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segunda-feira, 30 de abril de 2018

Quando a pureza estiver conosco



Quando a pureza estiver conosco
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Maio 1955

Quando a pureza estiver em nossos olhos, fixaremos na cicatriz do próximo a desventura respeitável do nosso irmão.

Quando a pureza morar em nossos ouvidos, receberemos a calúnia e a maldade, nelas sentindo o incêndio e o infortúnio que ainda lavram no espírito daqueles que nos observam sem o exato conhecimento de nossas intenções.

Quando a pureza demorar-se em nossa boca, a maledicência surgirá, junto de nós, por enfermidade lamentável do amigo que nos procura, veiculando lhe o veneno, e saberemos fazer o silêncio bendito com que possamos impedir a extensão do mal.

Quando a pureza associar-se ao nosso raciocínio, identificaremos nos pensamentos infelizes a deplorável visitação da sombra, diante da qual acenderemos a luz de nossa fé para a justa resistência.

Quando a pureza respirar em nosso coração, o endurecimento espiritual jamais encontrará guarida em nossa alma, porque o calor de nosso carinho se irradiará em todas as direções, estimulando a alegria dos bons e reduzindo a infelicidade dos nossos irmãos que ainda se confiam à ignorância.

Quando a pureza brilhar em nossas mãos, a preguiça não nos congelará a boa vontade e aproveitaremos as mínimas oportunidades do caminho para o abençoado serviço do amor que o Mestre nos legou.

Bem-aventurados os puros de coração! - proclamou o Divino Amigo.

Sim, bem-aventurados os que esposam o Bem para sempre, porque semelhantes trabalhadores da luz sabem converter a treva em claridade, os espinhos em flores, as pedras em pães e a própria derrota em vitória, criando invariavelmente o céu onde se encontram e apagando os variados infernos que a miséria e a crueldade inflamam na Terra para tormento da vida.

O Espírito cristão do Espiritismo


O Espírito cristão do Espiritismo
por Luiz Monteiro de Barros (Presidente da USE, de S. Paulo.)
Reformador (FEB) Agosto 1955

Desde “O Livro dos Espíritos" se nota a orientação cristã que o Espiritismo tomaria.

Com efeito, no livro básico da Doutrina já se deparam as seguintes expressões: “Estamos incumbidos de preparar o reino do Bem que Jesus anunciou.” "Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem para lhe servir de guia e modelo?'' "Jesus”.

"Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?” “O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porquanto praticaria também o amor do próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça."

Pensamos que os Espíritos não falavam muito mais claro a esse respeito para evitar o ataque imediato do clero, o que poderia ter feito perecer no seu berço a Doutrina dos Espíritos. A presença, porém, do Espírito Verdade como orientador supremo do novo movimento não poderia deixar de assegurar que, desde o seu primeiro instante, o Espiritismo não era senão o Cristianismo que voltava na forma do consolador prometido por Jesus.

Kardec assenhoreou-se positivamente dessa alvissareira realidade, pois, no decorrer de toda a codificação, primou por ressaltar essa característica do Espiritismo.

Com efeito. Em "O Livro dos Médiuns” ele afirma: “O verdadeiro espírita é o espírita cristão!” Daí podemos deduzir que o verdadeiro Espiritismo é o Espiritismo cristão.

Elabora depois “O Evangelho segundo o Espiritismo", obra cujo título fala por si mesmo acerca de seu conteúdo, e do sentido que Kardec dava, sempre de acordo com o Espírito Verdade, ao Espiritismo. Nesse livro, que marcou para sempre o rumo que tomaria a Doutrina, declara Kardec que o Espiritismo "representa a obra do Cristo, por ele mesmo presidida".

A seguir temos "O Céu e o Inferno”, outra obra doutrinária profundamente cristã, pois nela Kardec faz aprofundado estudo no sentido de revelar o absurdo filosófico da existência de penas eternas, no sentido de penas sem fim, ora, esse sentido falso que o Catolicismo e o Protestantismo tem dado a essas expressões evangélicas é talvez o tema filosófico que mais tem levado ao descrédito os Evangelhos. O Espiritismo, na qualidade de neo-cristianismo, não poderia deixar de esclarecer meridianamente assunto ou tema tão básico para a aceitação dos ensinamentos de Jesus. Kardec libertava assim os Evangelhos de uma terrível funesta falsidade, falsidade essa que perseverasse em nossos dias de pleno racionalismo filosófico, teria levado para o túmulo a doutrina do Cristo. Ainda uma vez, o Espiritismo vivificava a letra do Evangelho!

Por fim vem “A Gênese", trabalho esse em que Kardec levanta de novo o Crédito dos Evangelhos “aplicando miraculosos” fatos ali narrados em um cunho profundamente científico demonstrando, com os novos e não menos "miraculosos" fenômenos chamados “espíritas”, a realidade palpitante de muitas daquelas passagens extraordinárias. Enveredando pelo mesmo caminho, os atuais protestantes da Inglaterra e dos Estados Unidos tem tomado novo e poderoso alento na sua fé evangélica. Nesse livro declara Kardec que "o Espiritismo encerra, como já ficou demonstrado, todas as condições do Consolador prometido por Jesus” e que "o Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu, das de Moisés, é consequência direta dessa doutrina.

Eis aí, com a coorte do Espírito Verdade, e com Kardec, o que é o Espiritismo: O Consolador, o novo Paracleto, o novo movimento cristão que vem esclarecer novamente a Humanidade a fim de prosseguir na obra ingente e divina de sua libertação espiritual ou de sua redenção.  

Em “A Caminho da Luz", Emmanuel nos afiança que Kardec era um dos "mais lúcidos discípulos de Jesus e que viera designado pelo próprio Mestre para codificar o novo movimento cristão que passaria a se chamar Espiritismo.

