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quinta-feira, 30 de junho de 2011

1876 - A primeira Materialização ocorrida no Brasil?




Materializações
em 1876


Reformador (FEB)  Março 1953
           
            Passamos a expor um fato observado por grande número de pessoas, cujos nomes constam em documento arquivado:
            “No dia 8 de março de 1876, à Praia de Botafogo, na casa de residência de um distinto advogado brasileiro, ex-deputado à Assembleia Geral, na legislatura de 1866, e ex-presidente de Província, reunidos os cavalheiros abaixo designados, realizou-se em sua presença um trabalho espírita dos mais notáveis e dignos de observação e estudo, como seja o da materialização - em que se tornam, visíveis e tangíveis, seres inteligentes, criaturas humanas, ordinariamente invisíveis.
            Entre 8 e 9 horas da noite chegou o médium o qual estava de passagem, pelo Rio de Janeiro, com destino ao Rio da Prata em busca de uma herança que lhe deixara um parente ali falecido, conforme declarou naquele momento. Como se vê, o médium era completamente estranho a todos os presentes, inclusive o dono da casa.
            Sentaram-se todos em volta de uma mesa redonda, no meio da sala, mesa sólida e pesada. Juntamente com o médium estavam 24 pessoas, entre as quais médicos, engenheiros, advogados, militares, empregados públicos e comerciantes.
            Logo depois, sentiu-se que havia alguma coisa de estranho na mesa; fizeram-se perguntas por meio de percussão na mesa, pancadas com os dedos (tiptologia), obtendo-se em resposta a seguinte palavra - música. O dono da casa pediu a um seu amigo e compadre, que se achava presente, para ir à sala de jantar convidar sua esposa para vir tocar piano; o qual, levantando-se da mesa, encostou à parede a cadeira em que se achava sentado; apenas chegava ao corredor, quando a cadeira, impelida por força oculta, veio colocar-se de novo junto à mesa, tocando-a com o encosto. Voltando ele em companhia da esposa do seu compadre e mais outra senhora vizinha dela, que ali se achava de visita, ambas as senhoras se sentaram ao piano; e a mulher do dono da casa começou a tocar uma valsa terna. Os que se achavam presentes, junto a nós, porém invisíveis, pediram tiptologicamente - música alegre. Então, a senhora que executava tocou uma polca alegre, e imediatamente os que estavam junto à mesa foram obrigados a levantar-se porque esta começava a mover-se e agitar-se acompanhando o ritmo e a cadência musical e, assim, se elevou por mais de uma vez até aproximar-se à altura do lustre pendente do teto, erguendo-se do solo cerca de metro e meio.
            Ao mesmo tempo uma campainha e um pandeiro, que se achava, sobre a mesa, suspenderam-se no ar, agitando-se e fazendo ouvir os sons que lhes são próprios, acompanhando também a cadência da música. Terminada a polca, tudo voltou aos seus lugares, conservando-se em repouso. Conduziu-se a mesa para junto da porta de um gabinete que ficava ao lado, e no qual apenas havia encostadas às paredes cadeiras americanas. Nele havia duas únicas portas, uma das quais, a que dava saída para um terraço, foi fechada à chave, e, retirada esta, colocou-se uma campainha elétrica. Sentado o médium junto à mesa, em uma cadeira das do gabinete, tendo a frente voltada para a sala, pousou as mãos sobre a mesa, em redor da qual se achavam os presentes na sala.
            Tinha sido colocada uma cortina na porta do gabinete que dá entrada para a sala, de sorte que se tornavam visíveis somente a cabeça e as mãos do médium; e, imediatamente se ouviu um ruído no gabinete, e as cadeiras, afastando-se das paredes, dirigiram-se rapidamente para o ponto onde se achavam o médium e levaram diante de si as folhas da porta, que se fecharam sobre a cadeira em que se sentava o médium; e, então, por sobre a cabeça do médium se apresentaram três criaturas, dois homens inteiramente desconhecidos, de fisionomias distintas, bem vestidos, e entre eles uma senhora, parecendo de 30 a 40 anos, bem parecida, corpulenta, trajando um vestido preto decotado, mangas curtas; cumprimentaram os circunstantes por gestos com as mãos e com as cabeças, os homens apertaram as mãos dos presentes; e, sendo-lhes pedido os seus nomes, um desses Espíritos indicou papel e lápis, que, sendo-lhes pedido e lápis, que, sendo-lhe fornecido, escreveu: 8 de março de 1876 - Maria, Francisco, Jackson, e, depois desapareceram. Abrindo-se as portas, deixaram ver o gabinete completamente iluminado, tendo as cadeiras todas   voltado a seus lugares e achando-se abertas de par em par as folhas da porta que dá para o jardim, a qual tinha sido fechada à chave, e esta retirada e guardada, sendo colocada uma campainha elétrica. Entretanto, nenhum ruído for percebido quando aquela porta se abriu.”
(Ext. da ‘Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade’, 1881.)

