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terça-feira, 31 de julho de 2018

A Lei Áurea




A Lei Áurea
por Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Maio 1943


Os Brasileiros comemoramos a 13 do mês corrente o quinquagésimo quinto aniversário do Decreto que aboliu no Brasil a escravidão e que passou à história com o título de lei áurea. Por feliz coincidência, essa lei de tanta significação moral, pela qual durante um século se elevaram ao céu as preces de milhões de mulheres brasileiras, senhoras e escravas, foi assinada e posta em vigor por uma mulher, a excelsa princesa Isabel, regente do Império. Enquanto os abolicionistas lutavam pela imprensa e pela palavra, com agitação e bravura, as mulheres em seus oratórios, nos templos, nos lares, rezavam, implorando a Deus a abolição da escravidão. Conhecemos um devocionário católico diariamente usado por uma veneranda matrona de nossa família, no qual as páginas onde se encontrava a prece pela libertação dos escravos estavam cortadas pelos dedos da devota senhora, devido ao uso por mais de meio século.

Quanta compaixão inspirava aos corações bem formados aquele estado civil injusto, que sacrificava milhões de irmãos nossos, privando-os de todos os direitos! Mas, assim como havia senhores tiranos e cruéis, que eram algozes dos seus escravos, tornando-lhes a vida um perpetuo martírio, havia sentimentos sublimes em corações sensíveis, que viam nos escravos vítimas indefesas de uma injustiça social. Principalmente nas mulheres, encontravam-se não raro esses corações que envolviam em amor materno os cativos e se identificavam com a dor deles. O Cristianismo estava dividido em duas instituições, que de comum só tinham o nome: o Cristianismo oficial e acomodatício, que tolerava a escravidão como mal irremediável, e o Cristianismo do Cristo, que orava e chorava com os escravos, de  olhos fixos no Céu, esperando o fim daquelas amargas expiações. Foi este último que venceu, por fim, no dia 13 de maio de 1888.

Quanta sublimidade houve naqueles séculos tristes e trevosos! Quantos milagres operados pelas almas de escravos mártires! Lá naquele alto estava e a cruz onde morreu Pai João, e minha caridosa sogra ia com mãos piedosas orná-la de flores e orar de joelhos, implorando a proteção de Pai João para os seus algozes e para seus irmãos de cativeiro, porque Pai João foi santo e mártir. Nenhuma alma angustiada que se voltasse para ele deixava de ser prontamente atendida. Aquela cruz no cimo do monte era o único altar de Pai João. Ele não foi canonizado oficialmente pela Igreja, mas foi santificado por quantos lhe conheceram as qualidades e o martírio.

Os escravos herdados por meu avô receberam carta de alforria, ficaram livres, ao lhes morrer o velho senhor e ao serem arrolados como patrimônio dos herdeiros; nunca, porém, abandonaram o trabalho, nem o lar senhoril, do qual se tornaram os filhos mais devotados.

Eram almas sublimes cheias de reconhecimento e bondade, capazes de todos os sacrifícios.  

Ao recordarmos hoje que, nos primeiros anos de existência de nossa imprensa espírita, uma de suas tarefas era trabalhar pela abolição da escravidão, como ainda se vê nas velhas coleções de Reformador, de 1883 a 1888, não devemos esquecer o lado sublime daquela Instituição milenária. Quantos Espíritos culpados vinham a este mundo de expiações e de provas para reparar pesadas faltas e encarnações como escravos! Faziam numa só encarnação gigantesco progresso espiritual, alcançando depois da morte a verdadeira libertação, por isso que já não eram escravos do pecado e do remorso.

A escravidão é quase tão antiga quanto o aparecimento do homem na face da Terra. Houve escravos entre os Romanos, entre os Gregos, entre os Hebreus, entre os Egípcios.  

Em Esparta, houve tempo em que os senhores se tinham tornado fracos, na opinião oficial, e os escravos se revoltaram; por isso, foi decretado que, ao menos uma vez por ano, os senhores eram obrigados a entregar seus escravos, a fim de serem surrados em público, por melhores que fossem, somente para que conservassem a humildade e a constante lembrança da sua condição de escravos.

Eram surrados obrigatoriamente, mesmo contra a vontade dos senhores, a fim de não se tornarem altivos e rebeldes. A instituição mesma, portanto, era terrível monstruosidade e só compreensível em um mundo de grande inferioridade moral, planeta de expiações e de provas, como nos vieram revelar os Espíritos Superiores em as obras de Kardec, no século passado.

Felizmente, o planeta e seus habitantes progrediram e chegou o fim da escravidão no mundo todo. A presente guerra já pôs fim à escravidão até nos pontos mais remotos da África onde ainda existia. Em nenhum lugar do mundo existe hoje a escravidão legalmente permitida.  

