- estudo sobre as vidas sucessivas."
Capítulo VIb
‘As Causas Dos Nossos Sofrimentos’
por Aurélio A. Valente
Editora: Moderna - Ano: 1946
Biblioteca Espírita Brasileira
EXPIAÇÃO
A expiação é o estado de dolorosa e prolongada tortura física ou moral, suportada por um espírito infrator das leis divinas. É a penitência preparada por ele mesmo para início da primeira fase do resgate dos erros e reparo dos grandes males que espalhou.
A
expiação, como consequência lógica da lei da evolução, é quase sempre imposta e
não escolhida, pois a ela só estão sujeitas as almas atrasadas, culpadas de
infrações gravíssimas às leis do Nosso Pai Celestial. Ela é principiada no
espaço, quando não começa logo neste mundo, na última fase da existência em que
os crimes foram cometidos. Na amplidão infinita, a alma pecadora corre
vertiginosamente, sem destino, na escuridão profunda, a clamar por socorro, por
um amparo, um pouco d’água ou pão, porque se julga ainda de posse de seu corpo
material e sente fome e sede.
Nas
trevas apavorantes, as almas culpadas de todas as categorias, depois de
bradarem insistentemente por um pouco de luz, por um auxílio qualquer, por uma
caridade que negaram aos outros quando na Terra, sentem os primeiros murmúrios
da voz da consciência, a despertar o fantasma do remorso que inicia de pronto a
sua infernal tormenta acusatória. Decorrido um tempo indeterminado, uma réstea
de luz cintila muito de longe, as almas penadas pensam em aproximar-se, e
imediatamente, sem saberem explicar como, se veem junto ao foco. Julgam
encontrar algo de consolador, porém, que terrível decepção, que cruel agonia –
o assassino vê a sua vítima – arquejante, ensanguentada a clamar vingança, o incendiário
observa o pavor, a angústia das vítimas, o causador de naufrágios tem diante de
si os rostos macabros dos afogados e dos que ainda lutam contra as águas, o
ladrão sente-se cercado pelos espoliados a exigirem a restituição do que lhes
pertence, o desonrador de lares aterra-se diante de criancinhas mirradas,
viciadas e perdidas em consequência de se ter desfeito o lar paterno. Querem
fugir e não podem, para todos os lados que se viram, os mesmos quadros tétricos
se apresentam. Sentem-se humilhados, arrependidos e chegam a urrar de dor e
vergonha. Quanto tempo dura esse suplício ninguém pode nem sabe precisar. Cada
alma tem o período relativo ao grau de culpa e adiantamento moral e
intelectual.
Transcorrido o tempo necessário para a primeira etapa dessa
tortura, sem descanso, pois o dia e noite são privilégios do homem na Terra, a
alma culpada ouve ao longe uma voz amiga, um sussurro imperceptível a exortá-lo
a lembrar-se de Deus e orar. A alma submissa ensaia então uma súplica
vacilante, quase sem força de expansão, mas, chega sempre até Deus, porque as
portas do céu estão sempre abertas para o filho pródigo. Essa voz é do seu anjo
de guarda. Nesse momento a alma chora comovida e reclama ter estado tanto tempo
abandonada. O seu anjo guardião explica-lhe então que nunca isso aconteceu. A
alma rebelde é quem se afasta dos seus protetores, criando com as suas
irradiações de maldade uma barreira intransponível.
Após
essa fase de conforto espiritual, de juros e promessas de praticar o bem, de
reparar o mal praticado, vem o desejo de progredir, porém é preciso primeiro
expiar, porque a pesada e penosa carga de responsabilidades não deixa
resistência suficiente para vencer tudo ao mesmo tempo. Pode haver uma recaída
e isso agrava a situação. Sucede a mesma coisa que se dá no mundo com uma
pessoa atacada de enfermidade grave e prolongada, precisa primeiro convalescer
para trabalhar depois.
O
Espírito recebe intimação de voltar â Terra para sofrer justamente aquilo que
fez os outros sofrerem. Quem com o ferro ferre com ferro será ferido, foram as
palavras de Jesus a Pedro. Uns veem, deformados, estropiados, outros doentes
desde o berço até o túmulo, sofrer acidentes dolorosos, os perseguidores passam
a perseguidos, os maus filhos a pais abandonados. As doenças infecciosas,
principalmente a lepra ou morfeia, com também é conhecida, são expiações
amargurantes, consequências inexoráveis da lei de causa e efeito. É por essa
razão que, nenhum remédio, nenhuma assistência, mesmo nas condições mais
favoráveis podem preservar ou curar aqueles que estão condenados.
As
almas em expiação cercam-nos por todos os lados, submissas umas, revoltadas
outras, conforme o seu grau de adiantamento.
Faz
muitos anos que conhecemos um homem de bem, que cegou completamente, vai para
mais de vinte anos. Todos os recursos foram tentados em vão e, como era
natural, os parentes bateram às portas das searas espíritas. De modo riste mas
confortador, foram os interessados advertidos que ele não poderia recuperar a
visão por ter, ele mesmo, escolhido essa prova para expiação dos erros
cometidos em uma existência anterior, na qual, como médico oculista descuidado
e inescrupuloso, causou a cegueira a muitos clientes.
