Flammarion:
Nascimento e Vida
de uma estrela
por Gilberto
Campista Guarino
Reformador (FEB) Outubro 1973
Na incansável pesquisa empreendida
no campo imenso da Doutrina Espírita, lembramo-nos
incessantemente da plêiade de espíritos encarnados que - reunidos sob os céus
da Europa
-, ao contato do zéfiro amável das províncias, em terras de Mallarmé e de Zola, trouxeram
à luz a verdade há quase dois mil anos semeada diretamente pelo Cristo de Deus e
revivescida com a chegada do Paracleto à terra dos homens.
Como já tivemos oportunidade de
asseverar - com base nas revelações da Espiritualidade Complacente -, Kardec, Roustaing, Denis, Delanne e Flammarion são pontos de claridade na escuridão dos séculos de que
há pouco emergimos.
E vemos a unidade doutrinária
cantada a viva voz pelos mentores espirituais - amigos incondicionais
- que a cada palavra, a cada frase ressaltam - com o amor que lhes é peculiar -
o TODO HARMONIOSO do Espiritismo, como UNIVERSO dentro do UNIVERSO ETERNO. São
agora - os pontos de luz a princípio isolados - verdadeiro sol de sublimação,
fogo purificador, símbolo do compromisso que nos une a todos no "Coração
do Mundo, Pátria do Evangelho", na edificação do traçado crístico que,
decerto, desejamos continuar a seguir.
Já falamos - dentro de nossas
profundas limitações - de Kardec e Roustaing, comparando as obras de que
se constituíram, respectivamente, em codificador e coordenador. Do mesmo modo,
apontamos a importância ímpar da palavra de Léon Denis, em sua lúcida abordagem dos problemas do homem em
constante evolução, e da vida, única realidade fulgurante no contexto do
Universo. E (impossível disfarçar nossa emoção) é a esse mesmo Denis, a esse Espírito amigo, a esse
companheiro da espiritualidade que tão perto nos fala ao coração, que dirigimos
o pensamento inexpressivo, rogando o acréscimo do seu amor para todos os que -
nas lides doutrinárias - se empenham em buscar esclarecimento para si e para o
próximo. É a ele que pedimos inspiração para tratarmos da vida de mais um
daqueles marcos de luz a que nos referimos. Em outras palavras, estamos falando
do nobre Camille Flammarion, o
denodado astrônomo do Juvisy que, no labor espiritista, bem soube transmitir em
sua volumosa obra toda a positividade serenante da Ciência dirigida pelo
Evangelho do Amigo Maior.
Examinando os volumes herdados por
todos nós, elaborados por Flammarion,
impressionamo-nos face à brilhante lógica com que o autor aborda os mais
complexos temas da Ciência Espírita, todos apresentados e dissecados até as
mais íntimas particularidades. E chegamos mesmo a afirmar que o estudo da obra
de Flammarion é imperiosidade para aquele que deseje - integralmente -
assimilar o cerne da Terceira Revelação, como Ciência altamente positiva, onde
o fanatismo não logra vislumbrar abrigo que lhe esconda a carência de bases
seguras e firmemente alicerçadas no mais resistente dos terrenos: a razão
norteada pela fé no Evangelho de Jesus.
E é exatamente nestes termos que nos fala o autor quando, na exposição da
realidade do Universo, nos coloca face a face com as quinhentas e doze páginas
de "O Desconhecido e os Problemas
Psíquicos", verdadeiro tratado que nos aproxima ainda mais do Criador
e, conquanto científico, recorda-nos a todo instante a real necessidade de
"despir o homem velho",
"não colocando remendo de pano novo
em roupa velha, nem deitando vinho novo em odres velhos".
Em março de 1900, em Paris, surgia
"L'Inconnu et les Problèmes
Psichiques", obra de
fôlego, onde o amor pela verdade é a tônica, assim como a comprovação dos
fenômenos psíquicos deixa o esdrúxulo terreno das hipóteses fantasiosas,
incorporando-se à falange da lógica e da veracidade.
Analisando o livro em pauta, o
estudioso chega a inúmeras conclusões (das quais aqui só citamos algumas) que,
perante a razão e a fé raciocinada, tornam-se incontestes, imbatíveis:
1. Há regiões vibratórias que fogem
às nossas mesquinhas percepções.
2. Essas regiões encerram - a par
daqueles estudados - fatos que ainda não logramos compreender.
3. O ser humano, antes de matéria
bruta, é a centelha de inspiração, originária de Deus,
caminhando - pela evolução incessante - para a síntese, posição almejada por todos
os Espíritos.
4. Essa matéria é mera
exteriorização de um modelo invisível aos sentidos grosseiros, residindo
naquele modelo a sede do inconsciente e de toda e qualquer sensação.
5. O cérebro é como anteparo que
dosa a energia perispiritual, sem o que jamais suportaríamos
a pressão psíquica em nós mesmos, individualidades imateriais.
6. Os fenômenos psíquicos podem ser
classificados como subjetivos e objetivos; aqueles passar-se-iam no
interior de cada um, assumindo as mais variadas formas, assim como premonições
e transmissão de sensações nos casos de morte súbita, caso em que as ondas
projetadas pelo emissor - (ainda que inconscientemente) encontram eco em
individualidades propícias, com a sensibilidade habilitada à percepção e,
principalmente, com criaturas a que o emissor esteja psiquicamente vinculado.