Nota do Reformador: Eis aí um fato de notável materialização, em que um dos Espíritos materializados chega a tomar do lápis e, ao olhar de todos os assistentes encarnados, responde por escrito à pergunta que lhes fizeram. Lemos igualmente que os Espíritos masculinos, por assim dizer, apertaram as mãos dos presentes àquela memorável sessão espírita.
            Ao que sabemos, foi este o primeiro relato que se fez, no Brasil, de uma sessão deste gênero.


Ler prá que?



O
Livro
Espírita


Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador(FEB) - Abril 1963
CEC,  25-2-1963  Uberaba (MG)

               
            Cada livro edificante é porta libertadora.
            O livro espírita, entretanto, emancipa a alma, nos fundamentos da vida.

                                               *

            O livro científico livra da incultura; o livro espírita livra da crueldade, para que os louros intelectuais não se desregrem na delinqüência.
            O livro filosófico livra do preconceito; o livro espírita livra da divagação delirante, a fim de que a elucidação não se converta em palavras inúteis.
            O livro piedoso livra do desespero; o livro espírita livra da superstição, para que a fé não se abastarde em fanatismo.
            O livro jurídico livra da injustiça; o livro espírita livra da parcialidade, a fim de que o direito não se faça instrumento de opressão.
            O livro técnico livra da insipiência; o livro espírita livra da vaidade, para que a especialização não seja manejada em prejuízo dos outros.
            O livro de agricultura livra do primitivismo; o livro espírita livra da ambição desvairada, a fim de que o trabalho da gleba não se envileça.
            O livro de regras sociais livra da rudeza do trato; o livro espírita livra da irresponsabilidade que, muitas vezes, transfigura o lar em atormentado reduto de sofrimento.
            O livro de consolo livra da aflição; o livro espírita livra de êxtase inerte, para que o reconforto não se acomode em preguiça.
            O livro de informações livra de atraso; o livro espírita livra do tempo perdido, a fim de que a hora vazia não nos arraste à queda em dívidas escabrosas.

                                               *

            Amparemos o livro respeitável, que é luz de hoje, no entanto, auxiliemos e divulguemos, quanto nos seja possível, o livro espírita, que é luz de hoje, amanhã e sempre.
            O livro nobre livra da ignorância, mas o livro espírita livra da ignorância e livra do mal.



quarta-feira, 29 de junho de 2011

Diário de uma criança que não nasceu...



Diário
de uma criança
que não nasceu


M. Schwab
Reformador(FEB), pág. 66 -  03.1959
               
15 de Outubro -     
Hoje teve início a minha vida. Papai e mamãe não o sabem. Eu sou menos que a cabeça de um alfinete; contudo, sou um ser independente. Todas as minhas características físicas e psíquicas estão já determinadas. Por exemplo, eu terei os olhos do papai, os cabelos castanhos ondulados da mamãe. E isso também é certo - eu sou uma menina.
19 de Outubro -   
Hoje, começa a abertura da minha boca. Dentro de um ano poderei sorrir, quando os meus pais se inclinarem sobre o meu berço. A minha primeira palavra será mamãe.
P.S. - Seria verdadeiramente ridículo afirmar que eu não sou um ser humano na minha essência, mas somente uma pele de minha mãe.
25 de Outubro -    
O meu coração começou a bater. Ele continuará a sua função sem jamais parar, sem descansar, até o fim da vida. De fato, isto é um grande milagre!
2 de Novembro -     
Agora nas minhas mãos estão despontando as unhas. Com minhas mãos apoderar-me-ei do mundo e participarei das fadigas dos homens.
20 de Novembro -  
Hoje, pela primeira vez, minha mãe percebeu pelo seu coração que me traz em seu seio. Quem sabe sua grande alegria!
28 de Novembro - 
Todos os meus órgãos estão completamente formados. Eu estou muito grande.
12 de Dezembro -                                                                                                                                               Crescem-me os cabelos e as sobrancelhas. Oh! como ficará contente minha mãe com sua filhinha.
13 de Dezembro -      
Logo mais poderei ver. Porém os meus olhos estão ainda costurados com um fio. Luz, cor, flores... como deve ser magnífico! Sobretudo, enche-me de alegria o pensamento de que poderei ver minha mãe... Oh! Se eu não tivesse que esperar tanto tempo! Ainda mais de seis meses...
24 de Dezembro -                                                                                                                                        O meu coração está pronto. Deve haver crianças que nascem com o coração defeituoso. Neste caso precisam sujeitar-se a delicadas intervenções cirúrgicas para corrigir os defeitos. Graças a Deus, o meu coração não tem anomalia alguma e eu serei uma menina cheia de vida e de força. Todos ficarão alegres com meu nascimento.
28 de Dezembro -                                                                                                                                    Hoje, Minha Mãe Me Assassinou!
(Extraída da Seção Católica de “O  Jornal”,  de 14 de Setembro de 1958.)        