Em
Vitória, capital do Estado de Espírito Santo, em 1936, encontramos uma preta,
magra, alta, vestida de modo extravagante, carregada de flores, e que servia de
alvo das chacotas dos moleques. Deram-lhe por escárnio o epíteto de “Princesa
das flores”. Ao contrário dos ouros tipos populares vítimas do molecário, ela
não revidava com palavras insultuosas, refugiava-se em qualquer casa, e
lamentava a falta de educação dos meninos. Dirigimos-lhe a palavra.
Conversamos. Mostrava-se educada, com aparência de gente fina. Sentia-se
satisfeita e mesmo vaidosa com a alcunha. Teria sido talvez uma princesa? Não investigamos
por falta de meios, contudo é bem possível.
Nos
pretos inteligentes, de grande cultura, não será difícil descobrir e
reencarnação de espíritos que vinham de longa data renascendo entre os brancos.
É provável que a expiação seja uma consequência lógica da repulsa que lhes
causava a raça negra, a qual não poupavam sarcasmos e humilhações. Como prova
desta nossa asserção, observa-se com frequência que os pretos cultos passam ao
convívio dos brancos, no meio dos quais, mesmo nos momentos de constrangimento,
sentem-se menos deslocados do que no ambiente em que nasceram e foram criados.
A
lei divina é inexorável. Ninguém foge à responsabilidade dos seus atos. Todos
são obrigados a suportarem os mesmos padecimentos que infligiram aos outros.
Que afogou será afogado, quem matou será matado, quem queimou será queimado.
Por
falarmos em pena de Talião, pode parecer que na Lei de Evolução perpetua-se o
erro e o crime, porque para cada criminoso expiar a sua culpa, há sempre
necessidade de um carrasco, que por sua vez se torna culpado. Tal não acontece.
Deus é infinitamente sábio. Modificam-se apenas as ocorrências. A morte por
acidente assemelha-se do desencarne por assassinato. O modo de desprendimento é
idêntico. É a quebra violenta, brusca dos laços que unem o corpo ao espírito.
Isso acarreta um sofrimento indescritível, segundo narrativa dos espíritos que
passaram por esses tormentos.
Allan
Kardec, em seu livro “O Céu e o Inferno”, dá-nos um admirável exemplo, que
corrobora perfeitamente este nosso ponto de vista. Ei-lo:
“Quando se
lhe pode prestar os primeiros socorros, já as carnes dilaceradas caíam aos
pedaços, desnudos os ossos, de uma parte do corpo e da face. Ainda assim,
sobreviveu doze horas a cruciantes sofrimentos, mas conservando toda a presença
de espírito até o último momento, predispondo os seus negócios com perfeita
lucidez.
Por toda esta cruel agonia, não se lhe ouviu um só gemido,
um só queixume, morreu orando a Deus. Era um homem honradíssimo, de caráter
meigo e afetuoso, amado, prezado de quantos o conheciam. Também acatara com
entusiasmo, porém, pouco refletidamente as ideias espíritas, e assim foi que,
médium, não lhe faltaram inúmeras mistificações, as quais, seja dito, em nada
lhe abalaram a crença.
“Em
certos casos, a confiança no que os espíritos lhe diziam chegava a orçar pela
ingenuidade.”
“Evocado
na Sociedade de Paris a 29 de Abril de 1864, poucos dias após a morte e ainda
sob a impressão da cena horrível que o vitimou, deu a seguinte manifestação:
“-
Profunda tristeza me acabrunha. Aterrado ainda pela minha morte trágica,
julgo-me sob os ferros de um algoz.”
“Quanto
sofri!! Oh!! Quanto sofri!! Estou trêmulo, como que sentindo o cheiro nauseante
de carnes queimadas. Agonia de doze horas, essa que padeceste oh! Espírito
culpado! Mas, ele a sofreu sem murmurações e, por isso, vai receber de Deus o
seu perdão. Esposa minha muito amada, não chores que em breve estas dores se
acalmarão. Eu não mais sofro na realidade, porém, a lembrança neste caso vale
pela realidade. Auxilia-me muito a noção do Espiritismo, e agora vejo que, sem
essa consoladora crença, teria permanecido no delírio da morte horrível que
padeci. Há, porém, um espírito consolador, que não me deixa, desde que exalei o
último suspiro. Eu ainda falava e já o tinha a meu lado... Parecia-me ser um
reflexo das minhas dores a produzir em mim vertigens, que me fizessem ver
fantasmas... mas não; era meu anjo de guarda que, silencioso e mudamente, me
consolava o coração. Logo que me despedi da Terra, disse-me ele: “Vem, meu
filho, torna a ver o dia.” Então respirei mais livremente, julgando-me escapo
de medonho pesadelo; perguntei pela minha esposa amada, pelo filho corajoso que
por mim se sacrificara, e ele me disse: “Estão todos na Terra, e tu, filho,
estás entre nós”. Eu procurava o lar, onde sempre, em companhia do anjo, vi
todos banhados em pranto. A tristeza e o luto haviam invadido aquela habitação
outrora pacificar. Não pode por mais tempo tolerar o espetáculo, e,
comovidíssimo, disse ao meu guia: - “Ó meu bom anjo, saiamos daqui.” “Sim,
saiamos, respondeu-me, e procuraremos um repouso.” Daí para cá tenho sofrido
menos, e se não houvera visto inconsoláveis a esposa e os filhos, e tristes os
amigos, seria quase feliz.
“O
meu bom guia fez-me ver a causa da morte horrorosa que tive, e eu, afim de vos
instruir, vou confessá-la:
“Há
dois séculos, mandei queimar uma rapariga, inocente, como se pode ser na sua
idade – 12 a 14 anos. Qual a acusação que lhe pesava? A cumplicidade em uma
conspiração contra a política clerical.
