Pesquisar este blog

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Súplica de Perdão



Ditados
Minimus (Espírito)
Reformador (FEB) 16 de Agosto de 1925

Súplica de perdão – Grandeza desse sentimento, sem o qual não pode haver paz.

            Meu Jesus, meu Divino Pastor, permite possa eu trazer ao teu rebanho, sempre carecido, o meu ofertório de paz.

            Não, meu Senhor, dessa paz que anda em todas as bocas humanas, mas que na verdade foge e refoge, a cada momento, dos humanos corações.

            Há vinte séculos, meu Jesus, também eu ignorava estas coisas e, por isso, na
romaria negra do Calvário, não compreendia a figura excelsa do Cirineu e, de mistura com a turba raivosa, bramava crucifique-se, crucifique-se o impostor.

            Meu Senhor, era a ignorância negra como a noite dos crimes de sucessivas e velhas gerações! Perdoa aos meus irmãos, oh! Divino Salvador, perdoa-lhes como há vinte séculos lhes perdoavas de cimo do madeiro, a ignorância mais lastimosa que criminosa.

            Hoje, como naquele tempo, a humanidade ainda não te conhece! A humanidade quer paz, meu Jesus, a humanidade pede paz, mas a humanidade continua a sacrificar-te por ignorância.

            Salva-a, pois, meu Jesus, salva-a como a mim me salvaste, dando-me, na iluminação da tua palavra de vida, toda a vida da minha vida. Faze-lhe compreender, meu Senhor, que essa paz que ela almeja é fruto do teu amor e que não há amor contigo que não comporte perdão.

            Perdão! Mas, saberá o pobre peregrino da Dor, o aleijado da prova, compreender e sentir e avaliar a grandeza do teu perdão?

            Meu Jesus, perdoa-me também; não posso, não devo, não quero julgar. O que posso, devo e quero é pedir-te misericórdia para todos os nossos irmãos que aí como aqui se acham no teu rastro luminoso, buscando amar-te e compreender-te. Ilumina-os meu Jesus, para que possam ser, de fato e de direito, com o teu Evangelho, os arautos dessa paz que proclamam e que lhes foge como um duende a cada momento, porque não se escuda no perdão.

            Meus amigos, meus companheiros de ontem, estou a ver que buscais meu nome. Um nome? Não o tenho. Sou simplesmente um filho de Deus, que vos pede perdão, como a Ele pede por todo os que sofrem no erro, na ignorância e no crime. 

           Lembrai-vos de que a paz só será paz, quando houver, antes dela, no Espírito, a luz do Perdão.

            Que Jesus vos ilumine e vos perdoe.

Paz e sempre paz.



Ditados
Bezerra de Menezes (Espírito)
Reformador (FEB) 16 de Agosto de 1925

             -Porque não baixam as mais amplas revelações da verdade- 

– Em que consiste a doutrina-  
            
 Meu amigo, paz e sempre paz.

            Tens visto que difícil coisa é a disciplina da vontade. Entretanto, condição indispensável é essa ao crente, para que ele possa ampliar sua esfera de ação e de progresso. Porque, o progresso do Espírito é infinito.

            Há muito quem diga - a doutrina não tem adiantado coisa alguma, as verdades e os fatos são sempre os mesmos. Os que assim falam apenas olham para o exterior, só querem o que lhes cai sob os sentidos físicos, 
ou ao alcance da inteligência adstrita às concepções mundanas.

            Mas, pergunto aos crentes que assim se manifestam: Estais aptos, vós outros,
a receber novos conhecimentos e modalidades mais amplas da Verdade? Admita-se que sim; perguntaria ainda: Que iríeis fazer desse patrimônio superior?

            Não, meu amigo, a Doutrina é esta, a Doutrina é o Evangelho e, sem que este se haja fundido nos corações sem que vivifique todas as almas chamadas à regeneração planetária, outras verdades não poderão baixar e, se baixassem, 
maior seria a responsabilidade dos agraciados.

            Meditem nestas considerações os que propugnam métodos e conquistas extravagantes, fora dos Evangelhos e reconheçam que tudo vem a seu tempo.

Deixai, porém, que dentro de vós se acenda uma fagulha só do amor de Jesus e tereis armas para vencer o mundo. Deixai que corram à revelia esses pruridos de novidades e meditai nisso apenas – que a fraternidade e a paz só serão um fato quando os homens houverem compreendido o divino Mestre.

            Compreendei-O vós outros, como nós que, para assim fazermos, aqui estamos, e dai-vos por satisfeitos e felizes com o haverdes apreendido a grandeza do seu perdão.

            Adeus e paz.

            Bezerra

A pior das escravidões



A pior das escravidões
 Redação 
Reformador (FEB) 16 de Agosto de 1925

  Perguntara Sócrates um dia a Entidemo:

 - Dize-me: qual é a pior das escravidões?

 - A meu ver a que nos submete ao pior do senhores. (Xenofante, Memoráveis, IV, V.)

 Respondera com acerto o amigo do sábio grego, precisando o pensamento do mestre sobre as intemperanças de toda sorte. 
Quisera Sócrates combater no espírito da mocidade ateniense, 
os pendores à impureza, geradores dos vícios 
que degradam o sentimento de dignidade humana;
 daí o motivo da arguição.

            Comparou o vício, o pecado enfim, aos senhores despóticos, que requintam na perversidade dobrando os homens a seu talante, 
acorrentando-o ao tronco da escravidão.