Vê-se, pois, que Kardec, orientando toda a Doutrina Espírita para o sentido do Cristianismo, não falhou na sua missão, não claudicou na tarefa, por todos os motivos ingente e universalmente grandiosa, de que o incumbiu Jesus.   (Ext.. de "Unificação" de Março de 1954.)

Auxilia



Auxilia
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Agosto 1955

Não olvides a lei da cooperação, a fim de que a caridade, por estrela de amor, fulgure nos céus de teu destino.
Auxilia a terra seca e amanhã não te faltará o celeiro farto.
Auxilia a fonte amiga e a água pura te regenerará a saúde orgânica.
Auxilia a criança e clarearás o futuro.
Auxilia o ancião desamparado e colherás um tesouro de bênçãos.
Auxilia o aflito e a esperança te coroará a existência.
Auxilia o caluniado e atrairás, em teu favor, a visão da justiça.
Auxilia o faminto e acrescentarás o próprio reconforto.
Auxilia o companheiro da peregrinação em que te encontras e a fraternidade te protegerá generosa.
Dispões do consolo das horas...
Dispões da palavra fácil...
Dispões das mãos diligentes... 
Dispões de movimentos livres...
E, sobretudo, dispões do conhecimento evangélico a enriquecer-te a inteligência...
Não te percas, assim, na província torturada dos momentos perdidos.
Recorda que o relógio humano, agora ou depois, dirá das oportunidades preciosas que recebeste...
Auxilia, pois, enquanto é tempo, ajudando, compreendendo, servindo, perdoando, construindo para o bem e amando, cada vez mais, na certeza de que o auxílio prestado desinteressadamente aos outros, nas lutas da Terra, é investimento de paz e vitória, felicidade e luta, para a glória do Céu.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

O Enigma de Maria Madalena



O enigma de Maria Madalena
 A Redação
Reformador (FEB) Agosto 1955


Sob este título, “O Século Ilustrado”, de Lisboa publicou, aos 11 de Junho do corrente ano, a notícia referente ao interessantíssimo caso que registramos em “Reformador” do mês de Julho, a páginas 154.

Como os leitores de novo verão, só a teoria reencarnacionista traz, por enquanto, uma solução plausível e racional para o extraordinário fato.

"A pequena Maria Madalena Marinho, nascida em Fevereiro, no Recife, oferece toda a aparência física de uma criança da sua idade, mas com imensa estupefação de todos, ela exprime-se como uma rapariga de 7 anos! Tem, apenas, três meses, mas dispõe de um vocabulário de, aproximadamente, trezentas palavras - e diz, com a mais segura oportunidade: "Tenho fome... Tenho sede; papá, dá-me água... Estou fatigada... Quero ir para o sol... Não estou bem aqui... ", etc.

Outra diferença, talvez mais subjetiva, mas, também sensível: o olhar da criança possui um brilho e uma expressão que mostram, claramente, que ela compreende, julga e se ressente - e que as palavras que pronuncia baseiam-se num pensamento absolutamente extraordinário num bebê da sua idade.

Nada na hereditariedade desta criança explica a sua insólita precocidade: os avós são humildes trabalhadores, e os seus pais não denotam possuir disposições ou faculdades particulares. O papá é um modesto relojoeiro e a mamá uma brava doméstica que um pouco inquieta por ter deitado ao mundo uma espécie de menina-prodígio, tenta protegê-la do mal, pondo lhe, ao pescoço, uma respeitável quantidade de amuletos, mais ou menos consagrados.

Uns, opinam pela simples manifestação de uma precocidade desconcertante; outros, diagnosticam um desenvolvimento anormal do hemisfério esquerdo do cérebro: essa assimetria origina, geralmente, disposições psíquicas particulares.

Mas as teorias que tendem a provar localizações ou relações entre a morfologia cerebral e certos dons naturais são, igualmente, discutidos. Com efeito, sabe-se, através de observações recentes, que, contrariamente a uma opinião quase universalmente aceite, os mecanismos que condicionam a função da linguagem não se encontram localizados no único hemisfério dominante. Uma doente de 53 anos, operada pelo cirurgião americano Dr. Zollinger, corroborou a asserção. Esta paciente, atingida por um tumor no hemisfério esquerdo dominante, não podia falar. O audacioso médico tirou-lhe, completamente, o hemisfério doente (peso: 700 gramas), e, três dias após a operação, a doente começou a emitir palavras - que não podia articular desde o começo do mal. E - coisa notável! - ela aplicava essas palavras com pertinência, encontrando, assim, as possibilidades que perdera. O hemisfério dominante não era, portanto, indispensável à função da linguagem.

Por consequência, é possível que o cérebro da jovem Maria Madalena não ofereça nenhuma particularidade material que a diferencie dos outros. Mas, sem dúvida, antes de tudo, é preciso encontrar-se a solução do caso."

- Que a procurem, pois.



quarta-feira, 25 de abril de 2018

Em defesa da Doutrina dos Espíritos



Em defesa da Doutrina dos Espíritos
Lúcio dos Anjos
Reformador (FEB) Agosto 1955

"0 grande mal de todo aquele que combate o Espiritismo é tentar fazê-lo sem o haver estudado ainda que superficialmente. Daí a série de erros e equívocos em que caem, tal como ocorreu com o nosso ilustre irmão, Sr. Antônio Basílio de Castro Júnior. Bem se vê, por seus alvitres - pobres alvitres - que jamais se deu ao trabalho de compulsar uma obra espirita. Disso temos certeza. Senão, vejamos:

Tem o nosso amigo a doutrina de Kardec como "o lobo em pele de ovelhas", o que não passa de tolo engano. Não encontrará, o nosso irmão uma obra espírita sequer da qual se possa depreender, ainda que levemente, algum objetivo mau. Quais as vantagens de se esconderem os espiritistas durante a vida toda por detrás da pele da ovelha? Quando, afinal, demonstramos nossas más intenções? Sim, porque desde que AlIan Kardec coordenou importantes mensagens mediúnicas, as lições que se têm publicado sobre o Espiritismo são as mais puras e benéficas. O lobo, ao que parece, não se revelou ainda e podemos garantir ao nosso amigo que não se revelará jamais.