Aborto Não!

Josiel
(Mensagem recebida no Grupo Espírita Fabiano, RJ,
em junho de 1991, pelo médium Jorge Caldas.)
Reformador (FEB) Setembro 1993

                Imaginaste que tuas lágrimas só tiveram por companhia o silêncio da noite espessa.
                Pensaste que ninguém ouvia os reclamos de tua alma, os gritos do teu coração.
                Permaneceste alimentando revolta  e insatisfação, aumentando o caudal de tuas emoções em desequilíbrio.
                Planejaste exterminar o entezinho que se abrigava em teu seio, sem que ninguém soubesse.
                Admitiste a impossibilidade de seres mãe por tua própria iniciativa.
                Uma amiga sim. Ela seria a salvação. Já conhecia os trâmites que lhe permitiram quatro abortamentos. Sim. A amiga será a salvação.
                Minha filha, queremos dizer-te que o que tens pensado e desejado realizar só aumentará os teus tormentos.
                Não creias que um filho atrapalhará a tua vida.
                Antes, será ele que no futuro te dará ânimo e sustento, amparo e proteção.
                Não coloques obstáculos.
                Não impeças a manifestação da vontade divina que se dignou premiar-te, oferecendo-te a guarida de um entezinho que, se hoje te pede carinho e amizade, compreensão e socorro, amanhã te recompensará por todo o bem que fizeres.
                Não, o aborto não é solução, antes a complicação!
                Muitas mulheres na atualidade deploram o ministério da maternidade, esquecidas de que ser mãe é ser cooperadora de Deus no santificado mister da procriação; outras derramam lágrimas de sangue por se verem impossibilitadas de gerar; outras, contudo, alegram-se, felicitam-se por abrigarem na intimidade de seu ventre um ser que crescerá e se engrandecerá para as glórias da vida.
                Pense um pouco, minha filha, ainda é tempo de evitares o crime nefando que alimentas na casa mental, onde teus pensamentos aparentemente inaudíveis são facilmente detectados por nós, os amigos de Jesus, que nos esforçamos para evitar o infanticídio que se generaliza na Terra, abrigado nas malhas do materialismo e amparado por interesses inconfessáveis.
                Pensa nisso, filha. Tu também, todos nós, um dia prestaremos contas a Deus de tudo o que fizemos e do que deixamos de fazer.
                Aborto não! Vida sim! Desde a menor expressão do ser que se liga à futura mãe, até o anjo que se evola ao céu, a vida é de Deus e só Ele tem o poder de dá-la ou tirá-la. 


Vidas Passadas


Terapia de Vidas Passadas
           
            Esclarecimento de Bezerra de Menezes a Philomeno P. de Miranda (1988) em “Loucura e Obsessão”, em psicografia de Divaldo Franco) à página 91:

                “A terapia de vidas passadas é conquista muito importante, recentemente lograda pelos nobres estudiosos das ‘ciências da alma’. Como ocorre com qualquer terapêutica, tem os seus limites bem identificados, não sendo uma panacéia capaz de produzir milagres. Em grande número de casos, os seus resultados são excelentes, principalmente pela contribuição que oferece, na área da pesquisa sobre reencarnação, entre os cientistas. Libera o paciente de muitos traumas e conflitos, propiciando a reconquista do equilíbrio psicológico, para a regularização dos erros do pretérito, sob outras condições. Mesmo aí, são exigidos muitos cuidados dos terapeutas, bem como o conhecimento das leis do reencarnacionismo e da obsessão, a fim de ser levado a bom termo o tratamento, nesse campo. Outrossim, nesta, mais do que em outras terapias, a conduta moral do agente deve ser superior, de tal forma que não se venha a enredar com os consórcios espirituais do seu paciente, ou que não perca uma pugna, nem enfrentamento com os mesmos, que facilmente se interpõem no campo das evocações trazidas à baila... Ainda devemos considerar que as cristalizações de longo período, no inconsciente, não podem ser arrancadas com algumas palavras e induções psicológicas de breve duração. Neste setor, além dos muitos cuidados exigíveis, o tempo é fator de alto significado, para os resultados salutares que se desejam alcançar.” 



