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segunda-feira, 11 de maio de 2015

Flammarion: Nascimento e vida de uma estrela


Flammarion:
Nascimento e Vida
de uma estrela

por Gilberto Campista Guarino

Reformador (FEB) Outubro 1973

            Na incansável pesquisa empreendida no campo imenso da Doutrina Espírita, lembramo-nos incessantemente da plêiade de espíritos encarnados que - reunidos sob os céus da Europa -, ao contato do zéfiro amável das províncias, em terras de Mallarmé e de Zolatrouxeram à luz a verdade há quase dois mil anos semeada diretamente pelo Cristo de Deus e revivescida com a chegada do Paracleto à terra dos homens.

            Como já tivemos oportunidade de asseverar - com base nas revelações da Espiritualidade Complacente -, Kardec, Roustaing, Denis, Delanne e Flammarion são pontos de claridade na escuridão dos séculos de que há pouco emergimos.

            E vemos a unidade doutrinária cantada a viva voz pelos mentores espirituais - amigos incondicionais - que a cada palavra, a cada frase ressaltam - com o amor que lhes é peculiar - o TODO HARMONIOSO do Espiritismo, como UNIVERSO dentro do UNIVERSO ETERNO. São agora - os pontos de luz a princípio isolados - verdadeiro sol de sublimação, fogo purificador, símbolo do compromisso que nos une a todos no "Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", na edificação do traçado crístico que, decerto, desejamos continuar a seguir.

            Já falamos - dentro de nossas profundas limitações - de Kardec e Roustaing, comparando as obras de que se constituíram, respectivamente, em codificador e coordenador. Do mesmo modo, apontamos a importância ímpar da palavra de Léon Denis, em sua lúcida abordagem dos problemas do homem em constante evolução, e da vida, única realidade fulgurante no contexto do Universo. E (impossível disfarçar nossa emoção) é a esse mesmo Denis, a esse Espírito amigo, a esse companheiro da espiritualidade que tão perto nos fala ao coração, que dirigimos o pensamento inexpressivo, rogando o acréscimo do seu amor para todos os que - nas lides doutrinárias - se empenham em buscar esclarecimento para si e para o próximo. É a ele que pedimos inspiração para tratarmos da vida de mais um daqueles marcos de luz a que nos referimos. Em outras palavras, estamos falando do nobre Camille Flammarion, o denodado astrônomo do Juvisy que, no labor espiritista, bem soube transmitir em sua volumosa obra toda a positividade serenante da Ciência dirigida pelo Evangelho do Amigo Maior.

            Examinando os volumes herdados por todos nós, elaborados por Flammarion, impressionamo-nos face à brilhante lógica com que o autor aborda os mais complexos temas da Ciência Espírita, todos apresentados e dissecados até as mais íntimas particularidades. E chegamos mesmo a afirmar que o estudo da obra de Flammarion é imperiosidade para aquele que deseje - integralmente - assimilar o cerne da Terceira Revelação, como Ciência altamente positiva, onde o fanatismo não logra vislumbrar abrigo que lhe esconda a carência de bases seguras e firmemente alicerçadas no mais resistente dos terrenos: a razão norteada pela fé no Evangelho de Jesus. E é exatamente nestes termos que nos fala o autor quando, na exposição da realidade do Universo, nos coloca face a face com as quinhentas e doze páginas de "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos", verdadeiro tratado que nos aproxima ainda mais do Criador e, conquanto científico, recorda-nos a todo instante a real necessidade de "despir o homem velho", "não colocando remendo de pano novo em roupa velha, nem deitando vinho novo em odres velhos".

            Em março de 1900, em Paris, surgia "L'Inconnu et les Problèmes Psichiques", obra de fôlego, onde o amor pela verdade é a tônica, assim como a comprovação dos fenômenos psíquicos deixa o esdrúxulo terreno das hipóteses fantasiosas, incorporando-se à falange da lógica e da veracidade.

            Analisando o livro em pauta, o estudioso chega a inúmeras conclusões (das quais aqui só citamos algumas) que, perante a razão e a fé raciocinada, tornam-se incontestes, imbatíveis:

            1. Há regiões vibratórias que fogem às nossas mesquinhas percepções.

            2. Essas regiões encerram - a par daqueles estudados - fatos que ainda não logramos compreender.

            3. O ser humano, antes de matéria bruta, é a centelha de inspiração, originária de Deus, caminhando - pela evolução incessante - para a síntese, posição almejada por todos os Espíritos.

            4. Essa matéria é mera exteriorização de um modelo invisível aos sentidos grosseiros, residindo naquele modelo a sede do inconsciente e de toda e qualquer sensação.

            5. O cérebro é como anteparo que dosa a energia perispiritual, sem o que jamais suportaríamos a pressão psíquica em nós mesmos, individualidades imateriais.