A seguir, diz o ilustre leitor Antônio Basílio de Castro Júnior que o Espiritismo é "intimamente anticristão, negando as verdades mais importantes e vitais de nossa fé". Não é bem isto que se passa, Procuramos demonstrar, é bem verdade, que a fé das criaturas em dogmas e fórmulas religiosas incompatíveis com a razão, de nada podem valer aos olhos de Deus, porquanto multas vezes exigem a aceitação cega e passiva de afirmativas que não encontram apoio na lógica. Quanto à "nossa" característica de "anticristãos", há injustiça e falsidade. Tome-se tudo que se tem dito e escrito sobre o Espiritismo e se terá certeza de que ele surgiu para cumprir
a missão na qual outras religiões já fracassaram, como bem disse um grande espiritista de nossos dias. Surgiu para restaurar o Cristianismo do Cristo, para restabelecer a verdade deturpada pelos homens, explicar em espírito e verdade a letra dos Evangelhos de Jesus-Cristo.

Alega o Sr. Antônio Basílio que são puro engodo nossas pregações em torno do nome de Jesus, porque negamos a Sua divindade. Nós, que propalamos os mais duros castigos aos Espíritos que simplesmente falam em nome de um outro sem estarem autorizados para tanto como poderíamos falar em nome do Salvador com objetivos impuros ou condenáveis? É muita maldade de sua parte, Sr. Antônio Basílio. Esqueceu-se o senhor de que falamos em nome de Jesus para chamar alguém ao caminho do bem; nunca, para acirrar ânimos, benzer armas bélicas, prometer o paraíso, inocentar os pecadores que porventura nos venham confessar seus erros... Relativamente à divindade atribuída a Jesus, nós a negamos, sim, mas no sentido de que o Messias seja o próprio Deus ou, por outra, no de que ambos sejam um Só. Podemos dize-lo divino; mas pela Sua pureza, pela Sua elevação espiritual, pela Sua sabedoria imensa, pela Sua força magnética suprema, pelo fato de nunca haver falido na sua jornada espiritística até chegar onde se encontra - ao lado do Criador. Negamos, todavia, seja Ele o próprio Criador. Deus é muito mais do que tudo que se possa imaginar. Deus é o infinito e está acima de todos e de tudo, tal como nos revelou o apóstolo Paulo, inspirado pelos Espíritos do Senhor:

"Não há outro Deus senão um só. Um só Deus e pai de todos, que é sobre todos e por todos e em todos. Tudo vem dele, tudo existe por ele, tudo está nele. O Rei dos Reis, o Senhor dos senhores; o Deus de Nosso Senhor Jesus--Cristo."

Portanto, o Salvador também é criação de Deus. Aliás, Jesus não foi capaz de negá-lo uma única vez durante a Sua peregrinação pela Terra. Ao contrário, falou repetidas vezes em: "meu Pai que está nos Céus'; "o reino de meu Pai", "Perdoai-lhes, Pai, não sabem o que fazem", "recebe-me em Teu seio", etc ...

Mas, prossigamos em nossas explicações.

Não citamos trechos da Bíblia para enganar. Não! Citamo-los porque sabemos que as Sagradas Escrituras são o verdadeiro caminho para se chegar ao Pai. Apenas, ao citá-los, advertimos de que não basta ouvi-los, ou interpretá-los, ou repeti-los, É necessário, antes de tudo, cumpri-los! Esta é a missão do Espiritismo.

Fala o Sr. Antônio Basílio em "santos católicos", ignorante de que os espiritistas aceitam também tais criaturas (que não são exclusivas da Igreja está claro), porém, como sendo unicamente boníssimos Espíritos de grande elevação, que peregrinaram pelo orbe terráqueo. Seus nomes, portanto, podem perfeitamente identificar
um Centro Espírita. Apenas não aceitamos - pelo absurdo que o fato encerra - estarem esses santos no Céu, em carne e osso. Isso é ridículo. No mais, não queremos com isso (dando aos Centros nomes de santos) atrair nenhum católico incauto, pois está escrito que devemos apenas ensinar e pregar aos de boa-vontade. Não é preocupação precípua do Espiritismo converter os católicos, buscando-os à custa de engodos dentro das Igrejas. Não há necessidade disto, pois muitos deles já nos buscam e frequentam nossos Centros...

A seguir, mente o Sr. Antônio Basílio, quando diz que o Espiritismo faz guerra à Igreja. Pelo contrário: a Igreja é que faz guerra ao Espiritismo. Quando o amigo viu a Federação Espírita Brasileira condenando ao inferno ou excomungando os que não a vão procurar? Onde leu alguma obra escrita com a única e exclusiva finalidade de combater a Igreja? Em lugar nenhum, estamos certos; em época alguma. No entanto, quanto se tem dito, escrito e pregado contra a doutrina dos Espíritos através de folhetos, jornais, livros e conclaves católicos... Não obstante, para desespero dos nossos acusadores, o Espiritismo medra cada novo dia, exatamente porque não é uma religião, mas a Religião.

Não condenamos nenhum sacerdócio. Procuramos esclarecer e guiar o mau homem, seja espiritista, católico ou protestante, pois a maldade é apenas uma evidência de retardamento espiritual.

