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sexta-feira, 25 de março de 2011

19/50 'Crônicas Espíritas'



19CM
Meu caro padre Dubois:
            Já tinha escrito o artigo de despedida, ao amigo, quando li, um jornal vespertino, a notícia sensacional da excomunhão do padre Dr. Victor Coelho de Almeida, notícia que naturalmente encheu de espanto, tristeza e confusão ao meu amigo, tão católico. 
O caso em si nada tem de extraordinário, pois ultimamente se tem repelido amiúde. 
São sinais dos tempos. As consciências bradam.
            O que é de se estranhar é que se gaste tanta tinta por causa de uma resolução tomada por um homem livre e responsável pelos seus atos. Fez-se mal, a consciência o julgará; se fez bem, não será a acusação do seu ex-coadjutor que o fará voltar 
ao meio da santa madre Igreja.
            O que terá feito saltitar de alegria o reverendo Dr. Coelho de Almeida é, por certo, o reclamo que se lhe fez com o cânon 2341 parágrafo 1º, e parece que o estou ouvindo dizer: vade retro satanás, antes só do que mal acompanhado.
            Mas veja, meu amigo, como a Igreja é incoerente: padres não faltam, o que falta é dinheiro para missas, devido à carestia dos gêneros de primeira necessidade, resultado do exemplo do próprio clero: de trabalhar pouco e ganhar muito; ora, um padre a menos é uma provável missa a mais, por dia, para ser dividida entre os seus ex-colegas. É um ato de benemerência, não acha? Mas. Ó ingratidão! “Por ter dado o seu nome a uma seita acatólica ou a ela publicamente ter aderido, (se fosse às escondidas, não fazia mal) ficou ipso facto infame, segundo o mesmo parágrafo 3º” é o que reza o decreto.
            O que ainda é de estranhar, é que, para se chamar um homem de infame, invoca-se o nome de Deus, de Jesus e da Virgem, felizmente esta só a do Carmo. Que horror!
            No entanto, Jesus ensinou, como consta no capítulo 5º de S. Mateus: “E eu vos digo: quem quer que se encha de cólera contra seu irmão será condenado no juízo; que aquele que disse a seu irmão: Raca, será condenado no conselho; e quem disser: és um insensato, será condenado ao fogo da geena.” Se, pois, a palavra de Jesus tem valor, 
o reverendo Rangel incorreu na condenação acima citada.
            Mas há ainda mais: Jesus disse que a cada um seria dado segundo as suas obras e nunca disse que a alguém seria dado segundo as suas crenças; logo, de maneira nenhuma podia o reverendo Coelho de Almeida prejudicar a sua alma com a mudança de seita religiosa, e não é a alma do reverendo Coelho que interessa à Igreja e sim as ovelhas que podem deixar de contribuir com a lã para o tesouro de S. Pedro. Mas isso é lá com eles.
            Não sei se o meu amigo leu alguma vez as obras de Santo Agostinho, a quem a Igreja canonizou. Este santo varão, segundo a Igreja, e Espírito superior, segundo nós, escreveu em “De Doct. Christ.”, cap. 2:28, o seguinte:
            “Quem for sincero e bom cristão deve compreender que a verdade, onde quer que seja encontrada, pertence ao seu Senhor, e, confessando e reconhecendo-a, deve mesmo rejeitar as concepções supersticiosas das sagradas escrituras.”
            Ora, se Agostinho, como é de supor, sabia o que dizia, por que não se deve rejeitar as concepções supersticiosas da Igreja, que são feiúras dos homens, desde que as reconheçamos como tais se deve rejeitar mesmo as Sagradas Escrituras? Não é lógico isso, se é que Agostinho estava com a razão? É o que fez o reverendo Almeida, e, condenando-o, a Igreja condena Agostinho, a quem canonizou. Que incoerência!


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