Se em certos pontos do planeta ainda há quem proceda como senhor de escravos, tal procedimento é ilegal, criminoso e terá que desaparecer rapidamente pela aplicação das leis.

O mundo já entrou em nova fase de progresso. De mundo de expiações e de provas já está passando a mundo regenerador. Já está reconhecido o direito humano da igualdade e da fraternidade; todas as classes têm direito à proteção legal; a legislação trabalhista progride e melhora sempre, amparando cada dia mais os homens menos protegidos da fortuna, que se não podem defender por si mesmos.

Estamos rumando para a felicidade social, para a liberdade, para a justiça. As nações que se batem na presente guerra, ao lado do Brasil, desfraldaram a bandeira de quatro liberdades fundamentais, indispensáveis ao homem, e nesse sentido estamos em plena campanha abolicionista novamente. As quatro liberdades fundamentais que as Nações Unidas querem estabelecer em todos os rincões do planeta são as seguintes:

1º) Liberdade de palavra e de expressão do pensamento. 2º) Liberdade religiosa ilimitada. 3º) Libertação das privações econômicas, isto é libertação de todos os homens da miséria e da falta das coisas necessárias à vida. 4º) Vitória contra o medo, isto é, libertar os homens e os povos de todas as ameaças que, lhes possam dificultar a prática e o pleno gozo das três liberdades  precedentes.

       São essas quatro liberdades fundamentais que as nações unidas querem      para si mesmas e para seus inimigos. Logo, estamos na grande guerra abolicionista do século vinte, talvez mais significativa do que as do século dezenove. Os nossos irmãos da Pátria, do Continente, da Humanidade estão dando seu sangue e sua vida para abolir do mundo quatro formas de escravidão ainda sobreviventes:

1º) a escravidão do pensamento; 2º) a escravidão religiosa; 3º) a escravidão econômica; 4º) a escravidão do medo.

       Essas quatro formas de escravidão, menos palpáveis do que a antiga, não    são menos terríveis, porque sacrificam povos inteiros e destroem a dignidade                humana, arrastando pela violência massas imensas de homens à morte e ao crime lançando o terror nas almas, fazendo do mundo um inferno de negros pavores.

Sem a conquista destas quatro liberdades fundamentais, o ideal cristão não         pode ser praticado na Terra, será apenas um sistema moral ideal, porém sem vida real. Sem liberdade de pensamento, o Cristianismo não pode ser nem concebido, porque ele responsabiliza o homem pelos seus pensamentos e não pode existir responsabilidade sem liberdade. Sem a liberdade religiosa, igualmente, não podemos conceber o Cristianismo, que exige de nós o amor a Deus sobre todas as coisas e o amor ao próximo como a nós mesmos, porque só pode amar quem tem liberdade de adorar a Deus como o possa conceber.  Dentro da escravidão econômica, tendo que defender pelas armas a propriedade contra os outros filhos de Deus que dela necessitem e se sintam privados, igualmente seria utópica a moral de Jesus, que é toda de fraternidade e amor ao próximo. Nos regimes de medo, também, seria impossível ao homem fazer do livre arbítrio o uso que lhe exige o Cristianismo.

         A nova guerra abolicionista que estamos vivendo e que poderá durar             muito tempo; que poderá não alcançar de uma só vez suas finalidades e ter de               prosseguir no após guerra, durante séculos, não é menos importante do que as             do século passado, repetimos, embora seja menos compreensível para a maioria dos pensadores. Se, pela abolição da escravidão, durante milênios houve lutas e foi derramado sangue generoso na Grécia, em Roma, no Egito, nos Estados Unidos, em sacrifícios belos e grandiosos, que culminaram na Lei Áurea que hoje festejamos no Brasil, não menos sacrifícios merece a nova campanha que tem por alvo libertar toda a humanidade e estabelecer a liberdade e a justiça sobre a Terra.

Assim como as nossas avós oravam pelo triunfo do ideal abolicionista século no passado e confundiam suas lágrimas com o sangue dos escravos, oremos também nós pelo triunfo dos princípios por que se batem hoje os povos da América, pelos princípios, somente, não pelos imperialismos que possam surgir à sombra desses princípios, em consequência dos ódios que a guerra sempre desencadeia.

  Imploremos a Deus que todos os povos, inclusive os nossos atuais inimigos, em futuro próximo venham a gozar das quatro liberdades fundamentais da bandeira das Nações Unidas.