Finalmente, depois de tanto falar das "mazelas" do Espiritismo, termina o nosso amigo fazendo-nos a mais violenta das ameaças: somos hereges, excomungados e expulsos da comunhão dos fiéis. Em outras, palavras: promete-nos o irmão o Inferno, o sofrimento eterno a tudo o que de pior possa existir depois da morte da matéria.
Vejam o contra senso! Promessas tão cruéis nos são feitas em nome de Deus que é infinitamente bom, e nós é que somos maus quando falamos em nome do Cristo para lembrar simplesmente que todos devemos fazer somente o bem, inclusive perdoar aos nossos inimigos, ajudar os nossos vingadores, aliviar as dores dos nossos algozes...
Quanta carência de bom-senso religioso e filosófico! Pois nós, ao contrário, asseguramos que todo católico, protestante, Islamita, ou seja de que seita for, desde que pratique o bem e somente o bem, estará muito mais perto de Deus do que aqueles que se dizem tanto e vivem tirando vinganças, amaldiçoando o próximo, "excomungando" o irmão em carne, anatematizando os filhos e a esposa."
(Ext. do "Diário Carioca", de 1/6/53. Seção “A opinião do leitor".)

terça-feira, 24 de abril de 2018

Prece da Criança



Prece da Criança
Meimei por Chico Xavier
Reformador (FEB) Outubro 1953

Amigo que me proteges:
Não relegues minha querida Mãezinha ao esquecimento.
Ajuda-me, ajudando-a.
Sou a flor que promete fruto.
Ela é a árvore que me abriga.
Sem a seiva que a socorre, meu destino é a frustração.
Sou a corrente que se move para o futuro.
Ela é a fonte que me alimenta.
Se o veneno da terra poluir o manancial que me nutre, ainda que eu não deseje, espalharei no solo da vida a perturbação e a morte.
Lembra-te de que Mãezinha é ternura que me afaga, o carinho que me levanta, a voz que me abençoa e o regaço que me acalenta...
Como poderia reconfortar-me, sem lhe ver nos olhos o fulgor da alegria!
Irmão que me estendes o braço amigo, não venho a sós ao teu encontro.
Não derramarás tua luz em minha taça de esperança, olvidando na sombra a mão que me ergue.
Toma-me o coração em teu coração, mas não desprezes o coração de Mãezinha; o cofre de amor e luz, talhado em meu auxílio, pelo Coração Paternal de Deus.


Leitura como dever religioso (parte)


Leitura como dever religioso (parte)
Cristiano Agarido (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Outubro 1955

Um dos deveres religiosos dos judeus é ler a Bíblia e os livros de orações, e uma de suas glórias é ser versado na Lei. O BEN TORAH (filho da lei), bom conhecedor das Escrituras, goza de grande consideração nos meios israelitas, e assim já era há milênios passados. O judeu tem orações a ler para diversas horas do dia e para todos os atos que pratica: ao comer, ao beber, ao lavar-se, ao encontrar um sábio, ao ver o mar, ao avistar um árvore com frutos, ao encontrar um mendigo etc. etc., Muitos tópicos da Bíblia não têm que ser apenas lidos no culto, são cantados.

Não saber ler é coisa inconcebível para o israelita, principalmente para o varão, porque ele tem deveres religiosos que não podem ser cumpridos sem a leitura.

Essa tradição deveria ter passado dos judeus para os cristãos, mas infelizmente assim não foi: a Igreja Católica abandonou a tradição israelita e durante séculos a Bíblia foi um livro esquecido pelos católicos leigos; porém a Reforma repôs as coisas em seus lugares: restabeleceu a leitura da Bíblia para todos. O resultado cultural foi excelente: nos países em que predomina o Protestantismo, foi abolido o analfabetismo: Inglaterra, Alemanha, Holanda, Suécia, Noruega, Dinamarca, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, não têm analfabetos. Tristemente o nosso país é reputado a maior nação católica e tem um número assombroso de analfabetos. As estatísticas demonstram as duas coisas: predominância do Catolicismo e do analfabetismo no Brasil.     .

As missões protestantes, infelizmente não alcançaram êxito em nossa terra. Ficaram circunscritas a colônias estrangeiras e a seus descendentes. O número de protestantes brasileiros, de origem portuguesa, é insignificante em comparação com os esforços empregados durante séculos pelas missões protestantes enviadas para o Brasil

Parece que a destinação do Brasil é diferente da que tiveram outros povos.

A leitura como dever religioso está surgindo entre nós com alguns milênios de atraso em comparação com a terra dos profetas e com séculos de atraso em confronto com os países protestantes. A procura surpreendente do livro espírita, o número de revistas e jornais doutrinários que circulam no País demonstram que o grande movimento literário-religioso no Brasil está começando pela Terceira Revelação, depois passando para a Segunda e finalmente alcançando a Primeira. 

Os fenômenos psíquicos nos despertam para o Espiritismo, depois estudamos o Novo Testamento e finalmente lemos também o Velho Testamento.

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Para o espírita a leitura é dever religioso, como para o protestante e o israelita, mas, em vez de um único livro, nosso dever é estudar uma grande biblioteca sempre crescente.

No júbilo de servir



No júbilo de servir
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Dezembro 1955

Depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer." - Jesus em Lucas 17:10.

Guarda tua alma no júbilo de servir.
Não reclames honrarias, por mais alto te pareça o triunfo em tuas mãos.
Se a terra se julgasse dona da árvore que frutifica na sua crosta, intentando negar-lhe arrimo, não faria mais que privar-se da proteção que o vegetal lhe dispensa, e se a árvore se presumisse proprietária da terra que a suporta, fugindo-lhe às bases, nada mais conseguiria que a eliminação de si mesma. Atentas, porém, à seiva e ao equilíbrio que a Sabedoria Divina lhes assegura, entram em abençoada cooperação e produzem a bênção da colheita.
Todos os bens da vida fluem da Bondade de Nosso Pai.
Nas tuas horas de êxito, medita nas forças conjugadas que te sustentam. Pensa nos que te beneficiam e te instruem, nos que te amparam e te garantem.
Orgulhar-se das boas obras é ensombrar a própria visão, invocando homenagens indébitas que de direito pertencem a Deus.
A maneira do instrumento leal e dócil, deixa que o Sumo Bem te use a vida.
O violino, ainda mesmo o de mais rara fabricação, não vale por si. Engrandece-se, porém, na fidelidade com que se rende às mãos do artista que o integra na exaltação da Harmonia Eterna.

