sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O Espiritismo e a Mulher


O Espiritismo e a Mulher

Vinélius Di Marco / Indalício Mendes

Reformador (FEB) Junho 1962

            Vivemos num século de reivindicações gerais, num século de reajustamentos sociais, que representam indiscutível tomada de contas. Tudo isso, porém, se processa em ambiente de inquietação, porque o mundo vive assustado, presa do medo e sujeito a perturbações decorrentes da educação materialista em que se desenvolveu.

            Povos fracos realizam o velho sonho da autonomia, da autodeterminação, como é moda dizer-se, ansiando por dirigirem seus próprios destinos. O desmoronamento da opressão colonialista comprova a sabedoria dos Espíritos também quanto ao conceito de liberdade e justiça.

            Defendem as mulheres brasileiras, no momento, a modificação do art. 6º do Código Civil, que colocou a mulher casada em nível inferior ao do silvícola: “São relativamente incapazes a certos atos, ou à maneira de os exercer, os menores de idade, as mulheres casadas, os pródigos e os silvícolas.”

            Em virtude do regime patriarcal estabelecido no Brasil antigo, tão desumano quanto o matriarcado, ainda hoje as mulheres brasileiras sofrem inadmissíveis restrições e coações incompatíveis com a mentalidade moderna.

            No parágrafo único do referido artigo está dito que “os silvícolas ficarão sujeitos ao regime tutelar estabelecido em leis e regulamentos especiais, o qual cessará à medida que se forem adaptando à civilização do País”. Quer dizer que a lei se preocupou em amparar o silvícola, o que é mais do que justo, mas deixou a mulher entregue à própria sorte...

            Ainda há países onde as mulheres são tratadas como escravas, sujeitas ao domínio arbitrário e à vontade tirânica dos homens. Tudo isso terá de desaparecer e desaparecerá mais depressa do que se poderia prever há cinquenta anos.

            Vale lembrar que, há mais de um século, já continha ‘O Livro dos Espíritos”, codificado por Allan Kardec, a defesa da mulher.

            Considerava iguais aos direitos dos homens os seus direitos e afirmava que a inferioridade moral da mulher em certos países provém “do predomínio injusto e cruel que sobre ela assumiu o homem. É o resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre homens moralmente pouco adiantados, a força faz o direito” (1)

            Perguntados: “... uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher?” – os Espíritos responderam: “Dos direitos, sim; das funções, não. Preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete. Ocupa-se do exterior o homem e do interior a mulher, cada um de acordo com a sua aptidão. A lei humana, para ser equitativa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher. Todo privilégio a um ou a outro concedido é contrário à justiça. A emancipação da mulher acompanha o progresso da Civilização. Sua escravização marcha de par com a barbaria. Os sexos, além disso, só existem na organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob esse aspecto nenhuma diferença há entre eles. Devem, por conseguinte, gozar dos mesmos direitos”. (1)

            É indispensável que ambos, o homem e a mulher, compreendam a alta significação do papel que representam na vida e não se deixem vencer por sentimentos que conduzam à debilitação da família. Não devem esquecer que o cumprimento dos deveres importa muito mais do que a satisfação de alegados direitos. Cada qual precisa sacrificar um pouco do seu próprio “eu” em benefício da vida matrimonial, da harmonia que pode tornar imperecível o amor conjugal. A humildade esclarecida é tão útil quanto a necessidade de saber renunciar.

            Por qualquer coisa, nos dias que correm, sobrevêm desquites, frutos de divergências entre esposos que não se esforçam, as mais das vezes, para encontrar um clima de compreensão real. A educação materialista afrouxa o sentimento. Num mundo dito cristão, mas que de cristão só guarda a aparência, quem domina e decide é o materialismo, desde o lar à vida mundana. O desequilíbrio moral provém justamente do abandono dos princípios evangélicos. Pensa-se muito em dinheiro e em prazeres nem sempre defensáveis. No ambiente materialista do mundo atual, os assuntos do espírito não interessam tanto quanto aqueles que proporcionam vantagens imediatas. Falta reflexão, não há tempo para pensar no espiritual. A vida é absorvente, agitada, fatigante, porque o dinheiro e os prazeres dos sentidos exigem muito da criatura humana não espiritualizada.

            Os Espíritos ensinam que os dois – homem e mulher – cabe “o dever de se ajudarem mutuamente a suportar as provas de uma vida cheia de amargor” (1) quando a provação lhes bate à porta.   

            Os vícios sociais, a ambição de aparecer bem nas reuniões elegantes, a vaidade exacerbada, a escassa noção de responsabilidade familial, provocam atritos entre os cônjuges. Cada vez um exige mais do outro e as exigências acabam por abrir entre eles um abismo. Somos favoráveis ao remédio do divórcio, quando a incompatibilidade entre marido e mulher é irremediável. Reprovamos, porém, a fragilidade dos laços matrimoniais atualmente, pois se rompem pelos mais fúteis e ridículos pretextos.

            A razão dessa fragilidade está na falta de educação moral, na ausência de obrigações espirituais, na carência de orientação evangélica, que subordinem o homem e a mulher a preceitos éticos indispensáveis à estabilidade do vínculo conjugal.

            A mulher acha bonito fumar e beber álcool, frequentar reuniões e espetáculos impróprios à visita da virtude. As conversações livres são comuns, durante as quais o tema preferido é o sexo. Pensa-se muito no adultério e há quem considere a infidelidade uma demonstração de bom-tom... As peças de teatro e os filmes cinematográficos, com poucas exceções, oferecem tramas licenciosos, porque asseguram excelentes tramas licenciosos, porque asseguram excelentes resultados financeiros. No rádio e na televisão, o “humorismo” predominante é deletério, acintosamente imoral. Eles entram livremente, pelo som e pela imagem, na intimidade dos lares. Para lá dirigem os germes da corrupção moral, de forma sutil, insidiosa, simuladamente humorística, mas que tem por fim gangrenar o espírito da mulher, da criança, da juventude. As canções, tanto no Carnaval como fora dele, têm, não raro, muita inconveniência. Mas são gravadas e difundidas pelo Brasil inteiro.

            Para combater essa ofensiva organizada da corrupção, somente a educação moral com base evangélica poderá ter efeito. Mas será um trabalho moroso, embora de resultados fecundos, se convenientemente orientado. É mister, por isso, que se lute com o bem para rechaçar o mal.

     (1)     “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, edição 1950, Cap. IX – Da lei de igualdade, n° 817, 822 e 819.    


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