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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

10. "À Luz da Razão" por Fran Muniz




10
“À Luz da Razão”

por   Fran Muniz

Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 - Rio
1924


A CONFISSÃO



            Estudemos agora o preceito da Confissão. Mas, como é de boa escolástica que uma definição preceda sempre a matéria em estudo, dessa parte nos desobrigamos, com pobreza de imaginação embora, definindo a confissão com compará-la a uma mina aurífera (hoje já quase esgotada) que abarrotou de riquezas as arcas da Igreja Católica.

            Dir-se-á, talvez, que nada se paga pela confissão, o que, aliás, não é caro se, como afirma a igreja, ela é o veículo da salvação: no entanto, a demonstração que vai seguir provará o contrario e, mais uma vez se confirma o proverbio: “As aparências iludem.”

            A Confissão foi instituída muito depois da era de Cristo, em concílios organizados pelos maiores talentos da época. As sutilezas que revestem tal dogma denunciam, evidentemente, a refinada astúcia de seus organizadores. Em se declarar que “denunciam evidentemente” vai muita força de expressão, pois é certo que a humanidade, na sua grande maioria, deixou-se ficar até hoje intrujada pelo disfarce, sem poder penetrar-lhe o sentido oculto.

            A igreja adaptou mais esse preceito, porque João Batista disse:

            “Confessai vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros para que sejais salvos.”

            Convém notar que o batismo de João era precedido da confissão em público e em altas vozes para que fosse provocado o sentimento de humildade. Isso tinha por mira evitar que os homens cometessem outras faltas a fim de não serem forçados a confessa-las em público, o que acarretaria o opróbrio e a reprovação ao culpado. Por isso o Precursor ensinou que “se confessassem uns aos outros”.

            Daí para que se confessassem somente aos padres existe uma diferença colossal como a que há entre um papa e um cristão.

            Não obstante, a igreja resolveu tomar a si a exclusiva autoridade de Confessar e viu-se seriamente embaraçada para se arrogar tal direito. “Mas, com o concurso dos intérpretes e santos padres, foi traduzido que “uns aos outros” foi dito para suavizar a prática do preceito da confissão. Assim entendeu um dos mais abalizados expositores lembrando que o padre  também é um homem como os outros (o grifo é nosso) se bem que pelo caráter sacerdotal está acima do leigo e, portanto, só ao padre se deve a gente confessar, pois ele tem o poder de perdoar" (1)

            (1) Goffiné - Man. do Cristão, pago 499.

            Como se vê, a coisa pegou e, assim, a igreja substituindo o sentido de mais uma lição evangélica, a seu bel-prazer e em beneficio próprio, estabeleceu também um regulamento para os confessandos, de cujos deveres, damos aqui somente a parte mais interessante:

            “Marido e mulher: São obrigados a confessar ao padre se tem faltado à fidelidade e amor conjugal e mais deveres que se obrigam pelo sacramento do Matrimônio. Se vivem separados e qual a causa. Se tiveram ciúmes e formaram juízo temerário um do outro, sem fundamento. Se se maltratam de palavras e conservam má vontade um ao outro. etc. etc.” (1)

            (1) Obr. cit. pág. 80.


            Estas obrigações foram impostas pelo Concílio Tridentino, visto que, continua o autor citado. “Deus em sua infinita misericórdia aprouve entregar à Igreja as chaves do Céu, portanto, todos os pecados confessados ao sacerdote, serão por ele perdoados pelo poder das chaves. (2)

            (2) Obr. cit. pág. 211.

            Não percamos mais tempo com esta presunção tola, deixando, ao leitor, o livre arbítrio de refletir sobre esses deveres de confissão, impostos a marido e mulher. Certamente não haverá ninguém de bom senso que admiti-la uma mulher casada revelar ao padre, tais particularidades intimas. E, ainda que, por absurdo, se tolerasse isso, quais os conselhos e consolações que essa mulher poderia receber a sós com um homem, num recanto de um templo?

            Dir-se-á, talvez, que há muitas mulheres virtuosas. do mesmo modo que muitos sacerdotes honrados, e com isso concordamos; no entanto, também se não pode negar haver grande número de confessores hipócritas que vivem de mãos ao peito, olhos languidos no Céu, enquanto todo o pensamento se enlameia na corrupção. Além disso, “a carne é fraca.”

            A convivência produz a simpatia, e esta, muitas vezes não resiste aos perigos e manhas do lobo esfaimado. Assim, o mais acertado será evitar semelhantes preceitos que, além de inúteis, são indecentes. Lembremo-nos do adagio: “Antes prevenir do que remediar.”

            Presentemente este dogma se acha em franca decadência, como acontece a tudo que não é firmado sobre bases sólidas. Antigamente, porém, quando a barbárie desenfreada imperava em toda a sua pujança entre um povo inculto e debochado, foi que a Confissão fez a sua época, atingindo satisfatoriamente o fim para o qual fora organizada.