'Tereza D'Ávila'



A Monja “Inquieta e Andeja” (*)

Kleber Halfeld
Reformador (FEB), pág. 80 -  Março 1987

               
              Aos 7 anos, a filha de Dom Alonso Sanches de Cepeda e de Dona Beatriz d’Ávila Y Ahumada, convence seu irmão predileto, Rodrigo, quatro anos mais velho, a ir com ela para o continente africano onde combaterão os mouros. Pretendem morrer, caso necessário seja, por amor ao Cristo. Um tio que os encontra em local já distanciado da cidade, leva-os de volta ao palácio paterno.
            Um sonho inocente de duas crianças.
            Mas é um ideal - este de oferecerem a vida a uma causa - que se concretizará anos mais tarde, embora através de uma luta diferente: o trabalho difícil e perseverante junto às consciências humanas.
            Principalmente da parte de Teresa d’Ávila.
            Tarefa que fará da mística e escritora dessa cidade espanhola[1]  um dos nomes mais respeitados no mundo cristão.                                  

  ***

            Na noite de 14 de outubro de 1954, no “Grupo Meimei” [2], o Espírito José Xavier [3], através da psicofonia, avisa aos presentes:
            “Esforcemo-nos por entrelaçar pensamentos e preces, por alguns minutos, pois receberemos, na noite de hoje, um anjo e uma benfeitora. Nosso Grupo, em sua feição espiritual, deve permanecer atento. Neste instante, aproximar-se-á de nós, tanto quanto possível, a grande Teresa d’Ávila e, assim como um grão de areia pode, em certas situações, refletir a luz de uma estrela, nosso conjunto receber-lhe-á a mensagem de carinho e encorajamento, através de fluidos teledinâmicos. A mente de Chico está preparada agora, qual se fosse um receptor radiofônico. Repetirá, automaticamente, com certa zona cerebral mergulhada em absoluta amnésia [4], as palavras de luz da grande alma, cujo nome não ousarei repetir [5]. Rogamos aos companheiros se mantenham em oração e silêncio, por mais dois a três minutos.”(Grifei.)

                A mensagem ditada por Teresa d’Ávila - “Palavras de Luz” -[6] na verdade não constituía a primeira de que o mundo espírita tomava conhecimento. Quem folhear a obra “Falando à Terra” [7], editada em 1951, encontrará outra página da mesma autora, com o título “Lembrete”. Como o “grupo Meimei” seria fundado somente três anos mais tarde, é de se acreditar tenha sido a mensagem recebida por Francisco Cândido Xavier na intimidade de outra agremiação. Em ambiente adequado e após preparo, inclusive, do próprio médium, tal o quilate da Entidade comunicante.

                                   ***

            É realmente considerável o número de obras que descrevem a vida de Teresa d’Ávila, a única “santa” do Catolicismo que mereceu o título de doutora da Igreja, título que no caso foi outorgado pela Universidade de Salamarca.
            Para se ter uma visão dos autores que se ocuparam dessa respeitada figura da Espanha basta tomar do volume que a ÊMECE Editores S.A. (Buenos Aires) imprimiu, contendo duas obras da autora espanhola: “Camiño de Perfección” e “Libro de las Funciones”. É exatamente na Nota Preliminar que se identifica a relação desses três autores.
            A verdade, porém, é que o primeiro que se propôs escrever algo sobre Teresa d’Ávila foi o conhecido Frei Luís de León, apelido da irmã de Felipe II, a Imperatriz viúva da Maximiliano da Áustria. Entretanto, somente pode redigir algumas páginas, porquanto a desencarnação o surpreendeu em plena tarefa.
            O trabalho, incompleto embora apareceu em 1883, na “Revista Augustianiana”.
            Mas, se muitos escreveram sobre ela, por outro lado também escreveu Teresa d’Ávila.
            Além das duas obras citadas, merecem destaque: - “A Vida” - encomendada pelo Padre Gracián, no sentido de fornecer dados ao Inquisidor (!) encarregado de proceder a uma investigação sobre a monja.
- “As Invocações” e os “Cânticos” - que constituem exclamações de amor, espontâneas e diretas, delas extravasando o ardor místico de sua autora. - “Castelo Interior” ou “As Moradas” - que são crônicas leais da única experiência de vida que poderia interessar a Teresa: as diversas etapas que a alma percorre, ao longo da estrada que conduz ao Pai. Aliás, outra obra, “O Caminho da Perfeição”, enquadra-se, igualmente, nesse aspecto.
            Quanto ao trabalho “O Livro das Fundações”, o próprio título denuncia seu conteúdo.
            É toda essa produção literária, aliada ao amplo trabalho de fundação de conventos, que lhe granjeará um certo temor não apenas das religiosas de seu tempo, mas dos próprios Superiores [8], que anos mais tarde acabam por beatificá-la e canonizá-la, conscientes de sua “santidade”.