            6. Os fenômenos psíquicos podem ser classificados como subjetivos e objetivos; aqueles passar-se-iam no interior de cada um, assumindo as mais variadas formas, assim como premonições e transmissão de sensações nos casos de morte súbita, caso em que as ondas projetadas pelo emissor - (ainda que inconscientemente) encontram eco em individualidades propícias, com a sensibilidade habilitada à percepção e, principalmente, com criaturas a que o emissor esteja psiquicamente vinculado. Como exemplo dos fenômenos subjetivos, temos o caso em que A, tendo alguém de sua amizade enfermo, vê, repentinamente, abrir-se uma janela e fechar-se a seguir, bruscamente, enquanto sensação estranha de "algo acontecido" lhe invade o ser. Propondo-se a examinar o ocorrido, verifica que, em frente à janela que se lhe abrira e fechara de súbito, existe um vaso com flores que nem ao menos foi lascado, não obstante estivesse na trajetória das bandas da viseira que - certamente - caso houvesse objetividade no fenômeno, teriam quebrado o objeto. Intrigado com o acontecimento e, ciente da enfermidade do amigo, A resolve pedir notícias, informando- se então da súbita piora do paciente que, precisamente à hora em que se deu o fenômeno, desencarnava em cidade distante, pronunciando o nome de A. E Flammarion, com sua lógica irrespondível, explicita o ocorrido como uma exteriorização do desencarnante naquele mesmo momento, exteriorização essa que, enviada diretamente a A, foi por ele captada, agindo da forma acima apresentada (o fenômeno em si). Já o fenômeno objetivo seria uma manifestação percebida por todos os circunstantes. (caso os houvesse, é óbvio). Neste caso, teria havido uma ocorrência física, para a qual as reservas de A foram utilizadas. E o jarro, se não houvesse sido lançado a distância e se espatifado, teria sido, quando menos, lascado pelo golpe das bandas de madeira.

            7. As ALUCINAÇÕES deixam de ser o "fantasma" dos espíritas iniciantes (e iniciantes os há ainda que há longos anos), bem como cessam de constituir-se na "arma secreta" (?!) dos detratores incondicionais do Espiritismo. Camille Flammarion prova - com a simplicidade e a precisão que lhe são peculiares - que semelhante fenômeno, em termos genéricos, atém-se à inexistência de causas exteriores, obedecendo a comandos íntimos, de um modo geral, produto de mentes enfermiças e já propícias a semelhantes enganos. Sempre que houver elemento exterior, denotando vontade de alcançar previsível finalidade, a situação escapa aos terrenos da alucinação pura e simples e encaminha-se à seara das manifestações diversíssimas da alma humana. Sim, porque mesmo os fenômenos apontados como subjetivos constituem-se em fonte de comprovação da existência da alma que, com Flammarion, atinge os píncaros da lucidez e da compreensão. Gostaríamos apenas de recordar que sua obra é fartamente acatada nos terrenos científicos.

            8. Há os fenômenos que não podem ser caracterizados como "post-mortem", no sentido de comunicação com os desencarnados, mas que, nem por isso, deixam de corroborar as asserções da Doutrina, uma vez serem legítimas manifestações anímicas. E essas atividades do ser mais íntimo são a própria constatação de sua realidade e de sua imortalidade, na apologia da Lei da Reencarnação. Tais as comunicações "inter vivos" (a telepatia, as comunicações psíquicas), sem falarmos na sugestão mental e em todos os acontecimentos que se dão entre os encarnados, entre os desencarnados, e entre estes e aqueles. São os desencarnados os manifestantes da vida do Além, magistralmente abordada na percuciente análise de "A Morte e o seu Mistério", volume III, "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos" e, principalmente, em "As Casas Mal-Assombradas" .

            Destarte, em todos os momentos, borbulham as comprovações matemáticas, o assentimento da razão esclarecida, a inabalável lógica e a apologia do raciocínio humano, o que nos marca a saída das primícias da evolução. A certeza do nobre destino humano estabelece-se cientificamente e, a todo momento, citações acalentadoras vêm ratificar o inenarrável poder da fé raciocinada. Assim, a recordação de Lemièrre: "Crer que tudo se sabe é um erro profundo"; a presença de Shakespeare: "Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que admite a nossa vã filosofia"; além da magistral sentença de Arago que, incessantemente, Flammarion traz à baila: "Aquele que, fora das matemáticas puras, pronuncia a palavra IMPOSSíVEL, falta à prudência." Semelhantes citações, em FIammarion como em qualquer outro missionário da luz, não se constituem em demonstração insossa de cultura ou de erudição, o que, aliás, ele possuía em margem amplíssima, mas em elemento ratificador dos móveis que o levaram a contribuir para a difusão da Terceira Revelação, quais sejam, a fé e a Ciência puras, em perfeita aliança. Além disso, visivelmente inspirado, recorda em termos indiretos que a dogmática e a ortodoxia da ciência "dita absoluta" (em realidade, a pseudociência) não mais devem encontrar portas abertas à sua propagação nefanda, qual ocorria nos meios de então, sem que se atentasse para os efeitos do fenômeno em estudo. Do mesmo modo, a fé cega, o fanatismo, a beatice e a carolice são posições incompatíveis com as fartas luzes que, com a Terceira Revelação, desciam e continuarão a descer sobre a Terra. Por isso, Camille Flammarion - espírito positivo, mas terno e equilibrado - corrobora o pensamento de Allan Kardec, exposto na oração que diz: "A fé cega já não é para este século", assim como naquela outra: "Fé raciocinada só o é aquela que pode encarar face a face a razão, em qualquer época da humanidade." Desta forma, a mudança se impõe - lembra-nos o missionário - porque na pura expressão do Cristo de Deus "não se põe remendo de pano novo em roupa velha; e não se deita vinho novo em odres velhos" (Mateus, IX, 16 e 17).