O Grande Servidor



O Grande Servidor
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Dezembro 1955

"Eu estou entre vós como quem serve." – Jesus Lucas, 22:27

Sim, o Cristo não passou entre os homens como quem impõe.
Nem como quem determina.
Nem como quem governa.
Nem como quem manda.
Caminhou na Terra à feição do servidor.
Legou-nos o Evangelho da Vida, escrevendo-lhe a epopeia no coração das criaturas.
Mestre, tomou o próprio coração para sua cátedra.
Enviado Celestial, não se detém num trono terrestre e aproxima-se da multidão para auxiliá-la.
Fundador da Boa Nova, não se limita a tecer-lhe a coroa com palavras estudadas, mas estende-a e consolida lhe os valores com as próprias mãos.
A prática é o seu modo de convencer.
O próprio sacrifício é o seu método de transformar.
Aprendamos com o Divino Mestre a ciência da renovação pelo bem. E modificar a nós mesmos para a vitória do bem, elevando pessoas e melhorando situações, é servir sempre como quem sabe que fazer é o melhor processo de aconselhar.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Vigilância Evangélica



Vigilância Evangélica
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Dezembro 1955

Sempre que realizamos o auto exame das nossas ações, verificamos, melancolicamente, o atraso em que ainda nos encontramos em face dos princípios evangélicos. Nossa condição humana, marcada por deficiências que ainda não puderam ser erradicadas, nos faz demorar na caminhada, embora reconheçamos a necessidade imprescindível da exemplificação cotidiana, único meio de permitir ao Espirito o almejado progresso. Nossos escritos são lições que recebemos, e que divulgamos apenas porque poderão também ser úteis a outros caminheiros, como nós retardados no avanço para o Mestre Jesus. Pela repetição frequente, acabaremos, sem dúvida, por assimilar o aprendizado diário, embora, falhemos a cada instante e a cada instante tentemos penitenciar nos da infidelidade aos elevados conceitos evangélicos. Como é difícil ser espírita!

            De que precisamos? De disciplina evangélica, exercida ininterruptamente, quer nos pensamentos e nos atos, quer na palavra falada e escrita. É muito fácil aparentar sabedoria e dizer ou escrever coisas belas e edificantes. O difícil, porque é o que realmente vale, é exemplificar e só a exemplificação pode conferir-nos a condição de espirita. Muitas vezes julgamos estar firmando os passos no terreno e logo este foge sob nossos pés, porquanto nos deixamos escorregar na invigilância. Orar e vigiar não é uma frase banal, mas uma regra de conduta, uma advertência importante nem sempre bem interpretada. Se tivermos o mérito da tenacidade em busca do aperfeiçoamento moral e espiritual, nosso esforço não terá sido em vão. Temos de vigiar constantemente, apoiando-nos na serenidade e na fé. Desesperar seria pior ainda que a fraqueza de propósitos que estivermos revelando no transcurso da jornada. A disciplina evangélica concede ao Espírito os recursos de que ele carece para se manter no rumo certo. A vigilância, portanto, é um aspecto dessa disciplina, tão útil ao fortalecimento moral. Multas vezes, supomos andar com segurança e ao primeiro ensejo nos apercebemos trilhando atalhos que desejaríamos evitar! Entretanto, abençoamos os irmãos que compreendem o nosso desvio e nos advertem da mudança de rumo. Isto constitui também uma forma de caridade, de caridade muito fraterna, porque interessa intimamente ao nosso futuro espiritual.

Todas as vezes que nos distraímos, surpreendem-nos deficiências que supúnhamos já haver superado há muito tempo. A disciplina evangélica adquirida através de O Evangelho Segundo o Espiritismo é a bússola de que todos precisamos. Esse livro benemérito, que tem construído a felicidade de milhares e milhares de criaturas de Deus, contém a palavra de Jesus interpretada em Espírito e Verdade. Constitui, juntamente com O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns de Allan Kardec, e Os Quatro Evangelhos, de J.-B. Roustaing, a base sólida do conhecimento espírita. Todavia, é O Evangelho segundo o Espiritismo o bálsamo de todos os corações, fermento admirável da Doutrina Espírita. Jesus nos deu o prometido no Evangelho: aí está o Espiritismo, o Paracleto por Ele anunciado, que os fariseus dos velhos tempos não entenderam nem o entendem ainda os fariseus dos tempos novos!

Disciplinando-nos evangelicamente, estaremos promovendo a própria iluminação. E tenhamos sempre vivo em nossa mente que "o Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que retorna ao mundo, convidando-nos ao aperfeiçoamento individual, por intermédio do trabalho construtivo e incessante.” (André Luiz - "Nos Domínios da Mediunidade").  


Profetas da Cizânia



Profetas da Cizânia
Tibúrcio Barreto (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Outubro 1955

Jesus advertiu os discípulos quanto à vigilância permanente, para que eles não se deixassem surpreender pelo arrependimento tardio. Alertou-os, e aos pósteros, para que se mantivessem de espírito desperto: “Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e que por dentro são lobos rapaces. Conhecê-los-eis pelos seus frutos.

Dentro da Seara Espirita, de quando em quando surgem falsos profetas, pregando pela palavra a união, mas realizando, pelos atos, a divisão. Esses são os piores profetas, porque aparentam um objetivo mas perseguem outro. Os espíritas precisam de vigilância constante e devem compreender a necessidade do exame rigoroso dos inovadores, porque, muitas vezes estão a serviço das forças negativas, que nada mais almejam do que a divisão dos espíritas para o enfraquecimento do Espiritismo.

A melhor atitude é o refúgio dentro da Doutrina codificada por Allan Kardec. Há profetas que são vítimas de uma egolatria assoberbante. Às vezes nem se apercebem dos erros que cometem, iludidos, como Narciso, com os próprios encantos. Possivelmente, enganam-se a si mesmos e de tal forma que se colocam, sem
o sentir, a serviço daqueles que estão sempre procurando elementos para atacar o Espiritismo. As provocações são muitas, mas os espíritas devemos ser cautelosos, temos por nós o Evangelho segundo o Espiritismo e a Doutrina dos Espíritos que Kardec codificou. Sejamos prudentes e, sobretudo, fiéis aos nossos próprios princípios, constantes dos ensinos doutrinários a que nos referimos.