“Eu
era então italiano e juiz inquisidor; como os algozes não ousassem tocar no
corpo da pobre criança, fui eu mesmo o juiz e o carrasco.
Oh!
Quanto és grande, justiça divina! A ti submetido, prometi a mim mesmo não
vacilar no dia do combate, e ainda bem que tive força para manter o
compromisso. Não murmurei, e vós me perdoastes, oh, Deus! Quando, porém, se me
apagará da memória a lembrança da pobre vítima inocente? Essa lembrança é que
me faz sofrer! É mister, portanto, que ela me perdoe.”
“Oh!
Vós, adeptos da nova doutrina, que frequentemente dizeis não poder evitar os
males pela insciência do passado! Oh, irmãos meus! Bendizei antes o Pai, porque
se tal lembrança vos acompanhasse na Terra, não mais haveria aí repouso em
vossos corações. Como podereis vós, constantemente assediados pela vergonha,
pelo remorso, fruir um só momento de paz? O esquecimento aí é um benefício,
porque a lembrança aqui é uma fortuna. Mais alguns dias, e como recompensa à
resignação, com que suportei as minhas dores. Deus me concederá o esquecimento
da falta. Eis a promessa que acaba de fazer-me o meu bom anjo.”
Agora,
vejamos o comentário que faz o Mestre no final desta comunicação
extraordinariamente elucidativa sobre a expiação:
“O
caráter de M. Letil, na última encarnação, prova quanto o seu espírito se
aperfeiçoou. A conduta que teve seria o resultado do arrependimento como das
boas resoluções previamente tomadas, mas isso por si só não bastava: era
preciso coroar essas resoluções por uma grande expiação; era mister que
suportasse como homem o suplício a orem infligido e mais ainda: a resignação que,
felizmente, não o abandonou nessa terrível contingência. Certo, o conhecimento
do Espiritismo contribuiu grandemente para sustentar lhe a fé, a coragem
oriunda da esperança de um futuro. Ciente de que as dores físicas são provas e
expiações, submeteu-se a elas resignadamente, dizendo: Deus é justo, logo, é
que eu as mereci.”
As
almas em expiação necessitam de uma grande assistência espiritual dos homens
que as cercam, os quais devem incutir-lhes as noções sadias e confortadoras da
vida futura pois isso concorre para resignarem-se com a sua situação.
Sem
esse amparo caridoso, muitos fracassam, enchendo-se de revolta pela
incompreensão da verdade.
Soubemos
de um leproso que, em certo lugar, saía de madrugada e trepava nas árvores de
um pomar para morder os frutos a fim de transmitir os bacilos da sua terrível
enfermidade.
Há
muitos tuberculosos que costumam maldosamente dar restos de comida àqueles que
os cercam e por inexperiência desconhecem a moléstia.
Temos visto mendigos deformados, aleijados, cegos, surdos,
mutilados que são maldizentes, blasfemadores, profundamente indignados da sua
situação, e a todos atiram a culpa da sua penosa situação. Nesses infelizes
reconhecemos os espíritos endurecidos no mal, que necessitam de mais de uma
reencarnação expiatória, para expurgarem todo o seu passado de iniquidades. Os
que já estão resignados e sofrem humildemente e referem-se com esperança e fé
na justiça Divina, revelam maior adiantamento.
Grande
é o número de expiações terrenas. Por todos os lados vemos enfermidades
repugnantes, deformidades que emocionam, loucos, corcundas, idiotas,
mentecaptos, e também muitas pessoas de aparência saudável que conduzem sob as
vestes doenças que causam calafrios.
As
expiações são de diversas categorias, conforme a natureza das culpas e crimes.
Não há, portanto, somente os que se apresentam sob a forma de doenças e
deformidades do corpo, há também outras de caráter mais penoso e cruel, são as
de fundo moral. São as de um marido ultrajado e repudiado pela esposa que tanto
adorava; as de pessoas que no fim da existência se veem isoladas de todos,
enxotados pelos parentes e até pelos próprios filhos, e dos homens acusados de
crimes que não cometeram; todos os indícios os denunciam, mas são inocentes.
Essas expiações levam muitas almas ao desespero.
As
expiações são individuais e podem ser também coletivas. Quando muitos espíritos
têm que passar por idênticas aflições e tormentos, circunstâncias de aparência
fortuita os aproximam no mesmo ponto e na ocasião oportuna para sofrerem em
conjunto. É essa a razão dos naufrágios, dos incêndios, das erupções vulcânicas
e dos terremotos. Uns tem morte imediata enquanto outros sucumbem depois de
assistirem, aflitos e feridos, durante horas, as calamidades, e alguns passam
apenas pelo susto e angústia.
Como se explicaria, sem a Lei da Reencarnação, que o célebre
Coliseu de Roma viesse a ser o recinto escolhido para a morte de numerosos
homens e de forma tão cruel? Não teriam sido os últimos culpados dos martírios
dos primeiros cristãos sacrificados pela sua Fé? E os milhares de gregos a
morrerem de fome?
Entre
as expiações que causam profunda piedade estão os idiotas, mentecaptos, loucos,
nos quais poderemos descobrir possíveis reencarnações de homens de letras, de
ciência que fizeram um péssimo uso das suas faculdades intelectuais. O homem
instruído pode tornar-se mais perigoso para a humanidade do que um celerado.
