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sábado, 4 de janeiro de 2014

As Maravilhas do Evangelho



As Maravilhas
 do Evangelho

Sylvio Brito Soares

Reformador (FEB) Dezembro 1961

            Nos escritos atribuídos aos quatro Evangelistas, vamos encontrar, a cada passo, frases proferidas por Jesus, e que a muitos deixam realmente perplexos, confusos e profundamente abalados em sua fé.

            Geralmente isso acontece quando nos atemos apenas à dureza das palavras, porque as expressões verbalísticas são como certos calhaus; olhados superficialmente, jamais se pode imaginar que neles, muitas vezes, se encontram diamantes de incalculável valor.

            Na vida das criaturas, como é natural, existem duas faces: a externa e a interna; aquela, que fere a vista de qualquer pessoa, e esta, que se oculta a quem só se impressiona e se interessa com as coisas fictícias do mundo, coisas, aliás, inexpressíveis no campo das verdades eternas!

            Teria Jesus proferido realmente estas frases: "Vim lançar fogo à terra", "Não penseis que vim trazer paz à terra, mas, sim, a espada", consignadas por Lucas e Mateus?

            Para muitos, possivelmente, o Mestre jamais as teria articulado, por considerarem-nas corruptelas do pensamento primitivo; e explicam: com o andar dos anos e milênios, o significado de muitos vocábulos altera-se completamente e isto sem se levar em conta os erros dos tradutores, erros esses que, depois, se perpetuam pelos tempos a fora.

            Nós, espiritistas, porém, achamos que aquelas palavras foram efetivamente enunciadas por Jesus, mesmo porque não vislumbramos qualquer discordância entre o seu pensar e sentir, todo amor, e a presumida agressividade de tais frases.

            Antes de formarmos qualquer juízo a respeito do que lemos ou ouvimos, é muito conveniente perscrutemos o espírito real dessas palavras ouvidas ou lidas.

*

            Ninguém poderá surpreender-se se dissermos que a Terra ainda está povoada por incalculável número de Espíritos atrasados, que não compreendem e nem admitem os nobres princípios de uma política social que fuja completamente aos ditames acanhados do personalismo egoísta, ambicioso, que só visa ao interesse próprio sem se preocupar com as necessidades e sofrimentos de seus semelhantes.

            Se ainda é esse o panorama de nossos dias, qual não seria, evidentemente, o de há quase dois mil anos?!

            Jesus bem sabia que, trazendo, como trouxe, o fogo do amor que consubstancia todas as virtudes, ocasionaria sérias perturbações entre os homens que então se encontravam enleados na teia dos preconceitos caducos e das tradições extravagantes, sustentados por escribas, fariseus, sacerdotes orgulhosos e cúpidos.

            A história da Civilização mostra-nos, com farta documentação, quantas lutas têm ocasionado a germinação e a propagação de qualquer ideia nova, progressista e humana.

            Portanto, Jesus, em sua alta sabedoria, não ignorava que a simples palavra - amor -, ao ser anunciada como base de sua doutrina, traria imediatamente a separação, a luta entre os que, entusiasmados, desejariam enveredar pelo novo caminho, e os preguiçosos e obstinados que prefeririam continuar patinhando no lodaçal da ambição, do egoísmo, da intolerância e do ódio.

            Ele antevia, e com que pesar, a caudal imensa de sangue que, em seu nome, alagaria o mundo!

*

            Sendo a função precípua do Espiritismo, como Cristianismo redivivo, revigorar os ensinos de Jesus, que se desfiguraram, tornando-se quase irreconhecíveis, por força de uma ortodoxia que já repugna à maioria dos crentes, tinha de ocasionar uma luta desleal: de um lado os amigos do obscurantismo, inimigos ferrenhos da luz, e, de outro, os que almejam a liberdade de sentir Jesus em todo o esplendor de sua simplicidade, e de, com ele, falarem diretamente, sem o aparelhamento esdrúxulo de um ritual que não se coaduna com os ensinos do Mestre.


            Jesus, o maior psicólogo de todos os tempos, parece que por antecipação articulou aquelas palavras, a que acima nos referimos, para que as ouvissem os homens deste conturbado século XX!

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