O personalismo anda muito espalhado e às vezes se encobre com as vestes dos profetas para que sua vaidade possa embair a boa fé dos maus observadores. Lembremo-nos das palavras de Jesus: “Levantar-se-ão muitos falsos profetas que seduzirão a muitas pessoas.” É o que se está vendo em nossos dias. No fundo a verdade é que não se trata de unir e congraçar mas de seduzir os homens e reuni-los em torno de profetas que somente o são ante os que não têm olhos para ver.


Misericordia



Misericórdia
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Agosto 1955

Não aguardes a queda espetacular do próximo, nos despenhadeiros do crime ou do sofrimento para exercer o dom da misericórdia que o Senhor cultivou em nossa fé.
Mais vale o amparo previdente na preservação do equilíbrio, que o remédio de efeito problemático no reajuste.
Não desperdices teus minutos na expectação inoperante, exclamando à frente dos problemas difíceis:
- Amanhã, farei alguma coisa.
- Depois, tentarei realizar.
- Um dia chegará...
- Quando a oportunidade surgir...
Ataca, hoje mesmo, o serviço da fraternidade para que a compaixão não seja em teu espírito um ornamento inútil.
Sê misericordioso para com os que te cercam.
Inicia a obra de benemerência, em tua própria casa, distribuindo algumas palavras de incentivo com quem comunga teu cálice de luta.
Ajuda aos velhos abnegados de teu caminho com algum sorriso de compreensão, restaura a coragem na alma da esposa, restabelece o bom ânimo do companheiro, auxilia os irmãos, usando a chave milagrosa do carinho, e não te esqueças do apoio que os corações juvenis reclamam de tua boa vontade e de tua experiência que o Cristo enriqueceu.
Há mil meios de praticar a misericórdia cada dia...
Não olvides o silêncio para a calmaria, a bondade para com todos, a gentileza incessante, a frase amiga que reconforta, a roupa que se fez inútil para o teu corpo, suscetível de ser aproveitada pelo irmão mais necessitado, o pão dividido, a prece em comum, a conversação edificante, o gesto espontâneo de solidariedade...
Ninguém é tão pobre que não possa dar alguma coisa aos semelhantes, e aquele que se compadece e ajuda cede ao próximo algo de si mesmo.
Não te detenhas, portanto. Não admitas que a incerteza ou o temor te imobilizem o passo.
Vale-te das horas e auxilia sempre, sem ostentação de virtude, sem reclamação, sem alarde e a vida entesourará as tuas migalhas de amor, delas formando a tua riqueza imperecível na bem-aventurança do Céu.

Perdoai-lhes Pai!



"Perdoai-lhes, Pai!"
Vinélius DI Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Agosto 1955

Abrimos o Evangelho e comecemos a ler o capítulo 10 e respectivos versículos de João. E repetimos os versículos: "11 - Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. 12 - O que é mercenário e não pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as arrebata e dispersa. 13 - O mercenário foge, porque é mercenário, e não se importa com as ovelhas. 14 - Eu sou o bom pastor, conheço as minhas ovelhas, e as que são minhas me conhecem a mim, 15 - assim. como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas, 16 - Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco, estas também é necessário que eu as traga; elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um pastor". etc.

Meditamos sobre a significação dessas palavras de Jesus, enquanto nossa vista pousava melancolicamente sobre uma foto publicada em "O Globo", desta capital, na primeira página do segundo caderno da edição de 9 de Junho último, sob o título "A freira instrutora militar", o cliché mostra um grupo de menores uniformizados, de armas ao ombro, em marcha militar, tendo ao lado uma irmã de caridade, sua instrutora na arte de matar o próximo. Como legenda, lê-se: "A Irmã Joan Marie,
diretora do curso primário da Academia Militar de Bishop Quarter em Oak Park., Illinois, Estados Unidos, além de ensinar as matérias do curso aos seus alunos, ainda ajuda na instrução militar, como se vê na fotografia, embora não fosse preparada especialmente para isso. (Foto U.P. especial para O GLOBO)."

Temos visto sacerdotes, imponentes em suas vestes talares, abençoar instrumentos de guerra, aspergindo água benta em espadas destinadas a derramar sangue humano. Temos visto também, em festas militares, as manifestações de regozijo de autoridades eclesiásticas quando se comemoram fastos bélicos, numa indisfarçável concordância com os atos de guerra que determinaram a vitória sangrenta de determinados grupos humanos sobre outros. E nos lembramos, então, daquelas palavras inolvidáveis de Jesus: "Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos... Em face da religião, todos os homens, independentemente de sua nacionalidade e de sua raça são, antes de tudo, e apesar de tudo, seres humanos, filhos de Deus.

Uma irmã, dita de caridade, instilando no coração da juventude o pendor para a guerra! Abandonando sua missão religiosa de unir as criaturas pelo amor, dentro da paz e pela paz, para ajudar na instrução militar! E sempre a repercutir em nossos ouvidos as palavras do meigo Nazareno: "Bem-aventurados os misericordiosos" . .. E quando lemos coisas como essa que vimos de transcrever ou quando vemos pretensos representantes de Deus na Terra e pseudo seguidores da trilha de Jesus abençoarem armas de guerra, não compreendemos como, depois de tantos e tantos séculos, o Sermão da Montanha ainda não encontrou acesso no coração dos que falam em nome do Mestre e que trazem sempre Deus nos lábios, mas longe do coração! "Amarás o teu próximo como a ti mesmo. " Esta a Lei Áurea, que Jesus considerou base, fundamento, alicerce da sua Doutrina.

