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segunda-feira, 23 de julho de 2018

Mensageiro da Esperança



Mensageiro da Esperança
 Indalício Mendes
Setembro (FEB) Setembro 1954

            Digno de todas as bênçãos é o serviço de beneficência realizado pelos espíritas, em favor dos deserdados da fortuna e dos enfermos da alma e do corpo. Obra santificada, essa, que muitas vezes exige grande e enobrecedor espírito de renúncia dos que a praticam. Aqueles que se entregam à faina de ir visitar a miséria em sua intimidade, tomando contato direto com a dor alheia, sem se preocuparem com a posição religiosa dos necessitados, levam aos infelizes o pão que acalma a revolta das vísceras famintas, a coberta que atenua os rigores do frio, a veste que retarda a nudez enxovalhante, o medicamento que contribui para restabelecer o equilíbrio orgânico, dando ensanchas a que se estabilize a saúde indispensável ao cumprimento das obrigações inerentes à vida terrena. A par disso, leva ainda palavra amiga, o esclarecimento que pode transferir aos corações sofredores o conforto espiritual Imprescindível à integral recomposição da criatura necessitada. São numerosos os serviços de caridade instituídos pelo Espiritismo para atender às dores do mundo, sem qualquer retribuição, assim como sem distinção de raças e de credos, tal como Jesus exemplificou e consta do Evangelho. Sem vacilarem ante obstáculos quase insuperáveis, desdenhando das imposições da fadiga, sacrificando mesmo interesses e conveniências particulares, mas compenetrados da nobilitante missão que lhes cabe cumprir, os espíritas percorrem longas distâncias, sobem morros íngremes, de difícil acesso enfrentam circunstâncias muitas vezes desagradáveis, sob o sol, sob a chuva, pisando a lama ou respirando o pó das estradas, sem outro fim que não seja: o de servir, de fazer o bem, consoante o rumo evangélico, Assim, iluminam sua rota com a luz imperecível do Evangelho de Jesus e executam seus programas de assistência.

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Quantas vezes, no esforço seletivo da sindicância, acolhem conceitos inadequados e imerecidos! No entanto, fiéis às normas de trabalho prefixadas, procuraram, escudados na fé e fortalecidos pela tolerância, apanágio da religião espírita, dissolver pacientemente as incompreensões, com a elucidação ponderada; responder, com o silêncio ungido de vigilância, às imprecações geradas pela cólera de indivíduos perturbados espiritualmente; transformar conceitos pejorativos em bênçãos sobre os que, coitados, ainda não se encontram em condições de avaliar os esplendores da luz nem os perigos da escuridão. Nessa luta gigantesca, que não repercute em outros ambientes, porque é guardada no âmago do coração, os espíritas acabam por firmar pé e triunfar, porquanto são acompanhados, nessas peregrinações cristãs, pela advertência de Jesus a Paulo: “Tem bom ânimo; pois assim com deste testemunho de mim em Jerusalém, assim importa também que o dês em Roma.”

É possível que, entre tantos dedicados obreiros do Espiritismo, algum se detenha, às vezes, para considerar o peso do fardo que carrega e, em tais momentos, que Espíritos inferiores acoroçoam, faz-se mister a reflexão serena, pois é preferível ceder a tarefa a quem a possa executar de boa-vontade, do que insistir que alguém a realize sem entusiasmo. A atitude mental que adotamos pode facilitar o ato que pretendemos consumar, Há sempre uma efusão fluídica quando pensamos ou agimos. Muitas vezes um ato não chega a concretizar-se, mas fica marcado em nossa subconsciência. Todo trabalho feito com desânimo dá resultados deficientes. Pelo menos, disse o Mestre: “...fazei o bem e emprestai, sem nada esperardes, e será grande a vossa recompensa, e sereis filho do Altíssimo; porque Ele é benigno até para com os ingratos e maus.” Eis porque o serviço de caridade tem de ser feito com alegria no coração, com sentimento amoroso, para que seus efeitos sejam realmente benéficos. A esmola dada friamente, sem vibração amorosa, não encontra eco na senda espiritual, é semente desperdiçada em terreno sáfaro. Caridade não se faz com o coração vazio de amor, porque, então, não será caridade, uma vez que lhe falta o complemento valioso.

