O
texto que se vai ler é transcrição do "Reformador" de setembro de 1942, págs. 215, 216 e
217. Trata-se de proveitoso relato das exposições feitas por Américo Lopes
Vieira, Henrique Magalhães, Guillon Ribeiro, Amadeu de Morais Machado e Manoel
Barbosa Leite, em reunião do Conselho de Associações Federadas, órgão que
antecedeu, na FEB, ao atual Conselho Federativo Nacional. Suas palavras
continuam muito atuais e muito oportunas, conforme se verá.
Américo Lopes da Silva diz que
sempre lhe calara mal a denominação de Escola de Médiuns,
porquanto não concebe escola sem professor e não vê entre os homens professores
para médiuns. Os únicos professores que reconhece, com capacidade para lhes
tornar proveitoso o exercício da mediunidade, são os Espíritos superiores. O
que o médium, porém, precisa é estudar a doutrina e, à sua luz, estudar e
meditar os ensinos evangélicos, a fim
de praticá-los. O médium, regra geral, não sabe o que é ser médium, nem por que
e para que lhe foi concedido o dom da mediunidade. Consequência: instrumento
facilmente explorável
pelas forças do mal, pelos Espíritos inferiores ou atrasados.
Não serão boas escolas de médiuns as
sessões de estudo metódico da doutrina? Não se
estuda nelas, com as outras obras fundamentais do Espiritismo, "O Livro
dos Médiuns"? Por que, então, organizarem-se sessões especiais com o
rótulo de escolas?
As faculdades mediúnicas não somos
nós que as desenvolvemos, como já tem sido dito e demonstrado em várias sessões
do Conselho de Associações Federadas. São os Espíritos bons e elevados que as
desenvolvem, mas com o concurso do próprio médium, concurso este que lhe
compete prestar estudando a doutrina e pautando pelos preceitos do Evangelho o
seu proceder, a sua vida.
Ao demais, cada médium reclama um
modo ou método especial para o desenvolvimento de suas faculdades, mesmo quando
estas se acham suficientemente caracterizadas. Provam-no diversos fatos
singulares que se verificam com relação às faculdades mediúnicas e que os
inexperientes ou novatos na doutrina precisam conhecer e, principalmente, os
que dirigem sessões de trabalhos práticos, a fim de exercerem ação eficiente,
cercados do respeito e confiança dos que os secundam nesses trabalhos.
Há médiuns que durante anos frequentam
sessões, sem que ninguém suspeite, nem eles
próprios, que possuem faculdades mediúnicas, e que de súbito entram a produzir.
Que foi
o que contribuiu para isso? O que se deu é que a sinceridade e a firmeza de
seus desejos e propósitos, apoiados numa sã conduta moral, atraiu Espíritos
bons que, por meio de uma atuação propícia e sábia, o foram levando a condições
de bem exercitarem as faculdades que
possuíam em estado latente. Os nossos guias, tanto mais se nos afeiçoam e
auxiliam, quanto
mais dóceis nos mostramos à influência bondosa deles e quanto mais
perseverantes nos
revelamos no objetivo de ser úteis aos nossos semelhantes, de ser servidores da
Caridade.
Teve em seu grupo, diz, uma senhora
analfabeta que, pela sua assiduidade ao estudo, pela sua aplicação e pelo
desejo vivo que manifestava de ser útil à doutrina pela prática do bem,
conseguiu chegar a ler o Evangelho e o "Reformador". Um belo dia, foi
tomada por um Espírito durante a sessão e passou a produzir, desde aí,
trabalhos relativamente bons. Outro médium, também senhora, assídua em frequentar
o Grupo desde mocinha, se está revelando agora um médium à qual poucos igualam.
De um dia para outro, o guia deu autorização
para que ela trabalhasse e os resultados têm sido excelentes. Onde a escola que
a formou médium? Onde os professores humanos que a prepararam?
