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terça-feira, 22 de março de 2011

10/50 'Crônicas Espíritas'



10CM


            Meu caro padre Dubois:

            Recebi a sua missiva de 2 do corrente. 
Não posso acender ao seu desejo, 
deixando de concluir a análise dos outros dogmas citados pelo amigo, 
para que não pensem que fugi da arena. 
Muito tempo nos resta para estudar o problema 
proposto pelo amigo na carta acima referida.
            Assim, vejamos hoje o dogma da 
“Ressurreição dos corpos no fim dos tempos”.
            Este dogma foi instituído pelo II Concílio de Nicéia, 
no tempo do Papa Adriano I, convocado, aliás, 
com o principal objetivo de restabelecer 
o culto das imagens na Igreja do Oriente.
            O concílio, interpretando materialmente o 
versículo 32 cap. 25 de S. Mateus: 
“Quando vier o Filho do homem na sua majestade e com ele todos os anjos,
 então se assentará no trono de sua majestade, 
v. 32: E serão todas as gentes congregadas diante dele, 
e separará uns dos outros, 
como o pastor aparta as ovelhas dos cabritos”, 
decretou o dogma, sem repassar nas palavras de Jesus
 “as minhas palavras são o espírito e a vida”.
            Compreende-se logo o absurdo da interpretação. 
Aonde iriam as almas de todas as criaturas 
que habitaram o mundo buscar os corpos, 
de há muitos centenares e milhares de séculos, 
desaparecidos, sabido como é, quando o Espírito se desprende do corpo, 
este se desagrega e se transforma? 
As sepulturas são todos os dias revolvidas para receber novos corpos. 
O erro consistiu em o concílio tomas a palavra gente ao pé da letra.
            Jesus também ensinou: “O que é nascido da carne é carne; 
o que é nascido do Espírito é espírito”, 
o que quer dizer que o corpo nada é senão um veículo, 
um meio que é concedido ao Espírito para 
fazer a sua trajetória pela Terra, para a sua provação, 
purificação e conseqüente progresso.
            Quando, porém, Jesus vier, o que se dará 
quando a Humanidade houver atingido um grau de progresso 
tal que seja digna de receber o seu Senhor e Mestre, 
então os nossos corpos não serão mais os corpos de lama que 
são hoje, mas os corpos celestes, de que Paulo o apóstolo falou.
            Não se podia, entretanto, esperar outra coisa do concílio de Nicéia,
 pois ele se reuniu sob as condições mais anticristãs possíveis.
A “História dos Papas, Reis e Imperadores, 
à pág. 340, 1º volume, diz o seguinte a este respeito:
”Carlos Magno, nas suas freqüentes viagens a Roma, 
tinha podido avaliar a horrível depravação do clero italiano, 
e a este respeito dirigiu queixas ao papa. 
O príncipe verberava com a maior severidade os padres romanos, 
acusando-os de comerciarem com escravos, 
de venderem donzelas aos sarracenos, 
de terem publicamente lupanares e casas de jogo, 
e de escandalizarem a cristandade pelos
 monstruosos crimes que tinham chamado outrora a 
vingança de Deus sobre Sodoma e Gomorra; 
e manifestava o desejo de ver o papa pôr um freio a tal procedimento.
“Taraise, criatura da corte de Roma, acabava de ser 
ordenado patriarca de Constantinopla. Antes de aceitar esta dignidade, 
ele tinha exigido que a imperatriz Irene e seu filho 
Constantino jurassem solenemente que iam reunir um concílio 
para julgar a heresia dos iconoclastas. 
(Essa heresia, julgada como tal pelo sínodo reunido em 
Constantinopla, em 745, pelo imperador Leão III, 
consistia em considerar o culto das imagens uma idolatria). 
Esta medida que, segundo o cardeal Baronius, 
fora combinada entre Taraise e o papa Adriano, 
devia dar em resultado não a um julgamento equitativo, 
mas a sua condenação certa e o extermínio dos heréticos.
“Por fim, o concílio se reuniu em Constantinopla. 
Conhecedor, porém, dessa trama, o povo perseguiu-o 
e obrigou-o a refugiar-se em Nicéia, onde, reunido, 
decidiu que as imagens fossem restabelecidas nas Igrejas do Oriente.
“Carlos Magno se opôs a essa decisão e 
convocou um concílio em Frankfurt, no próprio palácio,
 para pôr termo às disputas dos bispos do Oriente, 
a despeito das imprecações de Adriano. 
Os prelados de todas as províncias sujeitas ao seu domínio 
obedeceram-lhe logo e acharam-se reunidos em número de 300. 
Juntaram-se-lhes 100 padres e frades e os principais 
senhores da corte imperial. O próprio soberano presidiu 
à assembléia e fez admirar a sua 
eloqüência nas discussões teológicas.
“O resultado das deliberações da Assembléia foi remetido 
aos bispos espanhóis sob a forma de uma carta sinodal e 
Carlos Magno escreveu-lhes, também, censurando-lhes 
o terem colaborado na errônea doutrina, e convidando-os 
a conformar-se com a fé ortodoxa, se quisessem que ele os 
ajudasse a libertar-se da oposição dos sarracenos; e 
quanto às deliberações do concílio de Nicéia, 
o rei aconselhava-os a repelir, como ele, a idolatria das imagens.”
Agora, meu amigo, imagine em vez de 
seguir o conselho do Cristo: 
“Deus é espírito e em espírito deve ser adorado”, 
pode produzir algo de agradável ao Senhor. 
Por força, há de estar tudo torto. Não acha?





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