Como exemplo dos fenômenos subjetivos, temos o caso em que A, tendo alguém de
sua amizade enfermo, vê, repentinamente, abrir-se uma janela e fechar-se a
seguir, bruscamente, enquanto sensação estranha de "algo acontecido"
lhe invade o ser. Propondo-se a examinar o ocorrido, verifica que, em frente à
janela que se lhe abrira e fechara de súbito, existe um vaso com flores que nem
ao menos foi lascado, não obstante estivesse na trajetória das bandas da
viseira que - certamente - caso houvesse objetividade no fenômeno, teriam
quebrado o objeto. Intrigado com o acontecimento e, ciente da enfermidade do
amigo, A resolve pedir notícias,
informando- se então da súbita piora do paciente que, precisamente à hora em
que se deu o fenômeno, desencarnava em cidade distante, pronunciando o nome de A. E Flammarion, com sua lógica
irrespondível, explicita o ocorrido como uma exteriorização do desencarnante
naquele mesmo momento, exteriorização essa que, enviada diretamente a A, foi por ele captada, agindo da forma
acima apresentada (o fenômeno em si). Já o fenômeno objetivo seria uma
manifestação percebida por todos os circunstantes. (caso os
houvesse, é óbvio). Neste caso, teria havido uma ocorrência física, para a qual
as reservas de A foram utilizadas. E
o jarro, se não houvesse sido lançado a distância e se espatifado, teria sido,
quando menos, lascado pelo golpe das bandas de madeira.
7. As ALUCINAÇÕES deixam de ser o
"fantasma" dos espíritas iniciantes (e iniciantes
os há ainda que há longos anos), bem como cessam de constituir-se na "arma
secreta" (?!) dos detratores incondicionais do Espiritismo. Camille Flammarion prova - com a
simplicidade e a precisão que lhe são peculiares - que semelhante fenômeno, em
termos genéricos, atém-se à inexistência de causas exteriores, obedecendo a
comandos íntimos, de um modo geral, produto de mentes enfermiças e já propícias
a semelhantes enganos. Sempre que houver elemento exterior, denotando vontade
de alcançar previsível finalidade, a situação escapa aos terrenos da alucinação
pura e simples e encaminha-se à seara das manifestações diversíssimas da alma
humana. Sim, porque mesmo os fenômenos
apontados como subjetivos constituem-se em fonte de comprovação da existência
da alma que, com Flammarion, atinge os
píncaros da lucidez e da compreensão. Gostaríamos apenas de recordar que sua
obra é fartamente acatada nos terrenos científicos.
8. Há os fenômenos que não podem ser
caracterizados como "post-mortem", no sentido de comunicação com os
desencarnados, mas que, nem por isso, deixam de corroborar as asserções da
Doutrina, uma vez serem legítimas manifestações anímicas. E essas atividades do
ser mais íntimo são a própria constatação de sua realidade e de sua
imortalidade, na apologia da Lei da Reencarnação. Tais as comunicações
"inter vivos" (a telepatia, as comunicações psíquicas), sem falarmos
na sugestão mental e em todos os acontecimentos que se dão entre os encarnados,
entre os desencarnados, e entre estes e aqueles. São os desencarnados os
manifestantes da vida do Além, magistralmente abordada na percuciente análise
de "A Morte e o seu Mistério",
volume III, "O Desconhecido e os
Problemas Psíquicos" e, principalmente, em "As Casas Mal-Assombradas" .
Destarte, em todos os momentos,
borbulham as comprovações matemáticas, o assentimento da razão esclarecida, a
inabalável lógica e a apologia do raciocínio humano, o que nos marca a saída
das primícias da evolução. A certeza do nobre destino humano estabelece-se
cientificamente e, a todo momento, citações acalentadoras vêm ratificar o
inenarrável poder da fé raciocinada. Assim, a recordação de Lemièrre: "Crer que tudo se sabe é um erro profundo"; a presença de Shakespeare: "Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que admite a nossa vã
filosofia"; além da magistral sentença de Arago que, incessantemente, Flammarion traz à baila: "Aquele que, fora das matemáticas puras, pronuncia a palavra
IMPOSSíVEL, falta à prudência." Semelhantes citações, em FIammarion
como em qualquer outro missionário da luz, não se constituem em demonstração
insossa de cultura ou de erudição, o que, aliás, ele possuía em margem amplíssima,
mas em elemento ratificador dos móveis que o levaram a contribuir para a
difusão da Terceira Revelação, quais sejam, a fé e a Ciência puras, em perfeita
aliança. Além disso, visivelmente inspirado, recorda em termos indiretos que a
dogmática e a ortodoxia da ciência "dita
absoluta" (em realidade, a pseudociência) não mais devem encontrar
portas abertas à sua propagação nefanda, qual ocorria nos meios de então, sem
que se atentasse para os efeitos do fenômeno em estudo. Do mesmo modo, a fé
cega, o fanatismo, a beatice e a carolice são posições incompatíveis com as
fartas luzes que, com a Terceira Revelação, desciam e continuarão a descer
sobre a Terra. Por isso, Camille
Flammarion - espírito positivo, mas terno e equilibrado - corrobora o
pensamento de Allan Kardec, exposto
na oração que diz: "A fé cega já não
é para este século", assim como naquela outra: "Fé raciocinada só o é aquela que pode encarar
face a face a razão, em qualquer época da humanidade." Desta forma, a
mudança se impõe - lembra-nos o missionário - porque na pura expressão do
Cristo de Deus "não se põe remendo
de pano novo em roupa velha; e não se deita vinho novo em odres velhos"
(Mateus, IX, 16 e 17).
