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quinta-feira, 27 de junho de 2019

O Undécimo Mandamento



O Undécimo Mandamento
por Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Janeiro 1933

A Leopoldo Machado

E Jesus, então, disse: “Um novo preceito vos dou: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei.”

Tal o estatuto novo, ou o undécimo mandamento.

Este é realmente o mandamento por excelência, aquele que resume a lei e os profetas.

Amar, todos amam. Não há vida sem amor. Entre os próprios vegetais existe esse sentimento, essa vibração universal, que vivifica as obras de Deus.

No reino animal, das baixas às altas esferas, da mônada ao homem, o amor é o agente preponderante.

Mas, não basta amar: é preciso amar como o Mestre amou. Nós amamos tais como somos; Ele ama tal como é. E todo o seu desejo, toda a sua aspiração é nos fazer amar como ele ama. “Quero que onde eu estou estejais vós também.” Elevar, até ao seu, o nível do nosso amor, tal o objeto da sua paixão.

Todos amam como permitem suas condições atuais. O estado de cada um de nós determina a natureza ou o grau do nosso amor. Amamos como podemos e não como devemos. E, se não podemos mais, nem melhor, é porque ignoramos. Saber é poder em todo o sentido. Conhecer mais e melhor a essência do amor é amar mais e melhor. “Deus é amor”, amor que tudo abrange no imensurável cenário universal. Os benefícios que desse amor decorrem estão na proporção do grau de nossa percepção e da nossa correspondência.

Sentir e corresponder ao amor de Deus é desvendar todas as maravilhas do Universo, é penetrar todos os mistérios e resolver todos os problemas da vida.

Amar é ter a alma em estado de santidade. Santificar é amar. “Santificado seja o teu nome” quer dizer: Deus seja amado. Se amado, é louvado, engrandecido e honrado naquele que o ama.

Quando amamos, realmente, o objeto desse amor é santificado em nós. O amor é o único fator de redenção. Redime lavando as nódoas e as manchas do pecado nas águas lustrais da santificação.

“Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.” O amor de Jesus é amor de redenção: santifica todo aquele que o recebe. “Aos que nele creem concede o direito de se tornarem filhos de Deus.”          .

Amor é luz. “Eu sou a luz do mundo. Sob seu mágico influxo se desfazem os vincos sombrios do crime e os estigmas do vício, como as trevas se dissipam à chegada da luz.

O amor é poder. Só ele é capaz de transmudar o mal no bem, o egoísmo no altruísmo. Só ele transforma caracteres e converte corações. “Eu venci o mundo.”

O amor é paz e alegria. Paz no seio das lutas fecundas que constroem. Alegria que retempera o ânimo e refrigera as almas, sem lhes afetar o senso e a circunspecção. Paz e alegria íntimas profundas, por isso inaccessíveis às contingências do exterior. “A minha paz vos deixo, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo.'

Amar é santificar: nunca será demais repeti-lo. E a esse amor que se refere o Verbo Humanado quando, ao despedir-se dos seus, lhes disse: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei; isto é, com o amor que redime, santificando e divinizando as almas.


O Conflito Religioso



O conflito religioso
Angel Aquarod
Reformador (FEB) Agosto 1923

Várias seitas dominam o espírito dos povos que fanaticamente se degradam desde longínquas idades.

Perlustrando as páginas da História, vemos religiões que desfraldam a bandeira do mesmo Deus, que têm as mesmas bases de doutrina moral, por simples controvérsias secundarias se chocarem em ânsias de destruição, eclipsando o que nelas existe de belo e perfeito. É assim que vemos no Oriente as sanguinolentas lutas tão bem descritas no Mahabarata e Ramayana e, no Ocidente, as bárbaras Cruzadas e a tirânica Inquisição que em nome de Deus, por vários séculos, tornou trágicos os altares em que incensavam o Deus do Amor.

Depois da Revolução Francesa, com a liberdade de pensamento, em quanto os religiosos se debatiam por motivo de acidentais divergências sobre suas doutrinas, na alma livre do homem de ideias livres brotava o cepticismo exigente e destruidor. Os deuses dos altares rolaram por terra, o Cristo messiânico baixou ao nível dum degenerado, o sábio Moisés ao de um visionário.

Largos terrenos conquistou o materialismo, zombando ironicamente da religião, que não era mais do que impotência de cérebros acorrentados às superstições dos tempos primitivos.

Era isto o cataclisma que precede sempre às grandes evoluções.

*


Já em meados do século passado, no conflito de ideias em que a alma da humanidade oscilava entre a crença e a descrença, apareceu o Espiritismo, religião científica, defendida pela linguagem verídica dos fatos, baseada nos Evangelhos cristãos e nos livros sagrados orientais, que aceitou a luta com o materialismo e por meio de dados irrefutáveis e positivos demonstrou a imortalidade da alma e, em consequência, a existência de Deus.

O materialismo recebeu então em pleno peito o golpe fatal que o fez cair por terra, no momento em que o edifício religioso tremia para baquear.

*

Ainda hoje, o conflito continua. A luta jornalística, originada da intolerância e intransigência de alguns iniciados apaixonados, está claramente manifesta entre os romanos, os cismáticos, os protestantes e já até mesmo entre os teosofistas e os espiritistas. Mas, se estes entraram no conflito, foi porque alguns de seus confrades se fizeram apóstolos de uma doutrina que não conhecem. Talhada para fins bem mais elevados, essa doutrina apareceu na terra para combater o ceticismo demolidor, extirpar da sociedade o cancro materialista, que lhe corrompe o corpo, minando-o para sua dissolução; para reabilitar as outras religiões, consolidar lhes as bases, unificar todas as que possuem a bandeira do mesmo Deus num uno e indivisível corpo, aconchegando-as numa só unidade, pois, na realidade, todas as que não são de concepções de cérebros humanos, no fundo têm as mesmas causas e os mesmos efeitos.

Quereis saber o que são as religiões?

lmaginai uma montanha para cujo píncaro azulado os nossos olhares se volvem. Para alcança-lo, na montanha vários caminhos existem em suas encostas, uns íngremes e escorregadios, outros mal s accessíveis e transitáveis, havendo, finalmente, num dos flancos, um fosso intransponível, insuperável. Pois bem, imaginai ainda que este píncaro azulado seja o céu, os vários caminhos existentes as religiões, o talhado intransponível, insuperável, o materialismo.

Aí tendes uma imagem que mais ou menos mostra o que são as religiões entre si. Elas têm, como base, os mesmos princípios; como fim, o mesmo ideal. Todas se encaminham para o mesmo objetivo, na ânsia insaciável de perfeição.

          Devem pois, os religiosos, esforçar-se para que cessem as dissidências que existem entre eles, deixar de lado tudo que é secundário e unir-se, pois que marcham para o mesmo Deus.          

