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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O Espiritismo e seus contraditores



O Espiritismo e seus contraditores  

por Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Fevereiro 1964

            Vive o mundo, com intensidade crescente, redobrados anseios e aflições multiplicadas. O medo impera por toda a parte e a insatisfação geral, principalmente no seio da juventude, demonstra que, apesar de tantas religiões, de tantos sistemas filosóficos, tantas ideologias que adulam as massas populares, a miséria continua a infelicitar os povos, que são conduzidos, em sua quase totalidade, por líderes espiritualmente cegos. O mundo continua pagando altos juros pela dominação materialista e pela esterilidade de igrejas que perderam já a sua autoridade verdadeiramente espiritual e hoje somente vivem de aparências, buscando em desespero a sobrevivência que lhes escapa de ano para ano.

            Muito melhores seriam as condições da Humanidade se os princípios pregados e defendidos pela Doutrina espírita fossem mais amplamente aceitos e praticados. Entretanto, certas igrejas irracionalmente combatem o Espiritismo e, com isso, fazem aliança com os seus verdadeiros inimigos, quebrando um vínculo de espiritualidade que constitui a única razão de ser das religiões. Por outro lado, alguns cientistas comprometidos com os diferentes cleros e audaciosos pseudo-cientistas se armam de absurdas prevenções, absurdas e ridículas, contra os médiuns e os fenômenos mediúnicos.

            Mesmo alguns daqueles que se entregaram a observações rigorosamente controladas por eles mesmos e por outras figuras insuspeitáveis, quer moral, quer cientificamente temeram e temem confessar a verdade espírita, preferindo subterfúgios ou negativas que os afastem de complicações com as organizações ditas científicas e os grupamentos religiosos. O próprio Charles Richet, homem de ciência que todos os espíritas respeitam, não teve a coragem necessária de agir com o desassombro de William Crookes, Lombroso, Ernesto Bozzano, Camilo Flammarion, Victor Hugo, Gustavo Geley, etc.

            Semelhantes atitudes de dubiedade e fraqueza são responsáveis, em muitos casos, pela falta de esclarecimento de grande parte da Humanidade, pois têm estimulado o desenvolvimento do materialismo, o enfraquecimento do Espiritualismo em determinados setores, vigorizando a ação negativa dos inimigos do Espiritismo. Esses inimigos, beneficiários das mentiras que envenenam a civilização atual, agem de má fé, socorrendo-se de falsidades e calúnias multiformes, com o fito de satisfazerem a conveniências pessoais ou de grupos. Embora não consigam deter a marcha ascendente do Espiritismo no mundo, conseguem impedir seja ela ainda mais acelerada. Mas serão vencidos fatalmente. É questão de tempo, porque o homem, à força de desilusões tremendas, vai adquirindo experiência e compreendendo, à própria custa, onde deverá buscar a verdade que o fará feliz ou menos infeliz.

            Houve um certo Dr. A. Hesnard que teve o desplante de afirmar em livro que o médium é sempre um doente de “nevrose histérica”. Não é preciso esforço para se ver a maldade da afirmativa dogmática. Sem dúvida alguma, o médium é dotado de uma delicada sensibilidade. Admitamos mesmo, para argumentar, que seja um hipersensível. Se a sua sensibilidade não fosse maior que a dos não-médiuns, não estaria apto a exercer o seu papel importante no âmbito do mediunismo, pelo simples fato de não captar as vibrações sutis que essa sensibilidade especial lhe assegura colher e desenvolver.

            A Ciência somente começou a progredir desde quando pôde dispor de aparelhos mais delicados e sensíveis, capazes de lhe assegurar êxito nas pesquisas e experiências incomuns, sem os quais jamais teria alcançado novos progressos em seus diferentes ramos. Ora, o médium é também um aparelho sensível, até ultra sensível, conforme o grau da sua natureza mediúnica. Dizer, entretanto, que ele é sempre um nevropata, um histérico, constitui ofensa à verdade e à própria Ciência, pois que a verdadeira Ciência não insulta, não calunia, não tergiversa, não mente, não trai, não engana; tem o dever de ser fria em suas observações e imparcial em suas conclusões.

            No capítulo da fraude, quanta coisa tem sido escrita! Entretanto, não há categoria de trabalho humano, seja de ordem prática, seja no ambiente do pensamento, que não haja sofrido a interferência de elementos perniciosos, simuladores, charlatanescos. Nem a Ciência, nem a Religião puderam livrar-se disso. Haja vista o que disse Jesus no Evangelho acerca dos “falsos profetas”. Portanto, em todas as classes e categorias humanas, a fraude, a mentira e a simulação têm feito incursões mais ou menos demoradas, sem que pudessem destruir a verdade. Quantos médicos charlatães vivem por aí a explorar a credulidade pública e a bolsa do próximo, desonrando uma classe digna e respeitável, onde imensa maioria de homens dedicados enobrecem cada vez mais a espinhosa e humanitária profissão? Devemos enlameá-la toda, negando seus valores reais, porque os charlatães, mesmo formados, procurem tirar proveito do prestígio que essa classe justamente desfruta? É claro que não. Deveremos afirmar, por isso, que todos os médicos são charlatães? Leia-se, por exemplo, “A Cidadela”, do famoso médico-escritor, Cronin, na qual é desnudada a mentalidade rasteira, desonesta e viciada de um deles, assim como exaltada, em contraposição, o exemplo maravilhosamente belo de outro. O mesmo acontece com o Espiritismo.

            A quantidade de médiuns ou falsos médiuns que mistificam e intrujam, buscando vantagens materiais, é mínima em relação ao número de médiuns honestos, corretos, abnegados e fiéis ao seu papel no mundo, pois se entregam com devotamento invulgar, gratuitamente, aos trabalhos mediúnicos, fazendo o bem, dando assistência aos necessitados de várias naturezas, sem olhar sacrifícios pessoais de nenhuma espécie. Temos conhecido médicos psiquiatras que são mais perturbados do que os enfermos que os procuram em busca de lenitivos... A generalização feita por Hesnard em seu livro “L’Inconscient”, revela a sua falta de critério científico, o seu “parti-pris”, a sua má intenção.

            Bem inspirado estava Georges Barbarin quando afirmou em seu livro “Recherche de Ia Ne. Dimension”: “Se, ao lado de homens sábios, probos, esclarecidos, não se aglomerassem também charlatães e imbecis, ninguém duvida que um número muito mais elevado de pesquisadores qualificados teria sido atraído para as manifestações espíritas.”

            Barbarin examina o procedimento dos cientistas europeus de determinada época, quando, em sessão espírita severamente controlada por eles próprios, buscavam apurar a realidade do deslocamento de objetos sem contato humano. E comenta o ceticismo de outros que não tiveram o mesmo escrúpulo, nem foram participar das experiências, embora negassem o fato “a priori”: “É, entretanto, um fato que tem sido observado milhares de vezes sob controle (fiscalização) organizado. Um dos mais antigos desses controles foi o constituído pelos Srs. Gasparin, Foulcault e Babinet, todos da Academia de Ciências, os quais, sem poder explicar, comprovaram em numerosas e repetidas sessões o fenômeno, em plena luz, havendo uma testemunha fiscalizado a superfície da mesa e outras espalhado licopódio em pó sobre o prato da balança. (sur le plateau) . “E aduz: "Experiências menos antigas, mas idênticas, se efetuaram em 1905, 1906 e 1907, sob o controle de Branly, d’Arsonval, Langevin, Bergson e o casal Curie. O mesmo “fato antifísico” (fait antiphysique), para não falar senão nesse, foi observado por esses ilustres controladores."

            Que respondeu o professor d' Arsonval, trinta anos depois, em 1936, a Jean Labadie, que lhe perguntara se mantinha o seu anterior testemunho?