            Ser escravo era a mais terrível das humilhações, 
nada o colocaria acima dos animais.
 Negava-se lhe o direito de possuir uma alma 
e os trabalhos tidos como aviltantes lhes eram destinados. 

            A ideia, pois, da escravidão física devia talar o espírito ateniense para a boa compreensão da escravidão moral, que excede em consequências àquela, bem mais
temível que é, em virtude da semente da corrupção que traz em si, capaz de se alastrar ameaçadoramente pela terra, destruindo as instituições 
mais veneráveis da humanidade.
           
            O filósofo grego, na visão superior de seu espírito, compreendendo a fraqueza do homem e a impetuosidade das paixões, lançou por isso o grito de liberdade, cujos ecos, unindo-se mais tarde à voz do Redentor do mundo, ainda nos chegam cada vez mais nítidos, mercê da luz que se difunde do Cristianismo.
           
            A pior das escravidões é a que nos submete ao pior dos senhores.


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Sejamos tolerantes



Sejamos tolerantes
Editorial
Reformador (FEB) Julho 1925

            O homem tende, por natureza, a exagerar as coisas e, quanto maior a deficiência de espírito e especulativo, mais acentuada é essa sua tendência. Subordina a miúdo seu critério de maneira assaz pueril e, às vezes, tão acomodaticiamente, que bem patenteia atraso e lassidão moral.

            Dificilmente as gerações se orientam por verdadeiros princípios e isto porque, além da pobreza de suas perspectivas, em grande parte as influências de velhas tradições ainda predominantes, os prejuízos de educação e a debilidade moral lhes estorvam o passo.

            Todavia, compreendemos que tudo tem sua razão de ser e muito sabiamente o progresso não se faz aos saltos. A mesma lei física que preside à germinação, ao crescimento, à florescência e frutificação das árvores se repete no Espírito humano e se repete enquanto não vence a fase de seu desenvolvimento, não poderá apreender a sabedoria dos ensinamentos que fazem parte do patrimônio da humanidade. Em cada etapa de progresso necessidades novas, meios outros de nutrição, capacidades diferentes, velando se a verdade na medida da relatividade da compreensão.

            O pensar de uma geração obedece sempre ao grau de evolução realizada e não se deve esperar de um período embrionário, de obscurantismo, as ideias brilhantes e o alto critério de um estado de superior cultura e progresso. Daí a linguagem apropriada a cada época, respeito às crenças humanas, as diferentes linguagens de que usaram os precursores da ciência humana e divina.

            E do atraso sendo principal rebento a intolerância, observamos o formidável dissídio que separa os homens, no dilatado campo do pensamento religioso e filosófico, porque ainda não quiseram atentar em que nem todos possuem a mesmas capacidades, nem todas as almas são gêmeas no sentimento e no saber. E não quiseram ainda compreender que, de homem a homem, de alma a alma, muita vez há distâncias infinitas, distinguindo-os sempre a gradação progressiva, manifestando-se diversidade tal, entre as inteligências e os Espíritos humanizados que se poderia compará-los a das folhas de uma árvore mesma, jamais absolutamente iguais, todas parecidas, do mesmo aspecto e conformação, porém de grandeza diferentes.

            De que modo pois o entendimento se poderá dar entre Espíritos de possibilidades tão diversas e qual a maneira da coadjuvação dos mais esclarecidos? Difícil não será a solução de problema tão sério, pois na tolerância encontramos o seguro respeito às crenças sinceras e o instrumento de desbravamento das inteligências débeis. Porque tenhamos alcançado maior progresso e mais ciência, de desembaraçando nos das andadeiras, devemos por isso condená-las e destruí-las? Pois que! Possuindo mais luz, os Espíritos teriam ficado cegos? Não vêm que a outros é mister que as andadeiras lhe prestem apoio aos movimentos? Como reprovar a experiência do velho apóstolo dos Gentios quando dizia: “Leite vos dei, por não poderdes suportar nutrição mais sólida”?

            E, chegados que somos a este ponto, é ocasião de dizermos aos espíritas, repetindo as palavras dos Espíritos reveladores: “Não censureis os que erroneamente interpretaram as palavras de Jesus. Tudo tem a sua razão de ser. As falsas interpretações humanas, devida ao estado das inteligências, as necessidades da época e dos tempos que se seguiram, serviram, como condição e meio de progresso, à atualidade de então e prepararam o futuro que se abre ante vós pela nova revelação.”

            Há uma tendência, que é preciso corrigir em o nosso Espírito: a de não apreciarmos sempre as coisas debaixo do elevado ponto de vista do providencialismo, que governa e regula a marcha dos acontecimentos e do progresso humanos. Se Jesus outrora não veio destruir a lei mas cumpri-la, muito menos o Espiritismo a vem destruir hoje. A missão dos seus adeptos é cumpri-la, trabalhando pelo advento do Reino de Deus na terra. E como este não consiste em fatos, disse Jesus, nem em gestos exteriores e porque está no coração do homem, cumpre a cada um de nós propugnar pela sua realização, predicando a moral evangélica, exemplificando-a sinceramente em toda parte.

            Dos lábios do espírita não devem cair palavras que não traduzam as excelências do tesouro que a sua alma guarda, varrida esta das iconoclastias que não tenham por objeto a destruição do mal, da impureza e da miséria moral que se alojaram no coração.

