Sobre um
suspiro
Roque
Jacintho
Reformador
(FEB) Julho 1970
Lemos sobre um suspiro medieval. A
pequena nota na grande imprensa dizia que grande líder espiritualista, saudoso
do amplo domínio com que trazia em cativeiro grande parte do nosso mundo civilizado,
deitando um olhar sobre o panorama atual de nossa Humanidade, suspirou
profundamente e anunciou:
- O progresso não conduz a parte
alguma.
Essa afirmação ressuma miopia
espiritual.
O progresso material, embora possa
gerar atitudes conflitantes com as Leis Espirituais - conflitantes porque se
toma a parte pelo todo -, promove a libertação da criatura, pelo amadurecimento
do seu senso-moral.
São os últimos elos da senzala que
se rompem. De submissa a dogmas e preceitos seculares, a criatura sacode-se a
si mesma, despertando da hibernação em que se amodorrava, alcançando novas
condições para abarcar com mais largueza os fenômenos da própria Vida Eterna.
Acordamos que o avanço técnico não
cria felicidade.
Coloca, porém, o homem a caminho
desse extraordinário encontro com seu mundo íntimo, a fim de torná-lo senhor de
qualidades espirituais dormentes.
Sem a conquista do meio, o homem não
se voltaria para dentro de si mesmo, interessado de conquistar-se.
Quando, pois, se atinge o nível do
conforto, do bem-estar, diminuindo a quota de tempo nas atividades mais
grosseiras que lhe asseguravam a sobrevivência física - faz-se o tempo de sua
espiritualização. Antes, tal ocorrência seria impraticável, porque ele estaria
inteiramente empenhado na luta contra o meio, imaturo para autodescobrir-se.
Tão logo o homem vença a euforia de
suas conquistas, asserenando o próprio ânimo, eis que se compenetra que não
basta apropriar-se de leis de natureza material, fazendo-se um escravo de suas
máquinas e de seus desejos satisfeitos.
Técnicas são meios e não um fim em
si.
A criatura está segura dessa
realidade maior.
Tão exclusivamente não encontra,
porém, nas religiões organizadas, respostas às suas necessidades profundas, deparando
com um sacerdócio empenhado em retirar um quinhão de tudo quanto ocorre, na
preservação de seu patrimônio, e interessado em garantir-se de que poderá
encontrar fórmula mágica para, no tumulto que ocorre nos instantes de alforia,
forjar algemas para atrelar a Humanidade aos seus programas particularistas e
temporais.
A técnica não faz mal ao homem. A ausência
de evolução religiosa, a falência de autenticidade é que, nesta quadra especialíssima
do progresso, distanciam o homem dos templos de fé, imantando as suas
esperanças nas retortas dos laboratórios, de onde espera ver surgir a equação
dos seus conflitos íntimos.
Uma pílula para curar insanidade!
Uma inalação química para produzir
um gênio!
Um programa educacional para suprir
o vazio de sua alma ou a explosão de instintos aviltados
num mergulhar em apetites grosseiros.
Drogas anticoncepcionais para
sensualismo desenfreado.
Filhos de laboratório para povoar o
mundo!
Em meio a essa dolorosa experiência
de nosso século, o Espiritismo-cristão é a mensagem de luz que atravessa as
trevas, convocando o homem para a descoberta de seu mundo íntimo, para a liberação,
afinal, de suas forças interiores, a fim de que se refaça o equilíbrio de seus
sentimentos, através da integração da criatura em sua verdadeira natureza.
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