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Cura de Paralíticos

Cura de Paralíticos
Redação 
Reformador (FEB) Agosto 1923

Havia, em Jerusalém, nas imediações do templo, a piscina das ovelhas, em hebraico Bethsaida, com cinco galerias ou alpendres.
Por ocasião do sucesso em seguida indicado, ali jazia, segundo o testemunho de João,  grande multidão de enfermos.
Aguardavam o momento em que a água se agitasse para fazerem imersão no tanque.
O próprio evangelista parece compartilhar a crença vulgar sobre a descida de um anjo à fonte para agitar-lhe á agua.
“E o primeiro que entrava no tanque, depois de se mover a água, ficava curado de qualquer doença que tivesse.”
A crença antiga pode ser comparada à moderna referente à piscina de Lourdes.
Postas de lado as superstições, exploradas pelo clero católico, não negamos, em tese, as curas de Lourdes, perfeitamente explicáveis, sem intervenção miraculosa, pela doutrina dos Espíritos, como as do templo de Esculápio e outras da antiguidade.
Entre os enfermos da fonte de Bethsaida achava-se um homem paralítico havia trinta e oito anos.
Depois de ouvi-lo, disse-lhe Jesus:
“Levanta-te, toma a tua cama e anda.”
“E, no mesmo instante”, refere o evangelista, “ficou são aquele homem e tomou a sua cama e começou a andar. E era aquele dia um dia de sábado.” (João, V: 1-9.)
Para a cura imediata (statim) não houve necessidade da imersão no tanque, considerada então essencial.
Muitos doentes, que nele mergulhavam, não conseguiam, aliás, a saúde. As águas da piscina podiam ser medicinais; mas as curas dependiam ainda de outros fatores, não só naquela época, como na atualidade, tanto em Jerusalém como em outros lugares.
Adstritos ao rigoroso formalismo da religião, os Judeus não admitiam que o ex-paralítico carregasse o grabato às costas, no sábado, e perseguiam a Jesus por “fazer estas coisas” em dia destinado por lei ao descanso. (João, V 10 e 15).
Que diria um fariseu de hoje a quem comesse carne em dia de preceito, ou não genuflectisse diante da hóstia consagrada?
Quantos indivíduos foram queimados, sob a religião de Roma, por atos, ou omissões semelhantes?
O Senhor, encontrando no templo o ex-paralítico, disse lhe:
“Olha que já estás são; não peques mais para que te não suceda alguma coisa pior – ne deterius tibi aliquid contigat.” (João V. I4)
Para a medicina materialista, a frase do Cristo não tem sentido, ou é anti-científica.
Que relação há entre o pecado e a moléstia? Entre o perdão e a cura?
Comentando a citada frase, observou ALLAN KARDEC:

“Por estas palavras (JESUS) lhe dá a entender que sua moléstia era uma punição, e que, se não tratasse de se corrigir, ele poderia de novo ser punido com mais rigor. Esta doutrina está inteiramente ele conformidade com o ensino do Espiritismo.” (1)

             (1)     A Gênese cáp. XV, nº 22

Em outra ocasião, na cidade de Cafarnaum, JESUS, antes de mandar o paralítico pôr-se a caminho, lhe havia dito:
“Filho, tem confiança, perdoados te são teus pecados.” (Mateus IX, 2)
            A dívida estava solvida. Remidos os pecados ou as faltas, chegou ao termo a provação a que foi submetido o paralítico.



Nós todos, encarnados no planeta - salvo, até certo ponto, os espíritos missionários,  estamos na situação de enfermos, necessitados de cura. Como os do Evangelho, devemos implora-la, crentes e confiantes, ao Médico das almas, atento às súplicas.
Estudamos o Espiritismo e os Evangelhos; procuramos compreende-los. Não o fazemos, nem devemos faze-lo, por simples curiosidade. Se vamos ad lucem, como retrogradar?
Após as ideias vêm os atos.
Cumpre-nos aplicar os ensinos adquiridos e pôr em execução os preceitos decorrentes.
Tem grande significação e alcance a palavra divina:
“Conhecei a verdade e ela vos libertará.”
Veritas liberabit vos.
Assim, cada um de nós pode, conhecendo a verdade libertadora, obter a remissão dos pecados, delir culpas, pagar débitos. A encarnação atual não será perdida, nem sacrificada. Quantas anteriores foram inúteis?
Se a paralisia da alma (permitida a comparação) nos tolhe os movimentos, se estamos atacados de cegueira espiritual, a culpa é nossa, exclusivamente nossa.
Não há penas para inocentes.
A exemplo dos enfermos do Evangelho, podemos readquirir a motilidade, e receber a luz, obedecendo e cumprindo a lei. Não perderemos o dia.


A Escola Kardecista e as Histórias da Filosofia



A Escola Kardecista 
e as Histórias da filosofia
por Luciano dos Anjos
Reformador (FEB) Outubro 1963

Somente a sua condição de missionário muito mais do que sua inteligência altamente evolucionada ou sua vastíssima cultura, é capaz de explicar satisfatoriamente a precisão com que Allan Kardec alcançou o futuro, prenunciando acontecimentos marcantes da história do Espiritismo. Ora clara, ora implicitamente, o Codificador deixou impressas, desde a época de sua missão terrena, não apenas respostas a numerosas questões que - notem bem – ainda não podia sequer ser formuladas mas também descrições exatas duma série de fatos ligados à nova doutrina que legava ao mundo, mercê da confiança do Espírito da Verdade. Kardec parecia adivinhar todo o desenrolamento do processo evolutivo do Espiritismo, inclusive suas fases negativas, embora provisórias sempre. Até esses pequenos problemas que às vezes registamos nas nossas fileiras foram assinalados com perfeita presciência e sugeridas "a priori" as soluções mais adequadas. Acima de tudo, porém, Allan Kardec anunciou essa inevitável passagem histórica: o Espiritismo seria em principio galhofeiramente ridiculizado; mais tarde, duramente combatido e perseguidos os seus adeptos; finalmente, seria adrede ignorado a fim de que se desvanecesse por completo ante uma sequência de interesses mesquinhos e pessoais. Já estamos vivendo essa última fase, fazendo-se mister reafirmar apenas - para que ninguém se iluda - que tal desprezo é calculado, pensado, medido, estudado, lembrando o comportamento dos poderosos do tempo do Cristo, quando sentiam prazer em enganar-se a si próprios, ignorando, propositalmente, a presença do Messias ou a influência que exercia sobre a plebe. Essa posição de alheamento acabou por soterrá-los com a glorificação do Cristianismo. Tanto mais encenavam sua despreocupação pelo Mestre, mais Ele punha em risco os alicerces pagãos, culminando por abatê-los e com eles as águias do Capitólio. Embora inerme, Jesus assinalou a maior vitória duma ideia ou dum movimento popular. Sem competir com o poder civil, dividiu o mundo em Antes e Depois do Cristo.