 Só então o Cristianismo do Cristo - com ou sem o rótulo cristão- entrará em pleno vigor no nosso mundo. Para nós espíritas, o rótulo nada vale, é apenas uma palavra e muitas vezes uma palavra empregada fora do seu sentido próprio. O que vale são as ideias e os sentimentos, quaisquer que sejam os nomes ou as formas externas sob que se manifestem.

Do Blog: São passados 75 anos da publicação deste artigo do Ismael Gomes Braga. Como você se vê hoje em relação às expectativas aqui apresentadas?

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Por quê?



“Por que não vivemos em paz e harmonia? Olhamos para as mesmas estrelas, somos companheiros de viagem no mesmo planeta e moramos sob o mesmo céu. Que importa saber qual o caminho que cada indivíduo segue para encontrar a verdade remota? O enigma da existência é demasiadamente profundo para haver apenas uma estrada que conduz à solução.”
Quintus Aurelius Symmachus
Citado em ‘Tolerância’ de H Van Loon - Ed. Cia Editora Nacional 1942

domingo, 29 de julho de 2018

Espiritismo Cristão e Espírita Cristão



Espiritismo Cristão e Espírita Cristão
A Redação  
Reformador (FEB) Maio 1955

"É fato Indubitável que o Espiritismo é mais estorvado pelos que o compreendem mal, do que por aqueles que dele nada entendem e até mesmo pelos seus inimigos declarados; e os primeiros tem geralmente a pretensão de compreenderem melhor que os outros. Esta pretensão, que denuncia orgulho, por si mesma uma prova evidente da ignorância dos verdadeiros princípios da Doutrina,"-  Allan Kardec

No Brasil. graças à Federação Espírita Brasileira, à direção que sempre lhe deu a ela o Espírito de Ismael, o Espiritismo predominante é aquele que se orienta pelos ensinamentos do Cristo, interpretados segundo o espírito que vivifica, qual o recomendou o próprio Cristo e qual o fez o grande e iluminado Codificador: Allan
Kardec.

Há por aqui, não há dúvida, mas em pequeníssimo número, confrades que do Espiritismo só querem os prodígios, os "milagres", os fenômenos psíquicos, e que enfaticamente se dizem adeptos do a que chamam Espiritismo científico.

Para esses o fenômeno é tudo, e nele quase sempre ficam sem se preocuparem com a finalidade dessa mesma fenomenologia. Estacionam e não querem ir além, à procura de alguma coisa mais. Pouco lhes importam as deduções filosóficas e as conclusões religiosas a que ela conduz, julgando-se todos esses confrades uns superespíritas, hiper-científicos, os únicos de bom senso e equilíbrio mental.

A maioria, porém, a grande maioria, a quase totalidade dos espíritas brasileiros felizmente já não pensam de igual modo. Esses oram e têm o estudo do Evangelho como uma necessidade e um dever mesmo...

Estranha, no entanto, é a atitude daqueles "fenomenistas", pois constantemente se nos apresentam como defensores de Kardec e neste procuram, através de interpretações vagas, incoerentes e por vezes capciosas, provar que o Codificador disse isso e aquilo, citando-lhe trechos isolados, com a finalidade tão só de justificarem o ponto de vista dessa meia dúzia de confrades.

Dizendo-se baseados naquele iluminado filho de Lião, de quando em vez voltam, por exemplo, a repetir que o Espiritismo nada tem de comum com o Cristianismo e que errados andam desde muito os homens da Federação Espírita Brasileira e errados andam também Emmanuel e outros elevados mensageiros da Espiritualidade, quando empregam, com espírito de deturpação - frisam aqueles confrades - as expressões que servem de título a esta croniqueta.

Vejamos, porém, o que de próprio punho nos legou Allan Kardec.

Três anos antes de sua desencarnação, escrevia ele em sua Revue Spirite, 1866, pág. 114:

"Inscrevendo no frontispício do Espiritismo a lei suprema do Cristo, abrimos o caminho do Espiritismo cristão; sob este ponto de vista, tratamos, então, de desenvolver os princípios bem como os caracteres do verdadeiro espírita."

Já em 1861, nessa mesma revista, à página 377, Kardec considerava:

... ora, nem um nem outro estaria no caminho do verdadeiro Espiritismo, isto é, do Espiritismo cristão. Aquele que acredita possuir uma opinião mais justa que a dos outros, mais facilmente a tornará aceita pela doçura e pela persuasão; o desabrimento seria de sua parte uma péssima cartada. "

Nesse mesmo ano, afirmava o mestre a páginas 341, 343 e 384 da citada publicação:

Pág. 341: ''Porque, pois, o Espiritismo, que outra coisa não é que o desenvolvimento e a aplicação da ideia cristã, não triunfaria de alguns escarnecedores, ou de
antagonistas, que até o presente, apesar de seus esforços, apenas lhe têm oposto uma negação estéril?"