            Isto:

            “O relatório de Couturier sobre Eusápia (a médium) foi aprovado por todos os membros da comissão. No que me concerne, não tenho nada a modificar acerca do que vi. Quanto a explicar, esse é outro assunto. Mas, se eu fosse negar tudo quanto não compreendo!! ...”

            Prossegue o comentário de Barbarin, ao pé do testemunho renovado de d'Arsonval: “Antifísico, bem arranjada a palavra, e mesmo antilógico, de tal modo que o grande físico Foucault, convidado em 1854, pelos Gasparin, para ir com eles verificar o fato, recusou-se, declarando que se visse um pedacinho de palha mexer-se sem causa mecânica, ficaria apavorado”...

            Muitos como Foucault, que já participara de uma experiência dessas anteriormente preferem ficar de lado recusando a oportunidade da observação própria, por medo do desconhecido. Muitos vão mais longe, pois se metem a discutir o que ignoram, escorando-se em suposições, levados por analogias sem base raciocínios unilaterais, sem a nobreza de caráter que teve Foucault, ao confessar honestamente o seu desarrazoado temor. Então, optam pelo pior ainda que mais fácil: negam a realidade dos fenômenos mediúnicos, contestam a mediunidade, insultam os médiuns, embarafustam pelo cipoal da fraude e se encastelam num radicalismo mórbido, convencidos de que estão servindo à causa da Ciência que dizem representar.

            Mas nem os verdadeiros cientistas puderam fugir à perseguição e ao preconceito estulto de homens de ciência superados pelo progresso. A História revela que muitos tiveram vicissitudes ao quebrarem tabus científicos e desvendarem novos conhecimentos. Recordemo-nos do que sucedeu a Copérnico, Giordano Bruno, Galileu, Wolff, Schwann, Darwin, Pasteur, Lister, etc., ora insultados, agredidos, humilhados e perseguidos por cientistas estacionados, ora pelos cleros católico e protestante, que apoiavam os reacionários e levavam até à morte, em alguns casos; aqueles que, iluminados pela chama do pioneirismo, preferiram sacrificar a vida a renunciar à verdade,

            Se entre os mestres da Ciência as coisas correram (e correm) dessa maneira, como poderemos nós, os espíritas, esperar um tratamento diferente, maior compreensão, maior serenidade, maior equilíbrio? Se a ciência oficial tem sido madrasta com tantos vultos eminentes, que só mais tarde foram por ela reconhecidos e glorificados, como e porque devem os espíritas ter melhor sorte?

            Continuemos trabalhando com afinco e fé. Procuremos desenvolver cada vez mais os estudos do Espiritismo, quer no campo fenomênico, quer no campo filosófico-religioso. Devemos continuar sendo rigorosos na fiscalização de todos os nossos trabalhos, porque ao Espiritismo não interessa a mistificação, a fraude, o desrespeito. Somente a verdade, isenta de dúvidas, é que nos satisfaz. Para isto, basta continuemos fieis à Doutrina codificada por Allan Kardec.

domingo, 30 de agosto de 2020

A responsabilidade do Espírita



A responsabilidade do Espírita

por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Janeiro 1964

            Quando afirmamos que o estudo constante da Doutrina é indispensável à verdadeira compreensão do Espiritismo, não o fazemos sem uma base sólida. A orientação doutrinária somente será possível com a disseminação dos princípios que concorrem para o aperfeiçoamento moral do indivíduo. Se a explanação da Doutrina não for adequada à assimilação completa de cada um, seus efeitos serão insuficientes ou nulos. A só explicação da Doutrina não é bastante, bem o sabemos. Todavia, o esclarecimento das consequências benéficas, que a exemplificação de tais princípios pode proporcionar, será capaz de levar muitas pessoas a se tornarem realmente integradas no programa constante da Doutrina. O importante, portanto, é estudar cada ponto com paciência, explicá-la bem, enriquecendo a explicação com exemplos comuns da vida cotidiana. Mas o essencial é exemplificar cada vez melhor.

            O Espiritismo não possui um corpo doutrinário complexo e ininteligível, pois nele tudo é claro. Mas precisamos compreender que o grau de assimilação intelectual de cada indivíduo varia muito. É preciso, portanto, que o explanador da Doutrina use uma linguagem simples e procure observar se as suas palavras estão sendo realmente bem interpretadas. Caso tenha qualquer dúvida a respeito, o melhor será repisar o ponto estudado, citando fatos como exemplo do que ocorre na vida diária, quer para evidenciar os benefícios do respeito à Doutrina, quer para deixar positivado que a não exemplificação dos preceitos doutrinários levará o homem a provações ásperas, que podem ser atenuadas ou evitadas com a mudança para melhor do seu comportamento em casa, no trabalho, onde quer que esteja.

            Se o Espiritismo não for utilizado para reformar aqueles que necessitam de progresso moral, então é porque não está sendo devidamente pregado nem se socorre de exemplificações adequadas para ilustrar a sua influência salvadora na vida terrena.

            Ninguém pode negar que estamos passando todos por provações sérias e que essas provações tendem a multiplicar-se, porque o panorama cármico do mundo terreno, nestes tempos que antecedem a alvorada do Terceiro Milênio, está sombrio.  

            Pensa-se muito no Mal e pouco no Bem. Os descontentamentos fermentam a alma humana, predispondo-a a pensamentos e ações incompatíveis com a ordem e a paz. Fala-se muito em paz, pensando-se na guerra. Se todos aqueles que possuem problemas graves, de ordem moral ou material, procurarem orientar-se pelas lições prodigiosas de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, poderão, sem dúvida nenhuma, substituir suas inquietações por uma confiança maior em si mesmos, porque o que está faltando no mundo de hoje, mais do que no passado, é uma comunhão maior com Deus.

            A ambição malsã vem constituindo a base de quase todos os pensamentos. Por causa dela redobram-se os conflitos, crescem as dores. A tolerância vai desertando dos corações e não são poucos os que supõem poder alcançar a justiça que reivindicam, semeando ódios, ferindo sentimentos e socalcando direitos alheios para valer o que acreditam ser os seus “direitos”, “direitos” nem sempre justificados.

            Se é natural que todos busquem defender direitos legítimos, é absolutamente certo que todos são obrigados, antes de os reclamarem, a demonstrar que atenderam integral e corretamente aos seus próprios deveres. É justamente o bom cumprimento dos deveres que cria os direitos legítimos. Não será com violência, nem espezinhando o próximo, que cada qual conseguirá gozar bem o seu direito. Este é sempre uma decorrência direta do dever. Além disto, há outras obrigações de ordem moral que devem levar os homens a atitudes mais serenas e tolerantes, conciliadoras mesmo, quando tiverem de fixar as suas reivindicações. O que for obtido irregularmente, provocará consequências igualmente irregulares. Todos teremos sempre a colheita a que fizermos jus, tudo de conformidade com a semeadura que houvermos feito.

            Eis porque o espírita que deseja ser feliz em Deus deve, antes de tudo, condicionar sua conduta aos princípios que constituem a Doutrina Espírita, com base no Evangelho, certo de que as vitórias alcançadas, por outros meios, só lhe darão transitória satisfação, pois será fatalmente substituída por derrotas determinadas pela “lei de Retorno”, isto é, pela Lei de Causa e Efeito, que é uma Lei de Justiça.

            É de grave importância o papel daqueles que assumem a responsabilidade de pregar a Doutrina Espírita e o Evangelho em Espírito e Verdade. Devem levar sua tarefa ao máximo de interesse e sacrifício, porque a Humanidade está jogando a sua sorte. Ela terá de mudar de rumo, pensando mais no Bem, policiando seu próprio comportamento, se pretende fugir com êxito de provações mais amargas que o futuro lhe poderá reservar.

sábado, 29 de agosto de 2020

Espíritos e Espiritismo moderno





“Espíritos e Espiritismo moderno” - Parte 1
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador FEB) Dezembro 1963

            Lemos com toda a atenção, como recomenda Allan Kardec, mais um livro contra o Espiritismo “Spiriti e Spiritismo moderno”, do Padre Giovanni M. Arrighi O. P., prefaciado pelo Cardeal Giacomo Lercaro, Arcebispo de Bologna. Já teve três edições, em 1954, 1955 e 1957, publicado com as necessárias autorizações da Igreja Católica Romana.