            Para melhor aprecia-la volvamo-nos, por alguns momentos, a esse passado conduzidos pelo excelente trabalho “Fragmentos das Memórias do Padre Germano” e observemos atentamente o que se realizava na tétrica solidão de um templo em cujo confessionário se vê uma mulher de alta linhagem e ainda de mais alta fortuna.

            Ouçamos o que ela diz:

            - Padre, só vós me podereis salvar!

            - Pronto estou para vos ser útil, filha, fale..

            - A maledicência, meu bom padre, a ninguém poupa e eu apesar de ser a marquesa de B .. temo também me tornar uma de suas vítimas, arrastando, assim, a honra de uma nobre família para o lodaçal da vergonha.


            - Que vos aconteceu, então, filha? Sede franca! Bem sabeis que sou um ministro de Deus e, como tal, posso perdoar os vossos pecados, se os tendes: confessa e pois, sem escrúpulos, as vossas faltas.

            - Bem o sei. meu padre, e ser-vos-ei franca. Trata-se de minha filha, cuja beleza rara tem provocado a admiração da sociedade. Esta inocente, cedendo às fraquezas naturais de sua idade, deixou-se seduzir pelas falsas promessas de um nobre mancebo e, como era de prever, a consequência não se fez esperar. É preciso, pois, abafar a voz do fruto desse amor ilícito, pelo seu desaparecimento imediato e para desagravo da justa cólera de Deus, sepultar-se-á esse bastardo em um dos sítios de minha propriedade, onde se levantará um vistoso templo com o capital que a casa bancaria do marques, porá à disposição da igreja. Assim, serão feitas muitas orações a Deus, pelos fieis que lá se reunirão, sem contar ainda as grandes vantagens que daí advirão em benefício da crença. Desse modo acredito atenuar a cólera de Deus para esta pequenina falta cometida.

            Deixemos de ouvir a resolução desse sacerdote, se aceita ou repele a tentadora proposta e entremos neste outro templo.

            Que vemos agora aqui? Ainda uma mulher genuflexa ante o confessionário.
Ouçamo-la:

            - Padre, como sabeis, sou a duquesa de C. e esse título é acatado com o maior respeito, porque se patenteia nele o brasão de uma das maiores nobrezas do reino; e para que se conserve imaculada a honra do meu ducado é que recorro ao vosso imprescindível auxilio.

            - Dizei, pois, filha, em que vos posso ser útil e, inspirado como sou pelas graças do Senhor, poderei dar-vos todo o conforto de que necessitais.

            -  Ainda bem que posso merecer o vosso prestígio, meu bom padre.

            - Deveis dar graças a Deus, filha.

            - Padre, fraquezas cometidas irrefletidamente, nos meus últimos dias de solteira. tiveram por consequência o nascimento de minha filha de quem meu marido, que não tem o menor vislumbre de suspeita, julga ser pai. É precisamente essa confiança cega que ele em mim dedica, que me faz morrer de vergonha, perseguida a todo momento pelo remorso e tendo sempre diante de mim - ela como a prova do meu crime e - ele como a vítima da minha irreflexão. Para cessar o meu acerbo sofrimento, só tenho um meio que julgo eficaz: encerrei-a numa comunidade religiosa. Deixo-vos, pois, meu padre, a tarefa de convence-la de que deve professar, dedicando-se somente a Deus, e aqui tendes os documentos legalizados, com os quais a Religião receberá, em ouro e bens, a parte que, de fato, representa o dote real de minha filha.


            Ainda desta vez não procuremos saber qual a atitude deste padre ante tão miserável ação proposta e visitemos, ainda, mais uma casa de Deus.

            Agora, vemos um homem vestido de ouro e arminhos, que se aproxima do confessor. É o conde de F..

            - Padre, é bem certo que sou um desgraçado, apesar da fabulosa soma de ouro que possuo! ...

            - Que dizeis, filho? Não vos deveis julgar um desgraçado, pois que sois católico, e tão somente aos que o são é que Deus abençoa e reserva o reino da Glória.

            - Contudo, padre, julgo que Deus de mim se esquece e sem o vosso perdão para os meus crimes, creio que enlouqueço nas garras do remorso.

            - Contai-me, pois, os vossos pecados, filho, e eu vos prometo perdoar com a graça de Deus.

            - Assim o espero, padre. Oxalá que a misericórdia divina se estenda sobre mim, em recompensa do segredo que vos vou confiar.

            - Sabeis, padre, que enviuvei há dois meses, pois bem, a morte de minha mulher foi prematura ...

            - Como prematura, filho? Explicai-vos.

            - Sim, padre, uma paixão fatal que senti por uma outra mulher a quem desejava unir-me pelo matrimônio, exigia a supressão de minha esposa e fui forçado a ... envenena-la. Oh! Maldita acusação, até aqui me persegues! ... Ouvistes. padre?