                                   ***

            Entre tantos e tão singulares fenômenos da vida de Teresa d’Ávila, dois podem ser citados como os mais singulares: os êxtases e a levitação.
            Sobre o primeiro, é a própria monja que confessa:
            “É ele o reflexo exterior de um ímpeto de amor da alma”.
            E um dia revelaria mais minuciosa:
            “Dali a pouco cresceu em mim um amor de Deus tão grande que eu não sabia quem me infundia; por ser muito sobrenatural, nem eu o procurava para mim. Sentia-me morrer do desejo de ver a Deus; e não sabia onde buscar essa vida verdadeira, senão na morte... Às vezes, o ímpeto é tão violento que o corpo parece sem vida e não se podem mover os pés nem os braços; a o contrário, quando estou de pé, caio sobre mim mesma, como que inanimada...” [9]
            A descrição feita coincide perfeitamente com o estudo que vamos localizar em “O Livro dos Espíritos”.
            Quando Kardec indagou:
            “O Espírito do estático penetra realmente nos mundos superiores?” Eis a resposta que recebeu:
            “Vê esses mundos e compreende a felicidade dos que os habitam, donde lhes nasce o desejo de lá permanecer.” (...) [10]
            Mais à frente perguntou o Codificador: “Se se deixasse o estático entregue a si mesmo, poderia sua alma abandonar definitivamente o corpo?” O esclarecimento da Espiritualidade não poderia ser mais claro:



Lembrete

Mensagem do Espírito Teresa D’Ávila

O mundo é cerâmica sublime, 
em pleno cosmos.
A carne é o barro; o espírito é o oleiro.
Cada homem plasma 
seu destino de acordo
com a própria vontade.
Há quem fabrique ânforas
 para o vinho do Senhor, 
e há os que modelam crateras
para a cicuta do espírito.
  Companheiro da Terra,
 faze da existência um vaso sagrado,
em que a Divina Bondade 
se manifeste.
Na pobreza ou na abastança, 
na felicidade ou na desventura, 
não te esqueças 
de que a vida corpórea é 
divina argila em tuas mãos.

“Falando à Terra”.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
        (3ª Ed. FEB)   