            Logo de início o Autor nos informa que o Espiritismo é universal e eterno. Nas páginas 25 e seguintes diz que o Espiritismo era conhecido no antigo Egito, na China, na Índia, entre os gregos e romanos, Para o povo hebraico houve as proibições de Moisés, proibições que revelam sua divulgação popular, e o autor nos cita a sessão realizada na cidade de Endor, na qual Saul evocou o Espírito de Samuel e com ele conversou.

            Da Bíblia é essa a única sessão que ele nos cita, o que é pena, porque temos coisas multo melhores nas Escrituras Sagradas. No Novo Testamento, por exemplo, a sessão gloriosa em que Jesus evocou os Espíritos de Moisés e Elias que se materializaram diante de três discípulos e conversaram com o Senhor. O livro de “Atos dos Apóstolos” está repleto de manifestações espíritas que o Padre Arrighi não menciona. O estabelecimento do Cristianismo no mundo está repleto de grandiosos fatos espíritas, como a ressurreição de Jesus, suas aparições aos discípulos, depois a Saulo, depois a Ananias, mandando-lhe que fosse curar o jovem legisla que estava cego. Naquele momento histórico, ocorriam muitos fenômenos espíritas na Palestina.

            Os fenômenos espíritas não só são muito antigos e universais, como nos informa o Autor, mas são igualmente a revelação da sobrevivência do homem após a crise da morte e formam a base das mitologias de todas as religiões antigas e modernas. Das antigas, temos um Espírito manifestando-se a Moisés e lhe dando instruções; das mais modernas, temos um Espirito aparecendo à Sra. Nao Deguêi, no Japão, e fundando a religião conhecida pelo nome de Oomoto, que tem apenas setenta anos de idade. Infelizmente o Padre Arrighi não trata dessa parte tão expressiva.

            Informa-nos ele que em 1588 o Papa Sixto V condenou, pela primeira vez, as práticas espíritas.

            O Espiritismo moderno “nasce como reação contra o materialismo” (pg. 34). Os fenômenos de Hydesville vêm relatados na página 36 e o caso do Juiz Edmonds aparece na p. 37. A primeira obra notável sobre o Espiritismo moderno - informa-nos o Autor - foi “Sights and Sounds” (Vistas e Sons), de Henrique Spicer, editada em Londres, em 1853 (p. 10). Infelizmente não conhecemos esse livro, surgido quatro anos antes de “O Livro dos Espíritos”. Dele só sabemos algo através das pp. 188 e 189 da obra “As Mesas Girantes e o Espiritismo”, de Zêus Wantuil.

            No princípio do movimento espírita moderno, alguns ateus materialistas se converteram ao Catolicismo por intermédio do Espiritismo (p. 42). Um desses convertidos recebeu mensagens de um jesuíta que lhe aconselhou estudar a história da Companhia de Jesus.

            Na opinião do Autor, a fraude mediúnica é exceção à regra, é imitação de fato real existente (p. 59).

            Informa-nos o Autor que os anjos podem manifestar-se sem milagre, mas as almas dos homens só o podem excepcionalmente, por milagre, com permissão de Deus (p. 110). Cada ano morrem aproximadamente 10 milhões de crianças sem batismo e sofrem eternamente a privação do Céu (p. 112). Mas o Padre Thurston S. J., citado pelo Autor, acha injusto esse eterno sofrimento de uma parte tão grande da Humanidade. E nós pensamos apenas que esse ensino da Teologia é uma blasfêmia contra a Sabedoria e a Justiça perfeitas de Deus.

            Só excepcionalmente pode resultar algum bem de uma sessão espírita (p. 131). Quanta inverdade nessa restrição, meu Deus!

            Mas o P. Thurston S. J. diz que “a intervenção de inteligências boas e generosas aparece em algumas “mensagens” muito sérias, pias, tonificantes, tanto que diversos são os convertidos pelo Espiritismo. Por Isso concorda em pensar na intervenção de Espíritos bons e inteligentes que se interessam por nós. Eis a resposta clara que o Padre Omez O. P. deu recentemente sobre esse tema em “Métapsychique et Merveilleux Réligieux”: “A graça de Deus pode servir-se de tudo...” (p. 131). Ainda bem!..

            Como se vê destas poucas citações, um livro contra o Espiritismo sempre informa alguma coisa interessante ao leitor que não abriria um dos nossos livros. É sempre um bem para todos, e a nós nos serve para demonstrar que todos os ataques contra o Espiritismo são de uma estultícia chocante.

            Em outro artiguete concluiremos nossas notas sobre o livro do Padre Arrighi.

“Espíritos e Espiritismo moderno” - Parte 2
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador FEB) Janeiro 1964

            Já é muito rica a biblioteca teológica sobre o Espiritismo. No livro do Padre Giovanni M. Arrighi O. P. – “Spiriti e spiritismo moderno” - vemos citadas as obras de dezenas de teólogos que se ocuparam com o Espiritismo.

            Todos esses livros são úteis para o Espiritismo, porque o Autor tem de expor a Doutrina para refutá-la, ainda que o façam em pequenos trechos, soltos e incompletos. Não raro a exposição é prejudicada pelo sectarismo, diz inverdades, até calúnias involuntárias, por exemplo, o Padre Arrighi afirma que todas as mensagens espíritas são banalidades, tiradas sem pé nem cabeça, quando sabemos que muitas dessas mensagens, a maioria talvez, são majestosas lições em prosa ou verso, reunidas em grossos volumes de imenso valor moral e intelectual, como “Parnaso de Além-Túmulo”, “Antologia dos Imortais”, “Paulo e Estêvão”, “Cânticos do Além”, “Memórias de um Suicida” etc. Assim, por deturpada que seja a exposição que os adversários fazem, alguma coisa sempre se aproveita.

            Eis uma tirada do Padre Arrighi, na p. 134:

            “É verdade que se têm podido registar, como mais bem fundadas na realidade, algumas breves aparições de almas de mortos no momento exato da morte ou pouco depois. Mas, precisamente essas aparições são totalmente espontâneas, não provocadas e ainda menos coagidas.
            “Com maior razão é inadmissível que Espíritos bons, também eles dependentes de Deus, imersos na sua luz, firmes na atitude moral, se deem aos homens pelo modo ridículo e mesquinho das manifestações espíritas.”

            Quanto engano junto! Nem os Espíritos são coagidos nunca nem são ridículas e mesquinhas as manifestações realmente nobres e elevadas dos Espíritos superiores que caridosamente descem às nossas trevas para nos ajudar com suas luzes.

            Diz o Padre que a lei de causa e efeito é superior a Deus na opinião dos espíritas (p. 140); depois repete: “A Lei de Carma é absurda, porque ela se impõe a Deus mesmo” (p. 160).

            Sabemos os espíritas que todas as leis naturais são criadas e aplicadas por Deus com toda a sabedoria e infinita misericórdia. O homem sofre os efeitos de seus atos errados, mas Deus lhe faculta os meios de aliviar seus sofrimentos, equilibrando-os com as alegrias e esperanças decorrentes do bem que faça. Deus sempre lhe acolhe o arrependimento e lhe proporciona os meios de salvar-se, segundo a Lei do Carma, contrariamente à doutrina das penas eternas. Demais, Carma não é castigo apenas, é igualmente prêmio, recompensa por todas as virtudes praticadas, por todo o bem que se faça.