            E se não nos devemos conformar ou transigir com os erros ou faltas, estejamos bardados de ferro, mas com um coração fraterno, porque o cristão deve ser um justo que sabe combater (‘Justice’, pg. 25 ed. Nova, C. Wagner) “falando com doçura e severidade, apropriando sua linguagem ao caráter e disposição de cada um”. (Quatro Evangelhos, tomo II, Roustaing)

            Respeitemos as crenças sinceras, jamais as choquemos inutilmente, “enquanto possam conciliar-se com o progresso da humanidade; mas desde que os Espíritos fracos se apeguem fortemente a tal ou tal dogma, a tal ou tal cerimônia – digamo-lhes: “O culto que agrada o Senhor é unicamente o culto que vem do coração, a seus olhos nenhum valor tem os atos exteriores, não vos descuideis do culto da alma, grato ao Senhor.” (Obra citada)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O remédio único para os males presentes da humanidade



O remédio único 
para os males presentes da Humanidade
Pedro Richard (espírito)
Reformador (FEB) Dezembro 1925

            Meus caros amigos e companheiros,

            Paz em nome do Cordeiro Cordeiro de Deus. Paz, meus amigos, porque só ela é capaz de vos auxiliar a vencer com serenidade a etapa dolorosa que o vosso mundo atravessa. Que os vossos Espíritos se saturem dessa benfazeja esmola que o céu derrama neste recinto para aqueles que vêm, cheios de necessidade, debruçar-se sobre o livro da vida;
 
            Meus amigos, os vossos olhares se estendem pela vastidão do mundo e por toda parte divisam a dor e a luta. Os dirigentes dos povos, cegos e surdos às vozes interiores que lhes apontam o caminho para sair do caos em que se debatem, acumulam maiores erros sobre os que deram as tristes consequências em que se debatem. Uns procuram entregar àqueles que são a causa do grande mal a direção do tratamento da enfermidade que se alastram pelas nações; outros procuram com um novo  erro dirigir a sua tarefa, abstraindo, no governo das nações, da ideia da cristianização pelo Evangelho.

            No entanto, tudo estaria removido se as almas soubessem ler o futuro pelas lições do passado.  

            Meus amigos, pertencei à geração de sofredores que nesta hora caminha sobre a terra, estonteada e incerta do amanhã; mas, a vossa consciência já vos fala da razão de ser das anomalias que observais e vos aponta o remédio para gozardes, com relativa calma, de um pouco de paz para enfrentardes os vendavais que se desencadeiam em redor de vós. É a  obra do estudo, da compreensão da dor e da sua necessidade como propulsora do progresso.

            Preparai-vos para ensinar aos vossos irmãos este remédio que tanto bem vos faz, se quiserdes sentir dentro de vós alegrias duradouras. Forjai as vossa almas nessa oficina, começando por manter entre vós a perfeita afinidade. Cultivai a fraternidade, ensaiando-vos para a compreensão da caridade, que é amor.

            No dia em que os diretores de povos compreenderem a necessidade do ensino do Evangelho em espírito e verdade, no dia em que os lares agasalharem o
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, nesse dia, meus caros amigos, terá início uma nova era para a humanidade. Tudo mais que se fizer, sem o cunho de uma reforma moral nas criaturas, inócuo será para o restabelecimento da verdadeira equidade e da verdadeira ordem entre os homens.

            Os mudos ligam-se entre si pelas leis do Criador, vós o sabei, mas ignora-o a maioria dos homens; cumpri pois o vosso dever de ensiná-los, porém não vos  
Esqueçais de que em tudo o exemplo fala mais de perto aos corações. Bate, insisti; convosco estão aqueles que são os diretores da tarefa.

            Do seu remanso de paz o manso Cordeiro de Deus tem os olhos vigilantes sobre o seu rebanho e nenhuma ovelha, que procure manter-se no aprisco, escapará de sua solicitude. Estudai, preparando os vosso corações para o cumprimento dos vossos deveres.

            Deus vos abençoe.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

O subconsciente do materialismo e do Espiritismo



O subconsciente
do materialismo e do Espiritismo
por Leopoldo Machado
Reformador (FEB) Janeiro 1940



            No vão esforço de explicar fenômenos espíritas, inteligentes; vemos alguns sábios materialistas, lançar mão de coisas bonitas, incompreensíveis e xaroposas, a que dão os nomes de consciente, inconsciente, subconsciente...  

            Que é o que vale e significa tudo isto? Procuremos onde estão aí a lógica, o bom senso.

            Segundo eles, o consciente se manifesta na criatura em estado normal. Nem por isso deíxa de ser mais obtuso, nem menos inteligente do que o inconsciente, ou o subconsciente, que só se manifesta no indivíduo em estado de êxtase ou transe. Temos, então, um inconsciente que, a julgar pelo número de fatos assombrosos dele oriundos,  seria até de molde a merecer a láurea de SUPERCONCIENTE!