Mais adiante (seria melhor dizer,
durante toda a sua obra), Flammarion
lança mão do método
positivo, da investigação apurada dos fatos; nada admite ou nega
aprioristicamente. Em "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos", a
páginas 200, assevera: "Eis aí cento
e oitenta observações de manifestações de moribundos (tendo eu outras tantas
inéditas). Será possível, após uma leitura conscienciosa
e imparcial dessas observações,
considerá-las apenas como invencionices, contos imaginários ou simples
alucinações com fortuitas coincidências? Uma negação pura e simples não é aqui
aceitável." Como se observa, o método científico funciona "a todo
vapor", não obstante encontrar-se escoimado de uma pretensa
irrevogabilidade, o que apenas se justifica face aos pseudocientistas, aqueles
que alardeiam muito mais do que lhes possibilitaria o real cabedal de
conhecimentos. Aquele que em realidade possui o tão decantado espírito de
ciência, prescinde a todo e qualquer momento de demonstrá-lo acintosamente,
vestindo um manto de sabedoria que se esboroa à primeira análise acurada.
Antes, todos nós precisamos
afirmar-nos como Espíritos, possuidores de um corpo material humano momentâneo,
porque somos em primeiro lugar espíritos falidos. Como nos dizia uma companheira
de Doutrina, "a perfeição está
dentro de nós, apenas coberta com uma infinidade de camadas de impurezas,
camadas essas tão arraigadas, enraizadas em nossas constituições que - por
muito tempo ainda -, estaremos a debater-nos pela sua destruição, até que consigamos
mostrar a perfeição nossa, porque filhos de um Pai que é perfeito, o que, como é óbvio,
não implica afirmar que seremos perfeitos como Deus". Em
realidade, os
que agem precipitadamente sequer leram conscienciosa
e imparcialmente a narração dos
fatos; estes são orgulhosos impenitentes, recheados do vento de uma ciência
esdrúxula, bem expressões do vício que "precisa desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta"
(in "O Evangelho segundo o Espiritismo", 57ª ed. FEB, pág. 181, mensagem
do Espírito
Emmanuel, intitulada O Egoísmo).
Assim raciocinando, Flammarion levanta uma interessante
questão que é o ponto em que
os negadores gratuitos insistem, na atualidade: "Qual o valor real dessas narrações?" ("O Desconhecido e os Problemas Psíquicos",
pág, 201, ed. FEB, 1954). Ressalte-se que as narrações
a que ele se refere são os testemunhos a favor do Espiritismo. E ele mesmo
exalta
a qualidade, aliada à quantidade saudável (conjunto que gera o equilíbrio)
propondo análise qualitativa e quantitativa. Não há que alegar estado mórbido
quando da produção do fenômeno. A telepatia, por exemplo, pode ser verificada
enquanto o "sujet" se encontra em perfeito estado de ânimo, na plena
posse de suas faculdades tendo, inclusive, os reflexos em plena atuação. Do
mesmo modo - perguntamos - o fenômeno mediúnico em si poderia ser apresentado
como um estado mórbido? Jamais. Apenas deve o médium evangelizado colocar-se em
sintonia com a Espiritualidade Superior através da prece sincera
e da concentração verdadeira. Naturalmente, se nos propusermos à concentração, esquecidos
da prece e pensando no baile de amanhã e ou em questões semelhantes, que não
são próprias para a seriedade do momento, somente conseguiremos manifestações frívolas,
se não acarretarmos para nós mesmos alguns problemas bastante desagradáveis.
Como disse André Luiz, em "Nos Domínios da Mediunidade",
"em mediunidade a sintonia é vital".
Durante uma incorporação, por exemplo, o indivíduo ali está cedendo suas faculdades
ao comunicante, segundo o grau em que a mediunidade lhe seja própria. O que há,
perguntamos, de patológico ou mórbido em tudo isso? Mórbidas são as lastimáveis viciações
mediúnicas, em que o sensitivo estrebucha, onde a imaginação prolifera
assustadoramente, dominando por completo... Chocantes são os processos de
auto-obsessão que levam às mais nefastas influenciações e, afinal, às mais
tristes subjugações e fascinações, em que o incontrolável desejo de projeção
fecha a válvula da prudência e do bom senso, deixando o médium ao sabor das
inteligências sinistras que, abertos os flancos, passam a insuflar-lhe os mais
mesquinhos e trágicos pensamentos. Mórbido é o estado de aniquilamento moral a
que muitos se lançaram, no afã incontrolável de progresso material, essencialmente
efêmero, transitório, ilusionista. O estudo sério da obra de Flammarion impregna-nos da certeza de
que os fenômenos mediúnicos são inumeráveis, variando "ad infinitum".
No entanto, deixa-nos igual certeza no sentido de que o médium será sempre responsável,
recordando-nos de que "muito será
pedido a quem muito recebeu". E, concomitantemente, relembra-nos o
grau de responsabilidade de que nos investimos, uma vez que, no trato com
inteligências normalmente ocultas aos nossos sentidos materiais, precisamos
estribar-nos na fé raciocinada, na misericórdia divina, nas regras do bem
proceder, para a manutenção de elevado padrão vibratório, únicos meios de nos
mantermos em contato com a Espiritualidade Maior, responsável pelas obras
meritórias efetuadas em qualquer parte do Universo.