            - Que, filho, estás louco?

            - Não, padre, não estou ainda. É a voz dela! Ouço-a: Assassino! Assassino! ... É sempre assim e em toda a parte, esse mesmo grito, desde aquele horrível dia!

            - Padre. orai! Pedi a Deus que afaste de mim esta perseguidora sombra que não me deixa um instante sozinho. Ouviste, agora, padre! Os seus brados de acusação são punhais que me atravessam! Piedade, padre! E para que Deus vos ouça, aqui tendes neste pergaminho, a doação do meu castelo de São Bernardo que, adicionado aos bens da religião, poderá servir de excelente mosteiro para as orações de uma nova comunidade, e mais o seu valor equivalente em ouro que será entregue para a sua instalação.  

            E basta para prova dos exemplos que necessitamos, ou teríamos de passar toda uma existência assistindo, sempre a mesma coisa, variando apenas de formas.

            Retrocedamos agora aos nossos dias que, apesar de tudo, são mais felizes do que esses tempos de crimes e atrocidades praticados por um povo ignorante que supunha obter o perdão de Deus, por intermédio da igreja e mediante uma certa soma de dinheiro mais ou menos avultada, segundo a gravidade do delito.

            Agora que respiramos uma atmosfera mais pura, longe daquele miasma pestilento de outrora, raciocinemos:

            Eis para que serviu a confissão e para que serviria ainda hoje, se uma Nova Luz bendita não nos viesse clarear a inteligência, mostrando-nos o verdadeiro e infinito valor de Deus e ensinando-nos porque estamos na Terra, o modo pelo qual nele devemos cumprir o nosso dever.

            Vimos como, pela confissão, se formaram os grandes capitais do Catolicismo, cujo patrimônio constitui a garantia da faustosa opulência que vem ostentando até hoje, em detrimento de quantos se julgavam quites das desobediências às leis de Deus, desde que resgatassem os seus crimes a peso de ouro oferecido à Religião.

            Assim é que se considerava coisa de somenos importância a eliminação dum ser humano, desde que o Criador fosse indenizado com uma casa de orações edificada sobre a sepultura da vítima e tendo por alicerce e argamassa os ossos e o sangue de um inocente.

            De outro lado, uma torpe e asquerosa criatura, cujo coração foi indigno de abrigar o sentimento puríssimo amor de mãe, ciosa em extremo da posição que desfrutava na sociedade, na qual lhe embaraçava a presença da prova de sua desonestidade, atirava num claustro (x), nessa antecâmara da morte, a sua própria filha, carne da sua carne e sangue do seu sangue.

            (x) Do Blog – Sugerimos a leitura do livro “O Claustro” de Manoel Aron, que desenvolve este tema com maestria. Originariamente editado pela FEB, mereceu reedição por terceiros.

            Não lhe tocava o âmago da consciência o menor vislumbre de piedade por aquele ente, miseravelmente roubado ao mundo, ao qual viera para fins muito diversos: não compreendia que aquele rebento teria de amar a um outro ser a quem se deveria unir, pois para isso criou Deus o homem e a mulher, e que dessa união brotariam, naturalmente, outros rebentos, aos quais, ambos ensinariam os primeiros passos e depois a amar a Deus, cumprindo as suas leis, para, de futuro, não merecerem o epiteto equivalente ao de “mãe desnaturada”.

            Ignorava essa mulher, como muitos ainda hoje ignoram, que a vida em comunidades religiosas é um atentado às leis da natureza, porque as criaturas vem ao mundo para amar, trabalhar, instruir-se, progredir enfim, gozando a liberdade da natureza que Deus nos concedeu e não para viverem encerradas em mosteiros, numa contemplação beatifica, longe dos prazeres da vida.

            Se assim fora, Deus, em vez de nos presentear com as miríades de maravilhas que constituem o planeta Terra, teria feito dele um enorme convento rodeado de janelas com grades de ferro e cercado de formidável muralha.

            Aí, então, internaria toda a humanidade de mãos postas, a balbuciar intérminas orações e a desfiar rosários, atravessando assim toda a existência para merecer o reino do Céu.

            Continuando a nossa ponderação, temos ainda de nos ocupar daquele ignorante que. para saciar um estúpido desejo material, não trepidou em assassinar a própria esposa que, certamente, estava muito longe de esperar tão covarde traição.

            A consequência, porém, dessa audaciosa afronta aos desígnios do Criador, não era somente o remorso que o perseguia, nem a voz do espírito da infeliz esposa que lhe relembrava, a cada passo, a monstruosidade do seu crime; aquilo nada era diante da tremenda expiação que teve de experimentar quando deixou a matéria a fim de pagar todos os seus erros, “até o último centil”, e, se a sua nobreza e a sua fortuna lhe não puderam servir para aplacar a angústia da sua desgraçada situação, muito menos ainda serviria para subornar Deus.