            Mais adiante (seria melhor dizer, durante toda a sua obra), Flammarion lança mão do método positivo, da investigação apurada dos fatos; nada admite ou nega aprioristicamente. Em "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos", a páginas 200, assevera: "Eis aí cento e oitenta observações de manifestações de moribundos (tendo eu outras tantas inéditas). Será possível, após uma leitura conscienciosa e imparcial dessas observações, considerá-las apenas como invencionices, contos imaginários ou simples alucinações com fortuitas coincidências? Uma negação pura e simples não é aqui aceitável." Como se observa, o método científico funciona "a todo vapor", não obstante encontrar-se escoimado de uma pretensa irrevogabilidade, o que apenas se justifica face aos pseudocientistas, aqueles que alardeiam muito mais do que lhes possibilitaria o real cabedal de conhecimentos. Aquele que em realidade possui o tão decantado espírito de ciência, prescinde a todo e qualquer momento de demonstrá-lo acintosamente, vestindo um manto de sabedoria que se esboroa à primeira análise acurada. Antes, todos nós precisamos afirmar-nos como Espíritos, possuidores de um corpo material humano momentâneo, porque somos em primeiro lugar espíritos falidos. Como nos dizia uma companheira de Doutrina, "a perfeição está dentro de nós, apenas coberta com uma infinidade de camadas de impurezas, camadas essas tão arraigadas, enraizadas em nossas constituições que - por muito tempo ainda -, estaremos a debater-nos pela sua destruição, até que consigamos mostrar a perfeição nossa, porque filhos de um Pai que é perfeito, o que, como é óbvio, não implica afirmar que seremos perfeitos como Deus". Em realidade, os que agem precipitadamente sequer leram conscienciosa e imparcialmente a narração dos fatos; estes são orgulhosos impenitentes, recheados do vento de uma ciência esdrúxula, bem expressões do vício que "precisa desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta" (in "O Evangelho segundo o Espiritismo", 57ª ed. FEB, pág. 181, mensagem do Espírito Emmanuel, intitulada O Egoísmo).

            Assim raciocinando, Flammarion levanta uma interessante questão que é o ponto em que os negadores gratuitos insistem, na atualidade: "Qual o valor real dessas narrações?" ("O Desconhecido e os Problemas Psíquicos", pág, 201, ed. FEB, 1954). Ressalte-se que as narrações a que ele se refere são os testemunhos a favor do Espiritismo. E ele mesmo 
exalta a qualidade, aliada à quantidade saudável (conjunto que gera o equilíbrio) propondo análise qualitativa e quantitativa. Não há que alegar estado mórbido quando da produção do fenômeno. A telepatia, por exemplo, pode ser verificada enquanto o "sujet" se encontra em perfeito estado de ânimo, na plena posse de suas faculdades tendo, inclusive, os reflexos em plena atuação. Do mesmo modo - perguntamos - o fenômeno mediúnico em si poderia ser apresentado como um estado mórbido? Jamais. Apenas deve o médium evangelizado colocar-se em sintonia com a Espiritualidade Superior através da prece sincera e da concentração verdadeira. Naturalmente, se nos propusermos à concentração, esquecidos da prece e pensando no baile de amanhã e ou em questões semelhantes, que não são próprias para a seriedade do momento, somente conseguiremos manifestações frívolas, se não acarretarmos para nós mesmos alguns problemas bastante desagradáveis. Como disse André Luiz, em "Nos Domínios da Mediunidade", "em mediunidade a sintonia é vital". Durante uma incorporação, por exemplo, o indivíduo ali está cedendo suas faculdades ao comunicante, segundo o grau em que a mediunidade lhe seja própria. O que há, perguntamos, de patológico ou mórbido em tudo isso? Mórbidas são as lastimáveis viciações mediúnicas, em que o sensitivo estrebucha, onde a imaginação prolifera assustadoramente, dominando por completo... Chocantes são os processos de auto-obsessão que levam às mais nefastas influenciações e, afinal, às mais tristes subjugações e fascinações, em que o incontrolável desejo de projeção fecha a válvula da prudência e do bom senso, deixando o médium ao sabor das inteligências sinistras que, abertos os flancos, passam a insuflar-lhe os mais mesquinhos e trágicos pensamentos. Mórbido é o estado de aniquilamento moral a que muitos se lançaram, no afã incontrolável de progresso material, essencialmente efêmero, transitório, ilusionista. O estudo sério da obra de Flammarion impregna-nos da certeza de que os fenômenos mediúnicos são inumeráveis, variando "ad infinitum". No entanto, deixa-nos igual certeza no sentido de que o médium será sempre responsável, recordando-nos de que "muito será pedido a quem muito recebeu". E, concomitantemente, relembra-nos o grau de responsabilidade de que nos investimos, uma vez que, no trato com inteligências normalmente ocultas aos nossos sentidos materiais, precisamos estribar-nos na fé raciocinada, na misericórdia divina, nas regras do bem proceder, para a manutenção de elevado padrão vibratório, únicos meios de nos mantermos em contato com a Espiritualidade Maior, responsável pelas obras meritórias efetuadas em qualquer parte do Universo.