Ó Espíritas de todo o Brasil, de todo o mundo! Elevai os vossos corações banhados na justa compreensão do Evangelho de Jesus e orai por esses irmãos nossos, desviados da verdadeira senda cristã! Pedi a Deus para que eles sejam iluminados pela razão e retrocedam para o reencontro do caminho justo traçado pelo Cristo! A Doutrina de Jesus é de amor e de caridade, é de paz e fraternidade! Ela tem por fim unir todas as criaturas num único sentimento de afeto, para glória do sacrifício inenarrável de Jesus! Se o Mestre preferiu sacrificar-se, a fim de deixar aos pósteros o exemplo do amor, da dedicação, da renúncia, como é que os pregadores de seu credo, que se inculcam os únicos representantes das verdades cristãs na Terra, insistem em subverter seus belos e edificantes exemplos!

Ó Jesus amado! Pedi a Deus, como o fizestes no alto do Gólgota:

- Perdoai-lhes Pai! Eles não sabem o que fazem!...


sexta-feira, 20 de abril de 2018

A Graça da Mediunidade



A Graça da Mediunidade
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Outubro 1955

Grandes devem ser as preocupações do médium verdadeiramente compenetrado de seu papel no Espiritismo. Sua responsabilidade é realmente extraordinária, tanto quanto à parte que lhe diz respeito, porque está ligada ao seu futuro espiritual, como a que se relaciona ao serviço que dele espera o Espiritismo, para atender às necessidades daqueles que sofrem e buscam em nosso ambiente lenitivo para suas aflições.

Ser médium é uma graça do Alto, mas é, ao mesmo tempo, um compromisso muito grave, do qual ninguém se esquiva impunemente. Temos dito, porque essa é uma verdade universalmente consagrada, que a mediunidade constitui sempre, sejam quais forem as circunstâncias, uma oportunidade concedida ao espírito encarnado. Portanto, o exercício normal das faculdades mediúnicas, sob orientação evangélica, representa benefício incomum para o médium e para os que são favorecidos por sua mediunidade. Nem todos, infelizmente, assim compreendem a nobre missão que lhes cabe e não raro dão pouco valor ao prêmio recebido, malbaratando-o numa indiferença lamentável ou mercantilizando-o, sem a mais mínima noção das lutuosas consequências que poderão desabar sobre si.

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Os ensinamentos dos Espíritos insistem em recomendar o cultivo da humildade, porque esta é a primeira condição do homem que realmente compreende as palavras do Cristo: “...todo aquele que se eleva será rebaixado e todo aquele que se abaixa será elevado". Todavia, é preciso interpretarmos no bom sentido as palavras do Mestre. Positivamente, Ele não deseja que nos abaixemos servilmente, mas que saibamos ser sempre e sempre, invariavelmente humildes; que nos abaixemos do orgulho comum, despindo-nos do sentimento ególatra e apresentando nossa alma nua de preconceitos, mas coberta de simplicidade.

O médium tem o dever de cultivar a humildade em todos os sentidos. Jesus não recomenda que sejamos servis, mas que sejamos humildes. A humildade é gloriosa, porque não afronta nem escandaliza. Ela é simples, porque não se esconde na simulação, mas vive imersa na sinceridade. Uma das mais belas lições que os médiuns devem recordar a todos os instantes, está neste trecho de "O Livro dos Espíritos": "Dizendo que o reino dos céus é dos simples, quis Jesus significar que a ninguém é concedida entrada nesse reino, sem a simplicidade de coração e humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que d'Ele afastam a criatura e isso por uma razão muito natural; a de ser a humildade um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra Ele. Mais vale, pois, que o homem, para felicidade do seu futuro, seja pobre em espírito, conforme o entende o mundo, e rico em qualidades morais."

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A humildade deve ser atributo de todo ser humano. A criatura que sabe ser humilde possui força moral invencível. Vê mais longe as coisas e sua visão não se deturpa na miragem que o orgulho desenvolve. O médium precisa estar sempre atento em defesa de suas prerrogativas de escolhido para as tarefas espíritas. Deve
fugir da vaidade, que é irmã germana do orgulho. Tem de se precatar contra a auto suficiência, para que os obsessores não encontrem em sua personalidade qualquer ponto vulnerável por onde possam realizar obra daninha. Deixando-se guiar pelo Evangelho segundo o Espiritismo, o Livro Mestre do Cristianismo Redivivo, poderá
estar tranquilo quanto ao seu trabalho e quanto ao seu futuro. Todavia, é mister não esquecer que mediunidade pode também ser sacrifício. Quem diz sacrifício, diz dedicação, compreensão e renúncia. Nossa vida atual está intimamente ligada às vidas que nosso espírito exerceu em encarnações anteriores. Não há elo solto na vida
cósmica, como não há elo perdido no mundo espiritual nem elo abandonado na peregrinação terrena. Somos elos de uma imensa corrente, que é a Humanidade, porque nossos pensamentos, nossos atos, nossa vida, enfim, está mais ligada do que pensamos aos pensamentos, aos atos e à vida dos nossos semelhantes. Em virtude do olvido a que a encarnação obriga todos os espíritos, desconhecemos, geralmente, o grau de ligação que nos mantém ao lado das outras criaturas humanas. E isto deve levar-nos a meditar sobre a necessidade de ser bom para com todos, indistintamente, servindo sempre aos que necessitam de ajuda, esclarecendo os que se debatem nas trevas da ignorância, amparando os que se mostram trôpegos na caminhada para a melhoria moral. Dizer-se que somos todos irmãos não é simples jogo de palavras, mas uma verdade grandiosa.

