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sábado, 7 de julho de 2018

Mensagem para o meu Salvador



Mensagem para o meu Salvador
por Luiz de Almeida
Reformador (FEB) Novembro 1948

CRISTO: na antecâmara da Nova Era que se anuncia, eu contemplo, com os olhos da intuição, Tua figura augusta. Eu Te sinto, neste instante, como um farol fulgindo sObre a humanidade oprimida, e de onde jorrassem feixes de luz para aquecer o túmulo vazio das consciências. O momento está prestes a atingir aquele ponto silenciosamente urdido na calada soturna dos séculos.

Este conflito miserável e sublime abalou as velhas muralhas da Europa e, o mundo velho, roído nos alicerces, dança agora a derradeira esperança de sobrevivência. O abutre da discórdia teceu, afinal, o ninho macabro no coração das criaturas e se compraz em agrilhoar os mais nobres sentimentos que dignificam a espécie. Esta sangueira que empapa o solo fraterno, onde nós deveríamos pisar santificados pelos laços de irmandade, bem sei que enche de dor Teu coração aberto à oblata de todos os sacrifícios. Como compreendo, neste instante, que bem outro fora Teu sonho quando, ungido pelo Amor do Pai, aceitaste a missão de compor e fecundar a Terra, para levá-la, afinal, na hierarquia dos mundos, como o ninho de uma multidão ressuscitada para a vida espiritual isenta de mácula.

Tomaste, então, o Teu corpo tangível e vieste a pregar o Teu Evangelho, naquela plácida Judéia de outrora, tão verde e já cativa do jugo romano, imprimindo, com este passo inicial, o prefácio do Teu Apostolado: - o reino de Deus não medra no coração do senhorio.

As piedosas lições de Teu Amor, accessíveis a todas as inteligências dotadas de razão, foi a sementeira que lançaste, no gesto carinhoso do lavrador previdente que cultivou o solo, para as fartas semeaduras. Incompreendido pelos teus contemporâneos, sofreste o suplício moral de Te sentires rejeitado por um bando de mendigos famintos, aos quais estendias o celeiro imenso de Teu alimento, a fonte perene de água viva e o código moral que os confortaria de todas as misérias.

O orgulho, porém, que é a falta fundamental de queda, com toda a sua vassalagem orbitária, fechou o entendimento daquele farisaísmo rude, que se constituiu, então, modelo futuro para todas as latitudes da Terra. Os discípulos generosos colheram, então, as pérolas que trazias em Teu alforje, a fim de que não fossem criminosamente dissipadas. E que pérolas simples e luminosas: - "Ama teu próximo; esquece a ofensa para abraçar, em seguida, o ofensor; faze somente aquilo que desejarias que te fizessem; esquece o gosto da vingança; cultiva a humildade; sê puro de sentimentos; abandona-te ao Criador, que te ama e conhece tudo de que necessitas"!

Não bastou o teu exemplo, nascendo na manjedoura, cobrindo-Te com simplicidade, seres sóbrio e reto nos costumes, submisso à lei humana e ao desígnio de Deus. Não bastou a coorte dos prodígios que Teu magnetismo produziu. Que! mesmo que houveras revogado as leis eternas do Equilíbrio e do Ritmo, ainda assim Tua sinceridade seria estragada pela onda de sarcasmo que se levantava daquele povo.

Cumprida Tua missão, começou a humanidade a engatinhar, tateando no vácuo, obrigada, pela Lei, a sondar os supremos desígnios do espírito. Mas o homem, acordando em si o vagido do animal que foi, olvidou Tua cartilha, submeteu-se às instruções da secura e do desprezo, transvertendo e calcando, assim, os atributos que deveriam florescer em todas as almas, como um canteiro de perenes virtudes.

Acompanhavas, então, fraternalmente, nossa evolução arrastada. Conto graça de Teu Amor fraterno, nos enviaste sempre os mais esclarecidos pregoeiros da ciência, da filosofia e da Fé com o fim de incutir verdadeiros empurrões no espírito humano que teimava permanecer estacionário. E, o que houve, então, Tu bem o sabes, como o supremo historiador do planeta: o cruciante martirológico em torno do Bem e do Mal, o desgaste das civilizações que endeusaram o mundo e suas prerrogativas, os desfalecimentos no gênero humano vendo reduzir-se, a poeira, as mais ousadas aspirações do Homem Velho.

A História, ao invés de atingir o alto conceito de Cícero, de Mestra da Vida, não foi outra senão a mestra da rapinagem, registando os incessantes conflitos entre os povos, salpicados com o sangue dos justos e dos mártires. O aforisma físico da "ação e da reação" aplicou-se também aos postulados da conduta da alma. Represálias sangrentas irromperam como gritos bárbaros, lançando-nos na maré tortuosa da inquietação.

A Terra, em Teu tempo, habitada com uma densidade precaríssima de incarnados, tornou-se, aos poucos, um formigueiro humano, acolhendo as levas de Espíritos que a sabedoria de Deus ia retirando das estufas primitivas, por onde as centelhas do princípio espiritual angariavam o patrimônio eterno da sensibilidade, do instinto e do raciocínio.

Espíritos eleitos desceram até nós, como archotes crepitantes, mas sua luz foi tragada pelos montões de areia, que os ventos da inquietação humana levantavam com o propósito de entulhar a graça divina. O homem, como larva eternamente móvel, enveredou pelo terreno agnóstico. Negou a fé, atiçando as labaredas da dialética, e construiu, no altar da consciência, um trono para a razão fria. Isto atingiu sua cumiada o século passado, onde o materialismo e a ciência esposaram-se numa núpcia deplorável. O primeiro chumbou o homem ao lodo da terra, endeusando uma palavra oca e vazia: o nada. A segunda, afastando-se da caridade genuína, tornou-se uma ratazana voraz em torno do plano físico, tropeçando, aos trambolhões, e ferindo-se na própria arma que tentava golpear o ignoto: a investigação experimental.

Até que chegamos à curva do século XX. Lembro-me da palavra da Escritura: - "A mil chegarás, mas de dois mil não passarás". Avizinha-se o estrondo formidável que deitará, por terra, a ossatura da instituição milenária. É o Homem Velho que se despojará de suas raízes malditas e lançará fora o estrume do Demônio que recolheu no coração, como cinza de todos os seus pecados.

A árvore do Teu Evangelho, regada com o sangue dos inocentes, tomará o impulso que tanto almejavas, estendendo, por sobre a face do orbe, sua sombra doce e acolhedora!

CRISTO, meu Irmão misericordioso e Imaculado: eu Te contemplo, ao tocar os pés no primeiro degrau do limiar da Era Nova.

Eu, que fui daqueles que Te esqueceram no primeiro instante, que escarneceram de tua doutrina e que tripudiaram sobre os anseios da caridade divina, sinto-me agora tocado pela tua Voz que me chama, e o esplendor do mundo que me seduziu não me passa agora de uma linda miragem repleta de areias ardentes...

Ceifaste algumas das minhas mais caras aspirações, mas no gosto da renúncia deste-me a provar uma pequenina gota do Teu cálice. Hoje, então, compreendo que para a alma atolada na miséria, só há dois caminhos: a ressurreição ou a dor.

Serei o menor daqueles que irão endireitar as veredas do Senhor, preparando Tua volta, em todo seu esplendor, como complemento e sanção da eterna Verdade.

Fortifica, porém, o coração daqueles que Te compreenderam, revigora a Fé nos teus discípulos espíritas, para a derradeira arrancada do último quartel deste século. E que a luz de Teu reino acenda, desde já, sua primeira centelha na consciência de todas as criaturas!

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