            Em prosseguimento à nossa pequena análise, a páginas 203 de "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos", o astrônomo "que abriria a cortina dos mundos, desenhando as maravilhas das paisagens celestes, cooperando assim na Codificação Kardeciana no Velho Mundo e dilatando-a com os necessários complementos" (in "Brasil, Coração do Mundo, átria do Evangelho", pág. 176, 9ª ed. FEB), expõe seu método de trabalho, respondendo às alegações de que os fatos teriam sido aumentados supervalorizados, postos em relevo, quando afirma: "Examinei e discuti essa hipótese, igualmente, com a máxima atenção, e concluí que, de modo algum, é ela suficiente. 1º - Nos casos em que pude controlar os fatos constatei que se passaram eles pouco mais ou menos como as narrativas os tinham revelado. 2º - as pessoas que os descrevem tomam, em geral, o cuidado de demonstrar que se acham em um estado de saúde normal, que não são sujeitas às alucinações, que observaram e constataram os fatos com o maior sangue-frio e que estão certas disso; 3º - afastei dessas narrativas tudo aquilo que foi experimentado em sonho (na época justificava-se e - ainda hoje - é mister se tenha muita atenção) e conservei somente os casos de observadores perfeitamente despertos; 4º - eliminei todos aqueles que parecem que devem ser atribuídos à imaginação, à auto sugestão ou às diversas espécies de alucinações." (O parêntesis do texto é nosso.)

            Eis aí, parece-nos, a prova do móvel seríssimo da pesquisa de Flammarion: a implantação da verdade. Achamos que a chamada Metapsíquica viu-se banhada por novas luzes, quando da contribuição do grande estudioso francês. Teçamos, então, os nossos comentários.

            Em primeiro lugar, a fidelidade maior ou menor com que se relate um evento (principalmente os mediúnicos) prende-se, dentre outros fatores, ao estado emocional do indivíduo: as narrações de um modo geral vêm eivadas do colorido emocional próprio, o que, entretanto, não obsta a que nos esforcemos por retratar com certa fidelidade o acontecido. De qualquer modo, achamos que um bom observador, munido de boas intenções, sempre saberá abstrair-se dos exageros, às vezes inconscientes, razão pela qual achamos justíssimo o exame sadio daquilo que nos chegue às mãos, exame esse imparcial e lúcido. Em segundo lugar, será bom procedermos a uma análise da criatura que nos procura, sondando suas verdadeiras intenções (com base na lei das probabilidades), realizando observações em torno de seu estado psíquico e material, bem como de seus problemas mais à vista. Assim, estaremos resguardando a nós e àquele que nos procura, de uma possível desilusão, com todo o seu séquito de problemas. Em terceiro lugar, o autor cita o caso dos sonhos que, em nossos dias, assume características de importância capital, sempre que estudado à luz da Doutrina dos Espíritos. Bem sabemos das atividades que se desenvolvem no plano espiritual com a participação dos encarnados, onde os mais interessantes fenômenos e as mais nobres atividades se desenrolam. Aproveitando nossa boa vontade, os denodados companheiros do plano invisível, com sua paciência para com nossas imperfeições, conduzem-nos a locais de trabalhos (nem sempre os mais agradáveis, mas certamente os mais necessários), onde o ódio encontra as vibrações da complacência e do amor, e onde, muitas vezes, no choque das trevas com a luz, em regiões assustadoras, o incongruente oposicionismo gratuito se dissolve ao contato dos aromas balsamizantes do Alto, onde as inteligências desvirtuadas tombam ao influxo do amor santificado do Mestre de Nazaré. E, de tudo isso, dessas lutas titânicas e das frequentes vitórias que delas se originam, recolhemos o móvel de nossas vidas, sob forma de vaga lembrança, que nos
fica em todo o ser quando retornamos ao corpo e despertamos para a materialidade do mundo a que nós mesmos nos arrojamos. Nem todos os sonhos, entretanto, são tão lúcidos, apresentando-se, outrossim, eivados de nossos prejuízos e de nossas interpretações pueris. No entanto, há sempre algo sobre que meditar, porque resta sempre algum exemplo mais gritante, frequentemente aquele que nos falta ainda. O sonho é produto de nossa vida como espíritos, cujas lembranças mais ou menos guardamos, na razão direta de nossa posição verdadeira no mundo. Em quarto lugar, Flammarion nos diz da imaginação, da auto sugestão e das alucinações. Vamos por etapas, provando quanto o verdadeiro entendimento de sua obra nos poupa lágrimas e grandes aflições no campo mediúnico, ressalvadas as hipóteses em que nossa teimosia se faz sentir com todo o seu peso, bem como as consequências das leis cármicas imperiosas a nosso próprio benefício.