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Na vida universal tudo se acha relacionado entre si. Somos como que pequenas entidades moleculares no grande todo universal. Não temos em que nos apoiar firmemente para justificar o orgulho e o egoísmo, os quais contradizem a harmonia cósmica. O médium, mais do que qualquer outra criatura humana, constitui elemento aglutinante nos conglomerados humanos. Está servido de meios para realizar grande tarefa de fraternidade. Essa tarefa é bem mais ampla do que se supõe, Ela ultrapassa, deve, pelo menos, ultrapassar a esfera humana, propriamente dita, e alcançar o reino animal, o reino vegetal, onde quer que o bem possa ser exercido. Em "Os Quatro Evangelhos", uma das obras magistrais do Espiritismo, o médium encontra igualmente inesgotável manancial de conhecimentos, muito úteis à sua peregrinação terrena. Se tivéssemos alguma autoridade para indicar leituras úteis aos médiuns em geral, apontar-lhes-íamos o seguinte rumo:

I                       "O Evangelho segundo o Espiritismo"
II                     "O Livro dos Espíritos"
III                    "O Livro dos Médiuns"
IV                    "Os Quatro Evangelhos"

O estudo, a assimilação do que contêm essas obras magistrais, e o esforço cotidiano para exemplificar os ensinamentos que nelas podem ser colhidos, mostram o rumo seguro e abençoado de todos aqueles, médiuns ou não, que desejam encontrar a rota luminosa traçada por Jesus e adotada pelo Espiritismo. Nessas obras
encontramos todo um curso de Espiritismo destinado ao esclarecimento dos médiuns. Outras, muitas outras, dezenas, centenas até, de grandes obras, há para a formação cultural espírita, mas não suplantam as que acabamos de citar. "0 Evangelho segundo o Espiritismo" é obra de leitura diária, de meditação cotidiana. Deve
acompanhar-nos a vida inteira, não para a decoração de estantes, mas como ração certa de pão espiritual de todos os dias. Os comentários feitos após os textos do Evangelho de Jesus constituem também lições edificantes, que servem a qualquer cristão, tão elevados são os conceitos ali emitidos, tão profundo seu alcance moral.

Um médium consciente de seus deveres estuda sempre e procura tenazmente exemplificar as lições estudadas, Mas, repetimos, seu primeiro passo deve ser no terreno da humildade esclarecida, que compreende a vida em face do Espiritismo e sabe desculpar os excessos alheios, evitando cometê-los também. A grandeza moral
do Espiritismo decorre da sua estrutura evangélica. Ele está no Evangelho, porque está nas lições do Cristo e só ele pode explicar, sem o mistério impenetrável dos "milagres", a verdade dos atos de Jesus e o alcance de suas palavras parabólicas.

Ser médium é uma graça do Alto, mas é igualmente uma enorme responsabilidade em face de Deus!


segunda-feira, 16 de abril de 2018

Novos tempos, novas táticas



Novos tempos, novas táticas
por Roberto Coimbra
Reformador (FEB) Julho 1947

A um fluente e culto pregador ouvimos certa feita a afirmação de que a quase ninguém hoje amedrontam mais os pintados e celebrados horrores do inferno. Para salvar almas não vale o esforço de traçar, a cores vivas e a golpes largos, em sermões e artigos maçudos, os quadros dantescos reservados aos bodes no dia do juízo final. O povo já não liga para essas assombrações. É preciso mudar de tática - concluía o orador.

Posto o ilustre reverendo quisesse, com isso, reforçar argumentos outros com os quais não concordamos, absolutamente, por amor da lógica e da verdade, o certo é que ele tem carradas de razão e, honra se lhe faça, aceitou um fato indiscutível que muita gente boa inda não aceita, ou faz que não aceita.

De feito, o inferno descrito em certo palratório (= parlatório), que chega às vezes a parecer inflamado pelo próprio fogo daquelas bandas, só mesmo por um milagre da ignorância mantém nesta época o seu prestígio neste mundo de Deus, - neste mundo de Deus que alguns ministros, com a sua poderosa homilética (arte de pregar sermões religiosos), buscam à viva força convencer-nos de que é do diabo.

Essa história de céu e inferno vem sendo muito mal contada. E não pode ser doutro modo. Mas, depois que as vozes de além-túmulo repontaram aqui, ali e acolá, nas línguas mais díspares, entre os povos mais diversos, nos meios até mais adversos, depois que o Espiritismo, assentado em bases graníticas, entrou a espalhar luz sobre os ensinos do Cristo, uma nova, e mais justa, e mais segura concepção de Deus e do Universo veio transformar a vida de inestimável multidão de gente.

O preconceito, de mãos dadas a interesses e convenções sociais, ainda faz pé atrás e empenha-se, infelizmente, em conservar as consciências nas trevas, asfixiando-as, Mas dia virá em que desaparecerão os carneiros de Panúrgio (personagem de Rabelais; seguir alguém sem limites ou restrições) e todo o mundo aprenderá, por si mesmo, o rumo a seguir.

Até lá, muita luta, muito obstáculo, muita incompreensão terão de ser enfrentados, transpostos e vencidos pelos cristãos-novos, por aqueles que fazem por viver o Cristianismo em sua primitiva pureza e simplicidade. Ao presente, apesar de tudo que por aí vai, já temos fortes razões para considerar animador o progresso alcançado. Boa parte da humanidade pensa com a própria cabeça e sente com o próprio coração, o que não é pouco. Daí o crescente fracasso da verborragia dos que advogam a causa do inferno eterno, ou do céu ganho à custa alheia, do céu dependente até de salvo-condutos de homens como nós mesmos.

A verdade triunfa sempre. É das leis de Deus. Só ela libertará o homem do pecado, através das vidas sucessivas. Não obstante isso, certos religiosos multiplicarão seu zelo e sua energia no triste e inglório intuito de incutir falsidades na mente dos seus semelhantes. Poderão ir mudando de tática esses sectaristas, mas, dominados por dogmas, procurarão impô-las às criaturas, assim como quem está certíssimo de que o reino dos céus seja, exclusivamente, o reino dos seus.

Não esmoreçamos, pois, no combate aos erros, venham donde vierem. Orando e vigiando, assiste-nos, a nós, os espíritas, o dever de esclarecer os homens no verdadeiro caminho do Espírito de Verdade.