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segunda-feira, 23 de julho de 2018

Clama, não Cesses


Dr. Bezerra de Menezes

Clama, não Cesses
Bezerra de Menezes
Reformador (FEB) Agosto 1954


"Não são os que dizem Senhor, Senhor que entrarão no reino do Céu, mas os que fazem a vontade daquele que está no Céu...”

O sacerdócio hebreu mesclou o culto divino de impurezas humanas, e foi esta a origem da sua condenação.

A Igreja romana fez outro tanto: adora a Deus com os lábios e tem o coração cheio de Iniquidades.

O Espiritismo, Terceira Revelação, complemento da Messiânica, precisa evitar o temeroso escolho.

O exemplo de suas antecessoras é farol que deve guia-lo em sua rota para o desejado porto.

Se os espíritas não compreenderem, melhor que o sacerdócio hebreu e melhor que a Igreja, a sagrada missão de depositários das eternas verdades, do que servirá à Humanidade a Nova Revelação, o orvalho do Céu, para acalmar a sede abrasadora dos filhos da Terra?

Espiritismo não é ciência como apregoam os que procuram, nos fenômenos por ele produzidos, antes o maravilhoso do que ensinos de salvação.

Se o Espiritismo fosse ciência, seria invenção ou descoberta dos homens, como têm sido todas as que são conhecidas até hoje.

Se fosse ciência, fonte de luz para a inteligência, seria, como todas as que são conhecidas até hoje, extremes de ensinos religiosos.

Apontai uma sequer das ciências humanas, cujos cultores, esses sábios que enobrecem a história da Humanidade, procurem devassar-lhe os segredos indo pedir luz e inspiração ao Evangelho ou à Bíblia.

Entretanto, qual é a pedra fundamental do Espiritismo, em sua pura concepção?  O Evangelho. O Evangelho, sim; porque o fim da revelação espírita, clara e positivamente prescrito pelos seus reveladores, únicos competentes para determiná-lo, é a interpretação do ensino divino em espírito e verdade.

E, se este é o fim posto por Deus, como no-lo ensinam seus emissários, donde os fundamentos para o considerarem ciência?

Ciência é ele, porque altíssima religião; e quem diz religião diz ciência, por ser religião a ciência das ciências.

Neste sentido, e só neste, pode-se dizer que o Espiritismo é ciência e Religião científica.

Querer, porém, destacar os dois elementos, dos quais um procede do outro, é desnaturar a Revelação, tal como fizeram Jerusalém e Roma.

Qual tem sido a nova ciência formada com os elementos emprestados ao Espiritismo? Que nome tem ela? Quais são suas leis? Explica-nos ela seu objetivo?

Os homens da ciência estudam seus fenômenos e procuram explicá-los pelas lei conhecidas da ciência, eis tudo; mas já conseguiram fazer, dele e por ele, um corpo de doutrina científica? Nada têm conseguido no sentido desse seu maior empenho.

Entretanto, aí está desafiando a fúria da incredulidade o Espiritismo brilhantemente organizado em alta e sublime doutrina religiosa!

Como, então, é ciência, se não dá para a constituição de uma ciência? Como deixa de ser religião, se dá para a constituição da mais elevada doutrina religiosa? Meditem, sobre estes nossos mal esboçados conceitos, aqueles que quiserem colher frutos de vida na nova árvore plantada pelo Redentor.

Meditem, e reconhecerão que os Espíritos das trevas, no seu incessante mourejar contra a verdade e contra o bem, é que insinuam essas distinções, no intuito de perturbarem as inteligências e arrastarem os mais fracos, se não puderem arrastar todas, ao redil de sua perdição.

Deixemos aos infelizes que se deixam seduzir pelas vozes da serpente, as glórias de figurarem no meio dos que se julgam iguais a Jesus, e procuremos merecer o glorioso título de servos de Jesus.

“Deus, Amor e Liberdade” é o seu lema, com o qual procuram, sob a bandeira do Espiritismo, reunir em torno de si os que se deixam levar por palavras, sem perscrutarem o fundo moral das obras.

Invocam o nome de Deus, os que não seguem sistematicamente os ensinos de Jesus, que é o pensamento de Deus!

Falam em nome do amor, emanação do próprio Deus, os que não o podem sentir, desde que não amam a Jesus, puríssima encarnação do divino sentimento, como Verbo do Senhor!

E pregam liberdade; sabeis como e para quê?

Como meio de se libertarem da lei de Deus pregada por Jesus, e para abafarem os escrúpulos das almas timoratas, a fim de subjugá-las ao seu modo de compreender o amor, de compreender a liberdade, de compreender o Espiritismo!

Espíritas: O caráter essencial da verdadeira fé, como no-lo ensina o divino Mestre, é a humildade no sentimento, é a humildade nas ações.

Ao espírita, que desejar ser discípulo de Jesus, diremos: o verdadeiro espírita deve procurar ocultar as suas boas obras, como os maus ocultam as suas; e se o dever lhe impõe a obrigação de fazê-las em público, como é hoje o da propaganda, deve portar-se com a prudência e a modéstia com que os Apóstolos pregavam a Boa Nova.

Onde quer que vejais placas e bandeiras, como anúncio permanente de sessões espíritas, crede: aí não está nenhum espírito religioso, e se gostais de divertir-vos, entrai e, se procurais o verdadeiro Espiritismo, fugi e orai pelos que o deturpam.

Os templos não têm placas, nem flâmulas, nem arautos pregando pelas ruas e praças ao som de timbales (tamboretes). Esses são meios empregados por empresas teatrais para atraírem concorrência. Isto é próprio de festas mundanas, nunca de exercícios religiosos.

Se virdes os jornais profanos pejados todos os dias de notícias de trabalhos espíritas, com os nomes dos eméritos trabalhadores, concluí, de tais manifestações aparatosas, que não há espírito religioso em quem as fez; e o príncipe do mundo que as insinua no ânimo dos que as fazem.

O Espiritismo é a Revelação divina e, como tal, com os homens ou sem os homens, há de propagar-se por toda a Terra, como no-lo prova a Revelação messiânica.

Felizes os que concorrem com seu fraco esforço para que seja feita na Terra a vontade do Senhor; desgraçados os que, sob falsas aparências, arrastarem seus irmãos a falsas concepções da santa lei.

E concorre-se para a execução da obra de Deus, trabalhando com o maior respeito e humildade como o que trabalha à vista do Senhor da vinha.  

Talvez haja severidade nestes nossos dizeres, mas, além de que não se arranca o cancro, sem dor, acresce que está acima de todas as considerações humanas o amor do próximo, que nos impõe o dever de tentar o maior esforço por abrir os olhos aos que dormem nas trevas da morte e de prevenir os incautos do abismo que se lhes cava debaixo dos pés.

(*) Artigo editorial do Dr. Bezerra de Menezes, no ‘Reformador’ de Setembro de 1896.

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