            O médium evangelizado, o trabalhador esclarecido da seara da verdade, não pode prescindir de disciplina que o impulsione ao conhecimento do Evangelho e da Doutrina, fontes inesgotáveis de esclarecimento, sem o que, quase sempre, mergulha em um oceano de dúvidas, onde a mistificação adquire inusitadas proporções e, de modo geral, presenciamos as mais dolorosas quedas em meio aos sofrimentos mais excruciantes. A vivência do Evangelho, que lhe é o principal alimento moral, auxiliando-o a consolidar as bases onde edificar-se-á a construção de sua vida, e o conhecimento profundo de preceitos de Doutrina, que lhe possibilita o discernimento sobre sua própria atividade mediúnica, conferindo-lhe a lucidez de que precisa investir-se, visando à não aceitação cega do "amarelo por verde" - são as normas de base do mediunato com Jesus. O médium que proceder dentro de tais moldes estará de posse da mais completa e eficaz arma contra a mistificação, a obsessão e a imaginação, arma esta que são a caridade e o raciocínio. Com aquela, os casos de obsessão ficam reduzidos a um mínimo: os casos cármicos, os grandes dramas do passado; com o raciocínio, a mistificação poderá ser desbaratada e a imaginação controlada, sempre que tente fertilizar-se em demasia. Raciocínio e caridade - intelecto e sentimento - novamente aparecem como elementos componentes da síntese, vivamente inspirada pelos Amigos Espirituais. Exemplificando: quantas vezes os Espíritos não esclarecidos tentam enganar-nos, apresentando-se em alvos mantos, forçando um sorriso de "júbilo", encenando toda uma trama, com mãos postas e a proferir belas palavras, falando de Deus e do Cristo, "orando fervorosamente ao Alto", tentando confundir-nos de todos os modos possíveis e imagináveis, não obstante suas irradiações sejam incrivelmente desagradáveis, às vezes verdadeiras descargas fluídicas? Quantas vezes esses infelizes companheiros a quem amamos com muita pureza e intensidade vão a requintes de armadilhas que, caso não estejamos estribados no Evangelho de Jesus e com o raciocínio bem aclarado pelas luzes doutrinárias, nos são verdadeiramente ameaçadoras? Quantas vezes, na sua imperfeição, conservam por debaixo dos alvos mantos as tonalidades que lhes são próprias, antes um preto carregado, às vezes aparecendo em diminutíssimas regiões de suas individualidades? São os visgos da fuligem mental que trazem dentro deles mesmos, no culto ao obscurantismo e aos desejos irreprimidos de subjugação. No entanto, oremos por eles, não nos entibiando com os atos incríveis que perpetram e com as ameaças que proferem quando o Evangelho e a Doutrina, com seus sublimes fachos de luz, possibilitam-nos o reconhecimento das enganosas situações urdidas contra nós. Leiamos para eles e interpretemos com eles uma ou outra página de luz, propiciando-lhes um pouco de paz. Não nos horrorizemos com as sombras, mas procuremos eliminá-las com muito amor.

            De outras vezes, esses Espíritos tentam sugestionar-nos em momentos de fraqueza nossa, criando quadros vivos que se cristalizam e investem contra nossas mentes com violência, quase a dominar-nos... Quantos médiuns invigilantes perdem-se em semelhantes processos, julgando-se impenetráveis e "senhores de um espírito forte", asseverando a todo o fôlego: "Meus guias me hão de proteger de qualquer modo, não importa o que eu faça." Que lástima que isso ainda aconteça!.. Mal sabem eles que são os próprios escravos de suas imperfeições, fascinados e dominados por uma sugestão constante, mas sutil, que tece suas malhas em torno do alvo, precipitando-o depois ao abismo das queixas. Pretextando "grande força mental", não conseguem sequer entrever os sorrisos à sua volta, que lhe atestam a condição perigosa do futuro. E, quando a rede se fecha, surgem os gritos de revolta, as acusações de injustiça e a célebre frase: "Espiritismo, máquina de fazer loucos." No entanto, eles mesmos buscaram a escuridão em que se encontram, na prática da satisfação imediata, no gozo de situações antievangélicas que, inobstante as rogativas e os avisos do Alto, insistiram em manter. Apenas gostaríamos de recordar a passagem de Mateus, VII, 7 a 11: "Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei e se vos abrirá; porquanto quem pede, recebe; quem procura, acha e àquele que bate, se abre." Cada um de nós escolhe o que pedir, a quem pedir, o que buscar e a quem buscar e, evidentemente, a porta de quem bater. Assumamos, de tal modo, a responsabilidade de nossos atos.

