Consideremos a grandeza do momento que
atravessamos, e que, em verdade, vem-se
desdobrando em diversas etapas por que mergulhamos na transitoriedade da matéria densa. Situemo-nos, todavia, em nossa presente experiência no mundo. E
quando assim falamos, referimo-nos às magnânimas oportunidades que respondem pelo
cumprimento da promessa feita pelo Cristo, há quase dois mil anos: a de que Ele
partiria a fim de que retomasse no Consolador, que viria por intercessão sua
junto ao Pai, no momento em que nos houvéssemos esquecido dos princípios do
Cristianismo.
Muito tempo se passou na nossa Terra amiga,
materialização do Amor Divino, suprema concessão do Senhor de nossas vidas,
perante o qual deveremos estar na posição simples de quem se reconhece no
estado de mendicância espiritual. Observemos que, não fossem as esmolas vindas
de Cima, e talvez não tolerássemos a pressão que se exerce como reação de
nossas ações. Observemos, no trajeto que diuturnamente percorremos, as cenas de
desespero humano, atestando que não poderemos ser felizes enquanto rolarem
lágrimas pelas faces atônitas dos que nos cercam, e dos quais, por vezes,
fugimos estarrecidos, quando não incomodados pelas aparências compungentes de
que se revestem os marcados pela grande dor, que o cotidiano nos reserva.
Quanto será necessário testemunhar, meus
filhos, a tolerância, quando não o amor vencendo a repulsa que os semelhantes nos despertam. Sim, despertam... pois que
os semelhantes em si jamais serão motivo de repulsa, como criaturas de Deus, em
erro, mas no doloroso processo de regeneração através da dor ...despertam...
sim, porque a repulsa é sentimento contrário ao Amor, e, às vezes, a vaidade e
o orgulho se prevalecem de falsos padrões de pureza, de meras convenções
antifraternas, para destilar o veneno pestilencial nos corações imaturos.
Jesus, ao vir ao mundo, não o fez para que
se regozijassem os justos, mas para que se conscientizassem os doentes, face à justiça do Céu, que não os abandonaria
jamais. Onde haja a Justiça, a justificação estará, igualmente, no peito dos que a abriguem.
Estes já estarão com Deus.
Jesus, meus filhos, chegou à nossa morada
como Absoluto: o supremo médico, o médico das almas, dos longos, mas seguros tratamentos. O supremo advogado, aquele da grande causa comum a toda a Humanidade: a redenção pelo Amor. Chamou os coxos e
os estropiados: chamou-nos, portanto. Curou, pela virtude que dele saíra, a
hemorroíssa, trouxe elementos para que sanássemos as hemorragias de ódio, que nos infestam o
ser. Com a filha de Jairo e o filho da
viúva de Naim, ensaiou o grande final, ao retirar da catalepsia profunda o
Lázaro da Betânia, enchendo de vida a Maria e a Marta.
Observemos e sintamos a grandiosidade do
momento em que nos reunimos sob a brisa perfumosa do Cristo, permitam-nos insistir.
Há quanto tempo teremos esquecido a palavra
do Verbo que se fez carne e habitou entre os homens? Quantas vezes teremos chicoteado a pessoa do sublime Nazareno?
Quantos novos cravos teremos pregado no corpo vivo do Senhor, meus filhos?
Descrucifiquemos a Vida de nossas vidas... retiremo-la da jaula de nossa
ferocidade... Renunciemos aos venenos, às insinuações cheias de fel, que, cedo
ou tarde, retornarão sobre nós, amargurando ainda mais nossos momentos futuros.
Já há tantos dissabores, meus filhos, permitam-nos a manifestação de carinho,
pois que muito vos amamos... Até onde prosseguirá nosso desrespeito não a este
ou àquele, mas a nós mesmos? Não cruzemos as fronteiras do ódio, para que não
tombem desastrosamente sobre nós os obuses e as saraivadas das armas que fazem
a guerra fratricida. Espantemos com os aromas dúlcidos da esperança os abutres
da consumição, que esvoaçam à cata de nossa carniça moral. Elevemos a Deus
nosso pensamento, recordando-nos de que os minutos que passamos em contacto com
o Consolador são novos segredos que aprendemos na sagrada lei do Amor, com que
abriremos a porta de nossa libertação.
(Página recebida na reunião pública
de 21 de novembro de 1975,
na Federação Espírita Brasileira, no
Rio de Janeiro, RJ.)
Descrucifique-mo-Lo!...
Bezerra de Menezes
Reformador (FEB) Agosto 1976
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