Em prosseguimento à nossa pequena
análise, a páginas 203 de "O
Desconhecido e os Problemas Psíquicos", o astrônomo
"que abriria a cortina dos mundos,
desenhando as maravilhas das paisagens celestes, cooperando assim na Codificação
Kardeciana no Velho Mundo e dilatando-a
com os necessários complementos" (in "Brasil, Coração do Mundo, átria
do Evangelho", pág. 176, 9ª ed. FEB), expõe seu método de trabalho,
respondendo às
alegações de que os fatos teriam sido aumentados supervalorizados, postos em
relevo, quando
afirma: "Examinei e discuti essa hipótese, igualmente, com a máxima atenção, e
concluí que, de modo algum, é ela suficiente. 1º - Nos casos em que pude
controlar os fatos
constatei que se passaram eles pouco mais ou menos como as narrativas os tinham revelado.
2º - as pessoas que os descrevem tomam, em geral, o cuidado de demonstrar que
se acham em um estado de saúde normal, que não são sujeitas às alucinações, que observaram
e constataram os fatos com o maior sangue-frio e que estão certas disso; 3º
- afastei dessas narrativas tudo aquilo que foi experimentado em sonho (na
época justificava-se e - ainda hoje - é mister se tenha muita atenção) e
conservei somente os casos de observadores perfeitamente despertos; 4º -
eliminei todos aqueles que parecem que devem ser atribuídos à imaginação, à
auto sugestão ou às diversas espécies de alucinações." (O parêntesis do
texto é nosso.)
Eis aí, parece-nos, a prova do móvel
seríssimo da pesquisa de Flammarion:
a implantação da verdade. Achamos que a chamada Metapsíquica viu-se banhada por novas luzes, quando da contribuição
do grande estudioso francês. Teçamos, então, os nossos comentários.
Em primeiro lugar, a fidelidade
maior ou menor com que se relate um evento (principalmente os mediúnicos)
prende-se, dentre outros fatores, ao estado emocional do indivíduo: as
narrações de um modo geral vêm eivadas do colorido emocional próprio, o que,
entretanto, não obsta a que nos esforcemos por retratar com certa fidelidade o acontecido.
De qualquer modo, achamos que um bom observador, munido de boas intenções,
sempre saberá abstrair-se dos exageros, às vezes inconscientes, razão pela qual
achamos justíssimo o exame sadio daquilo que nos chegue às mãos, exame esse
imparcial e lúcido. Em segundo lugar, será bom procedermos a uma análise da
criatura que nos procura, sondando suas verdadeiras intenções (com base na lei
das probabilidades), realizando observações em torno de seu estado psíquico e
material, bem como de seus problemas mais à vista. Assim, estaremos
resguardando a nós e àquele que nos procura, de uma possível desilusão, com
todo o seu séquito de problemas. Em terceiro lugar, o autor cita o caso dos
sonhos que, em nossos dias, assume características de importância capital,
sempre que estudado à luz da Doutrina dos Espíritos. Bem sabemos das atividades
que se desenvolvem no plano espiritual com a participação dos encarnados, onde
os mais interessantes fenômenos e as mais nobres atividades se desenrolam.
Aproveitando nossa boa vontade, os denodados companheiros do plano invisível,
com sua paciência para com nossas imperfeições, conduzem-nos a locais de
trabalhos (nem sempre os mais agradáveis, mas certamente os mais necessários),
onde o ódio encontra as vibrações da complacência e do amor, e onde, muitas
vezes, no choque das trevas com a luz, em regiões assustadoras, o incongruente
oposicionismo gratuito se dissolve ao contato dos aromas balsamizantes do Alto,
onde as inteligências desvirtuadas tombam ao influxo do amor santificado do
Mestre de Nazaré. E, de tudo isso, dessas lutas titânicas e das frequentes
vitórias que delas se originam, recolhemos o móvel de nossas vidas, sob forma
de vaga lembrança, que nos
fica
em todo o ser quando retornamos ao corpo e despertamos para a materialidade do mundo
a que nós mesmos nos arrojamos. Nem todos os sonhos, entretanto, são tão
lúcidos, apresentando-se, outrossim, eivados de nossos prejuízos e de nossas
interpretações pueris. No entanto, há sempre algo sobre que meditar, porque
resta sempre algum exemplo mais gritante, frequentemente aquele que nos falta
ainda. O sonho é produto de nossa vida como espíritos, cujas lembranças mais ou
menos guardamos, na razão direta de nossa posição verdadeira no mundo. Em
quarto lugar, Flammarion nos
diz da imaginação, da auto sugestão e das alucinações. Vamos por etapas,
provando quanto o verdadeiro entendimento de sua obra nos poupa lágrimas e
grandes aflições no campo mediúnico, ressalvadas as hipóteses em que nossa
teimosia se faz sentir com todo o seu peso, bem como as consequências das leis
cármicas imperiosas a nosso próprio benefício.
