O Momento das Contradições
por Solimar
de Oliveira
Reformador (FEB) Novembro 1942
"Amai-vos uns aos
outros", disse o Cristo quando de sua luminosa passagem cheia dos mais
dolorosos padecimentos sobre o mundo das provações. "Amai-vos uns aos
outros", segundou lhe a primitiva Igreja Cristã; "Amai-vos uns aos
outros" confirmou o Protestantismo; "Amai-vos uns aos outros",
prosseguiu o Espiritismo hasteando uma nova bandeira de paz e bem-aventurança:
"Amai-vos uns aos outros", dizem incessantemente as vozes dos Espíritos
verdadeiramente bons, em todos os lugares onde existam agremiações bem
intencionadas, e mesmo às consciências e aos corações de todas as criaturas,
principalmente daquelas que se interessam pela felicidade, "Amai-vos uns
aos outros", repetem os homens de boa vontade.
"Amai-vos uns aos
outros", ensinou o Cristo Jesus; repetiram-lhe os ensinamentos e os
puseram em prática os seus primeiros discípulos iluminados pela Fé com que foi instituída
a primitiva Igreja Cristã; pregaram os sacerdotes nos púlpitos e nos altares
dos templos de todos os recantos do mundo; cheios de entusiasmo aceso nas suas
almas rebeladas contra alguns ritos tradicionais da Religião de Roma, os
corifeus da reforma religiosa do mundo, ao entrarem na fase de equilíbrio de
suas atividades, recomendaram o mesmo mandamento cristão; veio o Espiritismo,
e, como um dos princípios de doutrina; adotou o sagrado ensinamento: "Amai-vos
uns aos outros". E os pregadores de moral social se multiplicaram em toda parte inspirados mesmo em agremiações
onde não predomina a rígida disciplina religiosa, no Espírito Divino do mandamento
que sacode todos os sentimentos de egoísmo e que desperta nos corações ainda
não envenenados nem enfraquecidos pela perfídia, pela maldade e pelos combates
contra as trevas, contra as paixões Inferiores, contra os inimigos do Bem, os
mais nobres sentimentos de piedade, de devotamento de renúncia, de caridade,
que conduzem os homens à verdadeira paz, à verdadeira felicidade terrestre. "Amai-vos
uns aos outros" é o grandioso mandamento cristão ainda hoje ensinado por
todas as religiões, por todas as criaturas civilizadas que um dia tiveram os
corações abertos aos conselhos do Amor puríssimo, enternecidos pelas vibrações
da Fé, iluminados pelas sementes miraculosas, de luz e de bondade, dos
Evangelhos do Céu.
O Verbo Poderoso do Cristo até os
dias de hoje remove, expulsa, todos os pecados, todos os vícios, todas as
chagas dos corações e das consciências!
Mas os homens quase sempre
rebeldes, as criaturas humanas, sujeitas aos poderosos da Terra, e as almas
servas de almas que tomaram como fundamento de sua vida o duelo e a vingança,
entregando-se aos fazedores de guerras, pelo livre arbítrio que lhes foi
concedido por Deus, aceitaram as pequeninas convenções, ou a elas se viram
forçadas a curvar, caindo com isto na negação ou na indiferença das mesmas
verdades, dos mesmos princípios que formam a base de nossa civilização chamada
cristã: os Evangelhos de Jesus.
Alguns por fraqueza, outros por
covardia, outros ainda por comodidade ou por conveniência servindo portanto a
interesses inconfessáveis, (o que lhes agrava o mal), pois, com prejuízo de
seus subalternos, permitem que o Evangelho da Paz, do Amor e do Perdão, seja praticamente
banido das sociedades e que a bandeira amarela do Egoísmo e a bandeira cinzenta
da Hipocrisia sejam erigidas no frontispício de outro evangelho que se vem escrevendo
com "sangue, suor e lágrimas", - o sangue da orfandade atingida pela
carnificina, o suor dos combatentes no fragor da luta, as lágrimas das viúvas,
das irmãs, das noivas, das mães em desespero, um novo evangelho vêm escrevendo:
o Evangelho do ódio, o Evangelho da Guerra!
Substitui-se assim o mandamento:
"Amai-vos uns aos outros" pela fórmula: "matai-vos uns aos outros"!
Com vistas ao Catolicismo, ao
Protestantismo, ao Espiritismo, as três grandes instituições brasileiras que
tomaram a si a tarefa de evangelização, para que a pureza dos ensinamentos
evangélicos, para que a bandeira da Paz, do Cristianismo, não seja substituída,
não seja manchada pelo fermento dos fariseus nem pelas trevas das discórdias e das
competições estéreis. Que o momento das grandes contradições não atinja as
instituições cristãs.
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