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quinta-feira, 16 de junho de 2011

As Igrejas Ortodoxas e a Terceira Revelação



As Igrejas Ortodoxas
e a
Terceira Revelação


Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB)  Julho 1949
           
            As Igrejas ortodoxas - Católico Romana, Protestantes, Grega - nada admitem fora dos seus dogmas. Estes são a verdade absoluta e irrevogável para o crente; mas o pensador sabe que os dogmas são obra inteiramente humana, decretos de Concílios e Sínodos, formados por pessoas de saber limitado, como somos todos os seres humanos e, por isso mesmo, podem estar errados.

            Além do limitado saber dos Bispos que se unem para decretar dogmas, eles não podem fugir a letra das Escrituras, do Velho e do Novo Testamentos e, nestes livros, existem muitíssimos e grosseiros erros. Um dogma religioso cristão ou judeu nada mais é do que a interpretação de um ponto das Escrituras sobre determinado assunto, partindo-se do princípio mais do que absurdo de que as Escrituras são a palavra de Deus e não podem nunca estar erradas. Dizemos que é mais do que errada a crença de que as Escrituras não podem estar erradas, porque efetivamente as Escrituras se contradizem em muitos assuntos e por isso mesmo trazem sua origem humana, quer de Espíritos encarnados quer de desencarnados, mas uns e outros tem conhecimentos limitados e falíveis. A moral do Velho Testamento é completamente diferente da do Novo e ficou toda revogada por Jesus, no Sermão da Montanha. Em muitos pontos do Velho Testamento, se nega a sobrevivência da alma , mas a doutrina da sobrevivência e da responsabilidade é essa mesma do Novo Testamento. O Velho Testamento é de um racismo estreito, enquanto que o novo é de universalismo absoluto. Sendo a base mesmo dos dogmas inteiramente falha e estes decretados por homens, é fora de dúvida que os dogmas carecem fé muito limitada.

            A Terceira Revelação confirma uns dogmas e cassa outros sem respeito nenhum pelas autoridades que os decretaram. Confirma  a imortalidade da alma mas nega as penas eternas; confirma a existência de Deus mas nega a Santíssima Trindade; confirma a missão de Jesus mas nega que ele seja Deus; confirma a missão da religião, mas nega exclusividade a qualquer igreja.

            Há uns trinta anos uma dessa Igrejas ortodoxas - a Anglicana - nomeou uma Comissão de dois Arcebispos e trinta e cinco Bispos para estudar o Espiritismo e dar-lhe um parecer. Essa Comissão concluiu:

            It is possible that may be on the threshold of a new science, which will, by another method of approach, confirm us in assurance of a world set before and beyond the world we see, and of something within us by which we are in contact with it.  We could never presume to set a limit to means which God may use to bring man to the realization of spiritual life” (1)

            Por esta declaração os fiéis e até o clero anglicano ficam com o direito de estudar o Espiritismo, não há uma proibição, como a da Igreja Católica Romana; mas os Espíritos que se comunicam não se limitam a provar a existência de um mundo maior, anterior e posterior ao nosso. Vão mais longe - dão-nos notícias da vida nesse mundo espiritual e revelam conhecimentos muito diferentes do conhecimento que possuem os sacerdotes da Igreja Anglicana. Enquanto esses ensinam a existência de um inferno eterno, aqueles descrevem uma vida muito humana e natural depois da morte e o fiel anglicano há de crer mais em seus amigos, que já se acham no além, do que nos padres que baseiam seus conhecimentos em velhos textos de tribos incultas do passado.

            As Igrejas ortodoxas não podem aceitar a Terceira Revelação, porque ela desacredita seus dogmas, mas não podem evitar que os Espíritos se comuniquem e que os seus fiéis tomem conhecimento do que eles dizem.

            Há dois caminhos a escolher: aceitar os novos ensinos e alterar seus dogmas, ou negar os ensinos dos Espíritos e abrigar-se nos dogmas. O primeiro caminho será o progresso e a vida, o segundo será a estagnação e a morte.

            Até agora a tendência das Igrejas, principalmente da Católica Romana, é seguir o segundo caminho, logo, condenar-se a uma morte mais ou menos lenta, mas fatal. Portanto, no mundo latino, a Igreja terá que desaparecer e o Espiritismo, com um corpo doutrinário completo, substituí-la-á mais cedo ou mais tarde. No mundo anglo-saxão, porém, talvez não suceda o mesmo, porque lá o Espiritismo não está formando um corpo completo de doutrina, mas  somente se limitando a provar a sobrevivência e seguir o caminho das igrejas protestantes. Por outro lado, naqueles países, as Igrejas são tolerantes e abrem inquéritos para tomar conhecimento do Espiritismo.

            Além da Comissão a que nos referimos acima, houve recentemente nomeação de outra, formada de 10 pessoas, entre clérigos e leigos, para estudar o Espiritismo e apresentar um Relatório. Sete das dez pessoas recomendaram o estudo do Espiritismo como útil à Igreja. É verdade que o Arcebispado não publicou este relatório e só nove anos mais tarde foi ele publicado pelos membros da maioria que chegaram a conclusões opostas às que desejava o Arcebispado.

            Como não é possível impedir que os Espíritos se comuniquem e encontrem quem os ouça, os dogmas terão que ir perdendo a força a pouco e pouco até entrarem para o domínio da mitologia antiga que a seu tempo era ortodoxia tão forte como as Igrejas de hoje. O Politeísmo tão pitoresco dos gregos, dos romanos, dos escandinavos, há somente dois mil anos era aceito como verdade dogmática. Ainda existe na poesia, como figura, muita coisa daquele tempo. Parnaso, Pégaso, Musas, Cupido, Júpiter, Saturno, Diana, Apolo, Olimpo, Minerva ainda aparecem na linguagem figurada dos poetas, mas ninguém mais crê em sua realidade, como criam os antigos. Virá tempo em que o Inferno, Satanás, as Três Pessoas da Santíssima Trindade, a Ressurreição dos Mortos para o Juízo Final, serão expressões nas quais ninguém crerá.

            A Terceira Revelação se encarrega de esclarecer tudo, tornar inteiramente natural a vida depois da morte.

         As Igrejas ortodoxas ainda viverão muito tempo, mas em pleno declínio... enfraquecendo-se e desacreditando-se sempre. Sua fraqueza se revela tristemente na vida anti cristã das nações de todo o Ocidente. Apesar de terem Igrejas cristãs oficiais, as nações decidem suas questões pela guerra, vivem na mais criminosa desigualdade econômica, com multidões morrendo à mingua nos países mais ricos da Cristandade, despendem com armamentos grande parte dos orçamentos e educam os homens para a guerra. A vida das nações cristãs é o maior atestado de falência das Igrejas ditas cristãs, nas quais realmente ninguém crê. A instituição da guerra, nascida entre os pagãos, não tomou conhecimento da Doutrina cristã das Igrejas. Cada guerra é mais horrível que a precedente. Tudo isso tem que ser reformado em bases mais sólidas, com uma compreensão mais nítida da responsabilidade individual e coletiva. Enquanto o mundo for governado pela força, não terá começado o reinado do Cristo.

            (1) É possível que estejamos no limiar de uma nova ciência que virá a confirmar, por outros métodos de contato, a existência de um mundo anterior e posterior ao mundo  que vemos e de alguma coisa em nós pela qual possamos entrar em contato com tal mundo. Nunca poderíamos ter a presunção de estabelecer limites aos meios de que Deus possa servir para levar o homem à compreensão da vida espiritual.

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