O médium evangelizado, o trabalhador
esclarecido da seara da verdade, não pode prescindir
de disciplina que o impulsione ao conhecimento do Evangelho e da Doutrina, fontes
inesgotáveis de esclarecimento, sem o que, quase sempre, mergulha em um oceano de
dúvidas, onde a mistificação adquire inusitadas proporções e, de modo geral,
presenciamos as mais dolorosas quedas em meio aos sofrimentos mais
excruciantes. A vivência do Evangelho, que lhe é o principal alimento moral,
auxiliando-o a consolidar as bases onde edificar-se-á a construção de sua vida,
e o conhecimento profundo de preceitos de Doutrina, que lhe possibilita o
discernimento sobre sua própria atividade mediúnica, conferindo-lhe a lucidez
de que precisa investir-se, visando à não aceitação cega do "amarelo por
verde" - são as normas de base do mediunato com Jesus. O médium que
proceder dentro de tais moldes estará de posse da mais completa e eficaz arma
contra a mistificação, a obsessão e a imaginação, arma esta que são a caridade
e o raciocínio. Com aquela, os casos de obsessão ficam reduzidos a um mínimo:
os casos cármicos, os grandes dramas do passado; com o raciocínio, a
mistificação poderá ser desbaratada e a imaginação controlada, sempre que tente
fertilizar-se em demasia. Raciocínio e caridade - intelecto e sentimento -
novamente aparecem como elementos componentes da síntese, vivamente inspirada
pelos Amigos Espirituais. Exemplificando: quantas vezes os Espíritos não
esclarecidos tentam enganar-nos, apresentando-se em alvos mantos, forçando um
sorriso de "júbilo", encenando toda uma trama, com mãos postas e a
proferir belas palavras, falando de Deus e do Cristo, "orando
fervorosamente ao Alto", tentando confundir-nos de todos os modos
possíveis e imagináveis, não obstante suas irradiações sejam incrivelmente
desagradáveis, às vezes verdadeiras descargas fluídicas? Quantas vezes esses
infelizes companheiros a quem amamos com muita pureza e intensidade vão a
requintes de armadilhas que, caso não estejamos estribados no Evangelho de
Jesus e com o raciocínio bem aclarado pelas luzes doutrinárias, nos são
verdadeiramente ameaçadoras? Quantas vezes, na sua imperfeição, conservam por
debaixo dos alvos mantos as tonalidades que lhes são próprias, antes um preto
carregado, às vezes aparecendo em diminutíssimas regiões de suas
individualidades? São os visgos da fuligem mental que trazem dentro deles
mesmos, no culto ao obscurantismo e aos desejos irreprimidos de subjugação. No
entanto, oremos por eles, não nos entibiando com os atos incríveis que
perpetram e com as ameaças que proferem quando o Evangelho e a Doutrina, com
seus sublimes fachos de luz, possibilitam-nos o reconhecimento das enganosas
situações urdidas contra nós. Leiamos para eles e interpretemos com eles uma ou
outra página de luz, propiciando-lhes um pouco de paz. Não nos horrorizemos com
as sombras, mas procuremos eliminá-las com muito amor.
De outras vezes, esses Espíritos
tentam sugestionar-nos em momentos de fraqueza nossa,
criando quadros vivos que se cristalizam e investem contra nossas mentes com violência,
quase a dominar-nos... Quantos médiuns invigilantes perdem-se em semelhantes
processos, julgando-se impenetráveis e "senhores de um espírito
forte", asseverando a todo
o fôlego: "Meus guias me hão de proteger de qualquer modo, não importa o
que eu faça."
Que lástima que isso ainda aconteça!.. Mal sabem eles que são os próprios
escravos de
suas imperfeições, fascinados e dominados por uma sugestão constante, mas
sutil, que tece
suas malhas em torno do alvo, precipitando-o depois ao abismo das queixas. Pretextando
"grande força mental", não conseguem sequer entrever os sorrisos à
sua volta, que
lhe atestam a condição perigosa do futuro. E, quando a rede se fecha, surgem os
gritos de
revolta, as acusações de injustiça e a célebre frase: "Espiritismo,
máquina de fazer loucos." No entanto, eles mesmos buscaram a escuridão em
que se encontram, na prática da
satisfação imediata, no gozo de situações antievangélicas que, inobstante as
rogativas e os
avisos do Alto, insistiram em manter. Apenas gostaríamos de recordar a passagem
de Mateus,
VII, 7 a 11: "Pedi e se vos dará;
buscai e achareis; batei e se vos abrirá; porquanto quem pede, recebe; quem
procura, acha e àquele que bate, se abre." Cada um de nós escolhe o
que pedir, a quem pedir, o que buscar e a quem buscar e, evidentemente, a
porta de quem bater. Assumamos, de tal modo, a responsabilidade de nossos atos.