Pág. 343: "O lado mais belo do Espiritismo é o lado moral; é por suas consequências morais que ele triunfará, porque aí está a sua força e por ai é invulnerável. Ele inscreveu em sua bandeira: Amor e Caridade, e ante este paládio, mais poderoso que o de Minerva, porque vem do Cristo, a própria incredulidade se inclina."

Pág. 384: "Que seja, então, uma escola, já que eles assim o querem; nós nos ufanamos de inscrever no frontispício:

-École du Spiritisme moral, philosophique et crétien e para aí convidamos todos os que tomam por divisa: amor e caridade.

Aqueles que seguem essa bandeira, dedicamos todas as simpatias, e a nossa cooperação jamais lhes faltará."

E anteriormente, em 1860, escreveu na página 300 da quase centenária Revue Spirite o trecho com que terminaremos essas transcrições:

"Há, senhores, três categorias de adeptos: uns se limitam a crer na realidadeas manifestações, e buscam antes de tudo os fenômenos; para esses o Espiritismo é simplesmente uma série de fatos mais ou menos interessantes.

"Os segundos veem algo mais que os fatos: reconhecem neles o lado filosófico; admiram a moral que deles resulta, mas não as praticam: para esses a caridade cristão é um bela máxima, e nada mais.

“Os terceiros, afinal, não se contentam em admirar a moral: eles a praticam, aceitando-lhe todas as consequências. Certíssimos de que a existência terrestre é uma prova passageira, eles tratam de aproveitar esses curtos instantes para avançar na via do progresso que os Espíritos lhes traçam, esforçando-se por fazer o bem e por reprimir seus maus pendores; a caridade é em tudo a regra de conduta deles; esses são os verdadeiros Espíritas, os melhor, os Espíritas cristãos.”

Todo esse trecho, com alguns acréscimos todavia, se acha reproduzido n’O Livro dos Espíritos’, item 28. E cerca de dez meses após a publicação desta obra, num longo trabalho sobre a “Organização do Espiritismo”, dado à luz na Revue Spirite de Dezembro de 1861, Kardec relembrava, com novas edições, a mencionada distinção dos espíritas, declarando-lhe a importância do tema de que se ocupava. Aí, na Revue Spirite de 1861, o mestre acrescenta, depois dessas últimas palavras – “ce sont les vrais Spirites, ou mieux, les Spirites chrétiens.

Se se compreendeu bem o que precede, compreender-se-á também que um grupo exclusivamente formado de elementos dessa última classe estaria em melhores condições, porque praticam a lei de amor e de caridade que um laço fraternal verdadeiro pode estabelecer-se.”

Como vemos, o Codificador, talvez na supervisão das coisas, esclareceu de maneira inconfundível de como se deveria, para o futuro, qualificar aqueles que se dissessem adeptos da nova Revelação...

Não cabe, portanto, à Casa Mater do Espiritismo no Brasil, e nem a respeitáveis médiuns, a criação “anti doutrinária”, conforme dizem, das expressões que servem em epígrafe e esse despretensioso artigo. Foi, como vimos, próprio mestre da III Revelação quem as cunhou pelas julgar necessárias e procedentes.

Se as palavras do Codificador lionês merece algum respeito, esperamos que esses nossos amigos e confrades não continuassem a repetir  suas próprias ideias, torcendo, desvirtuando o pensamento de excelso missionário do Espiritismo Cristão.




sábado, 28 de julho de 2018

Auxilia



Auxilia
André Luiz por Chico Xavier
Reformador (FEB) 1955

Não olvides a lei da cooperação, a fim de que a caridade, por estrela de amor, fulgure nos céus de teu destino.

Auxilia a terra seca e amanhã não te faltará o celeiro farto.

Auxilia a fonte amiga e a água pura te regenerará a saúde orgânica.

Auxilia a criança e clarearás o futuro.

Auxilia o ancião desamparado e colherás um tesouro de bênçãos.

Auxilia o aflito e a esperança te coroará a existência.

Auxilia o caluniado e atrairás, em teu favor, a visão da justiça.

Auxilia o faminto e acrescentarás o próprio reconforto.

Auxilia o companheiro da peregrinação em que te encontras e a fraternidade te protegerá, generosa.

Dispões do consolo das horas...
Dispões da palavra fácil...
Dispões das mãos diligentes...
Dispões de movimentos livres...

E, sobretudo, dispões do conhecimento evangélico a enriquecer-te a inteligência ...

Não te percas, assim, na província torturada dos momentos perdidos.

Recorda que o relógio humano, agora ou depois, dirá das oportunidades preciosas que recebeste...

