O fenômeno da
‘Voz Direta’
por Ernesto Bozzano
in ‘Metapsíquica Humana’ (4ª ed. FEB – 1992)
“Destaco o episódio do livro de
Hannen Swaffer: "Northcliffe's Return", livro bastante interessante,
recentemente aparecido na Inglaterra, e no qual trata das manifestações e das
provas de identificação pessoal, fornecidas por Lord Northcliffe, através de
vários médiuns.
É mais um caso de identificação
espírita de primeira ordem, inexplicável por qualquer teoria materialista e que
se vem juntar à coleção já tão vasta e preciosa dos da mesma natureza,
constatados nestes últimos tempos.
Existe em Londres uma senhora de
rara distinção, a Sra. Gibbons Grinling, que, com ardor e inteligência, se
dedica a investigações metapsíquicas. Acompanhada sempre de seu filho Denis, e,
às vezes, da sua amiga, Sra. Leonard, tentou em sessões regulares, de uma hora cada
uma, realizadas três vezes por semana, desenvolver em si a mediunidade da
"voz direta".
Durante três anos foi essa
perseverança admirável desafiada do modo mais desanimador, até que afinal, certa
vez, de um dos cantos do quarto, em que mãe e filho estavam assentados, em
completa escuridão, partiu uma voz, que chamava: "mamãe!"
Era a voz do seu filho Cedric, morto
em idade muito tenra. Desse dia em diante, o fenômeno da "voz
direta", na Sra. Gibbons Grinling, desenvolveu-se com rapidez, atingindo,
dentro em pouco, perfeição rara. Atualmente os Espíritos comunicantes não mais
precisam do "porta-voz" para condensar as vibrações sonoras e falam, independentemente,
com o mesmo timbre de voz que tinham quando vivos.
Ora, uma noite em que a Sra.
Grinling fazia uma sessão na maior intimidade, Lord Northcliffe se manifestou,
espontaneamente, para dizer à médium que desejava fosse convidado a tomar parte
numa das sessões o jornalista Hannen Swaffer, a quem desejava falar.
A Sra. Grinling conhecia, de nome,
Lord Northcliffe, mas nunca ouvira falar no jornalista Hannen Swaffer. Para
obter as necessárias informações dirigiu-se à sua amiga Sra. Leonard, que se
encarregou de prevenir Swaffer e de apresentá-lo à Sra. Gibbons Grinling.
Hannen Swaffer compareceu a uma
dessas sessões a que também assistiram, além naturalmente da Sra. Grinling e
Denis, a Srta. Louise Owen e a Sra. Osborne Leonard.
A sessão teve início em quarto
iluminado por pequena lâmpada elétrica, suspensa ao teto. Passados alguns
minutos, ouviu-se uma "voz direta" partindo do ângulo menos iluminado
do quarto, dizendo: "A luz está muito forte." Era a voz de Cedric.
Swaffer levantou-se e atirou à lâmpada, colocada um tanto alto, dois lenços que,
depois de algumas tentativas, nela se prenderam, envolvendo-a, o que de muito
diminuiu a intensidade da luz.
Agora é Hannen Swaffer que vai
narrar o ocorrido:
Logo após, escreve ele, ouvi a voz
de Lord Northcliffe, que me disse perto do ouvido:
- Doris está aqui comigo:
Para que se possa bem compreender a
significação disto, devo esclarecer que, dias antes, durante uma sessão com a Sra.
Leonard, perguntara eu a Lord Northcliffe se, no meio espiritual em que se
achava, não havia encontrado uma pessoa dele conhecida e a mim estreitamente
ligada...
- Compreende bem a quem me quero
referir? - perguntei.
Não lhe havia pronunciado o nome da
pessoa, mas mesmo assim a ela se referiu durante algum tempo e Fedda acrescentou saber que a amiga a
quem nos referíamos "havia sofrido bastante durante a vida".
Está claro que, tendo encontrado
aquele ensejo de conduzir o Espírito dessa minha amiga a uma sessão, onde pudesse
ela conversar diretamente comigo, Lord Northcliffe o
não perdesse, embora não lhe havendo eu pedido tanto...
Em seguida, uma voz de mulher a mim
se dirigiu:
- Sou eu, Doris, que te estou
falando. Acho-me novamente contigo. Lembras-te do lugar em que me encontraste?
- Sim - respondi-lhe, embora para
isso tivesse a minha memória de recuar um bom quarto de século.
A Srta. Owen perguntou:
É esta a primeira vez que te
manifestas?
- Sim - e acrescentou: - Tive uma
vida muito atribulada... mas meu filho, continuou ela, dirigindo-se a mim, meu
filho está prestes a voltar para a Inglaterra... Ele deve continuar
a ignorar... guarda bem o segredo.
Compreendi perfeitamente o que me
quis dizer. Era uma mensagem de além-túmulo na qual me pediam o maior desvelo por
alguém que era extremamente amado da pessoa que
falava. A alusão feita se referia a alguma coisa que só eu podia compreender e
de que fazia grande questão o Espírito comunicante. Cumpre notar que por mais
de uma vez muito
me havia preocupado se devia revelar ao rapaz a sua origem...”
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