            Todas essas ilações que apresentamos, colhemo-Ias na obra portentosa de Flammarion que, em sua lógica, nos concita ao discernimento. Ainda a páginas 205, nota 43, de "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos",  explica-nos: "Uma alucinação é essencialmente uma percepção falsa." Por isso, o médium precisa saber que, em termos de mediunidade, essa percepção falsa, quando atinge a níveis alarmantes, requer ser combatida pela oração, pela conversa amiga, franca e sadia com os mais experimentados no assunto, pelo pedido sincero de aconselhamento por parte da Espiritualidade esclarecida. Dizemos "quando atinge a níveis alarmantes", isto é, "anormais", porque todo médium, ainda dentro da condição humana, tem suas falhas, seus erros, suas falsas percepções (no bom sentido) da realidade, seja por receio de falsear essa realidade ou por outra qualquer causa. Daí se deduz que uma falha mediúnica comum, simples, muito embora deva ser examinada com alerta, não pode ser considerada como destruição absoluta, como obsessão pavorosa ou como mistificação afrontadora. Precisamos saber lidar com as criaturas humanas, respeitando-as como merecem de fato, amando-as fraternalmente, procurando alertá-las sem feri-las ou violentá-las. A oração será sempre o melhor remédio, assim como a melhor profilaxia. Jamais nos revoltemos, permitindo que se instale a escuridão íntima!... E quanto aos infelizes que a nós se apegarem como consequência da afinidade fluídica a que nós mesmos (quase sempre) demos azo, não os execremos, "deixando que sofram por aquilo que devem sofrer" ... Somente a terapia do amor poderá esclarecê-los, a eles e também a nós. Por isso tudo, pela verificação desta parte imaterial do ser humano - um verdadeiro universo - é que Flammarion, sob a roupagem da Ciência iluminada pela virtude, evidencia, com a mesma sinceridade que lhe possibilita as palavras de páginas 509, 510, 511 e 512, de "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos": "Tenho para mim que as conclusões seguintes resultam logicamente dos fatos expostos: - a alma existe como personalidade real, independente do corpo; - a alma é dotada de faculdades ainda desconhecidas da Ciência; - ela pode agir e perceber a distância, sem os sentidos como intermediários; - o futuro é de antemão preparado, determinado pelas causas que o produzirão. A alma percebe-o algumas vezes."

            Naturalmente essa preparação do futuro é uma simples decorrência da Lei de Causa e Efeito, produto de escolhas nossas, acontecimentos necessários aos resgates que devemos enfrentar. No entanto, a Misericórdia Absoluta concede-nos inúmeras moratórias e nós, por outro lado, às vezes precipitamos acontecimentos que, conquanto estando impressos em nós mesmos, deveriam, pela Sabedoria Total, verificar-se mais adiante em nossa marcha, quando mais fortalecidos nos achássemos para o resgate. Aí está a gloriosa atividade do livre arbítrio, que exclui um fatalismo puro, incondizente com a Misericórdia do Altíssimo. Sabemos de casos em que resgates tristíssimos, pedidos pelos próprios espíritos reencarnantes, foram abrandados pelo bom desempenho das tarefas quando da reencarnação. De tal modo, pelo que se lê nas obras doutrinárias, tudo acontece naturalmente, razão pela qual o fatalismo desmedido e exacerbado esboroa-se completamente. Se alguém, por motivo qualquer - basicamente pelas violências - imprimiu deformações em sua organização perispiritual ou causou deliberadamente deformações em terceiros, esse alguém irá possivelmente sofrê-las em si mesmo, no resgate justo, sem que, para tal, no programa reencarnatório, haja necessidade de minúcias exageradas. É por isso que "somos os artífices de nós mesmos" e precisamos aceitar o paciente trabalho do buril do Evangelho, que nos prepara para novas conquistas, segundo a nossa vontade. 

            É isso tudo que precisamos compreender, com o pensamento constantemente voltado para o Alto. Não podemos agir como a "assembléia de doutos" que, em 1792, acolheu com retumbante gargalhada a descoberta de Galvani, tachando-a de "dança das rãs".

            Mais adiante, precisamente a páginas 512, Flammarion convida todos os verdadeiros estudiosos à pesquisa bem orientada, asseverando a exiguidade dos sentidos físicos a que nos achamos jungidos e chamando-nos ao mergulho no "desconhecido" -- o mundo espiritual --, relembrando Lamartine: "É a vida um degrau dessa escada dos mundos, que devemos subir para alcançar o Além." Em realidade - lembramo-nos nós - o mundo espiritual é nosso imenso conhecido, ao menos as paragens em que podemos penetrar, as correspondentes ao nosso teor vibracional, à nossa maior ou menor densidade perispiritual, pois que nele fomos criados, nele deveríamos ter permanecido para a evolução em linha reta. Mas a nossa queda impediu-nos de seguir adiante, forçando-nos a tachar o mundo espiritual de "desconhecido". Mas, felizmente, aí está o Paracleto a desvendar esse mesmo desconhecido, mostrando-o em todo o seu vigor.