            A custa de ouro, talvez lhe tivesse sido fácil alcançar o perdão do sacerdote que é um homem falível, com as mesmas necessidades físicas, morais e intelectuais de qualquer outro; mas em relação a Deus, continuou insolvente. Fatos idênticos aos que acabam de ser aqui exemplificados, são frequentes na história da religião e só os ignoram aqueles que adotem uma crença simplesmente pelo fato de verem os outros adota-la.

            O excelente livro Fragmentos das memórias do Padre Germano, atesta ainda inúmeros casos em que as mais hediondas barbaridades e não menos debochadas corrupções eram praticadas pelos que se achavam convencidos de encontrar o imediato resgate dos seus crimes à sombra da igreja de Roma.

            Esta por sua vez, ignorando os verdadeiros atributos do Criador, prestava-se, consciente ou inconscientemente, a alimentar a esperança da falsa credulidade com promessas de perdão, quando os próprios prometedores são deles os mais necessitados.

            Eis, afinal, as consequências da confissão que, para satisfazer a ganancia que teve por escopo, serviu ao mesmo tempo de incentivo ao cometimento de crimes, visto supor-se que a confissão após o delito, tirava o efeito deste.

            Os sacerdotes, tornando-se- responsáveis diretos por todos aqueles erros, praticavam o, a seu turno, crimes sobre crimes, imbuídos da falsa convicção de se ombrearem com Deus, Único que pode julgar e perdoar.

            Infelizes vítimas do orgulho e da ambição.



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Casimiro Cunha em nós... (3)



'Por mais negra seja a hora,
Continua calmo e crente.
Não há guerra ou tempestade
Que durem eternamente.'

Casimiro Cunha
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Setembro 1946




Casimiro Cunha em nós...(2)



 ‘Cuidado, se peregrinas
A beber e pandegar.
O copo afoga mais gente
Que toda a extensão do mar.'





Casimiro Cunha
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Setembro 1946



Casimiro Cunha em nós...




‘Entre um monte de ouro puro
E meio quilo de pão
A fome, que é verdadeira
Não padece indecisão.’


Casimiro Cunha
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Setembro 1946




O Testamento de Fred Fígner



O Meu Testamento
por Fred Figner
Reformador (FEB) Setembro 1946

            Ninguém mais do que eu foi bafejado pela Divina Misericórdia, e, devido às inúmeras graças que recebi do Senhor, às vezes, meditando sobre o futuro, fico em dúvida se as minhas ações durante esta trajetória, de 80 anos, têm correspondido às graças recebidas. Conheço os meus defeitos e fraquezas e tenho procurado dar-lhes combate. De uma coisa me convenci: se algo fiz de bom ou que preste, durante os 46 anos de conversão espírita, nunca foi resultante do meu valor, mas, sim, tão somente da Misericórdia do Alto que jamais me faltou. Cheguei, pois, à conclusão de que nada valemos e nada temos de nosso. Tudo nos vem como Jesus disse: de acréscimo e por misericórdia.

            Lembro-me de que um dia, durante os 28 anos que dei passes diariamente na Federação - e não o digo para me vangloriar disso - eu não me sentia indisposto a comparecer lá, parecia-me não estar passando bem; então pedi ao Quintão, que trabalhava comigo, perguntasse ao Dr. Bezerra se podia deixar de comparecer e dele veio a seguinte resposta: "Tu nada tens de teu para dar, pede a quem tudo pode e ser-te-á dado de acréscimo. Vai cumprir com o teu dever." Eu fui, e voltei outro. Foi esta explicação simples do Dr. Bezerra que me convenceu de que eu não passava de inútil instrumento a quem Jesus concedeu a esmola de em Seu Santo nome algo fazer aqui.

            Assim também comecei a dedicar-me à cura de obsedados, formando um grupo na Federação, além de um outro já existente em minha casa. Apareciam, entre os que iam tomar passes, tantos franciscanos que achei do meu dever procurar curá-los, o que, aliás, aprendi com Pedro Richard no Grupo de Assistência da Federação. Os doentes foram aparecendo em tal quantidade, que comecei a duplicar as sessões e, assim, cheguei a presidir 6 sessões por semana, em quase todas elas com outros médiuns. Acabei esgotando-me e os meus guias me aconselharam a descansar. 

            Presentemente, no decorrer deste ano, pouco tenho ido, devido às ameaças de angina e edema pulmonar.

            As curas, a meu ver, constituem excelente propaganda da Doutrina.
           
            A conselho de um amigo, no fim do ano de 1944, comecei a guardar os papéis em que tomo nota dos nomes e endereços dos doentes obsidiados e bêbedos, pelos quais me pedem trabalhos. São de doentes residentes desde o Acre até o Rio Grande do Sul. Só no ano passado, tratei de 302 casos e, destes, tenho a correspondência guardada, como prova de terem sido curados uns 80%. O restante, não sei, porque não responderam às minhas cartas nem reclamaram de novo.