            É, entretanto, à subconsciência e à inconsciência que sábios e cientistas da matéria se agarrem, aflitos, sem saber o que isso é, explicaram fatos psíquicos que fora das concepções espirituais confirmadoras da existência do Espírito, da sobrevivência, ficam sem explicação. Dado mesmo, existam, existem o inconsciente e o subconsciente do materialismo, estamos, com Ernesto Bozzano, em que “bastariam para provar a sobrevivência do espírito humano, sem que haja necessidade de recorrer-se às manifestações mediúnicas”. E damos razão a Alberto Seabra, quando afirma, através de substanciosa análise, que, “o inconsciente fisiológico é uma região cheia de trevas em que se debate a fisiologia moderna, sem uma fresta de interpretação racional”. Pois é, dessas trevas espessas que a ciência materialista pensa retirar explicações lógicas para os fatos mediúnicos, para os fatos concretos e científicos do Espiritismo! Assim pensado, ei-la pespegando, sem provas, concepções e teorias em que, nem ela própria – a ciência materialista – e seus sábios, tomam pé! Limitam-se – continua dizendo Alberto Seabra – a registrar os fatos “em grande número e impossibilitados de os compreender, nada mais fazem do que batizá-los com alguns nomes gregos. E, como lhes dão tais nomes, fica-me a ilusão de os ter compreendido”.

            É bem isto, não há negar, o que se verifica por aí afora.

            Vejamos, porém, em que base assenta o subconsciente materialista, criação de filósofos, a que se agarraram, posteriormente, cientistas da matéria, gente que, era de presumir-se mais objetiva. Sua origem moderna deve-se a Robert Hartmann, filósofo alemão, que o contrapõe à vontade, de Schopenhauer. Leva Hartmann tão alto o seu inconsciente, que lhe atribui a origem do mundo! Coube, porém, a Fred Myers estuda-lo, ajustando-o às ciências psíquicas denominando-o de consciência subliminal, e os estudos desse sábio abriram caminho à Metapsíquica. Caiu, porém, o subconsciente, no gozo dos psicólogos, dos fisiologistas, e foi uma beleza! Hesnard, no seu L’Inconscient, escreve, definindo-o: “O inconsciente não é uma divindade, nem mistério: não explica nem a síntese, nem o surto vital.” Contudo, tenta-se com ele explicar coisas ainda mais complicadas! Prossegue, todavia, o escritor: “Não é uma consciência degradada ou aberrante, nem o que existe fora da consciência. É a argamassa psíquica que tende para o consciente, a qualidade primitiva de uma multidão de fatos psíquicos reunidos pelos métodos objetivos”.      

            Compreendeste, leitor amigo? Parece-nos que não, pois não se compreende o incompreensível. Vamos, porém, adiante. A psicologia patológica apresenta o inconsciente como detentor de maiores possibilidades para a espiritualidade humana. Aqui está uma coisa que se aproxima suavemente do Espiritualismo puro. É o inconsciente que o Sr. Freud e a sua psicanálise dão como repositório do caráter são e doente. Lógico, dizemos a nosso turno, de vez que tudo se grava no períspirito, que se nos afigura a verdadeira inconsciência ou subconsciência, como por aí a vemos.  Coué atribui à imaginação a responsabilidade da inconsciência. Assim, os poetas e os romancistas, os músicos e os fantasistas, os grandes artistas, em suma, são obra do Inconsciente.  Daí, talvez, porque se deva – segundo aconselham Freud, Charcot, Bernheim, Breuler, Liebault e tantos outros – cultivar mais o inconsciente do que o consciente. Se esta cultura implica, a par da formação de artistas e gênios, a elevação do Espírito e do Coração, de acordo. Grasset divide as funções psíquicas em duas ordens: a superior, consciente, é voluntária; a inferior, inconsciente, é automática, subordinada àquela. Mas o que se vê por aí são fatos do subconsciente se apresentarem mais extraordinários do que os do consciente. Superiores, consequentemente, à consciência! A auto-sugestão de Coué estabelece a existência em nós de dois indivíduos distintos um do outro, ambos inteligentes: um consciente, o outro inconsciente. Pois não existem em nós Espírito e Perispírito? Não será, no fundo, a mesma coisa, com diferentes nomes? Vai mais longe o criador da "Escola de Nancy": diz que "o inconciente possui uma memória maravilhosa e impecável, capaz de registrar, à nossa revelia, os mínimos acontecimentos". De que não é capaz, na verdade, o poder retentivo do Perispírito, em que se gravam, como numa placa fotográfica, as impressões todas de nossa vida? No fundo, como se vê, a mesma coisa!

            O Dr. Austregésilo declara que “a alma, em sua formação, conserva, pelas condições hereditárias, sobretudo atávicas, o grande acervo ou registro que resume, habitualmente, o inconsciente”. Não é esta a função do Perispírito, através das reencarnações do Espírito? Substituam-se os termos hereditariedade e atavismo por existências já vividas pelo Espírito e dá certo. Dando, ainda, o psiquiatra patrício “o consciente e o inconsciente como sendo as forças espirituais por excelência” do Espírito, conclui que a saúde do Espírito se estabelece pela educação do subconsciente, etc. Nenhuma educação se consegue, é claro, às pressas. Pensamos que, desde que o nosso esforço se oriente para a nossa perfeição espiritual, estamos pagando velhas contas do passado, conseguintemente, “educando o nosso subconsciente". É tão verdade isto, que dois doentes da mesma doença, assistidos pelo mesmo médico, tratados pela mesma terapêutica e medicamentos, um pode ficar bom e o outro não. Porque? Apenas porque um se livrou da moléstia, por já haver pago alguns ceitis de sua dívida passada, senão, a dívida toda, e o outro, não...