            “Perfeitamente, poderia morrer. Por isso é que preciso se torna chamá-lo a voltar, apelando para tudo o que o prende a esse mundo, fazendo-lhe sobretudo compreender que a maneira mais certa de não ficar lá, onde vê que seria feliz, consistiria em partir a cadeia que o tem preso ao planeta terreno.” [11]
            Nesse particular, sou levado a imaginar que nos repetidos êxtases experimentados por Teresa d’Ávila não deve ter faltado a assistência das próprias monjas de seu convento, buscando despertá-la, embora agindo sem a devida compreensão do fenômeno.
            É possível mesmo que algumas chegassem a mentalizar a repetição das crises que ela apresentara algum tempo antes.
            A esse propósito, a própria Teresa d’Ávila em sua autobiografia revela:
            “Comecei a ter delíquios contínuos e, pouco depois, sobreveio um mal do coração tão violento que eu incutia pavor a quantos me viam. A isto se ajuntaram muitos outros males.”
            De fato, houve na vida dessa monja períodos de contínuos padecimentos. O mais sério parece ter ocorrido em 1537, quando contava ela 22 anos. Neste ano, após muitos dias de sofrimento foi dada como morta. Dom Alonso, entretanto, recusava acreditar em sua desencarnação, mantendo-se junto à filha durante três dias, prazo em que a moça voltou ao normal.
            Teresa explica em sua autobiografia:
            “Na Páscoa desse mesmo ano, eu só tinha ossos. Assim permaneci oito meses e, se bem melhorasse gradativamente, continuei encolhida durante três anos. Quando comecei a arrastar-me de gatinhas pelo chão, agradeci a Deus.”
            Foi nesta fase de vida que ocorreu um fato curioso, sem explicação para aqueles que a rodeavam. Ou melhor, o caso foi levado à conta de milagre, uma vez que ninguém encontrou explicação conhecida. Tanto médicas, quanto religiosas.
            Um dia, de repente, ergueu-se Teresa e saiu da enfermaria, tão saudável quanto suas companheiras de convento. A partir desse instante retornou às suas atividades regulares: quer às tarefas de sentido puramente espiritual, quanto às de ordem funcional propriamente dita.
            Alguns de seus biógrafos explicam que os delíquios de que era vítima poderiam produzir “ausências” recorrentes, de natureza epiléptica e que o “mal do coração” por ela citado tenha correlação com a dor que se difundia do peito a todo o corpo. Mas, eles mesmos, os biógrafos, acrescentam por prudência que ‘tudo isto são simples hipóteses”.
            Na verdade, Teresa d Ávila não tinha saúde boa, bastando lembrar que em certo período foi dada como tísica irrecuperável. Mas não se pode alijar a decisiva influência do mundo espiritual sobre sua organização, fazendo surgir quadros patológicos que aos facultativos da época traduziam doenças tipicamente de fundo extrafísico.
            Por essa razão, não acredito fossem todos seus delíquios “ausências” recorrentes de natureza epiléptica.
            Não devemos nos esquecer de que muitas vezes fenômenos epilépticos têm sido responsáveis por casos em que a Ciência não dispõe de melhores explicações.
            É muito mais simples diante da complexidade de determinados casos tomar-se a epilepsia como a melhor porta de saída...
            Com referência à levitação, era um fenômeno que a molestava sobremodo, consoante sua própria confissão:
            “É uma coisa terrivelmente extraordinária, que dá azo a muitos falatórios.”
            Tudo acontecia inopinadamente. Ela era como que “aspirada” para o teto, de nada valendo seu esforço para manter-se no chão, diante das atônitas irmãs do Convento da Encarnação.
            Passado o fenômeno e já refeita do susto, costumava candidamente exclamar que “Sua Majestade” [12] assim procedia, porquanto desejava atraí-la para Si...
                                   ***
            A pesquisa sobre a vida e a obra de Teresa d’Ávila nos propicia ensejo de concluir que não obstante ter sido religiosa católica vinculada a um sistema de clausura; apesar de viver em um país dominado pelo clero e, ainda, curvada ao jugo de múltiplas enfermidades, tornou-se, ao cabo de longas reflexões e contínuas interpenetrações no mundo dos Espíritos, símbolo de trabalho dinâmico, consciência livre e mentalidade otimista.
            Justifico, embora resumidamente, essa assertiva.

1. Trabalho Dinâmico
            A organização do Carmelo, primitivamente subordinada a um regime de severidade, sobretudo no que dizia respeito ao voto de pobreza, afastara-se ao tempo de Teresa d ‘Ávila de tal preceito. Uma das provas eram os “parlatórios-salões” dos conventos, transformados em salões mundanos onde as monjas adereçadas como grandes damas da sociedade e aqueles tidos como benfeitores das “servas de Deus” se distraíam em conversas fúteis, malbaratando o tempo, com o que não se conformava Teresa. Por isso mesmo, em companhia de algumas religiosas com ela identificadas no mesmo pensamento, retirou-se para um pequeno mosteiro, iniciando então o movimento pela reforma da obra do Carmelo.
            Aliás, esse desejo de reforma no seio de uma ordem religiosa me faz recordar uma visita que Francisco Cândido Xavier fez a Juiz de Fora em 1945, quando em um grupo de confrades teve a oportunidade de esclarecer que diversos Espíritos evoluídos, de época em época, descem à Terra para a renovação dos costumes, até mesmo no campo religioso. Adiantou, ainda, que não demoraria muito para que um grande número de Entidades devidamente preparadas no Espaço encarnassem em nosso Planeta visando a operar sensíveis transformações no seio de congregações tidas como “muito fechadas”.
            O trabalho de Teresa, é óbvio, encontra forte resistência, não só da parte do padre provincial da Ordem, do Governador da cidade de Ávila, dos magistrados do Conselho, como dos membros do Capítulo. Uma discussão agita todas as camadas religiosas ao ponto de o núncio apostólico, Felippo Sega, exclamar certa feita:
            “-Não lhe pronuncieis o nome! (referindo-se a Teresa) É uma monja inquieta e andariega (uma monja inquieta e andeja), desobediente, obstinada, que propaga doutrinas perniciosas a pretexto da devoção e deixa o seu convento contra as ordens superiores e os decretos do Concílio de Trento.
            E arrematava mal-humorado:
            “-É uma ambiciosa que tem a pretensão de ensinar Teologia como se fosse um doutor da Igreja, desprezando os ensinamentos de São Paulo, que ordena às mulheres que se abstenham de ensino.” [13]
            Essa é uma característica dos renovadores.
            De nada receiam.
            A própria vida entregam por amor a uma causa que julgam justa.
            Em troca, invariavelmente, recebem a perseguição, os apodos, as calúnias!
            Teresa, porém, não se dá por abatida. E a continuidade de seu esforço persistente acaba por propiciar-lhe, anos mais tarde, assistir à multiplicação dos conventos dentro de um esquema de ação como houvera sonhado.
            Era o triunfo de uma monja sobre um sistema organizado.
            Constituía a vitória da severidade sobre a futilidade.
            Para sustentá-la em sua jornada reformadora, houve por bem a Espiritualidade Maior colocar-lhe ao lado um grupo de dedicadas monjas. Eis por que certa vez escreveu:
            ‘O ver-me encerrada nesta casa, com almas tão dedicadas, é para mim grandíssima consolação.”
            Sem mencionarmos aqui o trabalho propriamente dito de reforma dos conventos, é de ser destacado igualmente o número daqueles que criou: 17 para freiras e 15 para frades, totalizando, desta forma, 32! Isso, ao longo de 20 anos de um trabalho decididamente penoso, porquanto sem qualquer descanso!