            Escrevo isto como paradigma de fé e perseverança, para que outros façam o mesmo, no campo fértil da Doutrina, o que é possível.

            Quase todos os bêbedos são influenciados por espíritos viciados na bebida, os quais se encostam nos médiuns e agem como vampiros, sugando o álcool através da sua vítima. Outras vezes é um ato de vingança, como se verificou com um senhor que foi Secretário de Legação em Haia. Logo que deflagrou a guerra, ele voltou ao Rio. Um dia, uma velhinha, sua mãe, me procurou na loja, dizendo: "Sr. Fígner, o senhor, lá em S. Paulo, tem fama de curar. O meu filho, há três anos e meio, vem se embriagando todos os dias. Atualmente ele está comigo em S. Paulo, com 6 meses de licença, a qual esta prestes a terminar. Se ele voltar neste estado, estará desgraçado," "Minha senhora - respondi - quem cura é Deus, e, se Deus quiser, o seu filho ficará curado .. " Na mesma noite pedi ao Guia se era possível a cura, e ele respondeu: "Vamos trabalhar por ele". Manifestou-se um Espírito que se vingava por um ato praticado pela sua atual vitima, em anterior encarnação. Doutrinado o obsessor, estabeleceu-se prontamente a cura e nunca mais o hoje Ministro A. G. B. ingeriu uma gota de álcool. E ele mesmo confessa a sua cura, graças a Deus.

            Assim, centenas de casos tenho tratado com grande êxito. É  preciso, porém, muita paciência com os Espíritos, porque em muitos casos eles até ignoram o seu estado no mundo espiritual. Muitas vezes parecem ter sido doutrinados, mas voltam, com saudade, à procura dos comparsas e amigos que lhes oferecem o ensejo de saciar lhes a sede de álcool. Porém, com paciência, humildade e oração, finalmente se encaminham na senda do progresso. Contudo, para melhor êxito dos trabalhos de doutrinação, é aconselhável a formação de pequenos grupos, compostos de um médium ou dois, um diretor--doutrinador e mais um ou dois companheiros para ajudarem na concentração, todos sem curiosidade, mas com o desejo único de servir a Jesus. Ficando bem homogêneo o grupo, o resultado será bem satisfatório. O trabalho maior é sempre produzido pelos Espíritos amigos que melhor do que nós sabem como tocar o coração dos obsessores ou sofredores. Nunca me fiei em mim e, quando uma vez me esqueci do Alto, uma senhora possessa me ferrou os dentes, fazendo sangrar-me o braço, através da manga do paletó e da camisa. lsto não foi em sessão, mas na própria casa da doente. Nunca deixei que os obsidiados viessem às minhas sessões.

            Estou fazendo o meu testamento e quero que os novos espíritas façam o mesmo. Esqueçam-se de si e dos seus, quando isso for preciso, certos de que Jesus suprirá o necessário quando nos dedicarmos com amor ao seu serviço.

            O crente deve demonstrar com atos a sua fé. Não basta só crer para si, é preciso demonstrá-lo ao mundo. Nunca me esqueci da advertência do meu amigo Dr. Bittencourt Sampaio, feita à minha pessoa por intermédio do médium Frederico Pereira da Silva Júnior: "Fígner, não vás a parte alguma sem deixares Iá o rastro da tua passagem." Tenho com coragem seguido este conselho do amigo que mais de uma vez me deu a prova da sua amizade. Façam o mesmo todos os espíritas. É preciso confessemos o Cristo com os nossos atos.       

            Que me perdoem, se excedi-me em conselhos, que todos devem estar fartos de conhecer e praticar. 




A Incoerência da Trindade



A incoerência
da Trindade

por Paulo Alves Godoy
Reformador (FEB)  Setembro 1946


“... a doutrina que ensino não é minha, mas daquele que me enviou.
Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se
ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.

Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória,
mas o que busca a glória daquele que o enviou,
esse é verdadeiro, e não há nele injustiça."
João, Cap. VII, v. 16-18.



            Ninguém poderá enviar-se a si próprio. Se o Cristo fosse o próprio Deus, conforme a Igreja de Roma quer fazer crer, ele falaria por si e não necessitava de empregar subterfúgios, dizendo que a doutrina que ensinava não era sua, mas "daquele que o enviara".

            Jesus patenteou bem a sua individualidade e a sua subordinação a uma entidade superior, e a prova disso se nos depara a todo o momento quando perlustramos as páginas dos Evangelhos. Orando no Horto das Oliveiras, o Messias disse: "Pai, se for possível passai de mim esse cálice, porém, faça-se a vossa vontade e não a minha". Se o Mestre fosse o próprio Deus, não careceria de orar ao Pai, o que seria incoerente, e até representaria uma farsa, pois jamais se viu alguém interceder junto a si mesmo para a obtenção de qualquer favor.