Isso foi bem compreendido pelo escritor russo Kriloff – que nos deu um profundo
ensinamento sob a forma de uma fábula intitulada “O Autor e o Ladrão”.
“Lá no nebuloso
reino das trevas, compareceram ao mesmo tempo, diante dos juízes, dois
pecadores, para serem julgados. Um deles era salteador de estradas, que por fim
viera parar às galés; e o outro um escritor de fama, que infundira nas suas
obras um veneno sutil, que preconizava o ateísmo e pregara a imoralidade com
voz melíflua como a dos anjos e perigosa como a da sereia. No Averno, as
cerimônias judiciais são breves, sem delongas desnecessárias. A sentença foi
pronunciada incontinente; suspensos dois enormes caldeirões por duas tremendas
correntes, foi em cada um colocado um dos pecadores. Por baixo do ladrão,
levantou-se uma grande fogueira acesa pela própria mão de uma das Fúias, e os
tetos das salas infernais estalavam com a imensidade das labaredas que subiam a
grande altura. O suplicio do escritor parecia ao princípio menos cruel. A
fogueira que debaixo dele foi acesa começara em reduzidas proporções, porém ia
em aumento ao passo que ardia.”
“Decorreram
séculos e o lume não se apagou. Por baixo do alteador extinguira-se a chama,
havia muito tempo; por baixo do escritor de hora em hora crescia. Vendo que por
baixo do escritor de hora em hora crescia. Vendo que os seus tormentos não
abrandavam, começou este a dar vozes contra os deuses injustos; que o mundo
inteiro enchera da sua fama e que a liberdade da sua pena já fora
suficientemente castigada; que não pensava ter maiores culpas do que o
salteador. Então apareceu-lhe uma das três filhas da noite. Silvavam serpentes
por entre os seus hirsutos cabelos e trazia nas mãos varas ensanguentadas.
“Malvado!
Exclamou, atreve-te a acusar a Providência? Ousas igualar-te ao salteador? Os
seus crimes em nada se comparam aos teus.
As atrocidades que ele cometeu acabaram com a sua vida. Porém, tu? Há
muito que os teus ossos estão carbonizados e, cada sol que nasce descobre novos
males, dos quais és causa. A peçonha dos teus escritos não somente não
esmorece, mas toma incremento e cresce em malícias, ao passo que decorrem os
anos. Olhai – e fez-lhe ver o mundo num relance: “Vê os crimes e as misérias
que tu causas. Vê aqueles filhos que desonraram as suas famílias e levaram os
seus pais ao desespero! Quem lhes corrompeu o espírito e o coração? Tu! Quem
trabalhou para romper os laços da sociedade, ridicularizando e tratando de
ninharias a santidade do matrimônio, o direito da autoridade e da lei,
atribuindo-lhes a desventura da humanidade? Tu! Porventura não divinizaste a
descrença, à qual chamaste Luz? Não pintaste o vício e a paixão com as mais
vívidas e atraentes cores? Olha ainda! O país inteiro pervertido pela tua
doutrina, assassínios, roubos, discórdias, rebeldias que arrastam à perdição.
Tua é a culpa de todas essas lágrimas vertidas, de todo esse sangue derramado.
E ainda blasfemas dos deuses! Quantos males resultarão ainda da leitura das
tuas obras? Continua, pois, sofrendo, porque aqui mede-se o castigo pelo
delito. “
Tais
foram as palavras da irada Fúria. E tapou o caldeirão com estrépido.”
Depois
da alma submeter-se à expiação, que será completa numa ou mais reencarnações,
passa ao segundo período do seu aperfeiçoamento, reconhecida entre os espíritas
como a
Segundo
revelado do além, esse vulto adorado pela Igreja Romana e respeitado pelos
acatólicos foi a reencarnação de Herodes – Rei dos Judeus, que mandou degolar
os meninos que nasceram no tempo de Jesus; os recolhidos das suas ordens”. Ao
que nós recrutamos: “É verdade, porém, no cumprimento de ordens tais, os
soldados não se excedem, não exorbitam? Além disso, há uma pergunta a fazer:
Devem-se cumprir ordens absurdas, loucas, que repugnem a nossa consciência? O
leitor pode responder livremente de acordo com o seu caráter.
Clemente
XIV, Papa (1773) , que extinguiu a ordem dos jesuítas, segundo revelação que lemos
algures, foi a reencarnação de Loiola, que veio desfazer a sua obra nefasta.
Nessa ocasião, a ordem dos Jesuítas fundada por Inácio de Loiola, pelos grandes
males que disseminou no mundo, foi expulsa quase ao mesmo tempo dos principais
países do mundo. Essa ordem foi restabelecida em 1814 por Pio VII, mas já sem a
mesma força que usufruía anteriormente.
João
Batista foi a reencarnação de Elias segundo as profecias bíblicas e revelação
de Jesus a seus discípulos (Mateus, Cap. 17, vv. 10 a 14). A sua decapitação
foi o resgate do seu crime como profeta, ordenando a degolação dos sacerdotes
do Baal (Reis, 18, vv. 40).
Há
também uma revelação que apresentou Joanna d’Arc como a reencarnação de Judas,
depois de numerosas, pungentes e ignoradas expiações terrenas.
Além
dessas reencarnações, que fizeram os seus heróis conhecidos do mundo inteiro,
outras houve que passaram despercebidas da humanidade, por súplica dos próprios
espíritos falidos, tal a situação de vergonha sem limites, se fossem
reconhecidos através das miseráveis existências com corpos cujas carnes iam aos
poucos caindo de podres.