            Gustavo Geley, que foi quem mais se preocupou, depois de Myers, com o problema do Inconsciente e do subconsciente, tanto que escreveu uma bela obra, De “L'!nconscient au Conscient”, após demonstrar que os fatos da psicologia clássica são incapazes de explicar as transformações bruscas das criaturas e seus sentidos e instintos subconscientes, chega à compreensão da impossibilidade de um paralelismo entre as capacidades orgânicas e o Inconsciente Supranormal, que é, por assim dizer, o subconsciente de Myers. Não encontra, o notável diretor do "Instituto de Metapsíquíca Internacional", nenhuma correspondência, em lei fisiológica alguma, para o Consciente e o Subconsciente dos materialistas. Donde se vê que a Subconsciência não provém, é lógico, de neurônios, de células nervosas, mas de alguma coisa que escapa à análise dos laboratórios químicos e físicos, ao escalpelo dos cirurgiões. 

            A despeito desses consciente e subconsciente impressionarem, de época recente a esta parte, observadores e cientistas, sua existência se vem manifestando de mais longe. Sócrates dispunha de um inconsciente de fôlego: a sua alma racional, afirmação de Plutarco, o OrácuIo de Trofonius dizía que era uma alma assim, diferente das almas comuns, a que acompanhava Sócrates. Porfiro, da escola de Platão, estudando os transes subconscientes dos pitões e profetas (médiuns, para nós) expõe uma teoria que parece da autoria dos Grasset, dos Charcot, dos Austregésilo: "a causa que produz o êxtase poderia ser muito bem uma afecção mental ou uma loucura patológica produzidas por uma super excitação psíquica semelhante à das vigílias prolongadas ou dos excitantes farmacêuticos. Quanto ao Espírito de que se fala, suponho se trate apenas duma parte da alma humana. Ainda aqui, o Perispírito, que é parte da alma humana, porque é o seu corpo espiritual! De contrapeso, temos a certeza de que as drogas farmacêuticas podem gerar loucuras patológicas!

            Coisas que ignoramos, em estado normal, maravilhas do subconsciente podem  manifestar-se à revelia de nossa consciência, de vez que se nos gravam no Perispírito, conhecidas e apreendidas pelo Espírito em vidas pretéritas; senão inspiradas ou transmitidas por seres invisíveis que nos circundam a cada passo e de que, segundo Zoroastro, anda cheio o ambiente em que vivemos; que compõem, para Flammarion, o verdadeiro mundo, visto como o mundo das coisas visíveis é o mundo das aparências. São essas coisas que, para nós, constituem as maravilhas do Inconsciente e do Subconsciente, subconsciente e inconsciente para os quais se criam nomes bonitos, como Consciência Subliminar, Criptopsíquica, Criptomnésia (Richet), Telestesia (Myers), Metagnomia (Osty). Tudo isso são, mais ou menos, variantes da mesma coisa, coisa que, para nós, só se explica bem dentro da lei reencarnacionista, aceitando-se, consequentemente, a existência do Espírito e do Perispírito; concebendo-se o Espírito como a verdadeira entidade a agitar, no homem somático, os nervos, que lhe sacodem os sentidos, vibrando-lhe no instinto e na Consciência, que, em suma, lhe constitui a essência da Vida. Aliás, é o que os maiores cultores do psiquismo científico e experimental, com Crookes, Wallace, Flammarion, Lombroso, Bozzano e tantos mais, vêm demonstrando por ‘a’ mais ‘b’, através de provas inconcussas. É o que verificará e aprenderá qualquer inteligência capaz de indagar, raciocinando, através de estudos e experiências.

Ditados do Além




Ditados do Além
Reformador (FEB) Janeiro 1940
Romualdo (Espírito) em sessão do Grupo Ismael (FEB)
           
O QUE MOSTRA O INTERCâMBIO COM O MUNDO ESPIRITUAL, 
NO TOCANTE AO CRISTIANISMO.- A DESILUSÃO DOS QUE O DETURPARAM. 
- A LEGIÃO DOS SINCEROS QUE PARA ESSA DETURPAÇÃO CONTRIBUíRAM,
POR SUBMISSÃO A UMA DISCIPLINA DEGRADANTE. 
- A TRISTEZA DE QUE SE ACHAM POSSUíDOS 
- SEUS SOFRIMENTOS. - TAREFA PARA QUE SE PREPARAM. 
- A RESPONSABILIDADE DOS ESTADISTAS NAS LUTAS ENTRE OS POVOS 
- A OBRA DO ESPIRITISMO CRISTÃO. 
- PROSSEGUIMENTO DESSA OBRA.

            Paz, meus caros filhos,

            É extraordinária e paradoxal a incoerência dos fatos. O intercâmbio dos homens com os Espíritos nos mostra que aqueles que deveriam pugnar pela pureza do Cristianismo do Cristo são os vanguardeiros na luta, como opositores dos que desejam purificar, arejar a revelação cristã, para remédio a todos os males da humanidade terrena.

            Não é difícil, entretanto, compreender-se o paradoxo. Criaturas apegadas, na Terra, às fórmulas e aos dogmas, não puderam seguir o Cristo, não lhe entenderam a obra, não perceberam a humildade dos seus ensinos, não lhe sentiram o amor em todas as manifestações da sua missão entre os homens.

            Em vez da simplicidade das suas lições nas praias, nos campos e nas montanhas, as pompas das catedrais douradas, a receberem, não o sentimento, mas o testemunho do terror das turbas, tão grande se ostentava o poder temporal sobre as populações das Vilas e cidades onde os sacerdotes desempenhavam a sua tarefa.