As mesas girantes, em princípio, serviram de tema aos "chargistas" da época, tornando-se motivo de chacota, zombaria ou curiosidade deletéria nas rodas de elegância, nas colunas da imprensa e nos saraus intelectuais de Paris. Como mais tarde alguns dos maiores vultos da ciência europeia e americana tomassem parte de experiências largamente difundidas, não foi mais possível encarar o assunto com os mesmos risos e passou-se então a discuti-lo, para depois combatê-lo asperamente. Mais do que qualquer outro, o clero investiu furente, intumescido de iracúndia contra as novas ideias, usando de todo o seu poder e a sua cavilação. Lançou mão, por isso e para isso, dos argumentos mais esdrúxulos, desde a negativa dos fenômenos até as explicações exclusivamente anímicas: ou, ainda, mais modernamente, profligando a "ocasião" que as sessões mediúnicas oferecem ao demônio. Hoje, desde algum tempo a esta parte, o Espiritismo entrou na sua fase de verdade que atemoriza os arautos da mentira e da imoralidade. E, se ele cresce no selo dos humildes e dos estudiosos mais honestos, os "fariseus" da atualidade se preocupam, paradoxalmente, em não se preocupar com ele ou não lhe emprestar a devida atenção.

Em 1875, pouco menos de 20 anos após o aparecimento de "O Livro dos Espíritos", o famoso “Dictionnaire Larousse" consignava em suas respeitáveis páginas que o Espiritismo estava em franco declínio e que Allan Kardec houvera apoiado suas teorias em "cenas grotescas para constituir sua doutrina, destituída de pesquisa, de reflexão, de meditação" e envolta num mistério distante "das leis físicas e da constituição positiva das coisas". Nas edições subsequentes, contudo, esse "parti pris" foi abrandecendo, tendo em vista, sem dúvida, os pareceres e as experimentações do mundo científico. Em 1900 o "Larousse" já não fala mais em Kardec e, posteriormente, diz tão-só quem ele foi, sem maiores comentários: "escritor francês, nascido em Lião, falecido em Paris (1803-1869), autor do "Livro dos Espíritos", ''Livro dos Médiuns", “Evangelho segundo o Espiritismo", etc. O “Larousse du XXe. Siècle” dedicou-lhe 16 linhas onde já se pode ler, nas duas finais: “il est, en quelque sorte, le législateur du Spiritisme." Mais tarde, o “Nouveau Larousse Illustré”, sem corrigir o equívoco da data do nascimento de Kardec (1804 é o certo), emprestou-lhe 11 linhas, registando ainda que "ses doctrines spirites furent appelée KARDECISME et ses partisans KARDÉCISTES. Por seu turno, “La Grande Encyclopedie” em suas útimas edições registra apenas (aliás, erradamente)  que Allan Kardec “fils d’un advocat, il s’adonna de bonne heure à l’étude du spiritisme, après  avoir reçu une bonne éducation philosophique et scientifique; son goût pour le merveilleux fut éveillé dès qu’il entendit parler des tables tournantes, des esprits frappeurs et des médiuns qui faisaient rage en Amérique”. Ora, aquele "de bonne heure" não tem sentido, pois é sabido que Allan Kardec só depois de muita relutância resolveu investigar os fenômenos, não lhes aceitando de pronto as explicações que então corriam. Da mesma forma "son goût pour le merveilleux" não foi acordado em tempo algum, sendo conhecido o seu frio comportamento ante os fatos que, de resto, acabou por designar de absolutamente naturais!

O correr do tempo serviu para melhorar a posição de enciclopedistas e dicionaristas ante a figura do Codificador, embora, paralelamente, aumentasse a reserva com que lhe consignavam o nome.  A "Enciclopedia Italiana" de 1933 concede-lhe algumas linhas, nas quais, inclusive, não esquece de citar Flammarion, além das obras de H. Sausse e E. Carreras como fontes bibliográficas.

Em 1957, o “Dizionario Enciclopedico Italiano” copia o texto da “Enciclopedia Italiana”, sem esquecer de resumi-lo um pouco mais. A “Encyclopaedia Britanica” (ed. de 1911 e 1954), como é de se esperar, nada fala de Allan Kardec. Da mesma forma a “The Enclyclopedia Americana", edição recentíssima de 1958, ignora a existência do Codificador. Em Portugal, a “Enciclopédia Portuguesa ilustrada” traduz e consigna o texto do “Nouveau Larousse” num escorço de 25 consoladoras linhas. Edição recente da "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira” contrabalançou o breve entusiasmo de seus colegas editores e fala apenas no "escritor francês que escreveu obras de divulgação espirita". O “Lello Universal” {1958) é ainda mais cauteloso, embora assinalando que “as doutrinas espíritas foram denominadas kardecismo e os partidários delas kardecistas". No Brasil registra-se confortadora exceção à regra geral e, mais do que na França, onde Kardec reencarnou, sua figura e sua obra são melhor apreciadas. Por isso a edição de 1968 do "Dicionário Enciclopédico Brasileiro" (ed. "O Globo") vai ao ponto de imprimir-lhe o busto em tamanho regular; assinala erradamente que Kardec era "formado em Medicina sem todavia dedicar-se à profissão". O equívoco decorre de que costumava curar os enfermos pelo hipnotismo, com passes magnéticos. A “Enciclopédia e Dicionário Internacional”, impresso nos EUA pela W. M. Jackson, 55 excelentes linhas, exceto quanto aos trechos em que diz que AIIan Kardec “faliu, dando um prejuízo total a seus credores", sem dúvida uma informação falseada e aquém da verdade histórica. A firma era de sociedade com outro elemento, este, sim, bastante inescrupuloso, cuja conduta resultou na insolvência. Allan Kardec, porém, depois de dissolver a sociedade, pagou do seu próprio bolso todas as dívidas decorrentes da ação criminosa do ex-sócio. Quanto à “Enciclopédia Brasileira do Mérito”, edição de 1958 (quiçá o melhor trabalho enciclopédico já realizado no Brasil, por brasileiros), também faz justiça a Allan Kardec com 38 linhas muito boas, equivocando-se apenas quando diz que “O Livro dos Espíritos” lhe teria sido comunicado através de um médium”. Sabemos que os médiuns foram mais de dez e o condicional do verbo sem dúvida não tem sentido. Assinalemos finalmente a referência muito disparatada que o nosso Caldas Aulete faz na edição de 1958 do seu "'Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa”: “Kardecismo: doutrina que se diz mais perfeita que o espiritismo ortodoxo.”