            Obedecendo à necessidade sublime de esclarecimento, que deve ser norteada pelo Evangelho do Cristo, acorremos ainda às páginas sublimes de "A Morte e o seu Mistério", os três portentosos volumes de Flammarion que lançaram algumas luzes a mais sobre  nosso diminuto entendimento, um pouco mais de paz a nós mesmos. A princípio, após havermos estudado as 512 páginas de "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos", bem assim, como sempre o fazemos, a Codificação de Allan Kardec, "Os Quatro Evangelhos", de Roustaing, e as sublimadas páginas da produção do amoroso Léon Denis, confessamos nosso susto face às 1.046 páginas de "A Morte e o seu Mistério". No entanto, a orientação que recebemos da Espiritualidade era a de que pesquisássemos sempre, com o Evangelho presente em nosso ser, ao mesmo tempo que ressaltavam os amigos a importância da obra de Flammarion, complementação indispensável ao entendimento global da Doutrina Espírita, corroboração da grandiosidade de Deus, na múltipla manifestação de Suas santas leis e ponte segura sobre o abismo da falsa Ciência, conduzindo aos páramos das luzes evangélico-científicas. E assim começamos a pesquisa, detendo-nos de imediato perante a força da argumentação presente no capítulo II, intitulado "O Materialismo - Doutrina errônea, incompleta e insuficiente". Ali, Flammarion nos diz que os gritos e estertores do Materialismo comprovam a sua queda, uma vez que uma verdade impõe-se por si própria. Aliás, a gritaria na tentativa de convencimento de terceiros, disse-nos um amigo espiritual, é produto exclusivo do egoísmo de cada um. Gritamos, esbravejamos porque nossa argumentação está sendo combatida e não propriamente porque estejamos defendendo uma causa por si só. E vemos Flammarion citar Auguste Comte, Littré, Soury e Renan, todos materialistas, "mas corações profundamente dedicados ao homem". De início, revoltamo-nos contra essas figuras, apenas pelo fato de que eram materialistas. Mas Flammarion nos recorda: "Esses eminentes espíritos são respeitáveis nas suas honestas convicções, que devemos respeitar como eles respeitaram as dos outros" (“A Morte e o seu Mistério", vol, I, pág. 33, ed. FEB, 1955). Somente assim compreendemos que "reconhece-se o verdadeiro espírita pelos esforços que intenta para domar as suas más inclinações" (Allan Kardec) e passamos a tomar outra atitude em relação aos que divergiam de nós. Aliás, sendo um cientista, não poderia Flammarion agir de outro modo, porque o verdadeiro cientista, aquele que traz o Evangelho no coração, sempre acata os pontos de vista de terceiros, sabendo respeitar a integridade do próximo, nada fazendo por meio do "sangue intelectual" (expressão utilizada por um companheiro da Espiritualidade). Em meio a tudo isso, a páginas 35, encontramos a resposta ao pensamento de Littré, chefe da escola positivista, que afirma: "Não se conhece nenhuma propriedade sem matéria, porque jamais se encontrou a gravitação sem corpo pesado, calor sem corpo quente, eletricidade sem corpo elétrico, afinidade sem substância de combinação, a vida, a sensibilidade, o pensamento, sem ser vivo, sentindo e pensando." Absolutamente falho é o raciocínio, demonstra-nos o astrônomo do Juvisy. E replica: "A vontade de um ser humano, mesmo a da criança, é pessoal, consciente, ao passo que a gravitação, o calor, a eletricidade, são impessoais, inconscientes, consequências de certos estados da matéria, fatais, cegos, essencialmente materiais por si mesmos... O próprio raciocínio científico erra pela base! O calor, por exemplo, nem sempre provém de um corpo quente: o movimento, que não tem temperatura alguma, produz calor. O calor é um modo de movimento. A luz é também um modo de movimento. A natureza da eletricidade continua desconhecida." E é assim que o verdadeiro espírita precisa agir, sendo equilibrado nos conceitos que emite, vigoroso e positivo, conquanto respeitador da opinião alheia. Assim nos surge a figura de Flammarion, honesto e sincero em seus conceitos, positivo e profundo em sua abordagem de temas tão sutis.

            O segundo volume de "A Morte e o seu Mistério" aborda as manifestações ocorridas durante a morte, já prenunciando o desfecho do terceiro tomo - "Depois da Morte" -, onde será exaltada ainda mais a sobrevivência da alma. "Durante a Morte" examina a manifestação de moribundos, a mediunidade no leito de morte, as já célebres advertências, as sensações mentais de mortes a distância, etc. Dos diversos casos narrados, escolhemos um que bem prova a existência da alma, a sede das sensações no perispírito e que, enfim, retira o ser humano da visão absurda que o materialismo apregoa. Encontra-se inserido a páginas 229 da mencionada obra: "Um dia, num domingo, durante o almoço de uma família muito unida, na Escócia, uma das meninas, Mariana Griffiths, levanta-se da mesa e vai para o jardim. Procuram-na e encontram-na sentada com a cabeça entre as mãos, fitando um buraco cheio d'água, parecendo imobilizada pelo terror, soltando depois um grito de angústia por sentir que seu irmão morrera afogado.

            Este irmão, de dezenove anos, muito amado por sua irmã (família composta de oito pessoas), estava então a 14 milhas (22 quilômetros) distante de Blackall, onde os seus viviam e afogara-se precisamente a essa hora, em Fifth-of-Forth, ao tomar um banho. Era domingo, 19 de agosto de 1869."

