Vinélius Di Marco / Indalício Mendes
Reformador (FEB) Junho 1962
Vivemos num século de reivindicações gerais, num século de reajustamentos sociais, que representam indiscutível tomada de contas. Tudo isso, porém, se processa em ambiente de inquietação, porque o mundo vive assustado, presa do medo e sujeito a perturbações decorrentes da educação materialista em que se desenvolveu.
Povos
fracos realizam o velho sonho da autonomia, da autodeterminação, como é moda
dizer-se, ansiando por dirigirem seus próprios destinos. O desmoronamento da
opressão colonialista comprova a sabedoria dos Espíritos também quanto ao
conceito de liberdade e justiça.
Defendem
as mulheres brasileiras, no momento, a modificação do art. 6º do Código Civil,
que colocou a mulher casada em nível inferior ao do silvícola: “São
relativamente incapazes a certos atos, ou à maneira de os exercer, os menores
de idade, as mulheres casadas, os pródigos e os silvícolas.”
Em
virtude do regime patriarcal estabelecido no Brasil antigo, tão desumano quanto
o matriarcado, ainda hoje as mulheres brasileiras sofrem inadmissíveis restrições
e coações incompatíveis com a mentalidade moderna.
No
parágrafo único do referido artigo está dito que “os silvícolas ficarão
sujeitos ao regime tutelar estabelecido em leis e regulamentos especiais, o
qual cessará à medida que se forem adaptando à civilização do País”. Quer dizer
que a lei se preocupou em amparar o silvícola, o que é mais do que justo, mas
deixou a mulher entregue à própria sorte...
Ainda
há países onde as mulheres são tratadas como escravas, sujeitas ao domínio arbitrário
e à vontade tirânica dos homens. Tudo isso terá de desaparecer e desaparecerá mais
depressa do que se poderia prever há cinquenta anos.
Vale
lembrar que, há mais de um século, já continha ‘O Livro dos Espíritos”,
codificado por Allan Kardec, a defesa da mulher.
Considerava
iguais aos direitos dos homens os seus direitos e afirmava que a inferioridade
moral da mulher em certos países provém “do predomínio injusto e cruel que
sobre ela assumiu o homem. É o resultado das instituições sociais e do abuso da
força sobre a fraqueza. Entre homens moralmente pouco adiantados, a força faz o
direito” (1)
Perguntados:
“... uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade
dos direitos do homem e da mulher?” – os Espíritos responderam: “Dos direitos,
sim; das funções, não. Preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete.
Ocupa-se do exterior o homem e do interior a mulher, cada um de acordo com a
sua aptidão. A lei humana, para ser equitativa, deve consagrar a igualdade dos
direitos do homem e da mulher. Todo privilégio a um ou a outro concedido é contrário
à justiça. A emancipação da mulher acompanha o progresso da Civilização. Sua
escravização marcha de par com a barbaria. Os sexos, além disso, só existem na
organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob
esse aspecto nenhuma diferença há entre eles. Devem, por conseguinte, gozar dos
mesmos direitos”. (1)
É indispensável que ambos, o homem e a mulher, compreendam a alta
significação do papel que representam na vida e não se deixem vencer por
sentimentos que conduzam à debilitação da família. Não devem esquecer que o
cumprimento dos deveres importa muito mais do que a satisfação de alegados
direitos. Cada qual precisa sacrificar um pouco do seu próprio “eu” em benefício
da vida matrimonial, da harmonia que pode tornar imperecível o amor conjugal. A
humildade esclarecida é tão útil quanto a necessidade de saber renunciar.
Por
qualquer coisa, nos dias que correm, sobrevêm desquites, frutos de divergências
entre esposos que não se esforçam, as mais das vezes, para encontrar um clima
de compreensão real. A educação materialista afrouxa o sentimento. Num mundo
dito cristão, mas que de cristão só guarda a aparência, quem domina e decide é
o materialismo, desde o lar à vida mundana. O desequilíbrio moral provém
justamente do abandono dos princípios evangélicos. Pensa-se muito em dinheiro e
em prazeres nem sempre defensáveis. No ambiente materialista do mundo atual, os
assuntos do espírito não interessam tanto quanto aqueles que proporcionam
vantagens imediatas. Falta reflexão, não há tempo para pensar no espiritual. A
vida é absorvente, agitada, fatigante, porque o dinheiro e os prazeres dos
sentidos exigem muito da criatura humana não espiritualizada.
Os
Espíritos ensinam que os dois – homem e mulher – cabe “o dever de se ajudarem
mutuamente a suportar as provas de uma vida cheia de amargor” (1) quando a
provação lhes bate à porta.
Os
vícios sociais, a ambição de aparecer bem nas reuniões elegantes, a vaidade
exacerbada, a escassa noção de responsabilidade familial, provocam atritos
entre os cônjuges. Cada vez um exige mais do outro e as exigências acabam por
abrir entre eles um abismo. Somos favoráveis ao remédio do divórcio, quando a
incompatibilidade entre marido e mulher é irremediável. Reprovamos, porém, a
fragilidade dos laços matrimoniais atualmente, pois se rompem pelos mais fúteis
e ridículos pretextos.
A
razão dessa fragilidade está na falta de educação moral, na ausência de
obrigações espirituais, na carência de orientação evangélica, que subordinem o
homem e a mulher a preceitos éticos indispensáveis à estabilidade do vínculo
conjugal.
A
mulher acha bonito fumar e beber álcool, frequentar reuniões e espetáculos
impróprios à visita da virtude. As conversações livres são comuns, durante as
quais o tema preferido é o sexo. Pensa-se muito no adultério e há quem
considere a infidelidade uma demonstração de bom-tom... As peças de teatro e os
filmes cinematográficos, com poucas exceções, oferecem tramas licenciosos,
porque asseguram excelentes tramas licenciosos, porque asseguram excelentes resultados
financeiros. No rádio e na televisão, o “humorismo” predominante é deletério,
acintosamente imoral. Eles entram livremente, pelo som e pela imagem, na
intimidade dos lares. Para lá dirigem os germes da corrupção moral, de forma
sutil, insidiosa, simuladamente humorística, mas que tem por fim gangrenar o
espírito da mulher, da criança, da juventude. As canções, tanto no Carnaval
como fora dele, têm, não raro, muita inconveniência. Mas são gravadas e
difundidas pelo Brasil inteiro.
Para
combater essa ofensiva organizada da corrupção, somente a educação moral com base
evangélica poderá ter efeito. Mas será um trabalho moroso, embora de resultados
fecundos, se convenientemente orientado. É mister, por isso, que se lute com o
bem para rechaçar o mal.
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