Todas essas ilações que
apresentamos, colhemo-Ias na obra portentosa de Flammarion que, em sua lógica, nos concita ao discernimento. Ainda
a páginas 205, nota 43, de "O
Desconhecido e os Problemas Psíquicos", explica-nos: "Uma alucinação é
essencialmente uma percepção falsa." Por isso, o médium precisa saber que,
em termos de mediunidade, essa percepção falsa, quando atinge a níveis alarmantes,
requer ser combatida pela oração, pela conversa amiga, franca e sadia com os
mais experimentados no assunto, pelo pedido sincero de aconselhamento por parte
da Espiritualidade esclarecida. Dizemos "quando atinge a níveis
alarmantes", isto é, "anormais", porque todo médium, ainda
dentro da condição humana, tem suas falhas, seus erros, suas falsas percepções
(no bom sentido) da realidade, seja por receio de falsear essa realidade ou por
outra qualquer causa. Daí se deduz que uma falha mediúnica comum, simples,
muito embora
deva ser examinada com alerta, não pode ser considerada como destruição absoluta,
como obsessão pavorosa ou como mistificação afrontadora. Precisamos saber lidar
com as criaturas humanas, respeitando-as como merecem de fato, amando-as
fraternalmente, procurando alertá-las sem feri-las ou violentá-las. A oração
será sempre o melhor remédio, assim como a melhor profilaxia. Jamais nos
revoltemos, permitindo que se instale a escuridão íntima!... E quanto aos
infelizes que a nós se apegarem como consequência da afinidade fluídica a que
nós mesmos (quase sempre) demos azo, não os execremos, "deixando que
sofram por aquilo que devem sofrer" ... Somente a terapia do amor poderá esclarecê-los,
a eles e também a nós. Por isso tudo, pela verificação desta parte imaterial do
ser humano - um verdadeiro universo - é que Flammarion, sob a roupagem da Ciência iluminada pela virtude,
evidencia, com a mesma sinceridade que lhe possibilita as palavras de páginas
509, 510, 511 e 512, de "O
Desconhecido e os Problemas Psíquicos": "Tenho para mim que as
conclusões seguintes resultam logicamente dos fatos expostos: 1º - a alma existe como personalidade
real, independente do corpo; 2º - a
alma é dotada de faculdades ainda desconhecidas da Ciência; 3º - ela pode agir e perceber a
distância, sem os sentidos como intermediários; 4º - o futuro é de antemão preparado, determinado pelas causas que
o produzirão. A alma percebe-o algumas vezes."
Naturalmente essa preparação do
futuro é uma simples decorrência da Lei de Causa e
Efeito, produto de escolhas nossas, acontecimentos necessários aos resgates que
devemos enfrentar. No entanto, a Misericórdia Absoluta concede-nos inúmeras
moratórias e nós, por outro lado, às vezes precipitamos acontecimentos que,
conquanto estando impressos em nós mesmos, deveriam, pela Sabedoria Total,
verificar-se mais adiante em nossa marcha, quando mais fortalecidos nos
achássemos para o resgate. Aí está a gloriosa atividade do livre arbítrio, que
exclui um fatalismo puro, incondizente com a Misericórdia do Altíssimo. Sabemos
de casos em que resgates tristíssimos, pedidos pelos próprios espíritos reencarnantes,
foram abrandados pelo bom desempenho das tarefas quando da reencarnação. De tal
modo, pelo que se lê nas obras doutrinárias, tudo acontece naturalmente, razão
pela qual o fatalismo desmedido e exacerbado esboroa-se completamente. Se
alguém, por motivo qualquer - basicamente pelas violências - imprimiu
deformações em sua organização perispiritual ou causou deliberadamente
deformações em terceiros, esse alguém irá possivelmente sofrê-las em si mesmo,
no resgate justo, sem que, para tal, no programa reencarnatório, haja necessidade
de minúcias exageradas. É por isso que "somos os artífices de nós mesmos" e precisamos aceitar o
paciente trabalho do buril do Evangelho, que nos prepara para novas conquistas,
segundo a nossa vontade.
É isso tudo que precisamos
compreender, com o pensamento constantemente voltado para o Alto. Não podemos
agir como a "assembléia de doutos" que, em 1792, acolheu com retumbante
gargalhada a descoberta de Galvani,
tachando-a de "dança das rãs".
Mais adiante, precisamente a páginas
512, Flammarion convida todos os
verdadeiros estudiosos
à pesquisa bem orientada, asseverando a exiguidade dos sentidos físicos a que nos
achamos jungidos e chamando-nos ao mergulho no "desconhecido" -- o
mundo espiritual --, relembrando Lamartine:
"É a vida um degrau dessa escada dos
mundos, que devemos subir para alcançar o Além." Em realidade -
lembramo-nos nós - o mundo espiritual é nosso imenso conhecido, ao menos as paragens
em que podemos penetrar, as correspondentes ao nosso teor vibracional, à nossa
maior ou menor densidade perispiritual, pois que nele fomos criados, nele
deveríamos ter permanecido para a evolução em linha reta. Mas a nossa queda
impediu-nos de seguir adiante, forçando-nos a tachar o mundo espiritual de
"desconhecido". Mas, felizmente, aí está o Paracleto a desvendar esse
mesmo desconhecido, mostrando-o em todo o seu vigor.
Obedecendo à necessidade sublime de
esclarecimento, que deve ser norteada pelo Evangelho
do Cristo, acorremos ainda às páginas sublimes de "A Morte e o seu Mistério", os
três portentosos volumes de Flammarion
que lançaram algumas luzes a mais sobre nosso
diminuto entendimento, um pouco mais de paz a nós mesmos. A princípio, após havermos
estudado as 512 páginas de "O Desconhecido
e os Problemas Psíquicos", bem assim, como sempre o fazemos, a
Codificação de Allan Kardec, "Os Quatro Evangelhos", de Roustaing, e as sublimadas páginas da
produção do amoroso Léon Denis,
confessamos nosso susto face às 1.046 páginas de "A Morte e o seu Mistério". No entanto, a orientação que recebemos
da Espiritualidade era a de que pesquisássemos sempre, com o Evangelho presente
em nosso ser, ao mesmo tempo que ressaltavam os amigos a importância da obra de
Flammarion, complementação
indispensável ao entendimento global da Doutrina Espírita, corroboração da
grandiosidade de Deus, na múltipla manifestação de Suas santas leis e ponte
segura sobre o abismo da falsa Ciência, conduzindo aos páramos das luzes evangélico-científicas.