            Trata-se de um caso de transmissão de sensação a distância, entre seres que se achavam - como se depreende da narração - em bom grau de afinidade mental, pessoal, um transmitindo ao outro as sensações penosas da desencarnação por afogamento. Naturalmente, tendo volvido, no momento do decesso, o pensamento para a irmã querida, as ondas emitidas imediatamente entraram em contato com a organização da sensitiva, propiciando-lhe a certeza do ocorrido. Conhecemos por nosso lado uma infinidade de casos em que a visão da desencarnação é comunicada ao indivíduo, em seus pormenores, e onde, inclusive, os odores do ambiente em que ela ocorre são também transmitidos. Por exemplo, em um quarto com muitos medicamentos; se em um jardim com flores; se em plena rua, com o asfixiante teor do monóxido de carbono emanado dos veículos em locomoção; se à beira de uma praia, onde a maresia se imponha pela própria natureza, etc., etc. Às vezes, nem chega a ocorrer a desencarnação, mas simplesmente a passagem por uma situação de extrema periculosidade. E note-se que, em tais casos, quando não estamos em nossos lares, estamos a passar em frente a um posto de gasolina, enquanto vemos as cenas comunicadas e sentimos fortíssimo odor de medicamentos ou de flores, ou a maresia até mesmo incomodativa. E nós perguntamos se seriam todos esses fenômenos produtos da matéria bruta ou estariam intimamente vinculados com o verdadeiro ser que somos nós, possuidores momentâneos de um corpo de carne. É óbvio que a pesquisa e o estudo constantes nos levam a consagrar como unicamente possível o segundo caso que, até então, seria mera hipótese. É isso que Flammarion nos faz entender: a certeza científica pura (assim como todos os colaboradores de Allan Kardec) da imortalidade do ser, como Lei divina, eterna e imutável portanto.

            E, finalmente, alcançamos o terceiro volume da obra: "Depois da Morte". De início, Flammarion considera o depois da morte como o templo fechado, "mas já esta porta pareceu entreabrir-se em nossas excursões à fronteira dos dois mundos".

            E lembramo-nos então da religião da Cidade Antiga, toda fundamentada na crença da existência "post mortem", Os lares, os manes, os penates, deuses domésticos e protetores da família, cujo culto era inviolável, realizado a portas fechadas, obedecendo a complicado ritual "garantidor da felicidade dos entes queridos". Tudo isso ressurge da poeira dos tempos apenas com a disciplina do Cristianismo, com a certeza do cumprimento das palavras do Cristo de Deus. Qual libélula que deixa o casulo iniciático e proclama a plenos pulmões a verdade eterna, é o Espiritismo o roteiro libertador das almas que somos nós mesmos. Enquanto Hegel proclamava o Cristianismo como surgimento da "consciência infeliz", Flammarion ajuda a levar bem alto a bandeira libertadora da humanidade, demonstrando que a infelicidade encontra-se dentro de nós mesmos e que o Espiritismo, o Cristianismo Redivivo, é a religião natural, verdadeira, a mesma religião antiga, apenas desprovida de liturgias quaisquer de ritos e de dogmas, de materialidades. Enquanto a religião antiga derramava o néctar e os alimentos em geral sobre o túmulo dos "mortos", garantindo-lhes a vida no Além nós precisamos derramar sobre todos os companheiros os bálsamos da caridade, em forma de preces sinceras, esquecendo o ódio. "A alma é independente do organismo material e continua a viver depois da morte", afirma Camille FIammarion, a páginas 366, do terceiro tomo de "A Morte e o seu Mistério". "Tratava-se, antes de tudo, de provar com observações positivas - prossegue ele - numerosas,de acordo todas com a realidade da sobrevivência; ISTO ESTÁ FEITO." E, mais adiante: "O futuro ajuizará dos resultados desse esforço. Pusemos em prática o convite de Jesus: Procurai e achareis. Sejam quais forem os progressos das descobertas futuras, nossa doutrina adquirida se resume, de hoje em diante, nesses termos: O CORPO PASSA. A ALMA VIVE NO INFINITO E NA ETERNIDADE."

            Eis uma parte da obra de Camille FIammarion, a qual apenas recordamos imperfeitamente. Quanto ao mais, a Doutrina aí se encontra, a Espiritualidade Maior jamais nos nega amparo e inspiração, quando nos move um bom sentimento. Que dizer de um homem que, envolvido no pretenso espírito científico que o circundava, lança-se à pesquisa tendo em mente o "buscai e achareis", do único Mestre da humanidade, e, após escrever milhares de páginas, conclui pela realidade dos princípios apresentados pelos Espíritos a Allan Kardec, continuados por Roustaing, Léon Denis, por Gabriel Delanne? Poder-se-ia tachá-lo de açodado? De louco? De incauto? Ele que relembra Pitágoras ("As riquezas materiais adquirem-se e perdem-se. Que a tua vida se inspire na mais pura justiça!"), que cita o "Fédon", de Platão, que raciocinando chega à verdade... poderia ele ser esquecido?!. .. Sua obra é importantíssima!.. Sua argumentação científica é inigualável!.. Seu raciocínio é acuradíssimo! Seu coração é Imenso e o Cristo faz-se presente em toda a sua obra!..

            Por isso dizemos que, no dia 26 de fevereiro de 1842, em Montigny-Le-Roy, na França, reencarnou uma estrela, um ponto de luz que, muito embora perseguido em sua profíssão, não deixou de ser "o filósofo enxertado em sábio", no dizer de Gabriel Delanne e o "Poeta dos Céus", na classificação de Michelet.

            Na realidade, antes de lamentarmos sua desencarnação, ocorrida aos 4 de junho de 1925, no Juvisy, sintamos a presença do seu Espírito amoroso que, pela desencarnação, brilhou mais forte ainda!... E quando fitarmos o Infinito, à cata de uma estrela, agradeçamos ao Senhor a presença entre nós daquele que, perscrutando os céus auxiliou a desvendar o infinito da vida!..


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