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sábado, 11 de junho de 2011

01/02 A Explorada Proibição




A Explorada Proibição
      Parte 1


com base em Editorial
do Reformador (FEB)
de  Julho de 1937

            Referimo-nos, como logo o perceberá quem nos leia, à Lei de Moisés, lançada aos que já naqueles tempos remotos, atribuindo-se faculdades de que não tinham, ou conspurcando as que possuíam, exploravam as relações que desde sempre existiram entre o mundo invisível e o mundo visível, exploração que a profunda ignorância das massas populares fazia sem dúvida grandemente lucrativa.
            Tendo-se tornado, essa proibição, segundo parece, a clava mestra que o clero descobriu, quando já o demomismo não lhe presta auxílio nenhum, para pelejar contra o Espiritismo, na esperança maior de conservar afastados dele para sempre os que acreditam, ou supõem que fora do romanismo não há salvação, convém propormos saber e mostrar até que ponto, ou se de alguma forma pode a célebre proibição ser invocada, no sentido em que o fazem esse mesmo romanismo e o protestantismo.
            Primeiramente, pois que os nossos adversários costumam, para maior e melhor uso, citá-la truncada, reproduzamo-la em sua íntegra, para boa compreensão do nosso raciocínio. Diz ela assim, conforme está no Deuteronômio XVIII, 11:

            Nem se ache entre vós quem pretenda purificar o filho ou filha, fazendo-os passar pelo fogo; nem se consulte adivinhos, ou observe sonhos ou agouros, nem quem seja feiticeiro, ou encantador, nem indague dos mortos a verdade. Porque todas essas coisas abomina o Senhor e por semelhantes maldades exterminará ele estes povos à tua entrada.”

            É exato que aí se fala em indagar dos mortos a verdade. Mas, fácil é de compreender-se  a que verdade aludia Moisés, tratando-se, como se tratava, de gente que tão grande resistência oferecia aos seus menores esforços por lhe incutir a crença na existência de um Deus único, soberano Senhor do Universo, ponto essencial e fundamental de onde decorrem todas as verdades que formam o conjunto das leis divinas, em cujo conhecimento só gradativamente entram os seres espirituais, à medida que, por efeito do progresso, da evolução, vão sendo aptos a receber as revelações do Alto, como sucedeu dois mil anos depois, com o advento do Cristo, e, passados quase outros dois mil anos, com o advento da Espiritismo.
            A verdade que, então, aquela gente, tão inculta e fanática que tinha como processo de purificação dos filhos fazê-los passar pelo fogo, indagava dos mortos outra não podia ser senão a mesma de que ia á cata, quando recorria aos adivinhos, aos interpretadores de sonhos e agouros, às pitonisas et reliqua.  Era, forçosamente, a ‘verdade’ condizente com seus interesses materiais, com suas ambições, com suas aspirações de ordem subalterna, com seus desejos puramente terrenos. Era, afinal, a ‘verdade’ a cuja procura andam, ainda hoje, os que recorrem aos cartomantes e quiromantes, aos modernos adivinhos, bem como os que recorrem aos médiuns, pensando poderem conseguir por eles que os Espíritos revelem onde há tesouros ocultos, ou qual o êxito que terá este ou aquele negócio.
            Não era questão, nem podia ser, das verdades cristãs, que só vinte séculos mais tarde seriam proclamadas e, ainda menos, do desenvolvimento que já comportam, únicas de que cogita o Espiritismo, a revelação dos Espíritos do Senhor, que somente se manifestam, nos templos de hoje, para oferecerem ao homem, agora apto a recebe-la, uma base, por assim dizer, concreta, inabalável aos golpes de quaisquer argumentos ou sofismas, à fé cristã que o há de salvar.
            Nem seria concebível que Deus, inspirando a Moisés, por intermédio dos Espíritos superiores que o assistiam, proibisse às suas criaturas a indagação da Verdade, em geral, cujo conhecimento constitui a meta que Ele lhes impõe, porque conhecer a Verdade é conhecê-Lo e senti-Lo cada vez melhor, vedando-lhes a utilização do meio mais seguro de chegarem a esse conhecimento, como hoje o demonstra o Espiritismo. Equivaleria a haver traçado aos Espíritos o caminho que a Ele conduz e barrado, ao mesmo tempo, esse caminho, com obstáculos intransponíveis.
            O que, pois, inspirado por Deus, Moisés proibiu ao povo que lhe estava confiado foi a prática abusiva que se alastrava e por meio da qual os inescrupulosos, sempre em número avultado, lhes exploravam a credulidade e as superstições, filhas da sua incultura e do seu atraso moral, levando-o a distanciar-se, em vez de aproximar, das verdades divinas, sob o engodo de lhe revelarem tudo o que ele se mostrasse desejoso de saber.
            A mesma coisa, a mesmíssima coisa faz hoje o Espiritismo, a Doutrina dos Espíritos, e com fundamento idêntico ao em que assentou Moisés, a sua proibição. Esse fundamento não reside em prejuízos que a ação dos exploradores possa trazer às verdades salvadoras do homem e que tem a sua personificação no Cristo de Deus, que disse: Ninguém vai ao Pai senão por mim, isto é, senão conhecendo e observando as leis divinas, como Eu as conheço e observo. Reside, assim, em que tais práticas, como em toda outra de natureza supersticiosa ou inferiormente interesseira o retardamento de muito da iluminação espiritual pela luz que se irradia das verdades cristãs, para os que àquelas práticas se entregam. Assim, quase que perenizam a demora na ascensão, através da senda do progresso moral, aos mais altos cumes da espiritualidade, a fim de se integrarem em Deus - destino por Ele posto a todos os seus filhos.
            Aliás corrobora, senão prova concludentemente todas as nossas assertivas, o seguinte trecho de Jeremias (XXIII, 16 a 18, 21, 25, 26, 33), falando dos falsos profetas, que eram exatamente os que então se inculcavam médiuns, com o fim exclusivo de explorarem a credulidade pública:

