureza". A ele Conan Doyle se referiu, dizendo ser "um dos livros
mais profundos e originais de Filosofia" e conta, nos Estados Unidos, com
dezenas de edições.
Fato
semelhante mais tarde se passaria, aqui no Brasil, com o médium atrás citado, o
qual, nascido em meio igualmente pobre e inculto, e sem conhecimentos à altura,
psicografou, aos vinte anos, a notável e originalíssima obra poética -
"Parnaso d. Além-Túmulo".
Como
este médium, Davis também recebeu muitos outros livros, cerca de trinta, em
parte editados com o título geral de "Filosofia
Harmônica", a ele transmitidos pela entidade espiritual Swedenborg.
Dezenas de edições foram publicadas nos Estados Unidos, o que bem mostra o
interesse que suas doutrinas reveladoras despertaram, conquistando milhares de
prosélitos.
Davis
não era um místico nem um religioso no sentido vulgar, e nem aceitava a
revelação bíblica na sua interpretação literal. Todavia, era honrado, sério,
incorruptível, amante da Verdade e sinceramente compenetrado de sua
responsabilidade naqueles acontecimentos renovadores. Na sua pobreza material,
jamais esqueceu a justiça e a caridade para com todos.
Suas
faculdades medianímicas chegaram a maior desenvolvimento depois dos 21 anos de
idade, e ele pode então observar mais claramente o processo desencarnatório de
várias pessoas, narrando o em todas as minúcias. Suas descrições estão
concordes com inúmeras outras feitas por médiuns de diferentes
países, adquirindo na obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier complementação
assaz relevante.
Antes
de 1856, Jackson Davis profetizou o aparecimento dos automóveis e dos veículos
aéreos movidos por uma força motriz de natureza explosiva, como também as máquinas
de escrever e, ao que tudo indica, as locomotivas com motores de combustão
interna. É extraordinária, pasmosa mesmo, a riqueza de detalhes que acerca
desses inventos futuros Davis deixou estampados em sua obra "Penetralia", hoje centenária.
Afora
isso, ele também predisse, em 1847, a manifestação ostensiva dos Espíritos com
as criaturas humanas, frisando que não levaria muito tempo para que essa
verdade se revelasse numa exuberante demonstração.
Sua
obra inicial, de grande luminosidade, foi uma preparação para o aparecimento do
Espiritismo, e numa de suas notas, datada a 31 de março de 1848, lê-se este
significativo trecho:
"Esta madrugada um sopro fresco passou pelo
meu rosto, e ouvi uma voz, suave e firme, dizer-me: "Irmão, foi dado
inicio a um bom trabalho; contempla a demonstração viva que surge." Pus-me
a cismar no significado de tal mensagem."
Muito
longe estava ele de supor que, justamente na noite do citado dia, as irmãs Fox,
em Hydesville, conversariam, por meio de batidas, com o Espírito de um morto,
inaugurando o grandioso movimento espiritista mundial.
Por
causa desse fato, Jackson Davis passou a ser citado por alguns escritores
espiritas como "o profeta da Nova Revelação".
A
série de livros sob o título geral de "Filosofia Harmônica", livros
de alto nível moral e intelectual, seguiram-se as "Revelações Divinas da
Natureza", cuja recepção absorveu os anos seguintes de sua vida.
Mediante
suas visões espirituais do Além, deste apresentou descrição bem aproximada da
que os Espíritos forneceriam em diversos países, inclusive no Brasil, aqui pela
mediunidade de Francisco Cândido Xavier, nos livros do Espírito de André Luiz.
Davis
viu por lá uma vida semelhante à da Terra, vida a que se poderia chamar
semimaterial, com gostos e objetivos adaptados às nossas naturezas, que a morte
não modifica. Viu que, nesse vasto Além, o trabalho científico, o artístico, o
literário e o humanitário não cessam. Viu as várias fases e graus do progresso
espiritual, referindo-se às causas que retardam a evolução humana.
A
bem da Verdade, diga-se que os numerosos livros que ele deu a lume, de alto
alcance doutrinário, diferem, em vários pontos, dos ensinos kardequianos, sem,
contudo, estar com eles em contradição, salientando-se a lei das reencarnações,
que Davis apresentou como não obrigatória para o progresso do Espírito,
entendendo que o Espírito pode e deve progredir no Espaço, sem necessidade de
reencarnar.
Jackson
Davis avançou mais do que Swedenborg no levantamento dos véus que encobrem os
mistérios da Vida, mas o emérito pedagogo Allan Kardec, missionário posterior,
complementou-lhe e ampliou-lhe a obra, baseado nas comunicações de muitos
Espíritos Superiores, sob a égide do Espírito da Verdade.
Esta
justa ressalva não empana e nem desmerece a real importância dos ensinos
legados pelo grande médium norte-americano, a respeito dos quais o notável
crítico E. Wake Cook disse serem capazes de reorganizar o mundo.
Nas
viagens que, desprendido do corpo, fez ao Mundo dos Espíritos, Davis presenciou,
num lugar a que chamou "Summerland",
a educação harmoniosa das crianças desencarnadas, reunidas, por grupos, em
grandes e belos edifícios, nos quais se lhes administrava instrução e cuidados
especiais, tudo de acordo com a idade e os conhecimentos delas.
Davis
ficou tão maravilhado com o sistema ali adotado e sua engenhosa organização que
buscou concretizá-lo no plano terrestre. Daí nasceu o primeiro Liceu Espiritista,
por ele fundado em 25 de janeiro de 1863, em Dodsworth Hall, Broadway, Nova Iorque.
Esse movimento liceano ramificou-se nos Estados Unidos e propagou-se à
Inglaterra, ao Canadá, à Austrália, etc.
O
célebre vidente americano sofreu acusações caluniosas e críticas acerbas,
contra ele assacadas pelos eternos malversadores da Verdade. Homem superior, a
tudo se sobrepunha com tolerância evangélica e larga compreensão.
Nos
últimos anos de vida, Andrew Jackson Davis dirigiu uma pequena livraria em
Boston, e aos 13 de janeiro de 1910, com a idade de 84 anos, desencarnava na
sua residência de Watertown, no Estado de Massachusetts, legando à Humanidade o
exemplo dignificante de sua frutuosa existência.
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