Por seu turno, os dicionários filosóficos mais conhecidos (os poucos existentes) absolutamente não registam o nome de Allan Kardec, assinalando apenasmente, os mais modernos, a epígrafe “Espiritismo”, regra geral seguida de lamentáveis erros, comentários absurdos e detalhes históricos inteiramente desfigurados, além dum emaranhamento com doutrinas outras do Oriente e da Antiguidade, tudo isso sem nenhuma referência ao nome do Codificador. Em resumo, podemos verificar, diante do exposto, que no momento vivemos - se assim a pudermos chamar - a terceira época do Espiritismo, quando, salvo raras exceções, luta o farisaísmo hodierno para ignorá-lo ou não elegê-lo devidamente, no campo da Literatura, da Ciência, da Educação, da Filosofia, etc. Mas, quer queiram, quer não, ainda que diante de todas as objurgatórias da Igreja, da ciência oficial ou dos "donos" da história da Filosofia, há e haverá sempre, cada vez mais acentuada e mais consolidada, uma escola kardecista, tanto quanto existe a escola socrática, platônica, aristotélica, cartesiana, kantiana, patrística, etc. Isso é o que pretendemos demonstrar, embora a evidência axiomática dos fatos praticamente torne dispensável a nossa tarefa.
Seria exagero de nossa parte pleitear junto a determinados historiadores - como por exemplo o padre Leonel Franca ("Noções de História da Filosofia") - que inserissem em seus trabalhos o pensamento filosófico de Allan Kardec. Sem dúvida as partes dedicadas à escola patrística, ou à escolástica ocupam o espaço bastante para impedir quaisquer outras novas referências desse tipo. O mesmo podemos dizer de outros trabalhos como a “Histoire Générale de la Philosophie”, do eclético Victor Cousin, cujo final de vida foi uma espécie de comunhão reaproximativa com a Igreja Católica. Ou o "Breve Curso de Filosofia", do escolástico italiano Francisco M. Terlizzi. Mas, quantas obras do mesmo gênero já se publicaram e em cujas páginas poderia (ou deveria?) pelo menos citada a existência do kardecismo como corrente filosófica? Embora criticada, desapoiada ou desacreditada pelos autores respectivos, o mero registo parece a nós justo e curial. Afinal, existe uma filosofia espírita, em torno da qual surgiu e medrou uma escola definida, permanente, sempre mais numérica a cada novo dia.

Só um cego da alma ou um ignorante em assuntos de cultura, é capaz de negar o autêntico aspecto filosófico que caracteriza o Espiritismo tal como se encontra sistematizado nas obras de Allan Kardec. Aliás, é exatamente quando toma um corpo filosófico que o Espiritismo - diz o próprio Kardec -  passou a ser levado mais a sério. "Sua força está na sua filosofia" ("O Livro dos Espíritos", página 470, 28ª edição da FEB). Principalmente em “0 Livro dos Espíritos", bem como nas demais obras de Allan Kardec, quase todas as questões que ali se contém aparecem obrigatoriamente em qualquer tratado de Filosofia, "O Espiritismo - são ainda expressões de Allan Kardec -, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo toca forçosamente na maior parte das ciências." ("A Gênese". pág. 22, 13ª ed. da FEB.)

O pensamento kardecista (sabemos que a obra de Allan Kardec é antes dos Espíritos do que propriamente sua mas em termos de filosofia histórica não podemos expressar-nos doutra forma) divide-se em três grandes chaves nas quais se incluem respectivamente as partes de Filosofia, Ciência e Religião, tratadas através de cinco substanciosas obras: "O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns", "O Evangelho segundo o Espiritismo", "O Céu e o Inferno" e "A Gênese". A estas podemos ainda acrescentar: “O que é o Espiritismo” e “Obras Póstumas”.

O volume principal, sabemos todos, é “O Livro dos Espíritos"; não apenas histórica e cronologicamente, mas acima de tudo doutrinariamente, pois, sendo a obra central do Espiritismo, nele se consubstancia todo o embasamento da doutrina. Os outros livros, ampliando aspectos especiais, estão diretamente vinculados a “O Livro dos Espíritos”. Neste, temos a ideia dum conjunto homogêneo, revelando que a doutrina não pode ser fracionada em suas partes integrantes. A base, portanto, é integra e una. Sua parte religiosa trata de Deus e dos Seus atributos, apresentando-nos um Criador cheio de amor e bondade para quem todos serão salvos, sem exceção. Trata também da questão dos anjos e dos demônios, bem como dos gênios, protetores, anjos de guarda, etc., mostrando-se com clareza o que eles representam. Perpassa pelos problemas da adoração e acentua o valor inestimável da prece, sua utilidade e sua necessidade imprescindível.

A parte científica ensina o que é o Espírito, o que é a matéria, suas ações reciprocas, propriedades, etc. Inclui a formação dos mundos, sua pluralidade e habitabilidade, os seres orgânicos e inorgânicos, o materialismo, os reinos da Natureza, os diversos fenômenos, a metodologia da comunicação entre vivos e mortos.

Finalmente a parte não menos importante, a filosófica, trata do princípio e do porquê das coisas, das raízes do nosso sofrimento, de nosso destino, de nosso atraso, o que é a inteligência, o instinto, a razão. Cuida-se da palingenesia, do equilíbrio da Natureza, do bem e do mal, da destruição dos seres vivos, da existência de Deus, da natureza divina, etc. Falamos até aqui em termos de generalidade. Se quisermos, entretanto, poderemos dividir o pensamento kardecista em partes mais detalhadas e específicas, exatamente aquelas em que está dividida sua principal obra:

1º) - Causas Primárias (Deus; elementos gerais do Universo; Criação, princípio vital).

2º) - Mundo dos Espíritos (encarnação, desencarnação, pluralidade de existências; vida espírita, volta ao corpo material, emancipação da alma, intervenção no mundo físico, ocupações dos Espíritos e os três reinos da Natureza).

3º) - Leis Morais (adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade, justiça, amor, caridade, perfeição moral).

4º) - Esperanças e Consolações (penas e gozos terrenos; penas e gozos futuros).

Dentro da obra kardecista topamos com assuntos ele íntima relação com diversas ciências, inclusive as chamadas ciências exatas ou positivas. À guisa de simples exemplo podemos assinalar que o cap. III da 1ª parte de "O Livro dos Espíritos" referente à Criação, cuida num só tempo de diversos problemas de Biologia, História, Geologia, Antropologia, etc. Também em “A Gênese”, especialmente nos capítulos VII a XII, encontramos questões que envolvem Geologia, Astronomia, História, Psicologia, etc. O cap. XIV, que trata com especialidade dos fluidos (de passagem: que excelente pródromo às lições do nosso atual André Luiz!) abrange até problemas de Física, como de Psicologia e Fisiologia. A Antropologia, por exemplo, é alcançada quando aprendemos as leis da reencarnação ou os diferentes tipos humanos que lhe decorrem, bem como as teratogenias todas. A Biologia tem seu campo de discussão quando estudamos o princípio da hereditariedade e a formação dos seres vivos, a Vida, a morte, a reprodução das criaturas, os obstáculos à vida, etc. Quando analisamos as
propriedades da matéria, sua constituição, etc. sem dúvida invadimos o domínio da Física. Ao tratar das propriedades do perispírito e suas relações com o organismo, tocamos na Fisiologia.  Renteamos a Etnografia quando lemos conceitos sobre as raças humanas, o povoamento, a moral primitiva. Ao estudarmos o homem, o aperfeiçoamento dos indivíduos e das raças, entramos na geografia humana. Na apreciação das relações entre os povos e seu meio social e geográfico, deparamos conceitos profundos de Ecologia. Penetramos a Sociologia, ao ensejo do estudo sobre trabalho, repouso, casamento, poligamia, guerra, pena de morte, vida social, família, progresso, civilização, liberdade, igualdade, fraternidade. Convém assinalar nesta oportunidade que a Sociologia era apenas matéria de gabinete ao tempo em que Allan Kardec publicou seus trabalhos, excetuando os círculos de certa forma fechados e restritos do Positivismo. Muito antes de Emílio Durkheim, célebre filósofo e sociólogo francês, autor da obra “Da Divisão do Trabalho Social”, publicada em 1893, Allan Kardec prevê o fenômeno social da divisão do trabalho. Temos ainda a passagem pela Ética, no estudo que nos oferece sobre sanções, os efeitos da causa, as consequências à infração, o bem e o mal, o duelo. as crueldades, os efeitos da justiça, do amor, da caridade. Finalmente, consignemos que, antes de Bergson, Kardec abordara com invulgar espírito apreciativo o conhecimento filosófico intuitivo, que até hoje representa uma das teses mais discutidas em Filosofia. Embora catalogada em terceiro lugar, a parte moral do Espiritismo é, sem dúvida, a mais importante. Isto porque, tendo sido ditada pelos Espíritos, à Revelação Espírita obedeceu, além do mais,
a um planejamento altamente lógico e harmonioso. Assim, desde que as leis morais implicam já na aplicação prática da doutrina, não seria razoável deixar de precedê-las dum conhecimento geral da doutrina. Ditar nosso comportamento moral só seria possível e coerente depois de mostrar-nos detidamente os fundamentos das leis gerais que regulam o Universo. Resumindo, podemos manifestar que a moral espírita é a moral do Evangelho. ”O Espiritismo - afirmou Kardec - não traz moral diferente da de Jesus" (“O Livro dos Espíritos, página 475, 28ª ed. da FEB). Leiam-se ainda, a respeito, as questões nº 625 e 627 deste volume. Todos os postulados morais da Nova Revelação estão resumidas na secular frase de Confúcio: “Não façais aos outros o que não quereis que vos façam"; ensino reafirmado por Jesus Cristo quando sublinhou: "Amai-vos uns aos outros". A parte moral do Espiritismo mostra ao homem, portando, o caminho normal do bom procedimento na vida de relações, sugerindo- e o meio termo das ações, entre o desprendimento das coisas materiais e a dedicação exagerada, pelas coisas do Espírito. O ideal da vida não está no puritanismo dos que vilipendiam totalmente o mundo nem no imediatismo dos que só vivem para as coisas do mundo, Tanto a matéria quanto o Espírito necessários e criados por Deus.

