‘A propósito, ainda,
do corpo fluídico de Jesus’
por Ivo de Magalhães
em Reformador (FEB) Março 1970
Depois de tudo quanto tem sido escrito por ilustres autores sobre o corpo fluídico de Jesus, tais como Antônio Luiz Sayão, Leopoldo Cirne, Manuel Quintão, Guillon Ribeiro e Ismael Gomes Braga, em notáveis trabalhos intitulados, respectivamente, ‘Elucidações Evangélicas”, “A Personalidade de Jesus”, “O Cristo de Deus”, “Jesus nem Deus nem homem” e “Elos Doutrinários” – sem esquecer esse magnífico estudo que é “O Livro de Tobias”, em boa hora editado pela Federação Espírita Brasileira – pode parecer supérfluo que ainda se pretenda dizer algo a respeito dos excelsos ensinamentos transmitidos pelo Alto a Jean-Baptiste Roustaing, mercê da extraordinária mediunidade da Senhora Collignon.
Temos, porém, ouvido vez por outra, de alguns estudiosos do Espiritismo, a declaração de que não podem aceitar essa revelação por haver o Mestre exclamado na Cruz: “Tenho sede.”; se o seu corpo fosse realmente fluídico, dizem eles, não poderia estra sujeito às necessidades da matéria e encontrar-nos-íamos em presença de uma farsa de todo incompatível com a superioridade moral do Cristo.
O argumento poderia ser válido se se não atentasse para um pormenor que o destrói inteiramente:
O único evangelista que atribui a Jesus aquelas palavras foi João (Cap. 19, versículo 8), talvez pela boa razão de que somente ele, dos quatro, assistiu à Crucificação. O que, todavia, está dito no Evangelho de João é o seguinte:
“Depois, sabendo Jesus que tudo estava cumprido, para se cumprir uma palavra que ainda restava da Escritura, disse: Tenho sede.”
Jesus, portanto, disse que tinha sede ‘para se cumprir uma palavra que ainda restava da Escritura”, porque, quanto ao mais, “tudo estava cumprido”. João teve o cuidado de não deixar dúvidas a respeito e, se se quer argumentar com a citação evangélica, deve-se enuncia-la por inteiro, não se tomando dela apenas duas palavras que, isoladas, impedem a compreensão correta do texto.
A leitura atenta dos Evangelhos revela a constante preocupação dos autores de ressaltar que os fatos ligados à passagem do Mestre pelo nosso Planeta, os atos que praticou, os ensinamentos que ministrou e as palavras que proferiu, em tudo e por tudo confirmavam as Escrituras e em nada transgrediam a lei mosaica.
Mateus, com efeito, logo no primeiro capítulo do seu Evangelho, referindo-se ao nascimento de Jesus (tal como aos olhos dos homens teria ocorrido), diz, no versículo 22:
“Mas tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que falou o Senhor pelo Profeta”.
Marcos, por sua vez, inicia o seu Evangelho assim:
“ Princípios do Evangelho de Jesus-Cristo, Filho de Deus, conforme está escrito no Profeta Isaías”.
Também Lucas, igualmente no capítulo primeiro de seu Evangelho, relatando o cântico de Zacarias, escreve no ver. 70:
“Segundo o que Ele tinha prometido por boca dos seus profetas”.
Finalmente João, demonstrando o mesmo cuidado, também no capítulo inicial do seu Evangelho, referindo-se aos primeiros apóstolos de Jesus, diz, no versículo 45:
“Encontrando Natanael, disse-lhe Filipe: Achamos aquele a cerca de quem Moises escreveu na lei e os profetas falaram, Jesus de Nazaré, filho de José”.
Não é menor a preocupação do Mestre:
“Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os profetas; não os vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, enquanto o Céu e a Terra não passarem, nem um só iota, nem um só ápice da lei passarão, sem que tudo esteja cumprido” (Mateus, Cap. 5 vv. 17 e 18)
Nós, os espíritas, sabemos que o Alto tudo dispôs para que, na passagem de Jesus pela Terra, nada se processasse senão de conformidade com a lei e as Escrituras, a fim de que os acontecimentos, revestidos de autenticidade, pudessem ser aceitos por um povo tão apegado às suas tradições.
Não deve, assim, causar surpresa o fato de haver o Mestre, portador embora de um corpo fluídico, exclamado: “Tenho sede”, se o fazia “para cumprir uma palavra que ainda restava da Escritura” (a palavra “sede”, predita por David no Salmo 68, versículo 22[1]). Pelos mesmos motivos, não nos esqueçamos, quando João Batista, a quem Jesus se apresentara para ser por ele batizado, Lhe perguntou: “Eu sou o que deve ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mateus, Cap. III, v.14), recebeu essa pronta, clara e incisiva resposta que jamais, ao que saibamos, alguém ousou considerar uma farsa:
“Deixa por ora; porque assim nos convém cumprir toda a Justiça” (Mateus, Cap. III, v. 15.)
É esse, portanto, mais um frágil argumento com que procuram negar os sublimes ensinamentos contidos nessa incomparável obra mediúnica – “Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação” – ou seja, “Os quatro evangelhos explicados em Espírito e Verdade pelos evangelistas assistidos pelos apóstolos e por Moisés – recebidos e coordenados por J. B. Roustaing”.
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