            Condenando a Lei do Carma, o Autor admite as penas eternas o que repugna à justiça, porque a pobre criatura humana, em sua curta vida de ignorante, mal sabendo distinguir entre o bem e o mal, não poderia merecer uma punição eterna. Reencarnação e Carma resolvem todos os nossos problemas, e aquelas negações não prevalecem contra a Justiça perfeita.

            O Autor compreende a reencarnação sempre como expiação, nunca como escola de preciosas experiências para nossa formação, nem como missões, por vezes tão gloriosas na História. A Igreja condenou a reencarnação nos Concílios de Constantinopla (543) e de Lyon (1274), mas ... a condenação não teve efeito, a lei continua funcionando e a imensa maioria da Humanidade reencarnacionista - todos os budistas - não toma conhecimento das decisões da Igreja.

            “A ciência do demônio é muito maior do que a dos maiores gênios da Humanidade” (p. 185). Quem se salvará, então contra tal inimigo?

            Os teólogos católicos até hoje se apoiam sempre em S. Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, que viveu de 1227 a 1274. Nos setecentos anos decorridos depois dele, quantas descobertas foram feitas que alteram profundamente os pensamentos da Humanidade...

            Diz o Padre Arrighi que é na Doutrina Espírita, não nos fenômenos espíritas, onde mais se nota a influência diabólica. (p. 193). Mas a Doutrina Espírita é puramente evangélica! Cuidado, meu irmão, com suas palavras, porque elas inconscientemente revelam que a sua Igreja já se tornou inimiga do Cristo de Deus!   .

            Duas “dificuldades” de explicação (só duas!) encontra o Padre Arrighi nos fenômenos espíritas: a caligrafia de um defunto que o médium reproduz sem tê-lo conhecido e a predição de acontecimentos futuros que depois se verificam (pp. 231 e 232).

            Isso é nada diante do estilo de dezenas de poetas desconhecidos do médium, como aparecem os poetas de “Parnaso de Além-Túmulo”, “Antologia dos Imortais”, “Cânticos do Além". E os livros em prosa, como, por exemplo: “Falando à Terra”, como explicá-los, Padre Arrighi?  

            O Padre Arrighi insiste sempre que o dogma da reencarnação é do Espiritismo e da Teosofia, e silencia quanto ao Budismo, que o ensina a um número de crentes três vezes maior do que a soma de todas as igrejas cristãs do mundo e há mais de quinhentos anos do que o Cristianismo.

            Não há pronunciamento oficial da Igreja sobre os fenômenos espíritas (p. 240), todas as opiniões de teólogos são particulares: mas há documentos oficiais da Igreja contra a Doutrina espírita (páginas 240 e 241).

            O Autor declara que “a questão espírita não se pode dizer totalmente e definitivamente resolvida” (p. 236) e formula três questões, a saber:

            1ª - “Pode admitir-se, pelo menos como provável, que no Espiritismo (salvo uma especial permissão ou um particular mandato divino) intervenham os defuntos?”
            Responde negativamente, alegando a natureza da alma, na sua opinião incapaz de agir sobre a matéria.

            2ª - "Deve afirmar-se que no Espiritismo haja uma intervenção diabólica?”
            Afirma que não se pode cientificamente demonstrar a influência direta do demônio, mas pode afirmar-se sua influência indireta.

            3ª – “Pode-se pensar que todos os fenômenos medianímicos possam explicar-se naturalmente?"
            Responde que até hoje não se pôde explicar tudo por hipóteses naturalísticas:

            Na sua última página do livro, o Autor nos diz:

            “Uma das afirmações mais inteligentes de Sócrates é sem dúvida esta: “Só sei de uma coisa: que nada sei.”
            “E, honestamente, deve-se reconhecer que é um pouco assim no nosso caso. Eis porque falei antes de minha “opinião” e insisto sobre este termo. Sinto-me de fato ainda muito longe da certeza absoluta.”  

            Esta modéstia final salva o Padre Arrighi. Como teólogo sectarista ele escreve muita barbaridade no livro. Vê-se que tem muito de fanático e, se não houvesse reencarnação, seria difícil imaginar-se quando poderia ele mudar de rumo; mas, com a reencarnação tudo se torna fácil: Deus lhe permitirá a graça de renascer num lar espírita e conhecer desde a infância a sublime Doutrina do Consolador.

            Não chegará, como nenhum de nós chega, à “certeza absoluta” mas chegará a convicções bastantes para orientar seus pensamentos e sentimentos rumo a conceituações bem mais elevadas da Vida.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Cavalos de Tróia


Cavalos de Tróia
Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Janeiro 1958

            Já Allan Kardec advertira os espíritas do cuidado que se deve ter em relação ao trabalho daqueles que se apresentam como confrades, mas que procedem inamistosamente, perturbando a obra do Espiritismo, apegados a pontos de vista personalíssimos, dos quais não desejam afastar-se de maneira alguma, São os maiores aliados dos inimigos reconhecidos do Espiritismo, porque procuram lançar a cizânia em nosso meio. Não se compenetram dos deveres que todos temos em face da Doutrina e desconhecem os princípios que todos devemos respeitar a fim de que o objetivo comum do Espiritismo seja alcançado com um grau de eficiência cada vez maior.

            Ora colocam a questão do “corpo fluídico” de Jesus como pomo de discórdia, embora, na maioria dos casos, não tenham lido a grande e prodigiosa obra de Jean -Baptiste Roustaing – “Os Quatro Evangelhos”; ora investem a Federação Espírita Brasileira porque esta, consciente da sua enorme responsabilidade, não se dispõe a endossar fantasias nem a prestigiar movimentos sem qualquer utilidade para o futuro da Doutrina. Esses são os “espiritas” que desconhecem o Espiritismo. São “espíritas” porque se meteram no Espiritismo, mas não são espíritas visto estarem divorciados dos ensinos doutrinários.

            Não nos arreceamos dos ataques desleais do alto clero católico, porque sabemos como enfrentá-los e destruí-los. Não tememos a ação dos inimigos do Espiritismo que se confessam hostis à Causa que abraçamos. Temos mais de temer os falsos espíritas, os “cavalos de Tróia” do Espiritismo, aqueles que ainda não adquiriram a verdadeira mentalidade espírita, e que, vivendo entre nós, podem ser prejudiciais no bom andamento do Espiritismo.

            Nem podemos surpreender-nos com isso, nem tampouco irritar-nos. Jesus passou por essa experiência. Encontrou falsos amigos, teve traidores em seu caminho, negadores da sua obra, mas, afinal, a todos perdoou. Que devemos fazer nós, humílimos seguidores do Espiritismo Cristão, senão perdoar a esses que se dizem dos nossos, mas prejudicam o trabalho espírita? Temos de ser prudentes como a serpente, mas não podemos nem devemos responder com a mesma prova de incompreensão e intolerância maligna. Permanecendo vigilantes, porque a grandeza moral do Espiritismo nos obriga a essa atitude, procuremos anular a ação malsã, difundindo a boa Doutrina e desfazendo pela lógica dos fatos o esforço mal empregado dos que se afirmam espíritas e procedem como se fossem adversários do Espiritismo.  

            Há como que uma tentativa reiterada de perturbação da Família espírita nacional. Irmãos que ainda não têm olhos de ver tentam solapar o prestígio da Federação Espírita Brasileira. Realizam justamente a obra que o alto clero católico gostaria de poder sustentar e consumar com a mesma eficiência. Tornam-se, dessa maneira, aliados dos inimigos do Espiritismo, e, como dissidentes da Federação Espírita Brasileira, que tem um passado respeitável e cujo presente em nada o deslustra, promovem dissensões, lançam a confusão onde devera reinar o entendimento, e alardeiam vitórias que nada mais são que desoladoras derrotas.