            Volvendo à verdadeira vida, que desilusão!

            Não mais as homenagens das turbas, nem as pompas das catedrais: só trevas, sofrimentos, ódio e desejo de aniquilar todo aquele que jure bandeira nas novas legiões que o Cristo permite se preparem para o novo combate pela redenção das criaturas.

            Vejo, num recanto do Infinito, uma legião de sotainas negras, tristes, acabrunhados pela obra que fizeram. Contemplam, de um lado, os horrores causados pela deturpação dos ensinos do meigo Pastor e, de outro lado, observam os quadros representativos do que seria o mundo, se a humanidade tivesse sido tangida pelas estradas que os ensinamentos do Evangelho marcaram.

            Motiva-lhes a tristeza, a compreensão que já têm das suas responsabilidades. São os sinceros, os que erraram por efeito de cega submissão a uma disciplina degradante, indigna de consciências livres.

            O crime que cometeram está sendo reparado, por meio da observação das consequências que o seu proceder acarretou e feita está sendo também a preparação deles, para voltarem ao teatro de suas façanhas, afim de servirem à nova Igreja, cujos alicerces começam a erguer-se em toda parte.

            Muitos dos que aqui vêm vão depois para essa escola preparar-se a servir ao Evangelho em espírito e verdade.

            Meus filhos, a camada fluídica que vos cerca é. pesadíssima. Difícil se nos torna transpô-la para tratar de questões que não entendem com as necessidades imediatas do corpo. Os vossos estadistas se preocupam exclusivamente com os assuntos econômicos, com o plantio do pão do corpo.

            Não levam em conta o Espírito, e as gerações, educadas nesses princípios malsões, seguem vida em fora vazia do verdadeiro sentimento, sem a compreensão do que é a vida terrena. Daí as lutas as lutas dos povos entre si, para a conquista de maiores possibilidades no campo da economia e da finança. Ninguém quer ser o primeiro nos atos de renúncia, de fraternidade, de amor ao próximo. E essas criaturas, cristãs pelo nascimento, cristãs porque tais se dizem, não cogitam, sequer, da grandiosa epopeia que foi a missão de N. S. Jesus Cristo. Entretanto, se em conta a tivessem, seria a salvação.  

            Prossigamos, meus caros filhos, sem desfalecimentos, nesta obra, certos de que a seu tempo ela produzirá frutos, alertando a consciência do homem para os seus deveres primordiais, que são o de cuidar do melhoramento do seu coração e o do preparo da sua inteligência, para ascender, progredir e irmanar-se com o seu Jesus, na comunhão do amor.

            Essa a obra do Espiritismo cristão, obra difícil, porquanto um simples núcleo de quatro ou cinco filhos de Deus precisa de anos para chegar a uma perfeita unificação de sentimentos, que lhe permita proveitoso intercâmbio com os Espíritos do Senhor.

             Trabalhemos com afinco esta seara, trabalhando o nosso próprio coração; batisemo-nos nela em espírito e verdade e, quando houvermos atingido a preparação necessária, que de nós depende, o resto virá de acréscimo, segundo a promessa do Senhor.
           
            Paz fique em vossos Espíritos e que o olhar do meigo Nazareno vos acompanhe e proteja na vossa tarefa de preparadores do caminho para os verdadeiros prepostos do Consolador. Deus vos abençoe.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Os que ignoram que estão mortos



Os que ignoram que estão mortos
por Amado Nervo  (tradução)
Reformador (FEB) Dezembro 1919

            “Os mortos”, havia-me dito várias vezes o meu amigo, um velhinho espirita, vindo de encontro ao que, de minha parte, já havia encontrado várias vezes em minhas leituras – “os mortos, senhor meu, ignoram que tenham morrido. Ignoram-no até certo tempo, até quando um espírito caritativo os desperta, para se desvencilharem definitivamente das misérias deste mundo."

            Geralmente se creem afetados ainda da enfermidade que lhes motivou a morte; lamentam-se, pedem remédio, permanecem numa espécie de adormecimento geral, de bruma, do qual se vai desprendendo pouco a pouco a divina crisálida da alma. 

            Os menos puros, os que morrem mais apegados a terra, vagam em derredor de nós, presos de um desconcerto e de uma desorientação supremamente angustiosa.

            Sentem dores, fome, sede, exatamente como si vivessem, pois que o amputado sente possuir e ainda lhe doer o membro segregado.

            Não falam, interpõem-se em nosso caminho e desesperam ao presumirem que os vemos e e não lhes fazemos caso. Creem-se então vítimas de um pesadelo e desejam despertar.

            Porém, a impressão mais poderosa - como também a mais próxima - é a de que eles acompanham, doentes, aquele que os matou.

            E, com efeito, uma tarde em que, por curiosidade, assisti certa sessão espirita, pude comprová-lo.

            O médium era falante (sabe você que há médiuns auditivos, videntes, materializadores, etc.). As almas dos mortos se servem da boca do médium para conversar com os presentes, ou, por outra, falam por “boca de ganso” (dizer o que outros sugerem).

            Deram início à sessão sem apagarem as luzes e a médium caiu em transe.

            Momentos depois exclamava:

            - Estou ferido; socorram-me! - e apertava com ambas as mãos o flanco direito.

            - Quem é você? Interrogou o que presidia a sessão.        

            “Sou Valente Martinez, e me feriram aqui na Praça de Carmen; feriram-me a traição. Estou tombado; venham levantar-me”!