Quando
o espírito consegue expiar e reparar de modo satisfatório os seus crimes, volta
ainda novamente à Terra para submeter-se a provas de resistência, que conhecemos
com o nome de
Recorrendo
ainda ao livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec, apresentamos o caso de
“Falsas especulações comprometeram-lhe a fortuna, e não lhe sendo
possível repará-la, em razão da idade alcançada, cedeu ao desânimo
enforcando-se em dezembro de 1864, no quarto de dormir.
“Não
era materialista, nem ateu, mas um homem de gênio um tanto superficial, ligando
pouca importância ao problema da vida de além túmulo. Conhecendo-o intimamente,
evocamo-lo quatro meses, após o suicídio, inspirados pela simpatia que lhe
dedicávamos.”
“Tal
circunstância deixava-nos em dúvida sob a identidade.
R. -
Como morri? Pela morte por mim escolhida, a que mais agradou, sendo para notar
que meditei muito tempo nessa escolha com o intuito de me desembaraçar da vida.
Apesar disso, confesso que não ganhei grande coisa: libertei-me dos cuidados
materiais, porém para encontra-los mais graves e penosos na condição de espírito,
da qual nem sequer prevejo o termo.”
P. - (ao
guia do médium) – O espírito em comunicação será efetivamente o de M. Félicien?
Esta linguagem, quase despreocupada, torna-se suspeita em se tratando de um
suicida...
R. - Sim.
Entretanto, por um sentimento justificável na sua posição, ele não queria
revelar ao médium o seu gênero de morte. Foi por isso que dissimulou a frase, acabando,
no entanto por confessá-lo diante da pergunta direta que lhe fizestes e não sem
angústias. O suicídio fá-lo sofrer muito e, por isso desvia, o mais possível,
tudo o que lhe recorde o seu fim funesto.
P. - (ao
espírito) – A vossa desencarnação tanto mais nos comoveu, quanto lhe prevíamos
as tristes consequências, além da estima e intimidade das nossas relações.
Pessoalmente, não me esqueci do que éreis obsequioso e bom para comigo. Seria
feliz se pudesse testemunhar-vos a minha gratidão e fazer algo de útil para
vós.
R. - Entretanto,
eu não podia furtar-me de outro modo aos embaraços da minha posição material.
Agora, só tenho necessidade de preces: orai principalmente para que me veja
livre estes hórridos companheiros que aqui estão junto de mim obsediando-me com
gritos, sorrisos, e infernais motejos. Eles chamam-me covarde, e, com razão,
porque é covardia renunciar à vida. É a quarta vez que sucumbo a essa provação,
não obstante a formal promessa de não falir... Fatalidade?... Ah! Orai! Que
suplício o meu! Quanto sou desgraçado! Orando, fazeis por mim mais que por vós
pude fazer quando na Terra; mas a prova, ante a qual fracassei tantas vezes, aí
está retraçada indelével diante de mim! É preciso tenta-la novamente em dado
tempo... Terei forças? Ah! Recomeçar a vida tantas vezes: lutar por tanto tempo
para sucumbir aos acontecimentos, apesar de tudo é desesperador mesmo aqui! Eis
porque tenho carência de força. Dizem que podemos obtê-la pela prece... Orai por
mim que eu quero orar também...
“Assim se confirma o fato de não haver
proveito no sofrimento, sempre que deixemos de atingir o fim da encarnação,
sendo preciso recomeça-lo até que saiamos vitoriosos da campanha”.
cien. – Ouvi, eu vô-lo peço, ouvi e meditai sobre as minhas palavras. O que denominais fatalidade é apenas a vossa fraqueza, pois se a fatalidade existisse, o homem deixaria de ser responsável pelos seus atos. O homem é sempre livre, e nessa liberdade está o seu maior e mais belo privilégio. Deus não quis fazer dele o seu autômato obediente e cego, e se essa liberdade o torna falível, também o torna perfectível, sem o que somente pela perfeição poderá atingir a suprema felicidade. O orgulho somente pode atingir a suprema felicidade. O orgulho somente pode levar o homem a atribuir ao destino as suas infelicidades terrenas, quando a verdade é que tais felicidades terrenas promanam da sua própria incúria. Tendes disso um exemplo bem patente, na vossa última encarnação, pois tínheis tudo que se fazia preciso à felicidade humana, na Terra: o espírito, talento, fortuna, merecida consideração; nada de vícios ruinosos, mas, ao contrário, apreciáveis qualidades... Como, no entanto, ficou tão comprometida a vossa posição? Unicamente pela vossa imprevidência. Haveis de convir que, agindo com mais prudência, contentando-vos com o muito que já vos coubera, antes que procurando aumentá-lo sem necessidade, a ruína não sobreviria. Não havia nisso nenhuma fatalidade, uma vez que podíeis ter evitado um tal sucesso. A vossa provação consistia num encadeamento de circunstâncias que vos deveriam não a necessidade, mas a tentação do suicídio; desgraçadamente, apesar do vosso talento e instrução, não soubestes dominar essas circunstâncias e acarretais agora com as consequências da vossa fraqueza.
“Essa
prova, tal como pressentis com razão, deve renovar-se ainda; na vossa próxima
encarnação tereis de enfrentar acontecimentos que sugerirão a ideia do
suicídio, e sempre assim acontecerá até que de todo tenhais triunfado.