            Bezerra de Menezes, o grande e boníssimo Bezerra de Menezes, foi uma vítima desses incontáveis, desses “espíritas” que chegam a ponto de esquecer as lições de sabedoria da Doutrina Espírita, para adotarem, cada qual a seu jeito, a “doutrina” que suas inclinações pessoais aconselham.


            A autoridade da Federação Espírita Brasileira, no entanto, permanecerá incólume, porque ela não se afasta do programa pre estabelecido por Ismael, não se arreda da Doutrina, não refuga os seus princípios nem tampouco fecha os olhos às manobras que possam comprometer a unidade do Espiritismo no Brasil ou a própria Causa. Está fortalecida pelo Alto a Federação Espírita Brasileira e a seu lado continuam e hão de continuar todos aqueles que possuem definitivamente formada a consciência pelos estalões doutrinários de Allan Kardec.

PS.: 
Do blog: Interessante notar como as posições se inverteram. Hoje, os adeptos de Roustaing são como que caçados por serem "hereges". 

domingo, 23 de agosto de 2020

A Mulher e o Espiritismo



A Mulher e o Espiritismo
(Vinélius Di Marco) Indalício Mendes
Reformador (FEB) Novembro 1957

            Tem-se dito, e com muita razão, que o papel da mulher na preparação moral da criança é fundamental para o futuro da Humanidade. No Espiritismo, a regra permanece a mesma. À mulher deve competir a mais importante atividade na preparação das crianças consoante à moral cristã adotada no Espiritismo. Ela possui a acuidade imprescindível à melindrosa tarefa de transmitir à infância ensinamentos delicados.

            A educação cristã através do Espiritismo é muito importante, porque pode preparar gerações e gerações de criaturas que, no porvir, serão capazes de adotar diretrizes mais elevadas e compatíveis com as lições do Cristo no Evangelho. Há um mundo de coisas úteis a ensinar às crianças, sem preconceitos, sem dogmas irracionais, sem lugares comuns que, mais tarde, serão obstáculos ao desenvolvimento mental daqueles que não tiverem a felicidade de receber a luz da Terceira Revelação muito cedo.

            Estamos em face de um mundo em transição. Os desregramentos da vida atual, a exacerbação do egoísmo, a hipertrofia da cupidez, os desentendimentos conjugais, os excessos da concupiscência, a ausência do sentimento de responsabilidade, a frouxidão moral, enfim, todas as manifestações negativas que se observam nos dias presentes nada mais são do que os sintomas positivos de uma Humanidade que se acha em fase de transição para a era nova, que poderá ser pior que a atual, se os homens persistirem na imprevidência de que se acham possuídos. As dores e as provações que existem ou que poderão vir, são como as trombetas de Jericó. As guerras que têm ensanguentado o mundo, principalmente de 1914 para cá, impõem aos homens a purificação pelo sofrimento. Até hoje a maioria das criaturas não tem querido compreender a razão dos males que afligem o mundo. E quando soar a hora da separação definitiva do joio e do trigo, muitos Espíritos, que hoje refocilam nos prazeres impuros, rangerão os dentes experimentando as agruras do remorso que não redime mas que predispõe os faltosos ao resgate das próprias culpas.

            Tão grande e tão nobre é o papel da mulher no mundo que ficamos estremecidos ante o espetáculo contemporâneo que presenciamos. A competição estabelecida entre o homem e a mulher, na vida social, tem sido danosa a ambos e notadamente à Humanidade. A mulher cresce na intimidade do lar mas, na intimidade do mundo, relegando ao abandono seus deveres máximos de mãe, diminui-se progressivamente. Se o lar santifica a mulher, o mundo pode corrompe-la. Se nas tarefas sagradas da família ela se transforma em anjo tutelar, perdida nas confusões do mundo ela pode perder toda a beleza moral

            O que se vê hoje, em muitos lugares, principalmente nas grandes cidades decorrente da sua posição em face da Humanidade. No lar, pode encaminhar os filhos com segurança e contribuir para a retificação da jornada do companheiro em contato com as forças desiguais que enfrenta cá fora, é a mundanização da mulher. Ela deixa o lar entregue a uma preposta, que não pode interessar-se por seus filhos como se interessam a mãe. Procura, então, o ambiente duvidoso e muitas vezes corrompido das “boites”, esquecida de que, o lar, os filhos estão desamparados do seu carinho e da sua vigilância. Essas, convenhamos, não são mães na legítima acepção do vocábulo, e entendem que viver bem é passar a maior parte do tempo fora do lar, envenenando-se com a imoralidade de certos agrupamentos, fumando e bebendo, ou participando de conversas pouco edificantes, a pretexto de revelar primores de falsa intelectualidade, enganam-se. Mais tarde, quando o desengano chegar com a perda da juventude e com a realidade dos fatos, nem sempre muito fagueiros para os imprevidentes, não sentirá vontade de chorar e gritar de arrependimento. Mas suas lágrimas não correrão facilmente nem seus gritos encontrarão depressa eco no coração das velhas companhias... E a tristeza desesperada será maior, se o filhos houverem enveredado pela senda dos vícios, seguindo os exemplos que lhes ofereceram... Então as provações começarão muito mais cedo...

            O Espiritismo mostra os perigos da conduta irrefletida, porque todos os nossos atos são sementes que plantamos hoje para realizar no futuro colheitas indefectíveis. A lei do carma se exerce inexoravelmente, a reencarnação mostra a necessidade do esforço pela reabilitação. Todos somos Espíritos decaídos que lutamos por redimir-nos. Há, porém, outros que ainda estão em situação pior porque ignoram essas verdades e, ao ouvi-las, insistem em recusá-las, preferindo fechar os ouvidos à realidade.

            Por todas essas coisas é que emprestamos à educação da criança um valor extraordinário e inestimável. Cabe à mulher que permanece fiel ao Espiritismo Cristão a nobilitante tarefa de preparar hoje, com carinho, dedicação e largueza de vistas, os homens de amanhã. Precisamos todos fazer a boa luta pela recomposição da família dentro dos moldes cristãos, sob a orientação espírita. Só a família bem constituída e bem orientada pode trabalhar com eficiência e êxito pela salvação da Humanidade de amanhã. As mães de família, realmente dignas deste nome, jamais se fecham no egoísmo materno para cuidarem apenas de seus filhos. Sempre encontram meios e modos de fazer algo também pelos filhos alheios. Sabem, sentem o que é a maternidade, o que ela vale, o que significa, e jamais negam a infelizes crianças, nascidas de outros ventres, a esmola da sua caridade moral e material.

            À mulher espírita está, pois, destinado um papel extremamente relevante no mundo atual, na grande obra de reconstrução moral que há de servir de alicerce à Humanidade do futuro.

sábado, 22 de agosto de 2020

Regras de Saúde




Regras de Saúde

André Luiz por Chico Xavier
Reformador (FEB) Novembro 1957

1 - Guarde o coração em paz, à frente de toda as situações e de todas as coisas. Todos os patrimônios da vida pertencem a Deus.

2 - Apoie-se no dever rigorosamente cumprido. Não há equilíbrio físico sem harmonia espiritual.

3 - Cultive o hábito da oração. A prece é luz na defesa do corpo e da alma.

4 - Ocupe o seu tempo disponível com o trabalho proveitoso, sem esquecer o descanso
imprescindível no justo refazimento. A sugestão das trevas chega até nós pela hora vazia.

5 - Estude sempre. A renovação das ideias favorece a evolução do espírito.

6 - Evite a cólera. Enraivecer-se é animalizar-se, caindo nas sombras de baixo nível.

7 - Fuja à maledicência. O lodo agitado atinge a quem o revolve.

8 - Sempre que possível, respire a longos haustos e não olvide o banho diário, ainda que ligeiro. O ar puro é precioso alimento e o banho revigora energias.

9 - Coma pouco. A criatura sensata come para viver, enquanto a criatura imprudente vive para comer.