            “Eis o que diz o Senhor dos Exércitos: Não escuteis as palavras dos profetas que vos profetizam, enganando-vos. Eles publicam as visões de seus corações e não o que aprenderam da boca do Senhor. Dizem aos que de mim blasfemam: O Senhor o disse, tereis a paz. E a todos os que caminham na corrupção de seus corações: Nenhum mal vos advirá. Mas, qual dentre eles assistiu ao conselho de Deus; qual o que viu e ouviu o que Ele disse? Não era eu quem enviava esses profetas; eles iam de si mesmos; eu não lhes falava; eles profetizavam de suas próprias cabeças. Ouvi o que disseram esses profetas que profetizavam a mentira em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei. Até quando essa imaginação estará no coração dos profetas que profetizam a mentira e cujas profecias não são senão as seduções que trazem no coração? Se, pois, este povo, ou um profeta, ou um sacerdote vos interrogar e disser: Qual o fardo de Senhor? Dizei-lhe. Vós mesmos sois o fardo e eu vos lançarei longe de mim, diz o Senhor.”

            Noutra linguagem, é a mesma advertência que o Espiritismo, consubstanciado nos ensinos dos Espíritos mensageiros do Senhor faz, com relação aos falsos médiuns e aos Espíritos embusteiros que, ignorantes da verdade e das responsabilidades em que incorrem, da primeira não cuidam, preocupados tão só com aquilo a que nos induzem os seus pendores maus.
            Mas, seria  não só absurdo como iníquo que, pelo fato de existirem Espíritos embusteiros e médiuns desleais ou insinceros se vedasse aos encarnados toda comunicação com os desencarnados, ou vice-versa, que tivesse por contrário à vontade de Deus todo intercâmbio, no sentido de relações diretas, entre os que se encontram nos dois planos da vida.
            Se assim fora, João, o Evangelista, que de certo conhecia perfeitamente a proibição de Moisés, não houvera dito, como se lê na sua primeira epístola, cap IV, v.1:

            Meus bem amados, não creiais em qualquer Espírito; verificai se os Espíritos são de Deus, pois quantos falsos profetas se têm levantado no mundo.”
            Ora, recomendando ou aconselhando se verifique se os Espíritos são de Deus, implicitamente proclamou que todos os Espíritos, assim os que vêm como os que não vêm de Deus, podem comunicar-se  e se comunica,  com os homens , pois que só na ocasião em que isso se dá é que se torna possível aquela verificação. Do mesmo modo, vê-se que o grande Evangelista invalidou por completo a interpretação generalizada que a igreja romana houve por bem dar à proibição que o Deuteronômio contém, atribuída a Moisés, visando inimizar com o Espiritismo os homens.
            Se se devesse entender a proibição conforme o quer essa igreja, João se houvera, sem dúvida, limitado a lembrá-la, corroborando-a com os ensinos que recebera do Mestre e que difundia através de suas gerações porvindouras, através do seu grandioso Evangelho. Não se aventuraria a apenas aconselhar uma simples verificação ‘de Deus’ em matéria que dera causa a uma proibição formal.
            Muito, porém, ainda há que extrair e nos resta a dizer, não só acerca dessa proibição, como dos textos, que reproduzimos de Jeremias e João e de outros trechos escriturísticos, para que o possamos fazer no presente artigo, sem lhe imprimirmos extensão exagerada. Ficará para a sua continuação o que falta.

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