O de que o médium precisa,
sobretudo, é de humildade, não só para assimilar bem os ensinos
doutrinários, como para aceitar os conselhos que lhe dê o diretor das sessões
que ele frequente e às quais nunca deve faltar, senão por motivos muito fortes
e sérios. Mas, daí decorre que tais sessões somente devem ser dirigidas por
quem, graças a um conhecimento
mais ou menos amplo da doutrina e à conformação de seus atos com os ensinos
que ela prodigaliza, tem experiência bastante para aconselhar devidamente os
médiuns, lembrado sempre de que junto destes estão constantemente Espíritos
atrasados, obscurecidos,
ou levianos, prontos a soprar-lhes a vaidade, a rebeldia, ideias próprias a causar
perturbações e discórdias. Cumpre ter presente que não se pode falar ao médium
A como
se fala ao médium B ou C; que uns reclamam energia, outros muita brandura e que a
outros só se pode falar com muita vigilância e oração.
Certo, necessário se faz que, nas
sessões frequentadas por médiuns e onde se estude "O
Livro dos Médiuns", o dirigente dos trabalhos desenvolva, para
esclarecimento destes, observações
tendentes a lhes dar a compreender como realmente se processa o desenvolvimento
de suas faculdades.
*
Henrique Magalhães confessa que a
questão do desenvolvimento de faculdades mediúnicas, parece-lhe, o próprio
Espiritismo a põe em relevo, porquanto não se compreende Espiritismo sem
trabalhos mediúnicos, por isso mesmo que a base do Espiritismo está na
manifestação dos Espíritos.
Pois que a denominação - Escola de
Médiuns - repugna a muitos, chame-se ao que assim
se denomina escola de desenvolvimento moral dos médiuns, por meio do estudo e
das instruções dos nossos maiores.
Está de acordo em que os professores
são os Espíritos; mas, então, afigura-se lhe que a escola de que se trata
deverá ser o lar. Aí é que se terão de fazer o estudo e a meditação dos
livros doutrinários, uma vez que os guias estão sempre junto dos que estudam e
meditam, para lhes dar intuições seguras sobre a maneira por que cumpre
entendam o que meditem e estudem.
Cita o fato de um Espírito amigo lhe
haver dito que continuasse seus estudos, com a certeza de lhe estar ao lado o
seu guia, para lhe facilitar a verdadeira compreensão do que estudasse,
ação essa cujo resultado não pode deixar de ser o desenvolvimento das faculdades
mediúnicas do guiado.
Ao passo que nas sessões só se
estuda uma ou duas vezes por semana, em casa se pode
estudar todos os dias, em todas as horas disponíveis. Conclui, pois, que a
melhor escola consiste nesse estudo cotidiano, a sós.
Outra circunstância de grande
relevo, ao seu parecer, e que, portanto, precisa ser levada muito em conta, é a
do ambiente que se forma antes das sessões. Em regra, nessa ocasião, assuntos
diversos são tratados, muitos deles em antagonismo com o objetivo da reunião, quais
as observações contra o próximo e sobre a orientação doutrinária de terceiro.
Ora, os Espíritos que ali se encontram captam os pensamentos que se externam.
Se são bons, entristecem-se e se condoem dos que dão corpo a tais pensamentos,
pelo revelarem, no desamor que traduzem, que o espírito da doutrina ainda não
penetrou naqueles corações; se são maus, ou, melhor, inferiores e atrasados,
aproveitam-se dos aludidos pensamentos, para prejudicar individualmente os que
os formulam e fazer abortar os intuitos e propósitos que motivam a reunião.
Acha que no recinto destas se deviam
colocar cartazes com a advertência aos assistentes para, por meio de
pensamentos bons e consentâneos com os fins que os congregam, absterem-se todos
de tratar de assuntos profanos, que cumpre fiquem fora dali, só tendo entrada
ali o que condiga com a espiritualidade.
*
Guillon Ribeiro pondera que os
Espíritos superiores tudo o que dizem é firmado nos Evangelhos
e essa é, de fato, a verdade. Ocorre então perguntar quais os médiuns e não médiuns
que, sequer, leem frequentemente o Evangelho. Está em dizer que bem poucos o fazem.
Mas, então, não há negar que aí se encontra a causa de todas as aberrações que vão
sendo introduzidas na prática da Doutrina Espírita, em geral, e, em particular,
no que toca ao desenvolvimento de médiuns, ou de faculdades mediúnicas.
Conclui declarando que também
considera de primordial e imprescritível necessidade o
estudo e a meditação continuada do Evangelho, para todos aqueles que, possuindo
faculdades mediúnicas, em estado embrionário, ou mais ou menos caracterizadas,
desejem dilatá-las, de modo a poderem exercitá-las em correspondência aos
desígnios divinos com que lhes foram elas outorgadas - o bem da humanidade.