Como vemos, a escola kardecista poderia caber perfeitamente, ao menos num simples registro, dentro do capítulo que trata da Filosofia Contemporânea (sec. XIX - XX}, ao lado do pragmatismo de Carlos Pierce e W. .James; da evolução criadora, de Bergson; da Ação filosófica, de Blondel; do idealismo (a mais violenta reação contra o Materialismo e o Positivismo agnóstico, depois, naturalmente, do próprio Espiritismo); do criticismo transcendental alemão: do neokantismo; da fenomenologia, de Husserl; e da neo-escolástica.  Não queremos cometer a injustiça ou mesmo a tolice de negar a Bergson a grandiosa tarefa. de abater o materialismo dominante, que de certa forma complementava o êxito do transformismo e do evolucionismo negativista do início do século XIX. Mas, não seria menor injustiça roubar ao kardecismo o papel de fundamental agressor, dialético e científico, de todas as doutrinas materialistas, na sua conceituação mais ampla e mais geral. Só isto justificaria a sua referência histórica no desenvolvimento da cultura das civilizações. Allan Kardec afirmou com muita propriedade: "O Espiritismo é o mais terrível antagonista do materialismo" ("O Livro dos Espíritos", pág. 46- ed. citada).

Particularizemos ainda que Kardec teve a preocupação e a perspicuidade de sugerir um nome absolutamente novo para designar os princípios filosóficos da nova doutrina que apresentava ao mundo. Embora o emprego do termo Espiritismo hoje em dia escape quase completamente ao domínio dos verdadeiros espíritas, ele foi criado para determinar uma certa corrente filosófica, um determinado conceito doutrinário, um definido campo de ideias próprias. E esse vocábulo, modernamente, ilustra todas as enciclopédias do mundo, revelando com razão a sua irradiação, a sua penetração em todos os povos, apesar do mutismo preconcebido da maioria dos Literatos e dos historiadores.

E quanto ao Codificador do Espiritismo, o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail? Que dizer da sua figura, da sua posição, do seu comportamento em face do mundo? Poderia ser considerado um filósofo?' Teria condições para inaugurar uma verdadeira escola que lhe viesse derivar a designação do próprio nome?

Já houve até quem dissesse que Allan Kardec foi "medíocre" (arregimente-se coragem, paciência, tolerância e consulte-se “O que é o Espiritismo”, espécie de subliteratura do padre Álvaro Negromonte). Houve, conforme referências acima, os que o consideraram ingênuo e místico. Houve os que o qualificaram de ''impagável'' e "tolo" ("Tolices de Allan Kardec", dum tal Justino Mendes, pseudônimo que encobre um padre qualquer). Outro epiteto: "um dos maiores impostores que jamais tenham existido no mundo" ("Metapsíquica e Espiritismo", do padre espanhol Fernando Maria Palmés). Na verdade, porém, os fatos históricos desmentem todos esses “predicados” com que buscam mimosear o Codificador.

Allan Kardec foi um filósofo por excelência, além de homem de grande cultura e comprovada acuidade intelectual. Em prudente e humilde, o que caracteriza o autêntico espirito filosófico. Brilhantíssimo aluno de Pestalozzi, chegou a substituir o mestre em seus impedimentos. Com 27 anos apresentara um plano reformista do ensino em seu país e, antes de chegar à maturidade, já era autor de diversas obras didáticas com ideias próprias. Poliglota e tradutor de variados autores clássicos ("Telêmaco", de Fénelon, que verteu para o alemão, comentando-a, mereceu os aplausos de Pestalozzi) além de professor de Química, Física, Anatomia, Astronomia e outras matérias. Sua formação de humanista jamais poderá ser contraditada. Ao contrário do que se afirma era infenso ao misticismo e o fanatismo. "Nunca  elaborei teorias preconcebidas; observava cuidadosamemte, comprovava, deduzia consequências; dos efeitos procurava remontar as causas por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades da questão. Foi assim que procedi sempre em meus trabalhos anteriores, desde a idade de 15 a 16 anos." ("Obras Póstumas", pág. 240, 11ª da FEB) Essa, a constante de Allan Kardec que ele mesmo fazia questão de proclamar. Sobre suas experiências, diria mais tarde o grande fisiologista Charles Richet: “C'est toujours sur l'expérimentation qu'il s'appuie, de sorte que  son oeuvre n’est pas seulement une theorie grandiose et homogène, mais encore un imposant faisceau de faits.” Tout de même, Allan Karde est certainement !’homme qui, dans cette periode de 1847 à 1811, a exercé l’influense la plus penetrant, tracé le sillon le plus profond dans la science métapsychique.” ("Traité de Métapsychuque” págs. 33/34, Paris, 1923.)

