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domingo, 22 de novembro de 2015

Nascimento e Morte


             "No momento de encarnar, o Espírito sofre perturbação semelhante à que experimenta ao desencarnar? Muito maior e sobretudo mais longa. Pela morte, o Espírito sai da escravidão; pelo nascimento, entra para ela."  ("O Livro dos Espíritos")


            Muito clara a explicação dos Espíritos à pergunta 339, de Allan Kardec, inserida no livro básico da Codificação.

            Reencarnar e desencarnar, ou seja, nascer e morrer, na linguagem usual, são processos de transição de um plano para outro, gerando repercussões que variam segundo o estado evolutivo da alma.

            É maior ou menor, mais ou menos duradoura a perturbação que se segue a um e outro processo. Os que estudam Espiritismo, analisando-lhe os princípios, sabem que as reencarnações e desencarnações diferenciam-se de indivíduo para indivíduo. Situemos, inicialmente, a reencarnação, isto é, a concessão ao Espírito, pela divina misericórdia, de um novo corpo.

*

            A ligação da alma ao corpo tem seu começo no momento da fecundação. A partir desse instante, de suma importância para o progresso e a felicidade do Espírito, apertam-se os laços, na proporção do desenvolvimento do corpo do reencarnante no organismo materno.

            É um aprisionamento em escala crescente, que se prolonga além do nascimento, sendo lícito crer, não só pelo que preceitua a questão 385 de “O Livro dos Espíritos", mas também pelo que observamos na paisagem humana, que somente na adolescência se fixam e consolidam, em definitivo, valores e tendências específicas:

            “Que é o que motiva a mudança que se opera no caráter do indivíduo em
certa idade, especialmente ao sair da adolescência? É que o Espírito se modifica?

            É que o Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era" (...)

            Embora a ligação principie no ato concepcional, previamente se verificam, no plano espiritual, providências tendentes a adaptar o Espírito ao ambiente doméstico, para evitar reações e transtornos psicológicos.

            A questão 351 esclarece:

            "(...) A partir do instante da concepção, começa o Espírito a ser tomado de perturbação"
(...) que se diversifica, conforme ressaltamos, de alma para alma.

            Espírito de mediana evolução, ou que a tenha em grau bem limitado, logo após a fecundação vai perdendo a noção das coisas, sequencionando esquecimento já iniciado na fase pré-reencarnatória, quando a forma perispiritual fora reduzida. Lembranças e ideias apagam-se. Sobrevém o nascimento. E, com o nascimento, o olvido de tudo...

            Com um Espírito de grande evolução o fenômeno é diferente: guarda ele consciência clara até pouco tempo antes do nascimento. Dependendo do seu gabarito, pode até comunicar-se em reuniões mediúnicas, antes do renascimento. Pode mesmo lembrar-se (após este) de detalhes que lhe antecederam à chegada. São bem raros esses casos, convém frisar.

            Situemos, agora, o problema desencarnatório, tão importante e delicado quanto o nascimento.

*

            Na desencarnação, isto é, ao deixar o Espírito a veste corpórea, que lhe fora cárcere durante anos, o fenômeno é o mesmo: o Espírito terá, igualmente, reações e abalos correspondentes ao seu estado evolutivo.

            Como regra geral, vem o torpor. O sono mais ou menos longo. Despertando, as ideias começam a clarear, as lembranças da vida física subindo à tona. É o Espírito que se reequilibra, paulatinamente. A lucidez vai sendo recuperada, à maneira de um alvorecer, quando homens e coisas deixam de ser silhuetas diante de olhos humanos:

            " (...) a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados (vida e morte) se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes
laços se desatam, não se quebram." (Questão 155)

            É a alma eterna que se reajusta para a compreensão do seu novo estado e para a continuidade do aprendizado. Essa regra sofre alterações, também segundo o grau de aperfeiçoamento do desencarnante.

                        O Espírito realmente evoluído, com potência mental capaz de superar impressões da vida física, recobra a consciência em pouco tempo, adaptando-se, com rapidez, a seu novo habitat.  Conhecimentos doutrinário e evangélico pesam, favoravelmente, no comportamento do desencarnante. O ensino espírita influencia sobre a perturbação.

            "(...) por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua situação.
Mas, a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem."
 (Questão 165)

            A luz virá mais cedo, evidentemente, para quem retorna ao plano espiritual com excelente bagagem de valores morais.

            A missão da Doutrina dos Espíritos não é preparar o homem apenas para a morte que se avizinha, mas, sim, educá-lo para a vida eterna.

            Sua obra renovadora ir-se-á concluindo aos poucos, na mente e no coração da humanidade, eis que a Terra, mundo de provas e expiações, recebe como habitantes almas vergastadas pela dor, comprometidas com a Lei. É necessário que os disseminadores das verdades espíritas as façam conhecidas e exemplificadas aqui e alhures. Em todos os continentes... Nos vales e nos montes. Nas encostas e nas planícies. É imprescindível, aconselha  Emmamuel, estudar educando, e trabalhar construindo.

            Estudando Allan Kardec e trabalhando construindo, acolhamos a palavra esclarecida de Emmanuel, lídimo divulgador da obra do missionário lionês, convictos de que, no corpo físico ou fora dele, a renovação nos dará alegria e paz:

            "Sigamos, pois, à frente, destemerosos e otimistas,
seguros no dever e leais à própria consciência,
na certeza de que o nome de Nosso Senhor Jesus-Cristo
está empenhado em nossas mãos."


Nascimento e Morte
J. Martins Peralva

Reformador (FEB) Janeiro 1976

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