Auxilia, pois, enquanto é tempo, ajudando, compreendendo, servindo, perdoando, construindo para o bem e amando, cada vez mais, na certeza de que o auxílio prestado desinteressadamente aos outros, nas lutas da Terra, é investimento de paz e vitória, felicidade e luta, para a glória do Céu.



Misericórdia



Misericórdia
 Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Agosto 1955

 Não aguardes a queda espetacular do próximo nos despenhadeiros do crime ou do sofrimento para exercer o dom da misericórdia que o Senhor cultivou em nossa fé.
Mais vale o amparo previdente na preservação do equilíbrio, que o remédio de efeito problemático no reajuste.

Não desperdices teus minutos na expectação inoperante, exclamando à frente dos problemas difíceis:

- Amanhã, farei alguma coisa.
- Depois, tentarei realizar.
- Um dia chegará...
- Quando a oportunidade surgir...

Ataca, hoje mesmo, o serviço da fraternidade para que a compaixão não seja em teu espírito um ornamento inútil.

Sê misericordioso para com os que te cercam.

Inicia a obra de benemerência, em tua própria casa, distribuindo algumas palavras de incentivo com quem comunga teu cálice de luta.

Ajuda aos velhos abnegados de teu caminho com algum sorriso de compreensão, restaura a coragem na alma da esposa, restabelece o bom ânimo do companheiro, auxilia os irmãos, usando acha chave milagrosa do carinho, e não te esqueças do apoio que os corações juvenis reclamam de tua boa vontade e de tua experiência que o Cristo enriqueceu.

Há mil meios de praticar a misericórdia cada dia...

Não olvides o silêncio para a calúnia, a bondade para com todos, a gentileza incessante, a frase amiga que reconforta, a roupa que se fez inútil para o teu corpo, suscetível de ser aproveitada pelo irmão mais necessitado, o pão dividido, a prece em comum, a conversação edificante, o gesto espontâneo de solidariedade...

Ninguém é tão pobre que não possa dar alguma coisa aos semelhantes, e aquele que se compadece e ajuda cede ao próximo algo de si mesmo. Não te detenhas, portanto. Não admitas que a incerteza ou o temor lhe imobilizem o passo. Vale-te das horas e auxilia sempre, sem ostentação de virtude, sem reclamação, sem alarde e a vida entesourará as tuas migalhas de amor, delas formando a tua riqueza imperecível na bem-aventurança do Céu.


Pacifiquemos



Pacifiquemos (extrato)
Emmanuel por Chico Xavier
in ‘Palavras de Vida Eterna’ (CEC) 9ª Ed. 1986

Tudo pode ser, agora, diante de ti, aflição e convulsão; contudo, tranquiliza a vida em torno, quanto puderes, porque a paz chegará pelas mãos de Deus.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

A Graça da Mediunidade



A Graça da Mediunidade
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Outubro 1955

Grandes devem ser as preocupações do médium verdadeiramente compenetrado de seu papel no Espiritismo. Sua responsabilidade é realmente extraordinária, tanto quanto à parte que lhe diz respeito, porque está ligada ao seu futuro espiritual, como a que se relaciona ao serviço que dele espera o Espiritismo, para atender às necessidades daqueles que sofrem e buscam em nosso ambiente lenitivo para suas aflições.

Ser médium é uma graça do Alto, mas é, ao mesmo tempo, um compromisso muito grave, do qual ninguém se esquiva impunemente. Temos dito, porque essa é uma verdade universalmente consagrada, que a mediunidade constitui sempre, sejam quais forem as circunstâncias, uma oportunidade concedida ao espírito encarnado. Portanto, o exercício normal das faculdades mediúnicas, sob orientação evangélica, representa benefício incomum para o médium e para os que são favorecidos por sua mediunidade. Nem todos, infelizmente, assim compreendem a nobre missão que lhes cabe e não raro dão pouco valor ao prêmio recebido, malbaratando-o numa indiferença lamentável ou mercantilizando o, sem a mais mínima noção das lutuosas consequências que poderão desabar sobre si.

*
Os ensinamentos dos Espíritos insistem em recomendar o cultivo da humildade, porque esta é a primeira condição do homem que realmente compreende as palavras do Cristo: ... todo aquele que se eleva será rebaixado e todo aquele que se abaixa será elevado". Todavia, é preciso Interpretarmos no bom sentido as palavras do Mestre. Positivamente Ele não deseja que nos abaixemos servilmente, mas que saibamos ser sempre e sempre, invariavelmente humildes; que nos abaixemos do orgulho comum, despindo-nos do sentimento ególatra e nos presentando nossa alma nua de preconceitos, mas coberta de simplicidade.