            A Igreja persiste em seus erros, mesmo contrariando as tendências gerais do mundo de após guerra, quando todas as consciências almejam pela implantação do reino da Verdade e as tribulações tendem a induzir os homens a procurar uma aproximação com Deus, obrigando-nos dessa forma a abandonar de vez tudo quanto se distancia da verdade. 

            Os antigos israelitas alimentavam uma concepção mais real sobre a individualidade una de Deus, embora os prejuízos do farisaísmo deturpassem a nítida compreensão sobre a Divindade, emprestando-lhe certos atributos que hoje são considerados utópicos.

            Mesmo depois da oficialização da Igreja Romana, por Constantino, e da instituição do dogma aberrante da Trindade, grande número de mentalidades esclarecidas e libertas das tendências extravagantes de Roma insurgiram-se contra esse princípio, negando-lhe qualquer verossimilhança.

            O Espiritismo vem esclarecer os homens, restabelecendo as coisas em seus devidos lugares; Deus é nosso Pai, indivisível, eterno, imutável, onipotente e onisciente; Jesus, nosso irmão que já atingiu elevadíssimo grau de perfeição, teve um, princípio e é mutável porque é suscetível de evoluir ainda mais; o Espírito-Santo é uma plêiade de Espíritos esclarecidos, obreiros do bem, mensageiros da vontade Divina, lídimos intérpretes entre os planos superior e inferior.



9. "À Luz da Razão" por Fran Muniz



9
“À Luz da Razão”

por   Fran Muniz

Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 - Rio
1924


A HÓSTIA

           
            De todos os dogmas convencionados pelo Catolicismo para sustentáculo da sua igreja, o da hóstia é, por certo, o mais grave e o mais profano, por afetar diretamente a divindade do Criador.

            Na febre indeclinável de enclausurar adeptos, ela não hesita ante a heresia e a blasfêmia contanto que eles produzam superstição e terror que atuem sobre a parte fraca da humanidade.

            Temos visto já muitas dessas esquisitas aberrações; vejamos mais esta atirada á luz da publicidade:

            “A Ordem dá Ministros à Igreja a quem Deus confiou dois grandes poderes: o primeiro de converter o pão e o vinho no corpo e sangue de N. S. Jesus Cristo; o segundo de perdoar os pecados pelas palavras sacramentais.” (1)

            (1) Goffiné. - Manual do Cristão.

            Isto está escrito com todas as letras nos alfarrábios do catolicismo e é ensinado à infância, tão digna de melhor educação. Incutem-se, pois, tais disparates no cérebro frágil da massa tímida e inexperiente, como um acinte ao Progresso, à Ciência e à Civilização.

            No entanto, a igreja não prova de maneira a merecer fé, o modo pelo qual recebeu também autoridade para praticar o transformismo, e não o fazendo demonstra apenas ter se arrogado um direito que não tem valor algum.

            Contudo, para fazer prevalecer essa autoridade, serviu-se de alguns textos evangélicos que mais lhe convinham; refundiu-os a seu modo no cadinho dos Concílios e, julgando-se, assim, solidamente estribada, ditou leis clericais e pretendeu avassalar o mundo.

            Daí, mais esse erro crasso e irritante da transformação do pão e do vinho que apresenta como realidade baseando-se numa Epístola de Paulo aos Coríntios.

            Para nos convencermos dessa ilusão da igreja, tomemos os quatro evangelistas em conjunto:

            “Estando eles ceando, tomou Jesus o pão e o benzeu e partiu, e deu-o a seus discípulos e disse: Tomai e comei: Este é o meu corpo que se dá por vós; fazei isso em memória de mim; e tomando o cálice deu graças e deu-o, dizendo: Este cálice é o
novo testamento em meu sangue que será derramado por vós. Mas vos digo que não beberei mais este fruto da vida, até que o beba de novo, convosco, no reino do Pai.”

            Façamos, pois, um estudo criterioso e raciocinado e vejamos a que distancia fica a igreja com o seu modo de interpretação:

            Tomai e comei; este é o meu corpo que se dá por vós. Isto é, o meu corpo que será dado como exemplo e em benefício da humanidade, é tão necessário para saciar o desejo estúpido e bárbaro dos ignorantes, do mesmo modo que este pão, ou o pão, se torna necessário para saciar a fome do homem da terra que só pode viver dos alimentos materiais.

            De sorte que: o meu corpo desaparecerá tragado pela voracidade dos homens atrasados e incompreensíveis, da mesma forma que o pão desaparecerá, tragado pela fome natural do homem. Meu corpo vai satisfazer um desejo; este pão vai satisfazer uma necessidade; assim meu corpo está para a necessidade deste povo tal qual este pão está para a necessidade do alimento humano.