“Longe
de acusar a sorte, que é a vossa própria obra, admirai a bondade de Deus, que,
em vez de condenar irremissivelmente pela primeira falta, oferece sempre os
meios de repará-la.
“Assim
sofrereis, não eternamente, mas por tanto tempo quanto reincidires no erro. De
vós depende, no estado espiritual, tomar a resolução bastante enérgica de
manifestar a Deus um sincero arrependimento, solicitando instantemente o apoio
dos bons espíritos.
Voltareis
então à Terra blindado na resistência a todas as tentações. Uma vez alcançada
essa vitória, caminhareis na felicidade com mais rapidez, visto que sob outros
aspectos o vosso progresso é já considerável. Como vedes, há ainda um passo a
franquear, para o qual vos auxiliaremos se com as nossas preces. Estas só serão
improfícuas se nos não secundardes com os vossos esforços.
- R. –
Oh! Obrigado! Oh! Obrigado por tão boas exortações. Delas tenho tanto maior
necessidade, quanto sou mais desgraçado do que demonstrava. Vou aproveitá-las,
garanto, no preparo da próxima encarnação, durante a qual farei todo o possível
por não sucumbir. Já me custa suportar o meio ignóbil do meu exília.” Félicien
A
provação é tão necessária para a alma como o alimento para o sustento do corpo.
É ela que lhe proporciona a aquisição dos predicados morais que nos aproximam
de Deus. Ela facilita a conquista da paciência, da bondade em todas as
modalidades, até culminar no dom da serenidade, que é a forma impassível com
que a alma recebe tudo, seja bom ou mau, como o rochedo que, aos embates das
ondas mansas ou bravias, mais se limpa e melhor reflete os raios do sol.
A
serenidade é apanágio dos espíritos aureolados pela conquista da virtude. Sem
as provações, como poderia a alma demonstrar a fortaleza da sua fé, e estar no
caminho que conduz à perfeição?
Há
homens que se mostram dóceis, educados, afáveis, morigerados até o momento em
que são feridos nos seus interesses, na sua honra, no seu amor próprio, daí em
diante transformam-se em animais e agem mais pelo instinto que pela razão. São
feras despertadas para a luta sem escrúpulos. Há pessoas que são sérias
enquanto não sentem pairar sobre si a nuvem negra da tentação, e por essa
razão, podemos dizer que há muita gente honesta, mas poucas virtuosas.
Sem tentação,
especialmente nos dias amargurados em que a adversidade anda de braço dado
conosco, não há virtude, mas apenas honestidade, o que já é uma virtude mas
apenas honestidade, o que já é uma grande coisa, pois a honestidade purifica e a
virtude santifica.
De
todas as provas as mais difíceis são a riqueza e a elevada posição social - a autoridade.
Foi por esse motivo que o nosso Amado Jesus disse que era mais fácil passar um
camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus.
O rico
e o homem de elevada posição social inebriam-se com as suas situações entre os
demais, e sentem vertigem, julgam-se privilegiados, predestinados dos céus.
A
miséria, com todo o seu séquito de dores, vexames, fome e sede, é muito mais
fácil de vencer.
Aqueles
que se submetem a tais provas difíceis precisam ter qualidades excepcionais
para vencerem galhardamente. Felizmente, são numerosas as pessoas que chegam ao
túmulo como vencedoras. Pedro de Alcântara, o nosso Imperador, foi um desses
homens vencedores no plano espiritual e vencidos para o mundo terreno.
Não
menos dolorosas são as provações que suportamos dentro do recinto do lar, a
ingratidão daqueles por quem nos devotamos durante anos, são os desregramentos dos
filhos apesar da boa orientação que receberam. São as feridas causadas pela
calúnia, pela infâmia daqueles a quem concedemos a honra de sentar à nossa mesa
para comer dos mesmos elementos. Eles lembram esses bubões sifilíticas que
corroem corpos e quando saram deixam cicatrizes profundas e negras que nos
acompanham à sepultura. É por isso que devemos agradecer a Deus a Misericórdia
da Reencarnação, porque na mesma existência é difícil e penosa, e porque não
dizer hipócrita – a reconciliação e volta da confiança anterior.
Quase que
podemos dizer que é sumamente difícil e, para alguns impossível, porque
precisam de várias reencarnações para amortecerem os impulsos de vingança e
estabelecer uma amizade.
Os
ricos devem considerar-se como meros depositários de Deus e, assim, preparam-se
para a final prestação de contas.
A
riqueza não foi facultada para servir de instrumento de orgulho e vaidade, para
simples caprichos individuais, mas para ser empregada em benefício da
humanidade.
A
riqueza não pode ser, como querem muitos, um mal social, pois no mundo há mais
perdulários e pródigos, do que sensatos e previdentes, mais apáticos que
esforçados, mais ambiciosos que idealistas, e assim, é natural que haja o
acúmulo de bens nas mãos de alguém que saiba administrar bem, do que repartida
e, portanto, desvalorizada. O mal não está na sua existência, mas no mau uso. A
célebre anedota do milionário com o comunista ´´e bem cabível e como talvez o
leitor a desconheça, vamos narrá-la.
- C. –
Dê-me a parte que me toca na sua riqueza; não negue, pois conheço muito bem o
senhor!
- M. Perfeitamente.
Sabe a quanto monta a minha riqueza?
- C. –
Quarenta milhões.