Quanto ao seu caráter, era por todos os títulos um homem de bem, cioso de sua dignidade, corajoso diante da vida que, não raro, lhe foi bastante hostil. Praticante da caridade, era, ainda, tolerante, paciente, simples, sóbrio e bom. Em última análise, praticava a moral da doutrina que pregava, exemplificando sua própria assertiva de que se conhece o verdadeiro espírita pela sua transformação moral. Como filósofo, Kardec era impressionantemente simples, quadrando-se naturalmente ao apanágio de todos os pensadores imortais. O kardecismo traz, portanto, essa característica de simplicidade intrínseca e expositiva. A Filosofia, porém, como o assina-la Monteiro Lobato no prefácio da "História da Filosofia" de Will Durant, torna-se mal vista quando não é obscura. "Nós, "modernos" - diz o escritor patrício -, nos acostumamos tanto à pomposa verbiagem da Filosofia que quando a vemos apresentada em termos facilmente compreensíveis chegamos a não reconhecê-la." E logo adiante exemplifica, explicando porque nenhum jovem metafísico pode admitir Confúcio como filósofo: "Confúcio terrivelmente claro - qualidade prejudicialíssima para um filósofo" (pág. 11/12 da 2ª edição brasileira). Talvez pelas mesmas razões não gostem de Kardec...
             
Restaria lembrar, para justificar a defesa que levantamos da existência histórica duma escola filosófica kardecista, que a bibliografia espírita atual é não apenas extensíssima, mas universal, sendo de se notar que, somente no Brasil até 1963, as obras de Allan Kardec atingiam a cerca de 1 milhão e novecentos e setenta e oito mil exemplares, consideradas apenas as edições da Federação Espírita Brasileira, cujos dados conhecemos melhor. Os adeptos dessa corrente de filosofia espiritualista atingem hoje, no mundo inteiro, a muitos milhões entre vários povos e nações, desde os mais humildes aos mais intelectualizados. Monteiro Lobato. o tradutor da “História da Filosofia”, de Will Durant (possivelmente, no estilo, a mais popular do mundo), não perdoa ao autor a total omissão da filosofia escolástica,  omissão que considera "um ultraje". Acrescenta ainda que “o pior pecado de todos foi a omissão das filosofias hindu e chinesa”. Reconhecendo embora a ressalva de Will Durant, feita no prefácio, confessando ser incompleto o seu livro, comenta no entanto (tradutor brasileiro: "Não obstante, o incompleto incompleto é."

Esses comentários do escritor paulista (que por sinal era simpático ao Espiritismo) servem, certamente, a outros exemplos e a outros trabalhos. Tempo virá em que o historiador consciencioso dirá com a mesma ênfase ser imperdoável que todas as histórias da Filosofia hajam omitido, por ignorância, por faciosismo ou por medo, senão por ojeriza morbígena, a escola kardecista. No entanto, esta a escola que terá transformado o mundo...  O que é mais extraordinário: terá resumido em si toda a Filosofia: Então, dentre tantas outras, cumprir-se-á mais esta previsão do Codificador): “Mas, não é real que todas as grandes descobertas científicas hão igualmente modificado, subvertido até, as mais correntes ideias? E o nosso amor-próprio não teve que se curvar diante da evidência? O mesmo acontecerá com relação ao Espiritismo que, em breve, gozará do direito de cidade entre os conhecimentos humanos.”  ("O Livro dos Espíritos", página 476, 28ª ed. da FEB.)

Se Jesus dividiu o mundo em Antes e Depois do Cristo, o missionário de Lyon acabou dividindo o Cristianismo em antes e depois do Espiritismo.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

A doutrina do Padre Alta



A doutrina do Padre Alta
Lino Teles (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Janeiro 1952

            Um dos livros notáveis deste século é, sem favor algum, O Cristianismo de Cristo e o dos seus Vigários, do Padre Mélinge, que o publicou com o pseudônimo de Padre Alta.

            Grande erudito e muito inspirado, conhecedor das línguas clássicas que guardam os originais e as primeiras traduções da Bíblia, isto é, hebraico, grego e latim, o ilustre sacerdote francês nos dá, em linguagem fácil, atraente, encantadora, uma quantidade enorme de ensinamentos do mais alto valor filosófico e religioso.

            O livro todo é formado de vinte conferências realizadas pelo autor e depois enfeixadas em volume de quatrocentas páginas. Sua imensa bondade ameniza de multo a crítica que tinha ele de fazer dos erros e desvios doutrinários cometidos primeiramente pelos judeus, organizados em ortodoxia, e, depois, pelos cristãos igualmente ortodoxos. Ortodoxia, explica-nos ele, quer dizer anátema, perseguição aos que pensem de modo diferente, é negação da lei de amor que forma o fundamento mesmo do Cristianismo. Consequentemente, uma ortodoxia cristã é. pois, uma contradição. Mais inconcebível, por certo, seria uma ortodoxia espírita, acrescentamos nós, porque, em Espiritismo, tudo é evolução e todos sabemos que a parcela de verdade que possuímos é muito incompleta, e por isso mesmo, multo mutável. Não podemos estabelecer limites ortodoxos nem mesmo para uma só pessoa, porque, pela evolução, essa mesma pessoa se tornaria herege um dia. Logo, arrepiam-se nos os cabelos quando vemos um espírita escrever a palavra "heresia" ou pretender de alguma sorte traçar limites ao pensamento.

            Nosso intento não é fazer a crítica do excelente livro do padre Alta mas simplesmente mostrar qual é a doutrina cristã que ele nos apresenta. Primeiramente, desentulha ele o espírito do Cristianismo de todo esse amontoado, dessa pirâmide imensa de interpretações, dogmas, doutrinas, comentários, sofismas, teorias, Interpelações, discussões teológicas. Vai conosco à fonte primitiva de onde jorra a água viva e não ao caudaloso rio que vem recolhendo em seu longo curso as impurezas de mil regatos lamacentos, de mil canos de esgoto. Lá, nessa fonte primitiva, o que encontramos é a vida mesma em todo o seu divino encanto. Não necessitamos do auxílio de intérpretes nem mediadores para entender e sorver o líquido vivificante desse manancial de vida eterna. Todas as dosagens da sabedoria médica aí são desnecessárias. A vida fala diretamente a todos os seres vivos uma linguagem inconfundível, sem palavras nem gramática.

            Esse Cristianismo do Cristo, desentulhado pelo Padre Alta, é tão atraente, tão encantador, tão natural, tão vivo, tão comunicativo que sobreviveu debaixo de todo esse aluvião de areia das sistematizações, das guerras religiosas, das lutas eclesiásticas. Não houve forças contrárias que o pudessem matar!

            É simplesmente a força invencível do amor em toda a sua pureza, em todo o seu ardor espiritual: o grande incêndio que veio abrasar a Terra e levantar os homens amortecidos, elevando--os para Deus, a fonte de todo o amor, a fonte mesma da vida
de todos os seres.

            O Cristianismo do Cristo é essa chama de vida que enche de ardor as criaturas e as liga ao Criador; que, transbordante de Vida e felicidade, ignora todas as dores, todos os sacrifícios; desconhece todos os temores e todas as dúvidas; não crê na morte nem poderia conceber a morte, porque é a vida eterna com o mesmo Criador da vida.