Por isso, o serviço de assistência a enfermos do corpo e da alma, aos que são atingidos também pela provação econômica, é de extraordinário alcance social e altruístico. Não se trata de amparar e estimular a ociosidade nem a mendicância profissional, mas de prover aos que são realmente necessitados e não têm meios de tirar do trabalho o suficiente para a sua subsistência ou o seu amparo. Daí a imensa responsabilidade moral do serviço de sindicância, destinado a separar o joio do trigo, a resguardar os que são verdadeiramente necessitados. A vulto de importância a tarefa dos trabalhadores espíritas
no setor, e eles a realizam com o mais puro sentimento de paz, compreensão e amor. Caridade seca, orgulhosa, indiferente, humilhante ou espalhafatosa, não é rigorosamente caridade. Herdeiros do Cristianismo primitivo, os espíritas continuam hoje a cumprir sua abençoada missão, que ainda mais se desenvolverá no futuro. Seu benemérito trabalho se expande dia a dia por não lhe faltar a ajuda preciosa do plano invisível. Criaturas bem intencionadas colaboram com essa obra grandiosa, fazendo donativos de toda sorte, sem resvalarem para a propaganda das boas ações que praticam. O espírita consciencioso, de que nos fala Kardec, trabalha sem alarde, anonimamente, se possível. O que vale para Deus não é a caridade insincera, que objetiva laurear quem a faz, mas a caridade simples e modesta, na qual não sabe a mão esquerda o que a direita faz. A não ser assim a caridade se torna conspurcada pela vaidade e envilecida pela hipocrisia, humilhando, não raro, quem a recebe. Os que assim procedem, não são caridosos, mas egoístas, porquanto beneficiam seu orgulho, em detrimento da infelicidade de seus semelhantes. “Praticam, porém, todas as obras para serem vistos pelos homens.”

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E mais frequente, e bem mais fácil, decorar e repetir os versículos do Evangelho, do que seguir-lhes o escarpado curso da exemplificação. O melhor crente não é o que sabe recitar preces e provar a memória na citação calorosa das passagens da Boa Nova, mas aquele que, humilde, afina os sentimentos na prática das boas ações, que sabe transformar o mal em benesses e adubar o coração para produzir frutos santificados.

Qualquer ato de caridade deve ser iniciado com o pensamento puro, para que se envolva em fluídos positivos e revigorantes, capazes de transmitir aos que sofrem o desejado alivio. Na medida do amor posto no ato de caridade, o que o pratica será igualmente beneficiado, consoante a Lei da Retribuição ou Lei da Causa e do Efeito. Todos somos necessitados de caridade, muitas vezes ainda mais do que aqueles que presumimos em piores condições do que nós, tanto assim que nos cumpre servir e a eles, serem servidos. A riqueza material jamais poderá suplantar em valia a riqueza espiritual. No entanto, quando a riqueza material é também utilizada em obras de benemerência, deve ser abençoada. Nem sempre o egoísmo humano se liberta facilmente de preconceitos desenvolvidos e mantidos pela ausência ou pelos defeitos de educação. Para sermos realmente caridosos com os nossos semelhantes, devemos enriquecer-nos de humildade, tolerância e amor. Perante o mundo, a felicidade é geralmente condicionada à maior ou menor posse de haveres. Perante o Altíssimo, a felicidade somente pode ser encontrada através da exemplificação do bem, no exercício da caridade sincera, no testemunho permanente do amor elevado. “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados pelos homens; em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te retribuirás.”

Os abnegados obreiros espíritas, que se entregam, cheios de ânimo e zelo evangélicos, aos trabalhos de assistência aos necessitados, são legítimos Mensageiros da Esperança. Dão aos abandonados a certeza de que não se encontram sós; mostram aos aflitos que poderão fazer jus ao bálsamo da tranquilidade, desde que não percam a fé ou se esforcem para recuperá-la: transmitem, àqueles que se debatem na dor física, a confiança em dias menos angustiosos, assim como levam, aos que são acicatados pelo sofrimento moral, o sedativo da paz, através da palavra oportuna e da caridade que, a mancheias, derramam sobre a Terra os trabalhadores invisíveis, que nunca faltam, que jamais deixam de lutar pela libertação dos que ainda se achem enclausurados em pensamentos negros
e obsidentes.

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“Fora da caridade não há salvação” - sentenciou Allan Kardec. O Espiritismo é fundamentalmente caridoso e os espíritas, integrados na Doutrina que nos legou o Codificador, devem palmilhar atentamente o rumo evangélico. Podemos todos cumprir nossos deveres de espíritas cristãos, ainda que tenhamos as mãos vazias, desde que nos apresentemos com o coração cheio de bondade, o pensamento inundado de perfeita compreensão evangélica. A boa-vontade opera prodígios. O Espiritismo dá o pão do Espírito e também dá o pão da carne. Sua obra humanitária cresce a todo instante, agiganta-se e há de abarcar toda a Terra. É a Religião que está triunfando sem violência, por força mesma da sua expressão divina. Todos os trabalhadores da Seara de Jesus, no plano da caridade objetiva e subjetiva, os obreiros visíveis e os obreiros invisíveis, são amparados pelas bênçãos do Mestre, Paradigma de Caridade, que é expressão pura do Amor!

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