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terça-feira, 14 de junho de 2011

'Igrejas'



Igrejas


Vianna de Carvalho
por Divaldo Franco  em 1-12-1956, Salvador, Bahia

            “...edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” Jesus  Mateus 16:18

            Desde tempos imemoriais, quando o homem sentiu o grito da fé, acompanhou-o o zelo de dar, ao seu totem e mais tarde aos seus deuses, os maiores tesouros, enfeitando-lhes o altar e guardando-os sob a sombra de tetos forrados de ouro em linhas grandiosas de caracteres deslumbrantes...
            A História nos fala dos templos faustosos de Siva e Rama e, ainda hoje, deslumbram os pesquisadores a riqueza arquitetônica e a grandeza das Igrejas de Heliópolis e Karnac, Tebas e Babilônia, Júpiter e Diana, Salomão e Ceres...
            Depois do advento do Cristianismo, não há quem não se deslumbre, ante a importância da Catedral de Latrão, de Santa Maria Maior e da Capela Sixtina, das Igrejas Ortodoxas e da Catedral de Westminster...
            A Terra continua a ser, com o passar dos tempos, depositária de construções grandiosas de igrejas e altares, para guardarem os deuses e os totens de todas as criaturas. Das igrejas da antigüidade restam ruínas calcinadas pelo tempo, pedras acumuladas, cobertas algumas com mirrados vegetais, em cujos ramos misérrimos cantam os ventos da noite...
            As igrejas modernas jazem frias no fátuo dos seus administradores e fiéis, ou embalsamados pelo orgulho das suas riquezas, sob a frieza das suas pedras impassíveis...
            ...E Jesus, que construiu a sua Igreja sobre a Verdade, defendeu-a contra as portas do mal que, para ela, jamais estariam abertas.
            Vivendo em comunhão com os humildes e sofredores, ergueu uma Igreja no coração de cada criatura em cujo interior a Voz de Deus se faria ouvida, através da consciência reta.
            Mostrando aos discípulos a Casa de Salomão, ‘de que não ficaria pedra sobre pedra que não fosse derrubada’, o Mestre ensina, por último, como deve ao homem ser o Templo de Deus, forte e poderoso, contra o qual o tempo e a luta são inoperantes e fracos.
            Em sua memória, depois da ressurreição, orava-se ao ar balsâmico da Natureza, em contato com o céu infinito, misturando-se as preces com as vozes inarticuladas de todas as coisas.
          Os primeiros tetos humildes e simples eram antes agasalho do que santuários para orações, sendo o trabalho socorrista a prece maior e mais santa, no serviço aos necessitados. Nos seus bancos singelos, sobre o piso humilíssimo, nas suas improvisadas tribunas, reclinavam-se doentes, aguardando o socorro da Caridade, antes que as fórmulas e as disputas verbalistas as modificassem.
            Sob a copa das árvores ou sobre o pó dos caminhos, erguia-se, na assistência fraternal ao necessitado, o altar e o templo, onde, de braços abertos, Jesus era o Sublime Presente, em comunhão com todos.
            De todas, a Igreja Eterna, que o mal não pode destruir é, sem dúvida, a da Verdade, a que o Nazareno aludiu, manifestando-se com profunda sabedoria.
            Igrejas grandiosas, com odor de vaidade, são sepulcros para o orgulho e a ostentação das almas vãs.
            Igrejas de naves resplandescentes são cenários para espíritos triunfadores do mundo.
            Igrejas auríferas e suntuosas são quartéis de ociosidade e contemplação.
            Igrejas de pedra são símbolos da caridade fria como suas colunas.
            Igrejas enormes e vazias...
            A Igreja de Jesus é o coração da Natureza, seu altar é o homem.
            O Templo que o homem ergue, seja, antes de tudo, o teto de agasalho onde o cansado repouse, o aflito dormite e o infeliz encontre a paz. Seja simples e modesto, para que a sua ostentação não fira a humildade de quantos o busquem.
            Igrejas!... Igrejas!... Desertas e frias!
            Igrejas sem crentes...
            Crentes sem Igreja...
            - ‘Nem em Jerusalém, nem no monte. Dia virá em que o Pai será adorado em espírito e Verdade’, disse, à Samaritana, o Rabi.
            Meditai!
            Da vossa vida e dos vossos atos fazei as colunas sobre as quais, um dia, a Bondade Divina colocará o teto do seu amor infinito e misericordioso, construindo, para os infelizes, a legítima igreja do amor sem limites.  
             


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