            E o semblante da médium demonstram sinais de dor e de agonia.

            Eu e muitos dos ali presentes experimentávamos grande surpresa porque os periódicos da última semana haviam noticiado e comentado o assassinato de Valente Martinez, cometido traiçoeiramente por um celoso (invejoso). Assim, pois, a sessão se tornava interessante.

            -Você está equivocado - insinuou então o presidente da sessão - e presume estar ferido e abandonado na rua; porém, na realidade, você está morto!

            - Morto, eu? Exclamou surpreendida a médium, digo-lhe que estou apenas ferido!        
            E continuava apertando o flanco direito.

            -Está você morto e bem morto. Morreu em consequência de uma punhalada, na sexta-feira última, no hospital de São Lucas...

            A médium se impacientava: - É uma falta absoluta de caridade deixar-me atirado à rua como um cão! Como um cão sim, abandonado em meio da rua!  

            E retorcia-se em seu assento.

            -De sorte que, continuou o presidente - você insiste em que está vivo?

            -Sim, e ferido! Ajudem-me, quero levantar-me. Não sejam maus!

            - Pois vou provar-lhe que está morto.

            Qual o seu sexo?' Homem ou mulher?

            -Eis uma pergunta tola... Sou homem!

            -Você está seguro?

            A médium fez um movimento de contrariedade.

            - Que? Se estou seguro? Que pergunta!

            -Bem, pois toque no seu peito e no rosto.

            A médium levou a mão direita ao queixo e uma expressão indecisa de pasmo anuviou lhe o rosto. Valente Martinez (que, segundo os retratos estampados nos periódicos, era barbado) encontrava-se agora imberbe...

            A sua mão, trêmula, pousou em seguida no lábio superior à procura do farto bigode, mas passou pela decepção de não encontra-lo. Depois, mais trêmula ainda, desceu ao peito e, no sentir a carne turgida dos seios, a médium deixou escapar um grito agudo, horrível, enquanto frios suores lhe molhavam a fronte, lívida de tortura, em que se lia o supremo espanto da convicção!  

            Seguia-se então largo e imperturbável silêncio, durante o qual a médium, imóvel,  murmurava não sei o quê, com os lábios convulsos.

            Por fim, o presidente lhe disse:

            - Veja bem como está bem morto!

            Tirei-o da ilusão, para que não penses mais em coisas da terra e procure, doravante, elevar seu espírito a Deus.

            -Tem razão, murmurou penosamente a médium.

            Depois, após pequena pausa, suspirou:

            Graças!

            E não proferiu mais palavra até sair do transe.      


Solilóquio



Solilóquio
por Mó de Job
Reformador (FEB) Dezembro 1919

            Espíritos e companheiros de lutas, que tendes, como o que na hora presente vem confabular convosco, necessidade de paz e de progresso; encarcerados do mundo que, na aspiração da Verdade, da Justiça e do Direito, evocais os Mensageiros de Jesus, em nome deste suplicando a misericórdia do Pai Espiritual; almas que propendeis para a Luz, vidas que desejais a Eterna Vida para lenitivo das dores que vos experimentem; vinde ouvir a dolorosa história de uma vida que vos acompanha, tendo o pensamento voltado para o Infinito num soluço de dor e na súplica de uma esmola, para que, de ânimo forte, substituindo tendências que reprova por sentimentos bons que a edifiquem e recomendem a imortalidade, possa distribuir pelo exemplo de abnegação, de humildade, de fé, elementos de perseverança que vos animem e sustentem a coragem, quando tiverdes de atravessar os estreitos caminhos da maioria que punge, que a alma precipita para o abismo das tremendas dores, em cujo fundo entanto, mister se faz que o homem, a semelhança do Cristo, saiba agradecer ao Pai a graça que assim lhe conceda para a sua evolução espiritual.

            Vinde ouvir os episódios da vida de um companheiro vosso, que aplaudido ontem, quando os elementos materiais lhe sorriam e desdenhado hoje pelos que já lhe não reconhecem prestígio, nem por isso deixa de vos endereçar fraterno e festivo olhar, inda que este lhe possa ser levado à conta de atrevimento ou de imbecilidade...

            Vinde e meditai a tristonha história do pobre que vos bate à porta. Ei-lo que se aproxima. Vede-o. É um mendigo que se apresenta com o sorriso nos lábios. Não se revolta à indiferença dos que não o queiram ouvir, nem se deixa arrastar pelo desânimo quando o estômago lhe exige pão e as sociedades fartam gargalham... É um convencido da vida espiritual e, como se não queira deixar conduzir pelas sugestões mundanas e sim para a vitória da alma, ama e recebe compassivo e grato o que lhe dão de bom e o que lhe dão de mal...

            Em tempos idos, quando melhores dias lhe acenavam, distribuía com os que o cercaram o que era seu; e os que o cercavam, engrandecendo-se com o que recebiam dele, em luz, animação e conhecimento, progrediram e, aos assomos do orgulho, diante do mundo que os aplaudia, abandonaram-no dizendo: “Vamos aniquilá-lo, para que amanhã não tenhamos de confessar que a luz nos foi manifesta por ele: seria vexatório, pois teríamos de permanecer na dependência dele, escravizados e sem merecimento, o que, alem de vergonhoso, nos ofenderia o amor próprio.”