10 – Use a paciência e o perdão infatigavelmente. Todos nós temos sido caridosamente tolerados pela Bondade Divina, milhões de vezes, e conservar o coração no vinagre da intolerância é provocar a própria queda na morte inútil.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Atitudes essenciais


Atitudes Essenciais
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Setembro 1957

            “Qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim, não pode ser meu discípulo!” -  Jesus em Lucas, 15:27.

            Neste passo do Novo Testamento, encontramos a verdadeira fórmula para o ingresso ao Sublime Discipulado.
            “Qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim, não pode ser meu discípulo!” - afirma-nos o Mestre.
            Duas atitudes fundamentais recomenda-nos o Eterno Benfeitor se nos propomos desfrutar-lhe a intimidade - tomar a cruz redentora de nossos deveres e seguir lhe os passos.
            Muitos acreditam receber nos ombros o madeiro das próprias obrigações, mas fogem ao caminho do Cristo; e muitos pretendem perlustrar o caminho do Cristo, mas recusam o madeiro das obrigações que lhes cabem.
            Os primeiros dizem aceitar o sofrimento, todavia, andam agressivos e desditosos, espalhando desânimo e azedume por onde passam.
            Os segundos creem respirar na senda do Cristo mas abominam a responsabilidade e o serviço aos semelhantes, detendo-se no escárnio e na leviandade, embora saibam interpretar as lições do Evangelho, apregoando-as com arrazoado enternecedor.
            Uns se agarram à lamentação e ao aviltamento das horas.
            Outros se cristalizam na ironia e na ociosidade, menosprezando os dons da vida.
            Não nos esqueçamos, assim; de que é preciso abraçar a cruz das provas indispensáveis à nossa redenção e burilamento, com amor e alegria, marchando no espaço e no tempo, com o verdadeiro espírito cristão de trabalho infatigável no bem, se aspiramos a alcançar a comunhão com o Divino Mestre.
            Não vale apenas sofrer. É preciso aproveitar o sofrimento.
            Nem basta somente crer e mostrar o roteiro da fé. É imprescindível viver cada dia segundo a fé salvadora que nos orienta o caminho.

O perigo de renunciar ao exercício mediúnico



O perigo de renunciar ao exercício mediúnico
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Novembro 1957

            No estudo que vimos fazendo em torno da mediunidade, temos encontrado material digno da atenção de quantos e interessam por tão delicado problema. Um aspecto importante é o que se relaciona com a rebeldia dos médiuns que, sem razões defensáveis,  resolvem negligenciar e até abandonar suas tarefas mediúnicas. São muitas as causas mas, às vezes, pode haver uma origem remota e mais grave que o simples desejo de fugir aos encargos do trabalho mediúnico. No campo de nossas observações, temos notado com frequência a propensão revelada por alguns médiuns rebeldes para abandonar completamente suas obrigações medianímicas, quer estejam em pleno período de desenvolvimento, quer já se julguem desenvolvidos. Geralmente, a rebeldia constitui manifestação de mediunidade mal desenvolvida. Nunca se torna demasiado repetir o perigo que o abandono do exercício mediúnico representa para o médium e, consequentemente, para os que se encontrem sob sua dependência. É preciso compreender que o trabalho mediúnico, em qualquer de suas fases, significa atendimento a compromissos assumidos pelo Espírito antes de reencarnar, mesmo que tais compromissos tenham sido implicitamente aceitos, devem ser respeitados. O médium rebelde assume grande responsabilidade e não pequeno débito, cuja amortização poderá ser penosa e demorada. Não raro, o recalcitrante começa a pagar os juros de sua obstinação aqui mesmo e essa responsabilidade o acompanha depois da desencarnação. É a lei. As vicissitudes têm sua razão de ser, porque não há efeito sem causa. Se o médium insiste em se afastar cada vez mais dos deveres mediúnicos a que deve obediência, verá sua situação se agravar cada vez mais. Quanto menor for sua pressa em retomar às santificantes tarefas da mediunidade, maior será o seu infortúnio.

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            Conhecemos, por experiência, a reação que os médiuns rebeldes oferecem àqueles que procuram, com a mais elogiável das intenções, ampara-los e chamá-los ao reencontro do bom caminho. Insuflados por entidades espirituais não evoluídas, que se valem de suas fraquezas para lhes impor outros rumos, esses médiuns chegam até a evidenciar irritação, maltratando os que querem justamente salvá-los de provações mais amargas, Para eles é sempre recomendável o recurso da prece individual e coletiva. Pode-se ter uma ideia, diante disto, da situação anormal que os médiuns rebeldes criam para si próprios. Às vezes eles se consideram muito inspirados, recusam conselhos e advertências, mostrando-se ofendidos em face de qualquer propósito de proteção. Impõe-se, portanto, uma campanha permanente de reeducação mental, capaz de abrir os olhos dessas infelizes criaturas que têm olhos de ver, mas não veem. Deve-se debater, com pertinácia e riqueza de argumentos e de exemplos, a questão da mediunidade abandonada. A maioria dos fatos ocorre com médiuns desconhecedores da Doutrina e do Evangelho segundo o Espiritismo. Acontece que há entre eles os que se envaidecem do dom que possuem e gostam de ser mimados.  Nem sempre cultivam a humildade que constitui um dos pontos fortes da educação evangélica. Parece-nos bem mais difícil que o abandono das tarefas mediúnicas ocorra com médiuns senhores dos deveres doutrinários e perfeitamente em dia com os ensinamentos evangélicos. Por isto, é mister levar esses ensinamentos aos médiuns incipientes que ainda se encontram no período inicial do desenvolvimento, a fim de que se capacitem de suas responsabilidades espirituais, aprendam a defender-se de influências malsãs e evitem incidir nos erros que têm levado médiuns imprevidente e imprudentes às mais extensas e dolorosas provações.

*

            Quando qualquer médium perceber estar perdendo o interesse pelo serviço mediúnico, deve procurar um mentor de comprovada idoneidade espírita e expor-lhe sua situação, Muitos males poderão ser evitados por essa providência oportuna. Em certos casos, o médium perturbado será aconselhado a frequentar sessões mediúnicas apenas como assistente, não para trabalhar mediunicamente. E somente o fará mediante a assistência de um diretor de sessão comprovadamente possuidor de requisitos doutrinários. Este buscará orientação espiritual, far-lhe-á passes, convocará o Espírito-guia do médium para consolidar o trabalho de recuperação. A vigilância redobrará através de preces, para envolver o Espírito do médium em fluidos benéficos, destinados a protegê-lo contra a ação nefasta dos que o assediam e a despertar sua consciência para a reconquista do rumo de que foi desviado. Todos sabemos a inflexibilidade do carma. Temos dívidas do passado a ressarcir, dívidas que podemos amortizar na encarnação atual, se não desperdiçarmos as oportunidades que se nos apresentam a cada instante. No caso da mediunidade não devemos recusá-la nem cobri-la de censura. Pelo contrário, nosso dever é abençoá-la e fazer tudo quanto pudermos para aprimorar nossa capacidade de bem servi-la. Os resultados serão estupendos. O exercício do mediunismo, realizado com dedicação e fé, humildade e perseverança, entreabre para o médium um mundo novo de felicidade interior. Benditos, pois, aqueles que são médiuns e sabem honrar a sua mediunidade!