O médium tem o dever de cultivar a humildade em todos os sentidos. Jesus não recomenda que sejamos servis, mas que sejamos humildes. A humildade é gloriosa, porque não afronta nem escandaliza. Ela é simples, porque não se esconde na simulação, mas vive imersa na sinceridade.  Uma das mais belas lições que os médiuns devem recordar a todos os instantes, está neste trecho de "O Livro dos Espíritos": "Dizendo que o reino dos céus é dos simples, quis Jesus significar que a ninguém é concedida entrada nesse reino, sem a simplicidade de coração e a humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que d'Ele afastam a criatura e isso por uma razão muito natural; a de ser a humildade um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra Ele. Mais vale, pois, que o homem, para felicidade do seu futuro, seja pobre de espírito, conforme o entende o mundo, e rico em qualidades morais."

A humildade deve ser atributo de todo ser humano. A criatura que sabe ser humilde possui força moral invencível. Vê mais longe as coisas e sua visão não se deturpa na miragem que o orgulho desenvolve. O médium precisa estar sempre atento em defesa de suas prerrogativas de escolhido para as tarefas espíritas. Deve fugir da vaidade, que é irmã germana do orgulho. Tem de se precatar contra a auto suficiência, para que os obsessores não encontrem em sua personalidade qualquer ponto vulnerável por onde possam realizar obra daninha. Deixando-se guiar pelo ‘Evangelho segundo o Espiritismo’ o Livro Mestre do Cristianismo Redivivo, poderá estar tranquilo quanto ao seu trabalho e quanto ao seu futuro. Todavia, é mister não esquecer que mediunidade pode também ser sacrifício. Quem diz sacrifício, diz dedicação, compreensão e renúncia. Nossa vida atual está intimamente ligada às vidas que nosso espírito exerceu em encarnações anteriores, Não há elo solto na vida cósmica, como não há elo perdido no mundo espiritual nem elo abandonado na peregrinação terrena. Somos elos de uma imensa corrente, que é a Humanidade, porque nossos pensamentos, nossos atos, nossa vida, enfim, está mais ligada do que pensamos aos pensamentos, aos atos e à vida dos nossos semelhantes. Em virtude do olvido a que a encarnação obriga todos os espíritos, desconhecemos, geralmente, o grau de ligação que nos mantém ao lado das outras criaturas humanas. E isto deve levar-nos a meditar sobre a necessidade de ser bom para com todos, indistintamente, servindo sempre aos que necessitam de ajuda, esclarecendo os que se debatem Das trevas da ignorância, amparando os que se mostram trôpegos na caminhada para a melhoria moral. Dizer-se que somos todos irmãos não é simples jogo de palavras, mas uma verdade grandiosa.

Na vida universal tudo se acha relacionado entre si. Somos como que pequenas entidades moleculares no grande todo universal. Não temos em que nos apoiar firmemente para justificar o orgulho e o egoísmo, os quais contradizem a harmonia cósmica. O médium, mais do que qualquer outra criatura humana, constitui elemento aglutinante nos conglomerados humanos. Está servido de meios para realizar grande tarefa de fraternidade. Essa tarefa é bem mais ampla do que se supõe. Ela ultrapassa, deve, pelo menos, ultrapassar a esfera humana, propriamente dita, e alcançar o reino animal, o reino vegetal, onde quer que o bem possa ser exercido. Em "Os Quatro Evangelhos", urna das obras magistrais do Espiritismo, o médium encontra igualmente inesgotável manancial de conhecimentos, muito úteis à sua peregrinação Terrena. Se tivéssemos alguma autoridade para indicar leituras úteis nos médiuns em geral, apontar-lhes-íamos o seguinte rumo:

I           "O Evangelho segundo o Espiritismo"
II         "O Livro dos Espíritos"
III        "O Livro dos Médiuns"
IV        "Os Quatro Evangelhos"

O estudo, a assimilação do que contêm essas obras magistrais, e o esforço cotidiano para exemplificar os ensinamentos que nelas podem ser colhidos, mostram o rumo seguro e abençoado de todos aqueles, médiuns ou não, que desejam encontrar a rota luminosa traçada por Jesus e adotada pelo Espiritismo. Nessas obras encontramos todo um curso de Espiritismo destinado ao esclarecimento dos médiuns. Outras, muitas outras, dezenas, centenas até, de grandes obras, há para a formação cultural espírita, mas não suplantam as que acabamos de citar . "0 Evangelho segundo o Espiritismo" é obra de leitura diária, de meditação cotidiana. Deve acompanhar-nos a vida inteira, não para a decoração de estantes, mas como ração certa de pão espiritual de todos os dias. Os comentários feitos após os textos do Evangelho de Jesus constituem também lições edificantes, que servem a qualquer cristão, tão elevados são os conceitos ali emitidos, tão profundo seu alcance moral.