- M. –
Quantos habitantes tem a França?
- C. –
Quarenta milhões.
- M.
Tome, pois, um franco – disse-lhe o magnata, metendo-lhe na mão e continuando o
seu caminho. O assaltante ficou perplexo.
A
provação não deixa de ser uma situação difícil e às vezes cheia de profundas
amarguras, pelas terríveis tentações do mundo. Imaginemos o que não há de
sofrer uma linda e honesta mulher, maltratada por um marido ébrio e brutal, a
resistir às tentações de alguém que a estima e a pode tornar feliz?
Que
provação horrível será a do homem probo, cheio de dificuldades financeiras,
vendo a esposa doente, os filhos curtindo fome, tendo sob a sua guarda haveres
de outrem? A posição de mando é uma
espada de dois gumes. É uma provação que acarreta responsabilidades incalculáveis
pelos terríveis efeitos que causam aos subordinados, a falta de justiça, de estímulo,
de reconhecimento do mérito de cada um.
A humanidade
não tem progredido mais depressa porque muitos dos condutores de povos e
reformadores têm falido no meio do caminho, sobrepondo os interesses pessoais aos
da coletividade. Mas se nós sofremos, os gemidos de todos são abafados pelos
clamores dessa alma só, causadora de todos os males alheios. Vós tendes a
direção dos vossos irmãos, meditai muito sobre os vossos atos, pois muitos
daqueles que mais humilhais, serão talvez várias vezes superiores a vós no
mundo espiritual. E lá nesse mundo, do qual não quereis ter conhecimento,
ficareis na situação de Lásaro, citado na famosa parábola de Jesus (Lucas, 16 –
vv. 19/31)
Vós
que tendes uma parcela de autoridade, lembrai-vos que amanhã podereis estar
entre os últimos, pois Jesus advertiu: Aquele que quiser ser o primeiro no
reino de Deus, seja o último na Terra. (Marcos, 9 – 33/37).
A
posição social, a riqueza e a beleza pertencem ao mundo e desse modo aqui
ficam, são efêmeras, na presente existência podemos perde-los e ficar reduzidos
a destroços.
Pela
provação é que o espírito prepara a sua redenção.
Redenção
é a última etapa terrena. É a vida já desprendida de qualquer mundanismo. É
fácil reconhecermos as pessoas emancipadas do erro. São essas meigas criaturas
que suportam infâmias com sorrisos, empurrões com desculpas amáveis, que
silenciam ante os insultos e querem ser antes vítimas que algozes, que são
incapazes de se prevalecer na sua situação para humilhar qualquer pessoa, ainda
que seja o seu pior inimigo.
Emancipados
do mal são todas as criaturas que têm o ideal do bem e do belo, e procuram
induzir aqueles que as cercam a se conduzirem sempre com inteireza de caráter.
São ainda essas pessoas fascinantes que irradiam simpatia por todos os lados,
seduzem pela afabilidade, pela naturalidade das suas boas maneiras. São essas pessoas que impõem respeito e atraem
pela bondade, e até mesmo justiça das mesmas e não têm coragem de qualquer
represália.
Nessa
altura, já estão em condições de ir para o espaço, e muito antes do desenlace
pressentem o momento da partida. Preparam os amigos e parentes, com aquela fé e
confiança que só a nobreza espiritual pode sentir.
Essas
criaturas sorriem com os venturosos e choram com os desgraçados. Pertencem a
todas as religiões, porque respeitam a sua e toleram amavelmente as dos outros.
Felizes,
muito felizes, serão aqueles que, como Nelson, o grande almirante inglês, podem
dizer à aproximação da morte: “- Agradeço ao Senhor por ter cumprido o meu
dever”.
A hora
da partida para o espaço é muito mais grave e solene que a do nascimento. Esta
é a da chegada de um espírito para a luta do qual depende todo o seu esforço e
amparo dos que o cercam para vencer. Aquela é a da volta do vencido ou vencedor.
Assim, conforme o caso, será motivo de júbilo ou mágoa dos que ficaram e
principalmente daquele que se foi. Quando a humanidade compreender melhor os
desígnios do Senhor, talvez haja choro quando uma criança nascer e alegrias
quando desencanarem os vencedores.
Vida
gloriosa na Terra é aquela que a Providência Divina concede aos espíritos
eleitos do Senhor, para ensinarem aos homens como alcançar a perfeição. São as Missões.
Há
missões diversas. Há os missionários da Ciência e os do Bem. Uns fazem a humanidade
caminhar pela estrada do progresso, iluminando-lhe a inteligência; outro,
enternecendo-lhe os corações.
Eles
nascem por toda a parte. São os gênios de que falamos no capítulo: “A
Hereditariedade em Face da Reencarnação”. Deus prodigaliza a todos os países do
mundo a oportunidade de servirem de berço aos gênios para que os homens vejam
que não há privilegiados, predestinados e réprobos. Eles são superiores a todas
as convenções mundanas, e por isso consideram a sua pátria o Universo. Em todas
as partes rendem-lhe homenagens.
Se o
redimido se evola em direção dos paramos celestes, o missionário regressa dele
com o esplendor da sua individualidade, com as forças do Bem hauridas nessas
regiões do Belo, do Saber e do Amor, para espalhar na Terra a semeadura que
deve produzir o alimento das almas enfermas e aflitas.
