Ernesto Bozzano
Morselli e os fenômenos espíritas
Lino Teles (Ismael Gomes Braga)
Reformador
(FEB) Novembro 1958
Foi
baseado sobre a mediunidade física de Eusápia Paladino que o Dr. Henrique
MorseIli firmou sua convicção de que os Espíritos dos mortos - na existência
dos quais descria - não intervinham na produção dos fenômenos.
As
manifestações subjetivas que observou com Eusápia foram pouquíssimas e sem
importância, e esta circunstância infeliz foi que o impediu de mudar de ideias.
Como escreveu o Professor C. Moutonnier, "há outras mediunidades que o Prof. MorseIli deveria ter estudado, pois
não se pode ser juiz ou árbitro de uma causa, a menos que se examine tudo e
tudo se conheça".
Bozzano
e Lombroso, sábios companheiros de Morselli nas experiências com Eusápia,
rebateram, com provas seguras e incontestáveis, o ultranegativismo do eminente
psiquiatra italiano. Ernesto Bozzano deu a público um trabalho intitulado -
"A propósito da obra
"Psicologia e Espiritismo do Prof. Henrique Morselli", no qual
analisou os improcedentes e incompletos argumentos de que lançou mão o
estudioso médico para se opor à tese espiritista. O Prof. César Lombroso,
criminalista mundialmente admirado, escreveu, também a respeito da citada obra de
Morselli, um artigo no periódico "Luce e Ombra", de Milão, em Junho
de 1908, artigo em que alude à materialização que, por intermédio de Eusápia,
obteve do Espírito de sua mãe, com o qual ele se entreteve por alguns
instantes.
Todavia,
cumpre destacar a firme convicção do Prof. MorseIli na realidade dos fenômenos
objetivos ou físicos conseguidos com a mediunidade eusapiana, inclusive os de
materialização parcial ou total, fenômenos estes considerados fraudulentos
pelos novos "profetas" do hipnotismo e da letargia.
Eis,
então, o que o sábio neurologista escreveu nas colunas do jornal italiano
"Corriere della Sera" do ano de 1907, pouco antes de ser dado a
público o seu livro "Psicologia e Espiritismo":
“Aquele que me pergunta, e são numerosos os
que até o momento me têm interrogado sobre esta questão, o que penso dos
fenômenos físicos atribuídos a Eusápia, e se eu os creio reais, autênticos,
verdadeiros, respondo: Sim! Tais fenômenos, cuja aceitação me pareceu a
princípio baseada sobre o erro ou sobre a ingenuidade, sobre a fraude ou a
ilusão dos sentidos, sobre a boa-fé ou sobre o “parti-pris”, são, em
elevadíssimo número, verdadeiros e reais; e quanto aos que formam o “pequeno
número”, a respeito dos quais não me certifiquei, de forma alguma eles infirmam a existência
de uma categoria extraordinária ou ultranormal de fatos que dependem de
organismos especiais e de atividade particular."
Noutro
ponto deste seu escrito, MorseIli, com a mesma independência de vistas, afirmou
abertamente:
“Confesso que não mais posso negar a
realidade e a autenticidade da maior parte desses fenômenos que a princípio
tomei por um efeito de pura imaginação: refiro-me às materializações tangíveis
e às aparições."
E,
mais adiante, tornou a frisar:
“Os fenômenos produzidos pela poderosa
mediunidade de Eusápia adquiriram para mim a consistência dos ‘fatos
positivos’, porque eu os vi, toquei, pus à prova, com os sentidos em boas
condições de receptibilidade, com os mais perfeitos centros cerebrais de percepção,
de conhecimento crítico e raciocinado, e em circunstâncias tais que excluíam a
fraude e a ilusão."
Diante
de tudo isto é que um crítico do "Corriere d'Italia", de Buenos
Aires, ao analisar a obra de MorseIli, retromencionada, não pode deixar de estranhar
a atitude do famoso psiquiatra, conforme se lê no trecho final de sua crônica
publicada em 30 de Junho de 1908:
“Seria ridículo da minha parte qualquer
intuito de empenhar polêmica com o ilustre cientista, que me esmagaria com a
autoridade de seu nome e de sua doutrina. Limitar-me-ei, por isso, a uma
simples observação: cabeças e corpos que são apalpados e examinados, a fim de
se reconhecerem as particularidades de sua conformação; rostos diversos que são
vistos perfeitamente, e de que se observa até a expressão do olhar; outros que
aos olhos de todos se prestam obedientes a um desejo manifestado, e se põem a
mover-se, a sorrir e a saudar; mãos que são vistas e tocadas, e que muitas
vezes são de gigante e, outras, de criança, - constituem um conjunto de
fenômenos singularmente assombroso. Confesso, porém, que em minha opinião há
outra coisa muito mais singular, muito mais assombrosa: é afirmar com plena
consciência que esses fatos são verdadeiros... e não acreditar no Espiritismo.”
E
tem razão o cronista argentino!
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