Um médium consciente de seus deveres estuda sempre e procura tenazmente exemplificar as lições estudadas, Mas, repetimos, seu primeiro passo deve ser no terreno da humildade esclarecida, que compreende a vida em face do Espiritismo e sabe desculpar os excessos alheios, evitando comete-los também. A grandeza moral do Espiritismo decorre da sua estrutura evangélica. Ele está no Evangelho, porque está nas lições do Cristo e só ele pode explicar, sem o mistério impenetrável dos "milagres", a verdade dos atos de Jesus e o alcance de suas palavras parabólicas.

Ser médium é uma graça do Alto, mas é igualmente uma enorme responsabilidade em face de Deus!

quinta-feira, 26 de julho de 2018

O Júbilo de Servir



O júbilo de servir
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Dezembro 1955


...Depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer." – Jesus em Lucas 17:10.

Guarda tua alma no júbilo de servir. Não reclames honrarias, por mais alto te pareça o triunfo em tuas mãos. Se a terra se julgasse dona da árvore que frutifica na sua crosta, intentando negar-lhe arrimo, não faria mais que privar-se da proteção que o vegetal lhe dispensa, e se a árvore se presumisse proprietária da terra que a suporta, fugindo-lhe às bases, nada mais conseguiria que a eliminação de si mesma. Atentas, porém, à seiva e ao equilíbrio que a Sabedoria Divina lhes assegura, entram em abençoada cooperação e produzem a bênção da colheita.

Todos os bens da vida fluem da Bondade de Nosso Pai.

Nas tuas horas de êxito, medita nas forças conjugadas que te sustentam. Pensa nos que te beneficiam e te instruem, nos que te amparam e te garantem.

Orgulhar-se das boas obras é ensombrar a própria visão, invocando homenagens indébitas que de direito pertencem a Deus.

A maneira do instrumento leal e dócil, deixa que o Sumo Bem te use a vida. O violino, ainda mesmo o de mais rara fabricação, não vale por si. Engrandece-se, porém, na fidelidade com que se rende às mãos do artísta que o integra na exaltação da Harmonia Eterna.  

quarta-feira, 25 de julho de 2018

O Grande Servidor



O Grande Servidor
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Dezembro 1955

"Eu estou entre vós como quem serve." – Jesus em Lucas 22:27


Sim, o Cristo não passou entre os homens como quem impõe.
Nem como quem determina.
Nem como quem governa.
Nem como quem manda.
Caminhou na Terra à feição do servidor.
Legou-nos o Evangelho da Vida, escrevendo-lhe a epopeia no coração das criaturas.
Mestre, tomou o próprio coração para sua cátedra.
Enviado Celestial, não se detém num trono terrestre e aproxima-se da multidão para auxiliá-Ia.
Fundador da Boa Nova, não se limita a tecer-lhe a coroa com palavras estudadas, mas
estende-a e consolida-lhe os valores com as próprias mãos.
A prática é o seu modo de convencer.
O próprio sacrifício é o seu método de transformar.
Aprendamos com o Divino Mestre a ciência da renovação pelo bem. E modificar a nós mesmos para a vitória do bem, elevando pessoas e melhorando situações, é servir sempre como quem sabe que fazer é o melhor processo de aconselhar.

Evitando a tentação



Evitando a tentação
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1956

"Vigiai e orai para não entrardes em tentação," Jesus em Marcos 14:38

Vigiar não quer dizer apenas guardar. Significa também precaver-se e cuidar. E quem diz cuidar afirma igualmente trabalhar e defender-se.

Orar, a seu turno, não exprime somente adorar e aquietar-se, mas, acima de tudo, comungar com o Poder Divino, que é crescimento incessante para a luz, e com o Divino Amor, que é serviço infatigável no bem.

Tudo o que repousa em excesso é relegado pela Natureza à inutilidade.

O tesouro escondido transforma-se em cadeia de usura. A água estagnada cria larvas de insetos patogênicos.

Não te admitas na atitude de vigilância e oração, fugindo à luta com que a Terra te desafia.

Inteligência parada e mãos paradas impõem paralisia ao coração que, da inércia, caí na cegueira.

Vibra com a vida que estua, sublime, ao redor de ti, e trabalha infatigavelmente, dilatando as fronteiras do bem, aprendendo e ajudando aos outros em teu próprio favor. Essa é a mais alta fórmula de vigiar e orar para não cairmos em tentação.

Cresçamos para o bem.