2. Consciência Livre

            É Teresa d’Ávila quem escreve jamais ter obedecido cegamente às autoridades eclesiásticas constituídas de seu tempo.
            E a conscientização de que não devia temer qualquer reação parece ter surgido no dia em que um Espírito se lhe apresentou (que julgou ser o próprio Cristo) indagando-lhe:
            -Não sabes que sou onipotente? De que te arreceias?
            A partir desse momento uma autoconfiança a sustentará perante a fadiga, o sofrimento e a própria fome - que não raro experimentou em sua caminhadas. E mais do que isso: dar-lhe-á coragem para manter independente sua consciência, não se submetendo às normativas vigentes no seio da Igreja, e com muitas das quais, não concordava.
            Parece mesmo que Teresa pouco ou nada acreditava em sermões. E muito menos nos pregadores:
            “por que razão as suas prédicas induzem tão pouca gente a deixar os vícios públicos?” - perguntava a si mesma enquanto levantava a correspondente resposta:
            “Porque os que pregam têm demasiada prudência humana e não ardem com aquele grande fogo do amor de Deus com que ardiam os apóstolos: por isso mesmo a chama deles aquece pouco.”
            Essa coragem chegava às vezes a um grau jamais imaginado pelas companheiras. Porque não tinha receio de advertir:
            -Os senhores da Terra colocam toda a sua grandeza  num aparato exterior de autoridade. Com eles só se fala em horas determinadas, e somente algumas pessoas podem fazê-lo. Se, portanto, quem deseja tratar com eles for um pobrezinho, terá de dar voltas e esperar nas antecâmeras, implorar favores e afadigar-se para obter uma audiência... Os que têm o mundo debaixo dos pés dizem a verdade, não têm medo de nada e nem devem tê-lo. Por isso não são feitos para as cortes, onde não se pode agir com sinceridade e onde é necessário dissimular o mal que se vê, pensando que não é mal para não cair em desgraça.
            Apenas quem conhece a história da Inquisição pode avaliar do destemor dessas expressões!...

3. Mentalidade Otimista

            Embora fosse Teresa d’Ávila uma grande contemplativa, sabia perfeitamente nos momentos de necessidade comportar-se como uma criatura de ação. Essa maneira de ser ficou provada quando sentiu que devia sair da sua clausura para o trabalho que sua consciência determinava.
            Desenvolvia sua tarefa com verdadeiro espírito de alegria, o que deixava muita gente espantada.
            Seria tal exteriorização uma qualidade inata em seu Espírito?
            Seria influência de João da Cruz a quem nomeara seu confessor e pai espiritual assim que fora eleita Superiora do Convento da Encarnação? Porque este não cansava de repetir: “A primeira das paixões da alma é a alegria.” [14]
            Muitas vezes sua alegria, seu otimismo, sua descontração diante da situação deixavam desconcertados os circunstantes.
            Quando, no dia 4 de outubro de 1582, caiu desfalecida em Alba de Tormes, após mais uma de suas costumeiras e longas viagens, abatida por um sem-número de padecimentos, indagaram-lhe as piedosas irmãs se desejava ser conduzida de volta a Ávila. De semblante descontraído e com voz sem qualquer embaraço respondeu:
            - Não acreditais que me darão um pouco de terra aqui também?...