            Logo, meu corpo está nas mesmas condições do pão porque o pão é tão necessário como é o meu corpo. Portanto, “tomai e comei.”

            Fazei isto em memória de mim. Isto é, dai também o pão aos famintos, dai o alimento aos necessitados, o consolo aos que choram, a suavidade aos oprimidos; pratica a caridade com o vosso irmão. Do mesmo modo, dai também o vosso corpo, se for necessário, lembrando-vos de mim, em meu nome, com o pensamento em mim.

            Jesus serviu-se dessa comparação figurada no pão como a de que, por exemplo, se serviria um padre, dizendo:

            - Esta igreja é o meu braço direito, ou, os sacramentos são a minha enxada. Isto não quer dizer que a igreja seja o braço carnal do padre, nem que os sacramentos sejam um instrumento para cavar a terra, mas sim que a igreja e os sacramentos são o arrimo e o sustento dele para não morrer à mingua.

            Depreende-se, da alusão contida no vinho, a mesma figura feita pelo Cristo:

            “Este cálice é o novo testamento em meu sangue que será derramado por vós”. Quer dizer, este é o cálice dos martírios que devem ser tragados com resignação, tal como vos exemplifiquei; é isto que vos deixo em novo testamento. (Novo - porque há o antigo que são as escrituras sagradas de Moisés e outros profetas). Este testamento são as minhas vontades para serem cumpridas depois da minha morte e ele é feito em meu sangue, isto é, à custa do meu sangue, com o meu sangue, porque vou dai-o por vós. Portanto, este cálice é o novo testamento em meu sangue que será derramado por vós.”

            Fazei, pois, isto em memória de mim.

            Quer dizer: Tragai o cálice da amargura, sofrei, deixai-vos martirizar, também, lembrando-vos de mim, crentes em mim, e não temais a dor, porque o martírio sofrido em meu nome, ou seja, em cumprimento das leis que prego, tornam-se mais suaves e purificam o espirito. E Deus só aceita o espírito, quando chegado à perfeição, acrisolado no cadinho da dor suportada com resignação por amor dele. Não hesiteis, pois, bebei este cálice.

            Mas vos digo que não beberei mais este fruto da vida. Isto é, não beberei mais deste vinho que é o produto da uva, do mesmo modo que não beberei mais o cálice da amargura, que é o fruto da inconsciência dos homens representada neste vinho. Igualmente não me banquetearei mais convosco neste festim que representa a união, a fraternidade que desejo seja o novo apanágio na Terra, até que de novo o faça convosco no reino de Deus. Isso quando já estiverdes perfeitos e dignos de fazer parte no banquete do Pai; isto é, quando a vossa pureza de sentimentos de amor, permitir nova união nesse festim onde então beberemos novo fruto: O fruto colhido na Videira do reino do Senhor:- Amor eterno.

            Sem nenhum esforço pois, compreendemos o sentido real do que Jesus teria tido o desejo de minuciar por ocasião da Ceia e que não foi possível faze-lo, visto não poder ser compreendido naquela época.

            De sorte que, teve necessidade de servir-se desse emblema da páscoa, como um último apelo à prática da fraternidade e do amor entre os homens.

            Assim, pensamos ter demonstrado claramente, a relação de ideias entre o pão, o vinho, o corpo e o sangue de Jesus. Todavia se houver ainda quem não se satisfaça com ele, tem toda a liberdade de entendê-la como lhe aprouver, menos como sendo realmente aquelas substâncias, o corpo e sangue de Cristo . Tal ingenuidade toca às raias do absurdo; é um verdadeiro crime de lesa-divindade.

            Observe-se mais que, se a intenção de Jesus fosse ensinar que o pão era realmente o seu corpo e o vinho realmente o seu sangue, então, havíamos de concordar que ele estando intacto, mostrava e oferecia o seu próprio corpo que, nesse caso, nem mesmo seria duplo, porque ele disse: - Este é o meu corpo e não este é meu outro corpo.

            Supondo mesmo que o seu corpo fosse duplo, Jesus teria induzido seus apóstolos à praticarem um crime sem utilidade, devorando um de seus corpos antes de ser assassinado o outro.

            Bem sabemos que para sanar semelhante confusão, a igreja nos acena com o célebre e já demasiado gasto - mistério, com o qual muita gente ainda se contenta.

            Mistério ou milagres são coisas sobrenaturais, e o sobrenatural não existe. Tudo no universo tem uma razão de ser.

            Ora, raciocinemos: Se Jesus, de fato, teve a intenção de demonstrar que aquele pão era realmente o seu corpo segue-se que, quando disse:  “- Fazei isso em memória de mim” não se dirigia tão somente aos doze apóstolos, ao contrário, o padre teria sido intruso em fazer o mesmo uma vez que não era dos comensais. É claro, pois, que Jesus falava para a humanidade de então e para as gerações vindouras.

