"No momento de encarnar, o Espírito sofre perturbação semelhante à que experimenta ao desencarnar? Muito maior e sobretudo mais longa. Pela morte, o Espírito sai da escravidão; pelo nascimento, entra para ela." ("O Livro dos Espíritos")
Muito clara a explicação dos
Espíritos à pergunta 339, de Allan Kardec, inserida no livro básico da
Codificação.
Reencarnar e desencarnar, ou seja,
nascer e morrer, na linguagem usual, são processos de transição de um plano
para outro, gerando repercussões que variam segundo o estado evolutivo da alma.
É maior
ou menor, mais ou menos duradoura a perturbação que se segue a um e outro
processo. Os que estudam Espiritismo, analisando-lhe os princípios, sabem que
as reencarnações e desencarnações diferenciam-se de indivíduo para indivíduo.
Situemos, inicialmente, a reencarnação, isto é, a concessão ao Espírito, pela
divina misericórdia, de um novo corpo.
*
A ligação da alma ao corpo tem seu
começo no momento da fecundação. A partir desse instante, de suma importância
para o progresso e a felicidade do Espírito, apertam-se os laços, na proporção
do desenvolvimento do corpo do reencarnante no organismo materno.
É um aprisionamento
em escala crescente, que se prolonga além do nascimento, sendo lícito crer, não
só pelo que preceitua a questão 385 de “O Livro dos Espíritos", mas também
pelo que observamos na paisagem humana, que somente na adolescência se fixam e
consolidam, em definitivo, valores e tendências específicas:
“Que é o que motiva a mudança que se
opera no caráter do indivíduo em
certa idade, especialmente ao sair da adolescência? É
que o Espírito se modifica?
É que
o Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era" (...)
Embora a ligação principie no ato
concepcional, previamente se verificam, no plano espiritual,
providências tendentes a adaptar o Espírito ao ambiente doméstico, para evitar reações
e transtornos psicológicos.
A questão 351 esclarece:
"(...) A partir do instante da
concepção, começa o Espírito a ser tomado de perturbação"
(...) que se diversifica, conforme ressaltamos, de alma
para alma.
Espírito de mediana evolução, ou que
a tenha em grau bem limitado, logo após a fecundação vai perdendo a noção das coisas,
sequencionando esquecimento já iniciado na fase pré-reencarnatória, quando a
forma perispiritual fora reduzida. Lembranças e ideias apagam-se. Sobrevém o
nascimento. E, com o nascimento, o olvido de tudo...
Com um Espírito de grande evolução o
fenômeno é diferente: guarda ele consciência clara
até pouco tempo antes do nascimento. Dependendo do seu gabarito, pode até
comunicar-se em reuniões mediúnicas, antes do renascimento. Pode mesmo
lembrar-se (após este) de detalhes que lhe antecederam à chegada. São bem raros
esses casos, convém frisar.
Situemos, agora, o problema
desencarnatório, tão importante e delicado quanto o nascimento.
*
Na desencarnação, isto é, ao deixar
o Espírito a veste corpórea, que lhe fora cárcere durante
anos, o fenômeno é o mesmo: o Espírito terá, igualmente, reações e abalos
correspondentes ao seu estado evolutivo.
Como regra geral, vem o torpor. O
sono mais ou menos longo. Despertando, as ideias começam
a clarear, as lembranças da vida física subindo à tona. É o Espírito que se
reequilibra, paulatinamente. A lucidez vai sendo recuperada, à maneira de um
alvorecer, quando homens e coisas deixam de ser silhuetas diante de olhos
humanos:
" (...) a alma se desprende
gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua
subitamente a liberdade. Aqueles dois estados (vida e morte) se tocam e
confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o
prendiam. Estes
laços se desatam, não se quebram." (Questão 155)
É a alma eterna que se reajusta para
a compreensão do seu novo estado e para a continuidade do aprendizado. Essa
regra sofre alterações, também segundo o grau de aperfeiçoamento do
desencarnante.
O
Espírito realmente evoluído, com potência mental capaz de superar impressões da
vida física, recobra a consciência em pouco tempo, adaptando-se, com rapidez, a
seu novo habitat. Conhecimentos
doutrinário e evangélico pesam, favoravelmente, no comportamento do
desencarnante. O ensino espírita influencia sobre a perturbação.
"(...)
por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua situação.
Mas, a prática do bem e a
consciência pura são o que maior influência exercem."
(Questão 165)
A luz virá mais cedo, evidentemente,
para quem retorna ao plano espiritual com excelente bagagem de valores morais.
A missão da Doutrina dos Espíritos
não é preparar o homem apenas para a morte que se
avizinha, mas, sim, educá-lo para a vida eterna.
Sua obra renovadora ir-se-á
concluindo aos poucos, na mente e no coração da humanidade, eis que a Terra,
mundo de provas e expiações, recebe como habitantes almas vergastadas pela dor,
comprometidas com a Lei. É necessário que os disseminadores das verdades
espíritas as façam conhecidas e exemplificadas aqui e alhures. Em todos os
continentes... Nos vales e nos montes. Nas encostas e nas planícies. É
imprescindível, aconselha Emmamuel,
estudar educando, e trabalhar construindo.
Estudando Allan Kardec e trabalhando
construindo, acolhamos a palavra esclarecida de
Emmanuel, lídimo divulgador da obra do missionário lionês, convictos de que, no
corpo físico
ou fora dele, a renovação nos dará alegria e paz:
"Sigamos,
pois, à frente, destemerosos e otimistas,
seguros no dever e leais à própria
consciência,
na certeza de que o nome de Nosso
Senhor Jesus-Cristo
está empenhado em nossas mãos."
Nascimento e Morte
J. Martins Peralva
Reformador (FEB)
Janeiro 1976
Nenhum comentário:
Postar um comentário