As
Maravilhas
do
Evangelho
Sylvio Brito Soares
Reformador (FEB) Dezembro 1961
Nos escritos atribuídos aos quatro
Evangelistas, vamos encontrar, a cada passo, frases proferidas por Jesus, e que
a muitos deixam realmente perplexos, confusos e profundamente abalados em sua
fé.
Geralmente isso acontece quando nos
atemos apenas à dureza das palavras, porque as expressões verbalísticas são
como certos calhaus; olhados superficialmente, jamais se pode imaginar que
neles, muitas vezes, se encontram diamantes de incalculável valor.
Na vida das criaturas, como é
natural, existem duas faces: a externa e a interna; aquela, que fere a vista de
qualquer pessoa, e esta, que se oculta a quem só se impressiona e se interessa
com as coisas fictícias do mundo, coisas, aliás, inexpressíveis no campo das
verdades eternas!
Teria Jesus proferido realmente
estas frases: "Vim lançar fogo à terra", "Não penseis que vim
trazer paz à terra, mas, sim, a espada", consignadas por Lucas e Mateus?
Para muitos, possivelmente, o Mestre
jamais as teria articulado, por considerarem-nas corruptelas do pensamento
primitivo; e explicam: com o andar dos anos e milênios, o significado de muitos
vocábulos altera-se completamente e isto sem se levar em conta os erros dos
tradutores, erros esses que, depois, se perpetuam pelos tempos a fora.
Nós, espiritistas, porém, achamos
que aquelas palavras foram efetivamente enunciadas por Jesus, mesmo porque não
vislumbramos qualquer discordância entre o seu pensar e sentir, todo amor, e a
presumida agressividade de tais frases.
Antes de formarmos qualquer juízo a
respeito do que lemos ou ouvimos, é muito conveniente perscrutemos o espírito
real dessas palavras ouvidas ou lidas.
*
Ninguém poderá surpreender-se se
dissermos que a Terra ainda está povoada por incalculável número de Espíritos
atrasados, que não compreendem e nem admitem os nobres princípios de uma
política social que fuja completamente aos ditames acanhados do personalismo
egoísta, ambicioso, que só visa ao interesse próprio sem se preocupar com as
necessidades e sofrimentos de seus semelhantes.
Se ainda é esse o panorama de nossos
dias, qual não seria, evidentemente, o de há quase dois mil anos?!
Jesus bem sabia que, trazendo, como
trouxe, o fogo do amor que consubstancia todas as virtudes, ocasionaria sérias
perturbações entre os homens que então se encontravam enleados na teia dos
preconceitos caducos e das tradições extravagantes, sustentados por escribas, fariseus,
sacerdotes orgulhosos e cúpidos.
A história da Civilização
mostra-nos, com farta documentação, quantas lutas têm ocasionado a germinação e
a propagação de qualquer ideia nova, progressista e humana.
Portanto, Jesus, em sua alta
sabedoria, não ignorava que a simples palavra - amor -, ao ser anunciada como
base de sua doutrina, traria imediatamente a separação, a luta entre os que,
entusiasmados, desejariam enveredar pelo novo caminho, e os preguiçosos e
obstinados que prefeririam continuar patinhando no lodaçal da ambição, do egoísmo,
da intolerância e do ódio.
Ele antevia, e com que pesar, a
caudal imensa de sangue que, em seu nome, alagaria o mundo!
*
Sendo a função precípua do
Espiritismo, como Cristianismo redivivo, revigorar os ensinos de Jesus, que se
desfiguraram, tornando-se quase irreconhecíveis, por força de uma ortodoxia que
já repugna à maioria dos crentes, tinha de ocasionar uma luta desleal: de um
lado os amigos do obscurantismo, inimigos ferrenhos da luz, e, de outro, os que
almejam a liberdade de sentir Jesus em todo o esplendor de sua simplicidade, e
de, com ele, falarem diretamente, sem o aparelhamento esdrúxulo de um ritual
que não se coaduna com os ensinos do Mestre.
Jesus, o maior psicólogo de todos os
tempos, parece que por antecipação articulou aquelas palavras, a que acima nos
referimos, para que as ouvissem os homens deste conturbado século XX!
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