*
Amadeu de Morais Machado declara que
uma escola de médiuns precisaria, para existir, da regência de um mestre, que
não pode haver, porquanto o único Mestre é Jesus. Pensa igualmente que as
sessões em que se estudem o Evangelho e "O Livro dos Médiuns", completando
o respectivo diretor o estudo, por meio de explicações, esclarecimentos,
conselhos e advertências, é tudo o que se pode pretender do concurso humano com
o objetivo de que aquelas faculdades se desenvolvam em quem as possua de uma
maneira ou doutra.
Ao demais, importa considerar que a
existência de faculdades mediúnicas se prende, em boa parte, à organização
física do indivíduo, organização que ele tanto mais apropriará à ampliação e ao
exercício de tais faculdades, quanto mais aproximar a prática da vida à dos
ensinos evangélicos. Todos os esforços que empreguem neste sentido serão
esforços feitos em prol do aprimoramento de suas mediunidades. Conclui-se,
pois, que ao médium é que, em primeiro lugar, cabe desenvolver e valorizar as
faculdades mediúnicas com que a Providência divina o haja dotado, a benefício
seu e da humanidade, porque da verdade que a salvará.
*
Manoel Barbosa Leite diz,
finalmente, que, entre nós, no Brasil, o grande trabalhador, que
foi Leopoldo Cirne, esposou a ideia da criação de escolas de médiuns e fundou
uma. Viu,
entretanto, malograda a sua iniciativa, por motivos que não vem a pelo examinar
no momento.
Afigura-se lhe que o aprendizado, a
que o médium não pode furtar-se, da doutrina e o desenvolvimento de suas
faculdades são coisas distintas, que não se devem confundir, se bem seja
evidente que o aprendizado muito contribui para a lapidação das faculdades mediúnicas
e para as dilatar, se as tem apenas em estado latente.
Alguns companheiros, entretanto, se
expressam de maneira que parecem contrários, em
princípio, às sessões práticas. Outros, dir-se-ia, consideram sem positiva
eficiência as sessões
meramente de estudo.
Por sua parte, o que deseja e acha
indispensável é que as sessões práticas e as essencialmente destinadas a
desenvolver faculdades mediúnicas se inspirem diretamente nos ensinos da
Terceira Revelação, cujo conhecimento, tão completo quanto possível, deve
possuir aquele que dirige tais sessões, a fim de poder orientar, esclarecer e
instruir os que lhe confiam a direção de seus espíritos, no aproveitamento dos
dons com que os beneficiou a Providência divina.
Também é de opinião que não se devem
criar escolas para formar médiuns, porquanto os que fossem diplomados em
semelhantes escolas, se a isso se chegasse, na maioria dos casos desvirtuariam
a tarefa que lhes cabe, por efeito da vaidade que então os empolgaria, sem
falar na situação subalterna e, portanto, vexatória em que ficariam os não
diplomados, muitos dos quais, porventura, melhor aparelhados do que aqueles
para o sacerdócio mediúnico. Surgiria assim uma espécie de privilégio, que a
Doutrina Espírita, além de não comportar, condena.
Conclui dizendo que, na sua opinião,
a coletânea das sessões do Grupo Ismael, já publicada em dois volumes, (1) constitui excelentes compêndios de
trabalhos práticos ou mediúnicos
e seguro roteiro para os que, na direção desses trabalhos, têm de confabular com
desencarnados sofredores, porque obscurecidos e obstinados, mesmo para os que
tenham o encargo de dirigir sessões de desenvolvimento mediúnico e, ainda, para
os próprios médiuns.
(1) Foram publicados, ao todo, três
volumes, sob o título "Trabalhos do Grupo Ismael", preparados por Guillon
Ribeiro. (Nota da Redação do "Reformador" em 1974.)
Os Males das
escolas de médiuns
Reformador (FEB) Julho 1974
Do Blog: Desses três volumes só encontramos um que já transladamos para este Blog. Apesar de nossas buscas contínuas, nunca localizamos os outros dois volumes. Talvez possam ser encontrados na biblioteca de obras raras da FEB, em Brasília.
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