domingo, 12 de junho de 2011

A propósito, ainda, do corpo fluídico de Jesus




‘A propósito, ainda,
do corpo fluídico de Jesus’

por  Ivo de Magalhães
em Reformador (FEB) Março 1970
           
Depois de tudo quanto tem sido escrito por ilustres autores sobre o corpo fluídico de Jesus, tais como Antônio Luiz Sayão, Leopoldo Cirne, Manuel Quintão, Guillon Ribeiro e Ismael Gomes Braga, em notáveis trabalhos intitulados, respectivamente, ‘Elucidações Evangélicas”, “A Personalidade de Jesus”, “O Cristo de Deus”, “Jesus nem Deus nem homem” e “Elos Doutrinários” – sem esquecer esse magnífico estudo que é “O Livro de Tobias”, em boa hora editado pela Federação Espírita Brasileira – pode parecer supérfluo que ainda se pretenda dizer algo a respeito dos excelsos ensinamentos transmitidos pelo Alto a Jean-Baptiste Roustaing, mercê da extraordinária mediunidade da Senhora Collignon.
Temos, porém, ouvido vez por outra, de alguns estudiosos do Espiritismo, a declaração de que não podem aceitar essa revelação por haver o Mestre exclamado na Cruz: “Tenho sede.”; se o seu corpo fosse realmente fluídico, dizem eles, não poderia estra sujeito às necessidades da matéria e encontrar-nos-íamos em presença de uma farsa de todo incompatível com a superioridade moral do Cristo.
O argumento poderia ser válido se se não atentasse para um pormenor que o destrói inteiramente:
O único evangelista que atribui a Jesus aquelas palavras foi João (Cap. 19, versículo 8), talvez pela boa razão de que somente ele, dos quatro, assistiu à Crucificação. O que, todavia, está dito no Evangelho de João é o seguinte:

Depois, sabendo Jesus que tudo estava cumprido, para se cumprir uma palavra que ainda restava da Escritura, disse: Tenho sede.”

Jesus, portanto, disse que tinha sede ‘para se cumprir uma palavra que ainda restava da Escritura”, porque, quanto ao mais, “tudo estava cumprido”. João teve o cuidado de não deixar dúvidas a respeito e, se se quer argumentar com a citação evangélica, deve-se enuncia-la por inteiro, não se tomando dela apenas duas palavras que, isoladas, impedem a compreensão correta do texto.
A leitura atenta dos Evangelhos revela a constante preocupação dos autores de ressaltar que os fatos ligados à passagem do Mestre pelo nosso Planeta, os atos que praticou, os ensinamentos que ministrou e as palavras que proferiu, em tudo e por tudo confirmavam as Escrituras e em nada transgrediam a lei mosaica.
Mateus, com efeito, logo no primeiro capítulo do seu Evangelho, referindo-se ao nascimento de Jesus (tal como aos olhos dos homens teria ocorrido), diz, no versículo 22:

“Mas tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que falou o Senhor pelo Profeta”.

Marcos, por sua vez, inicia o seu Evangelho assim:

“ Princípios do Evangelho de Jesus-Cristo, Filho de Deus, conforme está escrito no Profeta Isaías”.

Também Lucas, igualmente no capítulo primeiro de seu Evangelho, relatando o cântico de Zacarias, escreve no ver. 70:

“Segundo o que Ele tinha prometido por boca dos seus profetas”.

Finalmente João, demonstrando o mesmo cuidado, também no capítulo inicial do seu Evangelho, referindo-se aos primeiros apóstolos de Jesus, diz, no versículo 45:
“Encontrando Natanael, disse-lhe Filipe: Achamos aquele a cerca de quem Moises escreveu na lei e os profetas falaram, Jesus de Nazaré, filho de José”.

Não é menor a preocupação do Mestre:

“Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os profetas; não os vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, enquanto o Céu e a Terra não passarem, nem um só iota, nem um só ápice da lei passarão, sem que tudo esteja cumprido” (Mateus, Cap. 5 vv. 17 e 18)

Nós, os espíritas, sabemos que o Alto tudo dispôs para que, na passagem de Jesus pela Terra, nada se processasse senão de conformidade com a lei e as Escrituras, a fim de que os acontecimentos, revestidos de autenticidade, pudessem ser aceitos por um povo tão apegado às suas tradições.
Não deve, assim, causar surpresa o fato de haver o Mestre, portador embora de um corpo fluídico, exclamado: “Tenho sede”, se o fazia “para cumprir uma palavra que ainda restava da Escritura” (a palavra “sede”, predita por David no Salmo 68, versículo 22[1]). Pelos mesmos motivos, não nos esqueçamos, quando João Batista, a quem Jesus se apresentara para ser por ele batizado, Lhe perguntou: “Eu sou o que deve ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mateus, Cap. III, v.14), recebeu essa pronta, clara e incisiva resposta que jamais, ao que saibamos, alguém ousou considerar uma farsa:

“Deixa por ora; porque assim nos convém cumprir toda a Justiça” (Mateus, Cap. III, v. 15.)

É esse, portanto, mais um frágil argumento com que procuram negar os sublimes ensinamentos contidos nessa incomparável obra mediúnica – “Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação” – ou seja, “Os quatro evangelhos explicados em Espírito e Verdade pelos evangelistas assistidos pelos apóstolos e por Moisés – recebidos e coordenados por J. B. Roustaing”.


[1]  Noutras traduções: Salmo 69, v. 21

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