O mundo desconhecido
Carlos
Imbassahy
Reformador
(FEB) Abril 1925
Os fatos supranormais se vão impondo. Atualmente,
à atenção do estudioso. É debalde que uns se fazem indiferentes e outros irritados.
As coisas extraordinárias se vão manifestando progressivamente e sucessivamente
desnorteando quem as procura interpretar fora do Espiritismo. As soluções
explicativas que se apresentam são quase tantas quanto os seus autores. Poucas
vezes tem sido tão certo o ditado: Cada cabeça,
cada sentença.
Os casos de curas, quais as que se referem como
operadas por intermédio do Sr.
Mozart,
do Sr. Hickson e outros instrumentos dos Espíritos pela complexidade com que se
mostram, entram na categoria dos que embaraçam os observadores.
Não obstante, há muitos que pensam, como o Sr.
Medeiros e Albuquerque, que
é
vergonhosa a atitude dos que exploram tais curas, que não passam de casos banais
de sugestão.
Ora, uma coisa é apreciar o fato de perto
e outra comenta-lo de longe.
Com os predicados do taumaturgo brasileiro
têm havido e há muitas criaturas por quem o mundo científico já se interessa.
O neurologista francês, Dr. Eugene Osty, que se vem dedicando, há longos anos,
ao estudo da fenomenologia paranormal, apresenta vários exemplos, mais ou menos
idênticos ao de Mozart e essa atitude não pareceu vergonhosa a ninguém.
Também se não desdourou o Prof. Richet de
falar das curas miraculosas que
poderiam
ser introduzidas na ciência metapsíquica. É assim que diz: “peutêtre y aurait-il lieu d’introduire dans la Science métapsychique
quelques unes de ces guérisons miraculeuses e authentiques.”
O Dr. Karl Happich, de Darmstadt, neurologista,
fala da mediunidade de certo cavaleiro leigo em medicina que curava e fazia
diagnósticos. Chegou a publicar isso e
não se enrubesceu.
Mas, se estas curas existem, se se lhes
pode chamar miraculosas, se a elas se acham ligadas outras faculdades que “touchent
à la méthapsychique”, como dIjz Richet, não é de causar pejo deixar-se aqui de ver
casos banais de sugestão nas que se atribuem a Mozart e que escapam, em
absoluto, àquela hipótese.
É que a sugestão tem a vantagem de barrar o
caminho das hipóteses temerárias, de torna-lo inacessível às ideias novas que
principiam a invadir o planeta para alguns, assustadoramente.
É essa a razão porque o interessante
cronista, que fez tal assunto entrar na Ordem
do Dia, se refere ufanamente ao 2º Congresso de Pesquisas Psíquicas. O
seu júbilo provém de ter esse Congresso declarado que a hipótese da
sobrevivência é apenas uma das
interpretações possíveis dos fatos chamados espíritas.
Ora, pela declaração de princípios desse 2º
Congresso, o que ao verifica é justamente o contrário. Se se tratasse de
crentes, de adeptos que chegaram a tais restrições, poder-se-ia afirmar que esses,
com aquele apenas, estavam afrouxando,
que suas convicções começavam a empalidecer. Mas, nada disso. Eram, na sua
grande maioria, os do Congresso, perquiridores indiferentes, ou materialistas
declarados. Vieram da negativa categórica. Julgam, agora, que a sobrevivência é
possível. Indubitavelmente, deram um passo para a a espiritualidade. A evolução
tinha que se fazer por aquele caminho. Nem se poderia compreender que caíssem de
chofre no seio da doutrina de Allan Kardec. Seria a natureza em saItos, o que talvez não agradasse muito aos
admiradores de Leibnitz.
Há sempre nessas questões uns tantos enganos
que se repetem axiomaticamente. Um deles é o de que a Grande Guerra, pela
saudade dos mortos, tem trazido a conversão ao Espiritismo.
A causa deve ser procurada alhures. País em
que essas conversões têm tomado grande vulto é o nosso. Calcula-se, mesmo, em três
milhões o número dos adeptos das novas doutrinas, isto é, do Espiritismo. Não sabemos,
porém, onde a Grande Guerra produziu aqui essa devastação que deixou tanta gente
saudosa.
É nos fatos, no grande acervo dos fatos, que
devemos achar a procurada explicação.
Dos patrícios nossos, ultimamente
conversos, só de um se poderia dizer que a saudade é que o encaminhou à
conversão: mas, ainda aí, o que
contribuiu para essa conversão foram os fatos, na sua espantosa realidade.
Crê o escritor a quem nos vimos referindo, que
as referidas conversões têm um motivo ferozmente egoísta.
Tal não há. Egoísmo é o daqueles que fecham
os olhos à luz dos ensinamentos. Para que aqueles não lhes tragam a certeza de
que Deus existe, de que sua justiça é verdadeira, que as nossas faltas são passíveis
de penas e que a nossa vida deve ser a do amor ao próximo.
Ora, isso implicaria uma série de restrições,
uma grande reforma nos costumes, o sacrifício do interesse, das paixões, dos
gozos materiais da vida, dos prazeres nefandos do mundo.
A certeza de uma justiça infalível trás nos
muitos sustos, porque poucas consciências se podem julgar isentas de culpa. E a
ideia de erros no passado, com abstenções no presente e castigos no futuro não
será a muitos grandemente sedutora. Daí a grande acolhida de toda e qualquer hipótese
que ponha de lado a da imortalidade, com suas consequências, mesmo que essa
hipótese seja praticamente indemonstrável e teoricamente insustentável.
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