E assim começamos a pesquisa, detendo-nos de imediato perante a força da
argumentação presente no capítulo II, intitulado "O Materialismo - Doutrina errônea, incompleta e insuficiente".
Ali, Flammarion nos diz que os
gritos e estertores do Materialismo comprovam a sua queda, uma vez que uma
verdade impõe-se por si própria. Aliás, a gritaria na tentativa de
convencimento de terceiros, disse-nos um amigo espiritual, é produto exclusivo
do egoísmo de cada um. Gritamos, esbravejamos porque nossa argumentação está
sendo combatida e não propriamente porque estejamos defendendo uma causa por si
só. E vemos Flammarion citar Auguste Comte, Littré, Soury e Renan, todos materialistas, "mas
corações profundamente dedicados ao homem". De início, revoltamo-nos contra
essas figuras, apenas pelo fato de que eram materialistas. Mas Flammarion nos recorda: "Esses
eminentes espíritos são respeitáveis nas suas honestas convicções, que devemos
respeitar como eles respeitaram as dos outros" (“A Morte e o seu Mistério", vol, I, pág. 33, ed. FEB, 1955).
Somente assim compreendemos que "reconhece-se
o verdadeiro espírita pelos esforços que intenta para domar as suas más
inclinações" (Allan Kardec) e passamos a tomar outra
atitude em relação aos que divergiam de nós. Aliás, sendo um cientista, não
poderia Flammarion agir de outro modo,
porque o verdadeiro cientista, aquele que traz o Evangelho no coração, sempre
acata os pontos de vista de terceiros, sabendo respeitar a integridade do
próximo, nada fazendo por meio do "sangue intelectual" (expressão
utilizada por um companheiro da Espiritualidade). Em meio a tudo isso, a páginas
35, encontramos a resposta ao pensamento de Littré, chefe da escola positivista, que afirma: "Não se conhece nenhuma propriedade sem
matéria, porque jamais se encontrou a gravitação sem corpo pesado, calor sem
corpo quente, eletricidade sem corpo elétrico, afinidade sem substância de
combinação, a vida, a sensibilidade, o pensamento, sem ser vivo, sentindo e
pensando." Absolutamente falho é o raciocínio, demonstra-nos o astrônomo
do Juvisy. E replica: "A vontade de um ser humano, mesmo a da criança, é pessoal,
consciente, ao passo que a gravitação, o calor, a eletricidade, são impessoais,
inconscientes, consequências de certos estados da matéria, fatais, cegos,
essencialmente materiais por si mesmos... O próprio raciocínio científico erra
pela base! O calor, por exemplo, nem sempre provém de um corpo quente: o
movimento, que não tem temperatura alguma, produz calor. O calor é um modo de
movimento. A luz é também um modo de movimento. A natureza da eletricidade
continua desconhecida." E é assim que o verdadeiro espírita precisa agir,
sendo equilibrado nos conceitos que emite, vigoroso e positivo, conquanto
respeitador da opinião alheia. Assim nos surge a figura de Flammarion, honesto e sincero em seus conceitos, positivo e profundo
em sua abordagem de temas tão sutis.
O segundo volume de "A Morte e o seu Mistério" aborda as
manifestações ocorridas durante
a morte, já prenunciando o desfecho do terceiro tomo - "Depois da Morte" -, onde
será exaltada ainda mais a sobrevivência da alma. "Durante a Morte" examina a manifestação de moribundos, a mediunidade
no leito de morte, as já célebres advertências, as sensações mentais de mortes
a distância, etc. Dos diversos casos narrados, escolhemos um que bem prova a
existência da alma, a sede das sensações no perispírito e que, enfim, retira
o ser humano da visão absurda que o materialismo apregoa. Encontra-se inserido
a páginas
229 da mencionada obra: "Um dia, num domingo, durante o almoço de uma família
muito unida, na Escócia, uma das meninas, Mariana Griffiths, levanta-se da mesa
e vai para o jardim. Procuram-na e encontram-na sentada com a cabeça entre as
mãos, fitando um buraco cheio d'água, parecendo imobilizada pelo terror,
soltando depois um grito de angústia por sentir que seu irmão morrera afogado.
Este irmão, de dezenove anos, muito
amado por sua irmã (família composta de oito pessoas),
estava então a 14 milhas (22 quilômetros) distante de Blackall, onde os seus viviam
e afogara-se precisamente a essa hora, em Fifth-of-Forth, ao tomar um banho.
Era domingo,
19 de agosto de 1869."