Cresçamos para o bem
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1956

"Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois não lhe dá Deus o espírito por medida." JOÃO, 3:34

Observa a munificência das concessões divinas por toda a parte.
Enquanto o homem raciona a distribuição desse ou daquele recurso, Deus não altera as suas leis de abundância.
Anota na Terra em torno de ti...
O Sol magnificente nutrindo a vida em todas as direções...
O ar puro e sem medida...
A fonte que se dá sem reservas ...
Tudo infinitamente doado a todos,
Tudo liberalmente repartido,

Qual ocorre às concessões do Senhor na ordem material, acontece no reino do espírito. As portas da sabedoria e do amor jazem constantemente abertas e os tesouros da Ciência e as alegrias da compreensão humana, as glórias da arte e as luzes da sublimação interior são acessíveis a todas as criaturas.

No entanto, do rio de graças da vida, cada alma somente retira a porção de riquezas que possa perceber e utilizar proveitosamente.

Estuda, observa, trabalha e renova-te para o bem.

Amplia a visão que te é própria e auxilia os outros, ajudando a ti mesmo.

Recorda que Deus a ninguém dá seus dons por medida, contudo, cada alma traz consigo a medida que instalou no próprio íntimo para a recepção dos dons de Deus.

A Lei é igual prá todos?



A lei é igual prá todos?
Oswaldo Valpassos
Reformador (FEB) Janeiro 1956

Em 1912, época em que o clero católico estava em boas graças com o Governo (o clero procura sempre estar em boas graças com qualquer governo), os padres agiram de tal maneira que o significado de CURANDERISMO tornou-se tão elástico que era fácil à Policia prender como curandeiros os espíritas que aconselhassem água fluidificada ou aplicassem passes aos doentes que não podiam pagar ao médicos suas receitas ou adquirir medicamentos, dado o estado de pobreza deles.

Inimigo do Espiritismo, o clero, nas suas relações com os poderosos, conseguiu que o artigo 284 do nosso Código Penal se tornasse verdadeira armadilha para os espíritas, restringindo a prática da caridade nos Centros,

Diz o citado artigo 284:

Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos,
Pena - Detenção de seis meses a dois anos.

Como se vê, o maquiavelismo clerical trabalhou bem, impedindo que o espírita socorra piedosamente um doente aplicando-lhe passes (gestos) ou lhe dê um pouco de água fluidificada (qualquer substância).

Felizmente, a nossa Justiça, enxergando a maldade oculta, não tem sido rigorosa face às infrações que, de fato, nenhum mal têm acarretado ao próximo.

A verdade é que, para agir com severidade, acatando integralmente o espírito da lei, a Justiça teria que estender o seu braço ao padre Eustáquio, ao padre Antônio e outros que, como os espíritas, em nome de Deus, obtinham alívio para muitos sofredores. Daí, muitas absolvições nos tribunais.

Os Centros espíritas, no entanto, em respeito ao Código, se abstêm até hoje da prática dessa caridade, não obstante a necessidade de socorro aos pobres enfermos desamparados pelos poderes governamentais e que perambulam aflitivamente em nossa cidade, dia a dia mais numerosos.

O que choca, o que irrita é que os padres, os inspiradores do citado artigo elaborado de maneira a prejudicar os espíritas, são os primeiros a infringirem o Código, pois que na semana do Congresso Eucarístico, monsenhor Tapajós, na Igreja de N. S. de Lourdes, distribuiu a milhares de doentes água recebida da gruta de Lourdes, conforme noticiou a imprensa, Claro que esse ato está perfeitamente enquadrado no citado artigo 284.

Será que a lei foi elaborada somente para atingir os espíritas?

Ora, não constitui nenhum mal e nenhuma objeção pode ser imputada à distribuição da água de Lourdes aos doentes que acreditam e esperam a cura. A verdade é que no mesmo caso está a água distribuída nos Centros espíritas, aliviando os sofredores e servindo-lhes de consolo.

O que revolta pela injustiça é que o ato, embora inocente ou, digamos, benéfico, se constitui infração ao Código Penal, seja somente em relação aos espíritas.

Porque dois pesos e duas medidas?

Se, de acordo com a Constituição, a lei é igual para todos, porque então o vigário da Igreja de N, S. de Lourdes poda abençoar os doentes (gestos) e distribuir água de Lourdes (substância) e a mesma coisa é vedada aos Centros espíritas?

A Igreja Romana, empenhada no monopólio religioso, tem tido como armas a Intolerância, a perseguição e a incoerência através de sua maquiavélica campanha contra a liberdade de crença, querendo fazer da Humanidade um rebanho para servir os seus interesses.                    (Ext. de "O Mundo", 10-9-55)