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            O médium que se nega a efetuar o serviço mediúnico pode estar influenciado por “cargas fluídicas negativas”, geralmente espessas e depressivas. Entidades espirituais de baixo nível moral contribuem, em certos casos, para afastar os médiuns de seus deveres. Deve-se neutralizar essas “cargas fluídicas” por meio de passes metódicos e preces fervorosas. Quanto maior a saturação fluídica, mais difícil de ser desfeita. Ela origina a “retenção da mediunidade” que representa o acúmulo excessivo de energia nervosa, de energia fluídica, diremos mais apropriadamente, que a falta do exercício mediúnico transforma num elemento prejudicial ao médium. Torna-se preciso, portanto, que este não deserte de suas obrigações e seja assíduo aos exercícios da mediunidade. Trabalhando mediunicamente, descarregará a Energia nervosa excessiva e essa descarga realizada em serviços benéficos, lhe trará bem-estar. Portanto, o médium deve trabalhar, deve permanecer atento aos deveres mediúnicos, não apenas em seu próprio benefício mas para contribuir em favor dos serviços de caridade e assistência. Não estamos fantasiando. A mediunidade está para a criatura como o salva-vidas para o náufrago perdido na imensidade oceânica. Se este, confiado em sua habilidade natatória, desfaz-se do salva-vidas, dentro em pouco, dominado pela fadiga, será envolvido pelas vagas e levado irremissivelmente ao soçobro. O médium somente deve suspender o trabalho mediúnico por fadiga ou doença. Geralmente, nestes casos, a situação se resolve naturalmente seja por intuição de seu Espírito-guia, seja pela compreensão clara e pacífica da necessidade do repouso. O que não se torna aconselhável é a suspensão do exercício da mediunidade por motivos frívolos ou de natureza incompatível com as determinações da Doutrina.

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            Quase sempre o médium portador de saturação fluídica negativa (assim denominamos o estado fluídico depressivo, para maior facilidade do nosso raciocínio) se nega ao trabalho mediúnico sem razão ponderável e repele qualquer auxílio assistencial dos companheiros mais esclarecidos. Não aceita conselho e se considera absolutamente certo o que diz e faz. Sem o perceber, vai abrindo caminho para a obsessão, tornando infrutíferos os esforços para salvá-lo. Para os médiuns rebeldes, recalcitrantes, o recurso recomendável é ainda o serviço mediúnico em sessão, fortalecido pela assistência evangélica, além de passes adequados a cada situação, pois, embora a aparência não o demonstre, nem sempre os rebeldes possuem características idênticas. O problema do abandono do trabalho mediúnico é sério. A rebeldia, no entanto, é rara naqueles que se escudam no estudo e na prática da Doutrina e de “0 Evangelho segundo o Espiritismo”. O médium amparado pela consciência que tem de seus deveres mediúnicos, com plena noção das obrigações doutrinárias, não se vê perturbado por influências malignas. Isso acontece com os imprevidentes, que trocam a humildade pela vaidade. Quanto mais a criatura se evangeliza no Espiritismo, quanto mais permanece fiel aos ensinamentos da Doutrina, mais forte se sente para cumprir os compromissos assumidos espiritualmente. Eis porque recomendamos ao médium se esforce sempre no seu próprio burilamento, estudando também, como também exemplificando, “0 Livro do Espíritos”, “O Livro do Médiuns”, “O Evangelho segundo o Espiritismo” e igualmente “Os Quatro Evangelhos” onde se encontra inavaliável riqueza de ensinamentos acerca do Espiritismo Cristão.

*

            O médium que não estuda nem aplica as lições doutrinárias e evangélicas é como  um barco que voga ao sabor dos ventos. Precisa, portanto, estudar sempre, pois no estudo aumentará seus recursos para conquistar o seu bem-estar espiritual e melhor se defender das descargas fluídicas negativas, principalmente de entidades que, por não conhecerem ainda a beleza da Justiça Divina, perseveram no erro.

            Avante, pois, médiuns!

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Pregar pelo exemplo




Pregar pelo exemplo
Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Outubro 1957

            Melhor que a cultura intelectual é a cultura do sentimento. Ninguém compreenderá verdadeiramente o sentido humano do Cristianismo sem cultivar profundamente o sentimento cuja linguagem fala diretamente a todos os corações e se expande sem as limitações forçadas pela diferenciação de idiomas. Pode alguém ser exímio na citação dos princípios evangélicos, mas esse conhecimento de nada valerá sem a exemplificação correspondente. O difícil não é aprender ou decorar textos, mas po-los em execução prática, demonstrar pelo exemplo que o aprendizado penetrou realmente o fundo da alma e a transformou. Nenhuma ideia terá vida sem que inspire o ato que lhe dará a desejada objetividade. O mesmo acontece no Espiritismo. Que valerá escrever e falar muito sobre os ensinamentos de Jesus no Evangelho, sobre as lições de Kardec, sobre os esclarecimentos de Roustaing, se continuarmos fechados ao exemplo, alheios à prática daquilo que recomendamos pela palavra escrita e pela palavra falada? O mundo anda cheio de pregadores inúteis, de homens que aconselham os demais a seguirem as pegadas do Cristo mas que permanecem, eles mesmos, à margem da estrada, contentes pelos aplausos que recebem por haverem escrito um belo artigo ou por haverem feito uma dissertação bonita e até comovente.

*

            Nós, os espíritas, temos grande responsabilidade pelo que dizemos e escrevemos. Se agimos somente em função da vaidade estéril, que nos leva a proceder assim para angariar elogiosas referências, estamos perdendo a nossa encarnação e sofreremos no futuro as consequências da incompreensão daquilo que procuramos ensinar, mas que, verdadeiramente, não aprendemos ainda, porquanto não alcançamos o limiar da exemplificação. Se escrevemos ou falamos empenhados sinceramente em orientar os nossos semelhantes, não devemos nem podemos esquecer que somente o exemplo dará autoridade ao nosso trabalho em prol da difusão da Doutrina espírita e dos princípios evangélicos. Ou faremos assim ou estaremos dando pública demonstração de hipocrisia, de traição a nós mesmos, seguindo o mesmo caminho de pregadores de outras religiões, que adotam o lema – “faze o que eu digo e não o que eu faço”.

            É muito comum a intromissão de indivíduos amantes de novidades nos diferentes meios religiosos. Vão para um e depois de algum tempo procuram ingressar em outro, onde permanecem realizando o que pode haver de mais superficial e inócuo. Se algo os aborrece, desertam e aderem a outro movimento e prestam culto à novidade, buscando conhecer o máximo dentro do mínimo tempo, para se apresentarem com algum cabedal de leituras ante os profitentes da religião por eles recém-adotada. Isso tem acontecido sempre, de modo que o Espiritismo não poderia escapar a essa invasão lamentável. Aqueles que possuem legítimo sentimento espírita e que estão perfeitamente senhores das verdades doutrinárias, têm o dever de fazer frente a essa invasão, opondo ao intelectualismo supérfluo a força persuasiva da exemplificação. Pregar e fazer; dizer e realizar; aconselhar e seguir. O verdadeiro espírita é aquele que, fiel às lições de Kardec, fortalece-as com o espírito evangélico e prega-as pelo exemplo. Falar e escrever é fácil; exemplificar, porém, é muito difícil, mas, na realidade, é a única maneira positiva de demonstrar o verdadeiro Espiritismo, o Espiritismo cristão, o Espiritismo que ajuda, que ampara, que estimula, que orienta, que guia, que salva!

Saúde da alma


Saúde da Alma

Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Setembro 1957

            Você, que é espírita, como todos nós, já se deteve alguns instantes para meditar sobre o extraordinário poder do pensamento? Já analisou alguma vez o alcance prodigioso de uma ideia boa emitida em favor de um doente? Já procurou examinar a ligação forte que o pensamento estabelece entre os homens? Se ainda não se lembrou de o fazer, experimente-o na primeira oportunidade. Logo após o despertar, ponha--se em condições de absoluta relaxação física e mental. Depois, eleve seu pensamento numa prece simples mas profunda. Comece por fazer uma mensagem silenciosa a toda a Humanidade, mentalizando o amor, a paz e a compreensão entre os homens. Em seguida, permaneça quieto, dentro de si mesmo, de olhos cerrados, mas sem abandonar a posição de tranquila calma adotada inicialmente.