                                   ***

            Não seria necessário maior extensão a este trabalho para concluir-se dos justificados adjetivos outorgados pelo núncio apostólico Felippo Sega a Teresa d’Ávila - monja inquieta e andeja. Muito embora emprestemos a esses mesmos adjetivos sentido emoldurado por vibrante positividade!

            Inquieta, buscou penetrar no âmago das questões de caráter teológico, conseguindo dessa incursão corajosa extrair uma normativa de conduta para seus passos.

            Andeja, apesar de toda uma série de barreiras levantadas pelo Clero, foi responsável, conforme vimos, pela fundação de mais de três dezenas de agremiações religiosas!

            Um trabalho para o qual muitos não darão sua concordância, alegando não possuir ele maior objetividade prática, mas que de qualquer forma reflete o dinamismo de uma criatura que, sacrificada por enfermidades, ameaçada pelo poder constituído, não se deteve na tarefa que julgava justa e certa.
            Talvez pudéssemos relacionar sua maneira de agir com a de Saulo de Tarso, que na defesa do mosaísmo julgava - com pureza e sinceridade - estar agindo corretamente.
            E como o grande apóstolo dos gentios, agora já como defensor do Cristo, também Teresa d’Ávila possui outro denominador comum: o gosto pelas repetidas caminhadas por amor Àquele que cognominara - “Sua Majestade”...
           


(*)  Não pretende o presente trabalho traçar dados biográficos completos a respeito de Teresa d’Ávila. O escopo principal é de sua própria biografia extrair passagens que se correlacionem com o que temos estudado na Doutrina Espírita, aproveitando-se ainda o ensejo para tecer apreciações em torno de fatos que, possivelmente, terão passado despercebidos daqueles que lhe analisaram a vida e a obra.
[1]  Ávila, cidade espanhola, é Capital da Província do mesmo nome. Está situada às margens do rio Adaja.
[2]  O “Grupo Meimei”, localizado em Pedro Leopoldo, consoante esclarecimentos do confrade Arnaldo Rocha na obra “Instruções Psicofônicas”, realizou sua primeira reunião na noite de 31 de Julho de 1952.
  Meimei, pseudônimo de D. Irma de Castro Rocha, foi, quando encarnada, esposa de Arnaldo.
[3]  Irmão de Francisco Cândido Xavier, à época de sua última encarnação.
[4]  Observa-se aqui o preparo realizado pela Espiritualidade Maior em Francisco Cândido Xavier, para captação da mensagem de Teresa d’Ávila.
[5]  José Xavier evidencia em suas palavras o grau evolutivo do Espírito que logo após daria sua comunicação.
[6]  Título dado à página pelo organizador da obra “Instruções Psicofônicas”
[7]  Tanto esta obra como “Instruções Psicofônicas“ foram editadas pela FEB.
[8]  A grande reformadora do Carmelo nasceu em Ávila em 28 de março de 1515 e desencarnou em Alba de Tormes em 4 de outubro de 1582. Foi beatificada pelo Papa Paulo V em 24 de abril de 1614 e canonizada por Gregório XV em 12 de março de 1622.
 Conforme lemos na súmula biográfica dos autores que compõem a obra “Falando à Terra”, os escritos de Teresa d’Ávila são “singelos, humildes, cândidos, e tidos como os mais belos monumentos da língua castelhana”.
 Constituíam, por um lado, a manifestação de sua própria sensibilidade; por outro, a expressão das entidades espirituais que, por seu intermédio, se faziam presentes na literatura católica. Mas, médium que era, não conviveu ela somente com a psicografia. Teve êxtases e visões, assim como experimentou os fenômenos da levitação e transporte.      
[9]  “Mulheres Imortais”, ed. Cia. Melhoramentos de São Paulo.
[10]  Questão nº 440.
[11]  Questão nº 442.
[12]  Assim gostava Teresa d ‘Ávila de chamar a Jesus.
[13]  Há que considerar a época em que semelhante preceito foi instituído, porquanto a realidade é que os costumes vão sendo modificados com o passar dos anos.
[14]  João da Cruz, escritor místico, deixou: “Subida ao Monte Carmelo”, “Noite Escura”, “Cântico Espiritual”, “Chama de Amor Viva”. Sofreu muito em decorrência das contínuas perseguições movidas contra ele.