pgs. 67 de
‘Sonhos Estelares’ de Camille Flammarion
(Edição FEB - 1941)
com tradução de Arnaldo S. Thiago
De
que bizarros sistemas religiosos não tem até agora a humanidade terrestre
rodeado sua imaginação infecunda! O israelita, que supõe ser agradável a
"Deus" praticando a circuncisão ou comprando uma faca nova para estar
certo de que não a tocou a banha de porco; o cristão que imagina fazer com que
"Deus" baixe sobre uma mesa, cristão esse a quem os predicadores contam
que as preces e os jejuns têm influencia sobre a meteorologia e a agricultura (*);
o muçulmano que vê a porta do paraíso de Maomé aberta diante dele quando
apunhala um missionário; o fanático que se precipita sob as rodas do carro de
Jaggernaut (ser lançado a Moloch – (ou demônio)); o budista que permanece fascinado na contemplação beata de seu
umbigo ou põe em movimento um moinho de preces, para redimir-se de seus
pecados, fazem certamente do desconhecido e incognoscível, a mais ridícula, a
mais pueril das ideias.
Todas essas ninharias do espírito estavam em correlação com a ilusão
primitiva da pequenez do universo, considerado como uma espécie de escrínio revestido
de pregos de ouro, encerrando a Terra em seu seio. Na verdade, se não tivesse
tido astronomia outro resultado mais do que o de ampliar as nossas concepções
gerais, e mostrar-nos a relatividade das coisas terrestres no seio do absoluto,
libertando-nos daquela antiga escravidão, das ideias e, tornando-nos livres
diante do infinito, mereceria ela, mesmo assim, a nossa veneração e o nosso
reconhecimento eternos, porque sem ela seríamos ainda incapazes de pensar com
exatidão”
Nenhum comentário:
Postar um comentário