            Por consequência, qualquer pessoa tem o direito de distribuir pães uns aos outros dizendo: Eis aqui o corpo de Jesus; porque o Nazareno foi bem explícito: “- Fazei isso em memória de mim.”

            Donde, pois, o privilégio da igreja? Com que autoridade tomou a si, exclusivamente, essa incumbência?

            Teria Cristo se esquecido de avisar aos Apóstolos que só os sacerdotes romanos o poderiam fazer?

            Convençamo-nos de que a igreja, apesar de infalível, errou, tomando a “letra que mata” e o resultado foi o disparate de querer convencer de que um biscoito de farinha de trigo e um cálice de vinho zurrapa hão de ser, à força, o corpo e o sangue do Divino Mestre.

            Mas a igreja tem a sorte de ser amparada pelos que ainda não se dispuseram a estuda-la e, apesar de contar em seu seio, homens de reconhecido valor intelectual. Isto deu causa a que o ilustre sábio Lamartine, escrevesse:

            “Causa lastima ver o talento arcando com o impossível.”

            Não obstante, lembramos ainda que essas Ceias foram sempre efetuadas pelos discípulos, em comemoração à última realizada na companhia do Mestre; devido, porém, às cenas escandalosas que se deram durante o período das perseguições aos Cristãos em Roma, os sacerdotes tomaram a si essa comunhão do pão e do vinho, e mais tarde substituíram o pão pela hóstia.

            Os concílios, aproveitando a confusão, instituíram a transformação da hóstia em corpo real de Cristo e a apresentaram como uma receita, cuja fórmula pretenderam ser um dos melhores veículos da salvação, descrevendo assim o seu modo de usar:

            “Para recebê-la (a hóstia), aproxima-se a gente da santa mesa, abaixando os olhos. com o maior recolhimento e penetrado do mais profundo respeito; pede-se aos anjos que nos acompanhem. Pega-se na toalha, dizendo: Vinde, Deus meu. vinde a mim! Eu creio em vós, em vós espero e de todo o meu coração vos amo etc. Endireita-se a cabeça, abre-se a boca, apresenta-se a língua na qual o padre coloca o alimento celestial.” (1)

            (1) Goffiné. - Obra citada.

            A realização desse ato deve ser adrede preparada com o jejum, a fim de que a hóstia não seja precedida de outro alimento. Resta, apenas, sabermos qual a utilidade que possa ter tal precaução.

            Se é pelo fato da hóstia ter a primazia de ser engolida nesse dia, perguntamos: Não é verdade que ele será, apesar disso, precedida do alimento da véspera, que, portanto, a coloca em segundo lugar?

            Se, porém, é para que o ‘alimento’ celeste não se junte incontinente com o alimento material, não é também verdade que eles se juntarão, para logo, internamente, em piores condições?

            Demais, será o alimento comum menos imundo do que o próprio homem, assim criado, certamente, para que sejam abatidos o orgulho e a vaidade de si próprio?

            Todavia, responde a igreja:- a hóstia deixa de ser o real corpo de Cristo, logo que se desfaz sobre a língua, o que equivale a descer retornado em matéria aos lugares escusos.

            Assim sendo e apesar do capcioso lance de misteriosa prestidigitação, perguntamos:

            Qual o valor, qual o efeito desse ato, desde que Deus não passa da língua? Depois, é admissível que Deus se dissolva na saliva e se conserve nesse segregado nauseante e repugnante?

            Além disso, sendo essa hóstia mais tarde expelida em matéria, asquerosamente decomposta, é possível admitir que tal imundície (é horrível dize-lo) tivesse sido o corpo de..?

            Como é ingrata a humanidade! Perdoai-lhe Senhor!

            Devemos esclarecer os inexperientes que hóstia quer dizer ‘vítima do sacrifício’; e a igreja transformando Deus em hóstia, está, até certo ponto, coerente consigo mesma, pois outra coisa não tem feito ao Criador senão torna-lo a maior das suas vítimas, sacrificado em todos os sentidos: dividindo-o, multiplicando-o, reduzindo-o aos quatro estados da matéria, amoldando-o, enfim, às suas conveniências insaciáveis.

            E quando as consciências se levantam num justo impulso racional para pedir explicações de tais irregularidades, são imediatamente sufocadas pelo espectro do Mistério! E com essa repressão aos pensamentos tímidos, continua a ser rebaixado, torpemente o Deus infinito, tão infinito em todos os seus atributos, que somos indignos sequer de compreendê-lo!

            É esse Deus que vem conduzido nas mãos de um padre e transformado na mesquinha e ridícula forma de um disco de massa de farinha ao qual se diz: “Vinde Deus meu, vinde a mim.”

            Mas, Senhor, Vós, a Fonte infinita do Amor e da Bondade já os perdoastes! Porque, Senhor, bem o sabeis, isso que eles fazem, já não é mais ofensa. É inconsciência!