            Depois de desentulhar o Cristianismo primitivo, o Padre Alta se revela um pensador do século vinte e tem a bravura desassombrada de nos ensinar a lei das reencarnações sucessivas, rumo à perfeição; ensina-nos as influências que o Mundo dos Espíritos exerce sobre o nosso mundo; faz-nos um excelente curso de Espiritismo puro. Toda a sua doutrina é puramente kardeciana; mas vem revestida de grande autoridade, porque sai dos lábios de um sacerdote eruditíssimo em assuntos religiosos.

            Semelhante aos positivistas, o Padre Alta tem uma veneração imensa pelo Apóstolo doa Gentios. S. Paulo é para ele o único que compreendeu o universalismo do Cristianismo e soube defendê-lo contra todas as tendências judaístas dos outros apóstolos. Só ele teve a compreensão e a bravura de quebrar o círculo de aço que pretendia encadear o Cristianismo ao Judaísmo.

            Por isso mesmo, o Autor menciona a cada momento as Epístolas. Toma-as pelo documento mais autêntico de toda a Bíblia.

            Demonstra que a Incompreensão dos discípulos de Jesus era desconcertante durante toda a Missão terrena do Divino Mestre, e que a sua manifestação puramente espírita a Paulo, na estrada de Damasco, chamando-o para o apostolado, foi um momento de mais significação do que todos os esforços de Jesus em vida. Espírito ardoroso, o Padre Alta toma partido nos debates entre Paulo de Tarso e os outros apóstolos, demonstrando que toda a razão estava com Paulo e que os outros, se deixados entregues a si mesmos, teriam feito do Cristianismo universal uma simples seita do Judaísmo oficial.

            Comentando com grande inspiração os textos evangélicos, o Padre Alta nos demonstra que o narrador evangélico confundiu a profecia de Jesus sobre o fim do mundo com a outra profecia sobre a queda de Jerusalém, e reuniu as duas numa só narração, fazendo aparecer o disparate: "Esta geração não passará, sem que essas coisas se cumpram". A queda de Jerusalém, de fato, ocorreu somente 37 anos depois da crucificação de Jesus, no ano 70, logo, dentro daquela geração. Nunca havíamos encontrado explicação tão satisfatória para aquelas palavras.

            O Padre Alta proclama a doutrina da liberdade de pensamento, qual a entendia S. Paulo, interpretando os ensinos de Jesus. Só o amor religa os homens, só o amor é religião, mas não é possível impor-se o amor sob severas penas, como pretendem as ortodoxias. O amor só medra dentro da liberdade de consciência. Ortodoxia é uma forma de domínio, de escravização; pode ser uma arte, uma política, uma forma de administração, mas nunca uma religião. É de Paris que nos fala o Padre Alta, no ano cheio de liberdade de 1922. Não conheceu, portanto, as formas de tirania do pensamento que vieram depois de 1933 e chegaram a culminar em diversos países da Europa e notadamente na França. Suas teorias se confirmam na vida infeliz que os europeus estão levando em nossos dias.  

            Não nos queremos furtar ao prazer de repetir o apelo final que o Autor faz às igrejas para que regressem no Cristianismo de liberdade e vida. Eis as últimas linhas do livro:

            "O que digo com relação à Igreja Romana, digo-o das outras igrejas: que cada uma, na Vida que lhe é peculiar, facilite cada vez mais a livre expansão dos pensamentos e das obras e pense, em seguida, nas ouras igrejas que, juntas todas, compõem o jardim variegado do Catolicismo, isto é, do Universalismo. “Toda árvore que não dá bom fruto Será cortada e lançada ao fogo” diz Jesus Cristo, e “o fruto do Espírito é a Caridade, a alegria, a paz", diz S. Paulo aos Gálatas, não os anátemas recíprocos.

            "Os antagonismos das ortodoxias rivais obstam, sem dúvida, a esse preceito divino de paz e união fraterna; mas, um meio haveria, parece-me, de fazer que cessem as competições e que desaparecessem as divisões entre as igrejas. O Catolicismo Romano é reconhecido como sendo o de maior número de súditos conta, entre os que se dizem ao serviço do Cristo; que, pois, o papa de Roma convide fraternalmente, em nome do Cristo, os chefes supremos das outras igrejas para uma conferência fraterna numa cidade qualquer; que, depois de uma apresentação recíproca e de uma conversação afetuosa,  leiam juntos a Didaquê, catecismo cristão anterior a Constantino; que todos solenemente comprometam a não impor a seus fiéis nenhum outro dogma posterior a essa primitiva  dogmática; que todos, em seguida, abdiquem das suas pretensões rivais de superioridade recíproca; que cada um coloque seu nome numa urna, e um menino com os olhos vendados, tire à sorte o nome do predestinado que o Espírito de Deus escolher para reconstituir, com a livre cooperação dos outros, o Catolicismo verdadeiro, na simplicidade dogmática de S. Paulo, e a sua liberdade disciplinar ou científica, absolutamente alheio às disputas das escolas e dos concílios.

            "Somente a esse preço o Cristianismo se tornará o Catolicismo, isto é, Universalismo,  e cada árvore diferente do jardim do Cristo será a árvore prometida pelo Evangelho, onde os pássaros do céu farão seus ninhos, como diz S. Mateus, pássaros e árvores de espécies diversas.

            “Ouça quem tiver ouvidos de ouvir o que o Espírito diz às igrejas, pois que o tempo se aproxima!”  declara o Apocalipse.”

            Todos os estudiosos de Espiritismo deveriam não só ler, mas estudar muito calmamente os ensinos do Padre Alta, Ele é um grande reformador, um restaurador do Cristianismo.

Pensamentos de Jax



Pensamentos de Jax
Reformador (FEB) Janeiro 1920

            “Há olhares que vêm mais, não vendo, que veriam, vendo.”

Pensamentos de Jax


Pensamentos de Jax
Reformador (FEB) Janeiro 1920

            “A fé é um fio invisível que liga o átomo adâmico ao infinito, que é Deus.”


Pensamentos de Jax



Pensamentos de Jax
Reformador (FEB) Janeiro 1920

            “O cego exprime muito menos aquilo que sente, que qualquer outro homem;
porque, onde termina a força, a energia da voz articulada, inicia-se vitoriosa a eloquência do olhar.”

Pensamentos de Jax



Pensamentos de Jax
Reformador (FEB) Janeiro 1920

            “Quando a lágrima não é dor, os lábios riem.”

sábado, 15 de junho de 2019

Mediunidade latente



Mediunidade Latente
Demetri Abrão Nami
Reformador (FEB) Agosto 1961

            Causa-nos pena ver certas criaturas, dotadas de apreciável vitalidade, a par de uma mediunidade incipiente que, por ignorância, preconceito religioso ou má vontade, se descuram de exercitar, decorrendo, para elas, em consequência, sérios prejuízos de ordem moral e física, além de privar muita gente necessitada de seus benefícios.

            Geralmente, essas criaturas padecem de inquietações, provenientes da própria mediunidade desprezada ou ignorada, São impacientes, irritadiças e de difícil trato. Vivem a se queixarem de enfermidades que, as mais das vezes, só existem nos próprios Espíritos ignorantes ou maus que as envolvem e lhes incutem tais pensamentos enfermiços.