Os
missionários também estão sujeitos à tentação por parte dos espíritos das
trevas. A tentação de Jesus, de que nos falam os Evangelistas, é bem o símbolo
da ameaça que paira até sobre aqueles que já conquistaram elevado grau de
pureza espiritual.
Allan
Kardec, o missionário da Nova Revelação, em “Obras Póstumas” faz referência a isto,
apresentando a resposta dada pelo seu guia espiritual:
“...
Não, mas a missão dos reformadores é cheia de perigos e tropeços. A tua é rude,
previne-te, porque tens de resolver e formar o mundo inteiro. Não suponhas que
basta publicar um livro, dois, dez e ficar tranquilo em casa; não, será preciso
expor a tua pessoa. Levantarás contra ti ódios terríveis; inimigos conjurarão a
tua perda; serás alvo da maledicência, da calúnia, da traição, até dos que te
parecem mais dedicados; as tuas melhore instruções serão desprezadas e
adulteradas; mais de uma vez vergarás ao peso da fadiga; em uma palavra, haverá
uma luta quase constante, e o sacrifício do teu repouso, da tua tranquilidade,
da tua saúde, e até da tua vida; porque, sem isto, viverias mais tempo. Pois
bem! Nem um passo para trás deves dar quando, em vez de um caminho juncado de
flores, encontrares, sob os teus pés, urzes, aguas pedras e venenosas
serpentes. Para tais missões não basta a inteligência; é preciso,
principalmente, para agradar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse, porque
Ele abate os orgulhosos, os presunçosos e ambiciosos”.
“Para
lutar contra os homens é preciso coragem, perseverança e inabalável firmeza;
igualmente é preciso prudência, jeito, para levar as coisas de modo a não
comprometer os sucessos por medida ou palavras intempestivas; é preciso,
finalmente, dedicação e disposição para o sacrifício.
“Já vês
que a tua missão é subordinada a condições que só de ti dependem.”
Espírito
de Verdade
Analisemos
a nossa vida, consultemos a nossa consciência para conhecermos as causas dos
nossos sofrimentos. Nós erramos muito por pensamentos, por palavras e por
obras, e, assim, recebemos em retorno aquilo que semeamos, e, se de tudo não
encontrarmos uma causa presente ou remota nesta vida, então é possível estar
nas anteriores existências.
Deus,
infinitamente Bom, Justo e Misericordioso, não poderia fazer-nos sofrer
inocentemente, apenas para nos lembrar nos dele.
Disse
Jesus: “Se,
pois, sendo maus como sois, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto
mais vosso Pai, que está nos Céus, dará verdadeiros bens aos que lhos pedirem.” (Mateus, cap. VII, vv. 7/11) Não há sofrimento que não tenha a sua razão de ser.
- A
imperfeição dos nossos sentimentos e a mácula do interesse e resquícios do
instinto sobre o amor ideal e nobre, levam pessoas aferradas à Terra a terem
certa repulsa pela Lei da Reencarnação, por causa dos laços afetivos da família.
Os
casados ciumentos pensam na perda do objeto dos seus amores, as mães
egoisticamente só se lembram de seus próprios filhos, e outros no amor de interesse
material, quando essa Lei abençoada esclarece perfeitamente o assunto. Ela
fortalece e amplia o verdadeiro amor que deve reinar na Terra.
Os
espíritos reúnem-se no espaço formando famílias homogêneas pelos sentimentos idênticos
e, assim, vêm à Terra encarnando corpos diferentes para a conquista da
perfeição. O corpo não passa de uma roupagem do espírito e o sexo uma condição
material para conservação e propagação da espécie humana. Os espíritos
superiores colocam o amor sublime acima daquele que sentimos na Terra,
modificado pela influência da carne. Para os espíritos já evoluídos não importa
que aquela que foi esposa numa existência seja filha ou irmã em outras, porque
o amor continua e é o mesmo. Algumas vezes, enquanto os mais adiantados
permanecem no espaço, os outros voltam logo a este mundo, sem que essa aparente
separação seja um entrave para recíprocas influências.
A Lei
da Reencarnação não somente solidifica o amor das famílias como se estende aos
outros espíritos estranhos, pois todos nós somos filhos de Deus e temos que nos
unir pelos laços da Fraternidade Universal.
- Por
sabermos que os sofrimentos pungentes, as deformações, enfermidades
repugnantes, as obsessões, a embriaguez, a fascinação pelo do jogo, são provações
ou expiações, não se infira que não devemos amenizar as dores dos infelizes, na
persuasão de que vamos perturbar a Justiça e não são eles que vão modifica-las.
Esse ´pensamento é anticristão e puro egoísmo. Quem conhece os desígnios da onipotência
Divina? Quem poderá saber como e quando terá término uma pena imposta? E quem
pode saber se não está a nosso cargo justamente a tarefa de servir de
instrumento da Bondade de Deus para assisti-los na desgraça e possivelmente curá-los?
Quem sabe se num desses náufragos da felicidade não se escondem alguns dos
nossos mais respeitados antepassados?
Quantos
já passaram horas de angústia e desespero, lembram-se sempre de alguém que,
providencialmente, os socorreu, e isso justamente na ocasião em que a paciência
parecia transbordar a sua taça de esperança?
Essas considerações são para aqueles que ainda não adotaram o Espiritismo, pois os nossos confrades, compreendendo bem a nossa Doutrina, tudo fazem para a solidariedade reinar na Terra, e esta só será efetiva quando os homens virem uns nos outros, não os semelhantes, mas os irmãos, filhos do mesmo pai – DEUS.
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