            Permaneça assim algum tempo. Em seguida, fixe um programa de trabalho para o dia que o espera. Predisponha-se a agasalha ideias sãs, a cultivar gestos fraternos, a estimular a tolerância esclarecida, a renúncia construtiva e a cooperação fecunda. Quando se sentir plenamente senhor desses pensamentos, forme ideias-matrizes de saúde, cooperação e paz. Descanse em silêncio durante mais alguns minutos, realize depois outra prece muda e, então, interrompa a ligeira sessão meditativa. Verá como, durante o dia, as ideias-matrizes se subdividirão em outras ideias da mesma natureza, facilitando suas tarefas cotidianas. E não há nada de novo nisto.

            Amparados pelo Evangelho, fortalecidos pela Doutrina, devemos enfrentar corajosamente a vida, enfeitando-a o mais possível com o otimismo, que é uma forma reveladora da saúde da alma.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A Luz do Caminho



A Luz do Caminho

por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Setembro 1957

            O Espiritismo não é uma religião de fantasia nem se apraz em festas de caráter mundano, porque sua finalidade é esclarecer, educar e reformar a criatura humana, dando-lhe elementos para alcançar a felicidade, sem se esquecer de que, na vida terrena, tudo está mais ou menos subordinado à lei de relatividade. Se os espíritas não forem práticos e objetivos no trato com as criaturas que os cercam, podem ficar certos de que não são Integralmente espíritas. Espiritismo é Jesus livre de fantasias e preconceitos. Espiritismo é o caminho da redenção espiritual através do Evangelho. Espiritismo é a iluminação que se opera dentro de cada um de nós, abrindo novos horizontes para a nossa alma. Se não possuirmos forças para realizar a própria reforma, não seremos jamais colaboradores na obra de reforma dos nossos semelhantes. Por isto, antes de policiarmos os atos alheios, policiemos os nossos. Sejamos rigorosos com que pensamos e fazemos, porque estaremos mais perto da verdade espírita e do pensamento de Jesus.

            A função do Espiritismo no mundo é propagar e realizar o Cristianismo em Cristo. “Evolução, ressurreição, ascensão, pelo desejo, pelo amor e pelo esforço dirigido para o alto, tal, pois, a doutrina espiritual de Jesus-Cristo”, diz o Padre Alta em “O Cristianismo do Cristo e dos seus vigários”. O Espiritismo veio restabelecer o verdadeiro Cristianismo no mundo. Basta que se atente para a Doutrina que Kardec codificou, reunindo mensagens captadas do mundo invisível.

            Ao contrário do que muitos leigos o supõem, o Espiritismo é uma religião de vida, alegria, amor, fraternidade perene. Não é uma religião de conformismo suicida, mas de conformação consciente em face apenas do que é irremediável. Os espíritas não conservam Jesus pregado à cruz, mas o apresentam resplendente de glória, ensinando à Humanidade que Ele é Caminho, Verdade, Vida. O pieguismo não tem pousada no Espiritismo que é doutrina de trabalho intenso, de atividade fecunda, de ação esclarecida. O Espiritismo é otimista e construtivo. Age e reage, expande-se e se aprofunda, buscando alargar cada vez mais o âmbito de suas tarefas regeneradoras. Os espíritas não perdem tempo em lutas estéreis, porque estão e devem estar sempre empenhados na boa luta, que é a divulgação  e o ensino da Doutrina e a exemplificação da moral espírita.

            O Espiritismo prega a humildade consciente mas não o servilismo aniquilante. Faz o homem compreender que ser humilde não é ser passivo nem indiferente à defesa de princípios que sua Doutrina expõe, defende e explica. Ninguém foi mais humilde do que Jesus. Todavia, quando se tornou preciso revelar energia eis que Ele revela toda a pujança de seu Espírito e expulsa do Templo os mercadores que profanavam lugar santo. Hoje, o número de mercadores cresceu, a simonia (compra ou venda ilícita de coisas espirituais (como indulgências e sacramentos) ou temporais ligadas às espirituais (como os benefícios eclesiásticos)) agigantou-se, mas permanece puro o Cristianismo do Cristo que o Espiritismo herdou e prega, sem apego a liturgias nem sujeito a exclusivismos sacerdotais.

            A única arma do Espiritismo é a prece e os seus combates são os combates do bem pelo bem e para o bem, porque só a multiplicação do bem reduzirá o mal e acabará por extingui-lo. O Espiritismo não catequiza: instrui; não dogmatiza: esclarece; não persegue: orienta; não odeia: ampara; não desajuda: colabora; não deblatera: ora; não se vinga: perdoa: não mostra ressentimento: ama. Em todos os seus atos há amor, trabalho, dedicação, abnegação, fraternidade e renúncia.

            O Espiritismo respeita todas as demais religiões, porém realiza o seu trabalho somente com o pensamento voltado para Jesus, através das lições luminosas do Evangelho segundo o Espiritismo, que é a Luz do Caminho. O Espiritismo não repele a Ciência, pois é também Ciência e se nutre dos progressos científicos que enriquecem o patrimônio da Humanidade. O Espiritismo não desdenha da Filosofia, porque é também Filosofia e realiza pela via dos conhecimentos filosóficos o consórcio com a Religião porque á a Religião do Cristo!

            Ser espírita não é tão fácil quanto parece. Mas aquele que consegue iluminar-se, vive num mundo feliz porque ama e sabe que o amor sabe que o amor suaviza todas as agruras, adoça todas as amarguras, desfaz todas as arestas, encurta os caminhos mais longos e ásperos. O Espiritismo oferece às criaturas humanas a paz que elas têm procurado em vão. Explica-lhes muitas coisas que sempre foram tidas como misteriosas e indevassáveis aos que têm olhos para ver e não veem; aos que se deixaram vendar pelos dogmas que exigem a fé com o sacrifício da inteligência e da razão.

            Se você, leitor, é um adepto novo do Espiritismo, prossiga no rumo que adotou, porque é o certo, estudando e pondo em prática, no dia a dia da vida, as lições aprendidas. Verá como o mundo lhe parecerá melhor e o futuro se lhe apresentará desde então, como uma promessa indescritível de esperança e tranquilidade. Se, no entanto, você não é espírita e está lendo estas linhas por mera curiosidade, aproveite melhor seu esforço: medite acerca de cada uma das verdades secundárias, adquirindo forças para alcançar, mais tarde, a Grande Verdade que a Doutrina Espírita possibilita, quando estudada com atenção e imparcialidade. O Espiritismo não é uma posição de fé: uma vez compreendido, torna-se uma afirmativa de confiança no amanhã, pela segurança que dá à alma, pela certeza que oferece ao ser humano de ir ao encontro da felicidade, pela compreensão da Vida, pelo conhecimento da razão de ser de muitos problemas humanos que nenhuma religião, antes do Espiritismo conseguiu resolver! Insista em sua leitura e transforme-a num estudo cuidadoso. Leia sempre mais um pouco. Procure conhecer as obras fundamentais do Espiritismo e o que elas contêm de valioso. O Espiritismo não tem mistérios nem milagres. Algum dia, amigo, você encontrará pelo menos a oportunidade de comprovar os benefícios que a Doutrina Espírita trará para a sua formação e espiritual ou para a sua reforma íntima, conforme o caso. O Espiritismo não ilude ninguém. Ensina que a felicidade do homem tem de ser obra do próprio homem, que terá de retificar sua orientação na vida, pautando-a em normas evangélicas, segundo os ensinamentos codificados por Allan Kardec.

            A revelação cristã havia sucedido à revelação moisaica; a revelação dos Espíritos vem completá-las. Isto anunciou o Cristo e podemos acrescentar que ele próprio preside a esse novo surto de pensamento”: E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para, que fique eternamente convosco o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê nem o conhece." (João XVI, 16, 17.)