            Ele se apercebeu da conspiração dos que o rodeavam e lhes disse: “Sou vosso irmão e companheiro. Nada vos tenho dado e tudo tenho recebido de vós. Também, por isso, tendes prosperado e eu me sinto feliz, porque o Pai me fez; portador da luz que vos transmiti quando éreis pequenos: vós a tendes aumentado e nada me estais devendo, porém, sim, ao Pai.”

            Os conspiradores ouviram-no e disseram: “Impostor! -Fingindo-se de justo e bom, com um desprendimento que não possui, ei-lo a evidenciar a presunção de nos haver guiado os primeiros passos! Não tivéssemos Inteligência, capacidade para o trabalho, e nunca teríamos conseguido a posição em que nos achamos. Que luz nos trouxe ele para se apregoar intermediário do Pai? Conselhos? Presunção de nos haver instruído quando éramos pequenos? É um louco!”

            E, desde então, numa campanha surda, a soberba, a ingratidão e a intolerância movem guerra de extermínio ao mendigo que vos vem bater à porta!

            Espíritas, sede unidos! Transformai as vossas almas em templos de oração pela prática do Bem, da Caridade, do Amor, do Bem que se não orgulha, da Caridade que se não proclama, do Amor que se não envaidece!

            Sede unidos e compassivos uns para com os outros e todos para com a humanidade. Trabalhai para a organização de uma só família e amparai-vos mutuamente! Sede filhos de Deus, que, pelos lábios de Jesus, quando vos disse: “Amai-vos uns aos outros”, também quis significar que só reconheceria como dignos de sua Graça os que se unissem e lhe acatassem a recomendação. Uni-vos, pois, e sabei agora: o pobre que vos apresento, que vos vem bater à porta, é o que se sente fraco para violar a Lei de Deus e da fraternidade exemplificada pelo Cristo, e forte para sofrer resignadamente o desamor dos que se fazem grandes para o mundo e, escravizados à matéria de que se hão de despojar, não veem que se fazem pequenos perante a Eternidade!

            Espíritas, atendei ao pobre que vos bate à porta: dai-lhe amor, dai-lhe coragem, dai-lhe confiança em vossa fé pelo exemplo de humildade.

            Cristo, para que os humildes se não envergonhassem e melhor compreendessem o amor fraterno, lavou os pés a seus discípulos. Vós sois discípulos do Cristo e como discípulo se deve reconhecer menor que o Mestre, se o pobre vos vem aos pés, colhei-o em vossos braços e assim, não tereis de que vos envergonhar no dia da separação.


Casamento espírita?



Casamento espírita?
Editorial
Reformador (FEB) Dezembro 1919

            O matrimônio não tem, nem pode ter para os crentes do Espiritismo, o caráter de sacramento, que lhe atribui a teologia católica.

            Ele representa, contudo, o cumprimento de uma lei natural, e pela magnitude das responsabilidades que acarreta, constitui um dos atos mais sérios, senão o mais sério, da vida terrena.

            Assim sendo, não pode nem deve ser realizado, conscienciosamente, à revelia da sanção divina.

            E sendo de espíritos que não de corpos a união, na mais lata acepção do termo, é claro que essa união dispensa formalidades quaisquer além das que a legislação civil criou e a que todos nos devemos submeter, pois que O Cristo mandou dar a César o que era de César.

            Para dar a Deus o que a Deus pertence, fica ao espírita a liberdade de o fazer como bem lhe aprouver e a ninguém é licito tolher os reclamos do seu foro íntimo.

            Nada mais natural, portanto, de que para esse ato, em perfeita comunhão de ideias e sentimentos, os crentes se reúnam, e, em testemunho de sua própria Fé, exorem a benção de Deus e a proteção de seus Guias para que fortaleçam a união de duas almas que se propõem progredir juntas, dando frutos de amor e exemplos de virtude, através de todos os percalços da vida de relação.

            Esse procedimento, só se justifica, entretanto, pela intenção e aos que o tenham como brado espontâneo d'alma, não há de que os increpar. Preciso é, contudo, dizer que ele não se torna indispensável e pode ser nocivo e perigoso fazendo-nos resvalar para os domínios de um ritualismo inócuo, sem outro alcance que o de satisfazer vaidades e preconceitos sociais oriundos de ancestral atavismo pagão.

            De fato, melhor que os frutos ocasionais de cerimônias de convenção, ainda mesmo as mais singelas, o que santifica o matrimônio são os sentimentos e os atos os que o contraem, procurando cumprir o dever comum dentro da moral evangélica, à face de Deus e dos homens.

            Ora, para superar todas as vicissitudes da vida conjugal - e importa dizer que elas são, muitas vezes intrínsecas, representando sagrados compromissos de anteriores encarnações - sabemos que de nada valem as consagrações formais de um ato inicial, mas preciso se faz o esforço constante de todos os dias na escola real da abnegação, da renúncia, do sacrifício recíprocos - padrão legítimos, que são do verdadeiro amor na constituição da lídima família espiritual.

            Subentendido que o casamento é de espíritos, que o seu ascendente é de ordem espiritual e moral, claro fica que não há nem pode haver cerimônias e ritos que o legitimem.

            Esta, a noção que corresponde a índole da Doutrina, pela pureza da qual nos cumpre velar, afim de não incidirmos na imitação grosseira de seitas que tudo materializam, num esdrúxulo hibridismo de fórmulas pagãs e preceitos religiosos.

            Em suma: é necessário que o amor às formulas não desvirtue o amor aos princípios.