            Em nossas reuniões mediúnicas, tivemos oportunidade de libertar algumas criaturas de supostas enfermidades, depois da doutrinação dos Espíritos que as afligiam. E subsequente desenvolvimento de suas faculdades medi únicas, juntamente com o estudo metódico das obras kardequianas, fortaleceu lhes o bem-estar geral.

            A causa das perturbações a que acima aludimos, por parte dessas criaturas, prende-se ao fato de elas não movimentarem grande soma de fluidos de que são possuidoras, em direção ao Bem. Assim, esses fluidos, estagnados por falta de dispersão, no sentido de aliviar, confortar, ensinar e curar os que sofrem, que é a sua finalidade precípua, congestionam o sistema nervoso de seus detentores, propiciando o avizinhamento de Espíritos infelizes que os arrastam, assim, à perturbação. Muita vez, essas criaturas são levadas, ainda, a se chafurdarem no lodaçal dos vícios ou à criminalidade, e, não raro, à demência, quando são enleadas por entidades espirituais perversas e pertinazes.

*

            A mediunidade é um dom que Deus concedeu às suas criaturas, a fim de se reabilitarem, através de sua prática honesta e desinteressada, de seus erros de passadas existências, concorrendo, ainda, para a elevação espiritual de seus semelhantes. Ninguém a conspurca ou a relega, impunemente. Segundo a Doutrina Espírita, os seus portadores responderão pelo uso que dela fizerem.

            Por isso, quando defrontarmos com indivíduos desavisados, com indícios de mediunidade, não titubeemos em esclarecê-los quanto à necessidade de seu desenvolvimento, e encaminhá-los para uma sociedade espírita idônea, onde possam receber toda a assistência de que carecem.

            Assim procedendo, estaremos contribuindo - e disso temos muitos exemplos - para que essas criaturas não venham a ser vítimas de quedas morais em virtude de alguma obsessão, ou vítimas da loucura, da qual o Espiritismo é o imunizador por excelência.


O Corpo de Jesus


O Corpo de Jesus
Ramiro Gama
Reformador (FEB) Fevereiro 1971

            Há certos assuntos a que chamamos chaves, subestimados entretanto por alguns confrades, que neles veem assuntos-problemas 
e que não devem ser dilucidados.

            E que, geralmente, leem e absorvem esses assuntos, no dizer do venerando Doutor Bezerra de Menezes, com espírito de sistema, isto é, 
de olhos fechados às verdades neles expostas e opulentadas.

            Referimo-nos ao corpo de Jesus, 
que aceitamos como sendo fluídico, 
logo assim penetramos o Espiritismo; 
e isto espontaneamente, 
sem haver lido, até aí, nada a respeito.

            Acontece que fomos eleito Presidente do Grupo Espírita Fé e 
Esperança, de Três Rios, no Estado do Rio, no ano de 1932, 
quando residíamos naquela cidade fluminense.

            E começamos a conviver, intimamente, 
com os companheiros de Diretoria do Grupo, 
muitos dos quais nos procuraram experimentar os conhecimentos
 com relação ao Espiritismo e saber se estávamos mesmo à altura do cargo.

            Um deles, o 1.° Secretário, José Magno da Silva, 
professor de Matemática, 
era o mais versado nos assuntos da Terceira Revelação. 
De uma feita, assistimos à palestra sua sobre a 
Virgindade de Maria Santíssima e 
achamos que dissertou com acerto e mestria sobre o delicado tema.

            E foi ele, justamente, o escalado para nos arguir.

            Logo de início, perguntou-nos:

            - Que acha o confrade do Corpo Fluídico do Cristo?

            Ficamos alguns instantes surpreso, 
pois não esperávamos tal pergunta. 
E, talvez, por intuição ou inspiração caridosa do Alto, 
respondemos assim.:

            Somos a favor. 
Sem que tenhamos lido ainda algo a respeito, 
acreditamos no corpo fluido de Jesus. 
Achamos que Ele não tivera um corpo igual ao nosso. 
Foi, em verdade, pura e claramente, um agênere.

            E concluímos:

            - Entretanto, lendo os Evangelhos, 
recordamos uma afirmativa de Jesus, 
que tudo nos fala de seu corpo: 
"dos nascidos de mulher, João Batista é o maior". 
Para nós isso é o bastante. 
Não precisamos de nenhuma outra documentação 
para vitoriar o asserto do Divino Mestre.

            O querido confrade, hoje na Espiritualidade, 
deu-se por satisfeito: Também para ele isso bastava.

            Recebemos, depois, de Manoel Quintão
seu precioso "O Cristo de Deus", 
em que ele esgota o assunto, 
com citações autorizadas, 
calcadas todas na lógica e na razão,
 transcrevendo e apreciando várias passagens evangélicas 
e vitoriando, assim, o magno problema. 
Depois fomos obsequiados com
 "Jesus nem Deus, nem Homem", 
de Guillon Ribeiro, que também focou e 
ressaltou a verdade toda inteira do corpo de Jesus, 
sempre com aquela superioridade de espírito e
 inspiração costumeira de seus valiosos Guias, 
dando-nos exemplos vários com relação à incorporeidade 
do Amigo Celeste e à luz da terceira explosão 
da bondade de Deus, 
que é o Espiritismo.

            Lemos ainda "Elos Doutrinários", 
de Ismael Gomes Braga
"A Vida de Jesus", de Antônio Lima
os livros eruditos de Leopoldo Cirne, Sayão 
e outros queridos seareiros, 
habituados todos a ler e compreender o 
Espiritismo Consolador sem o espírito de sistema e
 com olhos de ver, 
coração de pensar e inteligência de amar. 
Portadores que eram e são 
do AMOR que SABE e do SABER que AMA.

            E começamos, desde daí, a ver em Jesus um Ser à parte, 
um Espírito imaculado, tão grande e tão lindo, 
que jamais seremos capaz, nesta vida, 
de Lhe traduzir o valor, 
a culminância espiritual, tão longe nos consideramos 
d’Ele e tão endividados, ainda, diante dEle...

            E, por não considerarmos de pouca valia o seu corpo, 
mas chave para traduzir,
embora palidamente, a Sua gênese, 
é que O vemos com respeito e coração ajoelhado.
Quando, durante o Culto no Lar feito por nós há 42 anos, 
abrimos Seu Livro, o Livro
da nossa redenção, 
"O Evangelho segundo o Espiritismo", 
buscamos n’Ele e com Ele o clima da Luz Acima, 
da defesa espiritual, 
da legítima vitória,
 no exemplo da humildade, 
a prol da nossa tarefa de trabalhadores da última hora!

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Do Blog: 5 livros e um só tema.

Cabe lê-los para formar sua opinião a respeito.
Por qual vamos começar?


'Jesus - Nem Deus nem Homem' (FEB) - Guillon Ribeiro
'Elos Doutrinários' (FEB) - Ismael Gomes Braga
'O Cristo de Deus' (FEB) - por Manoel Quintão
'Elucidações Evangélicas' - (FEB) - Antônio Luiz Sayão
'Vida de Jesus' (FEB) - Antônio Lima