Trata-se de um caso de transmissão
de sensação a distância, entre seres que se achavam - como se depreende da
narração - em bom grau de afinidade mental, pessoal, um transmitindo ao outro
as sensações penosas da desencarnação por afogamento. Naturalmente, tendo
volvido, no momento do decesso, o pensamento para a irmã querida, as ondas
emitidas imediatamente entraram em contato com a organização da sensitiva, propiciando-lhe
a certeza do ocorrido. Conhecemos por nosso lado uma infinidade de casos em
que a visão da desencarnação é comunicada ao indivíduo, em seus pormenores, e onde,
inclusive, os odores do ambiente em que ela ocorre são também transmitidos. Por
exemplo, em um quarto com muitos medicamentos; se em um jardim com flores; se
em plena
rua, com o asfixiante teor do monóxido de carbono emanado dos veículos em
locomoção; se à beira de uma praia, onde a maresia se imponha pela própria
natureza, etc., etc. Às vezes, nem chega a ocorrer a desencarnação, mas
simplesmente a passagem por uma situação de extrema periculosidade. E note-se que,
em tais casos, quando não estamos em nossos lares, estamos a passar em frente a
um posto de gasolina, enquanto vemos as cenas
comunicadas e sentimos fortíssimo odor de medicamentos ou de flores, ou a
maresia até
mesmo incomodativa. E nós perguntamos se seriam todos esses fenômenos produtos
da matéria bruta ou estariam intimamente vinculados com o verdadeiro ser que
somos nós, possuidores
momentâneos de um corpo de carne. É óbvio que a pesquisa e o estudo constantes
nos levam a consagrar como unicamente possível o segundo caso que, até então,
seria mera hipótese. É isso que Flammarion
nos faz entender: a certeza científica pura (assim como todos os colaboradores
de Allan Kardec) da imortalidade do
ser, como Lei divina, eterna e imutável portanto.
E, finalmente, alcançamos o terceiro
volume da obra: "Depois da Morte".
De início, Flammarion considera o depois
da morte como o templo fechado, "mas já esta porta pareceu
entreabrir-se em nossas excursões à fronteira dos dois mundos".
E lembramo-nos então da religião da Cidade
Antiga, toda fundamentada na crença da
existência "post mortem", Os lares, os manes, os penates, deuses
domésticos e protetores da família, cujo culto era inviolável, realizado a
portas fechadas, obedecendo a complicado
ritual "garantidor da felicidade dos entes queridos". Tudo isso
ressurge da poeira
dos tempos apenas com a disciplina do Cristianismo, com a certeza do cumprimento
das palavras do Cristo de Deus. Qual libélula que deixa o casulo iniciático e
proclama a plenos pulmões a verdade eterna, é o Espiritismo o roteiro
libertador das almas que somos nós mesmos. Enquanto Hegel proclamava o Cristianismo como surgimento da "consciência
infeliz", Flammarion ajuda a levar
bem alto a bandeira libertadora da humanidade, demonstrando que a infelicidade
encontra-se dentro de nós mesmos e que o Espiritismo, o Cristianismo Redivivo,
é a religião natural, verdadeira, a mesma religião antiga, apenas desprovida de
liturgias quaisquer de ritos e de dogmas, de materialidades. Enquanto a
religião antiga derramava o néctar e os alimentos em geral sobre o túmulo dos
"mortos", garantindo-lhes a vida no Além nós precisamos derramar
sobre todos os companheiros os bálsamos da caridade, em forma de preces
sinceras, esquecendo o ódio. "A alma
é independente do organismo material e continua a viver depois da morte",
afirma Camille FIammarion, a páginas
366, do terceiro tomo de "A Morte e
o seu Mistério". "Tratava-se,
antes de tudo, de provar com observações positivas - prossegue ele - numerosas,de
acordo todas com a realidade da sobrevivência; ISTO ESTÁ FEITO." E, mais
adiante: "O
futuro ajuizará dos resultados desse esforço. Pusemos em prática o convite de
Jesus: Procurai
e achareis. Sejam quais forem os progressos das descobertas futuras, nossa
doutrina adquirida se resume, de hoje em diante, nesses termos: O CORPO PASSA.
A ALMA VIVE NO INFINITO E NA ETERNIDADE."
Eis uma parte da obra de Camille FIammarion, a qual apenas
recordamos imperfeitamente. Quanto ao mais, a Doutrina aí se encontra, a
Espiritualidade Maior jamais nos nega amparo e inspiração, quando nos move um
bom sentimento. Que dizer de um homem que, envolvido no pretenso espírito
científico que o circundava, lança-se à pesquisa tendo em mente o "buscai
e achareis", do único Mestre da humanidade, e, após escrever milhares de
páginas, conclui pela realidade dos princípios apresentados pelos Espíritos a Allan Kardec, continuados por Roustaing, Léon Denis, por Gabriel
Delanne? Poder-se-ia tachá-lo de açodado? De louco? De incauto? Ele que
relembra Pitágoras ("As
riquezas materiais adquirem-se e perdem-se. Que a tua vida se inspire na mais
pura justiça!"), que cita
o "Fédon", de Platão, que raciocinando chega à
verdade... poderia ele ser esquecido?!. .. Sua obra é importantíssima!.. Sua argumentação
científica é inigualável!.. Seu raciocínio
é acuradíssimo! Seu coração é Imenso e o Cristo faz-se presente em toda a sua
obra!..
Por isso dizemos que, no dia 26 de
fevereiro de 1842, em Montigny-Le-Roy, na França, reencarnou uma estrela, um
ponto de luz que, muito embora perseguido em sua profíssão, não deixou de ser
"o filósofo enxertado em sábio", no dizer de Gabriel Delanne e
o "Poeta dos Céus", na classificação de Michelet.
Na realidade, antes de lamentarmos
sua desencarnação, ocorrida aos 4 de junho de 1925,
no Juvisy, sintamos a presença do seu Espírito amoroso que, pela desencarnação, brilhou
mais forte ainda!... E quando fitarmos o Infinito, à cata de uma estrela, agradeçamos
ao Senhor a presença entre nós daquele que, perscrutando os céus auxiliou a desvendar
o infinito da vida!..
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