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domingo, 26 de junho de 2011

48 Trabalhos do Grupo Ismael



48

SESSÃO DE 8 DE MAIO DE 1940

Manifestação sonambúlica

             Primeiro de um Espírito de pujante inteligência e vasta cultura, ex sacerdote da Igreja de Roma, em cujo seio fora como ele próprio o declarou, um dos maiorais da Inquisição e que conservando-se fiel à sua organização político-religiosa, trabalhou, durante séculos, pelo seu crescente poderio, à frente de falanges numerosíssimas de outros Espíritos. Desde o advento da Terceira Revelação, tornando-se, por isso mesmo, perseguidor tenaz e implacável da Doutrina Espírita a e de todos os seus profitentes, dos médiuns, sobretudo, que vinham a encontrar-se no âmbito da ação maléfica  que desenvolvia contra todos os que ele arrolava como hereges por insubmissos ao catolicismo romano. Para se fazer ideia da sua pertinácia na perseguição aos que se forravam ao jugo romanista, bastará dizer que, como se verá da comunicação final dada na mesma sessão, há vinte anos ele se manifestou diversas vezes no “ Ismael”’, como um dos mais terríveis perseguidores do médium Ulysses, ali se empunhando em debates doutrinários com Pedro Richard, que presidia ao Grupo e que, persistindo no espaço em seus propósitos caridosos, conseguiu afinal modificar-lhe as ideias e os sentimentos, conforme adiante se verificará. Esta sua primeira manifestação agora ocorreu depois de haver-se estudado, pelo Evangelho de João, a ‘’ressurreição de Lazaro’’, tendo alguns dos membros do Grupo explanado o texto evangélico, no sentido de demonstrarem que deste se evidência que não houve, no episódio em apreço, o a que vulgarmente se chama ‘’ressurreição’’, conforme o ensina a Igreja, nem, portanto, ‘’milagre’’, que, de fato não pode existir, porque as leis divinas são imutáveis e eternas, como o próprio Deus, que nelas está.
                Concluindo o estudo, eis se manifesta o Espírito a que nos referimos, dizendo:


            Espírito. -  Vocês não perdem vasa para demolir a Igreja, para lhe menoscabar a ação, sem compreenderem os fins dessa ação. Podeis afirmar que as massas ignorantes compreenderiam a ressurreição de Lazaro sem a interferência do milagre, tal como os vossos livros ensinam e vós aceitais,conforme estivestes comentando?
            Há, na Igreja de Roma, sacerdotes que compreendem o alcance e a sutileza das lições do Cristo; entretanto, como Ele o fez na sua missão evangelizadora, a Igreja projeta sobre a inteligência das massas a luz, mas graduando-a, para que elas não se deslumbrem e descreiam das afirmações religiosas e salvadoras.
            De fato como afirmais, as leis divinas não são arbitrárias. O sacerdote esclarecido não desmente esta verdade, porque negaria a sua própria evolução intelectual. Se as leis fossem arbitrárias, o mundo seria um caos inabitável.
            Faz-se necessário, pois, compreender a obra da Igreja e distinguir o mau sacerdote do sacerdote consciente, que apenas cala suas ideias em respeito à disciplina a que se submeteu.
            Sem ser um adepto da vossa crença, sem ser um combatente pela implantação de quaisquer ideias na consciência dos meus irmãos, aqui compareço assiduamente  para ouvir os vossos debates e as instruções dos vossos mentores. Contudo, sem ser um sectarista, no verdadeiro sentido da palavra,ainda permaneço mais nos arraiais do Catolicismo do que nos vossos, porque muitas coisas ainda são para mim obscuras no contexto da vossa doutrina.
            Não compreendo, por exemplo, a limitação do poder de Deus. Ouvi, há pouco, de um de vós, uma explicação que produziu dúvida no meu entendimento, sendo essa a razão por que venho tomar o vosso tempo precioso, quando aguardáveis palavra mais autorizada do que a de um simples ex clérigo. Deus é a lei em si mesma, dissestes. Se Deus é a lei, quem fez a lei? Poderei merecer a esmola de uma explicação vossa?

            (O diretor dos trabalhos tece breves considerações, mostrando ao visitante que os espíritas não cogitam de demolir coisa alguma, porquanto o Espiritismo, em o qual ressurge o Cristianismo do Cristo, é essencial e exclusivamente construtivo; que perguntar quem fez a lei, por ter ouvido que Deus é a própria lei, equivale a perguntar quem fez ou criou Deus; que, sendo Deus o absoluto e existindo desde toda a eternidade, uma vez Ele é o legislador, a lei evidentemente existe de toda eternidade: que, por outro lado, sendo Deus infinito em si mesmo e em todos os seus atributos,  não pode ser compreendido, nem, ainda menos, definido por inteligências finitas e ainda limitadíssimas como as nossas; que só podemos  compreender Deus sentindo-o, conforme melhor lhe explicariam aqueles mentores a quem o visitante pouco antes se referira. Quando á graduação da luz para massas ignorantes, pondera, porque há de a Igreja pretender sobrepor-se ao Cristo, que é a fonte mesma donde jorra a luz que ilumina as almas? Quem, melhor do que Ele, que preside á marcha  evolutiva da humanidade terrena, pode saber quando devem ser intensificadas  as irradiações da luz dos seus ensinos para aclaração do entendimento e da consciência humana?  Menos ainda se pode compreender que aqueles que o tem como sendo o próprio Deus e que não compreendem quaisquer limitações ao poder de Deus, entendam de limitar esse poder, no que concerne à ampliação das Verdades que as criaturas precisam conhecer e sentir, segundo as necessidades do seu progresso, da sua evolução, necessidades da qual somente Ele pode ser juiz).

            Espírito . – O erro da Igreja não está propriamente na sua doutrina, mas no afastar-se ela dessa doutrina. A Igreja devera ser espiritual, para atuar espiritualmente na consciência das criaturas, tanto das paupérrimas, como das opulentas.
          Mas, a sua disciplina é necessária, tão necessária que a cada passo tropeçais na vossa obra
pela indisciplina dos vossos núcleos.
           
            Diretor. – Sim, a disciplina é necessária e nós a queremos; porém, não a disciplina compulsória, imposta pela violência. Queremo-la espontânea, para ser consciente, como a queria o Cristo, que nada impunha a ninguém; que apenas disciplinava pela exemplificação dos seus ensinos.

            Espírito .- Saberás que alguns dos que por aqui têm passado  e assistido aos vossos trabalhos se esforçam pela unificação do Catolicismo com o Espiritismo? E sabeis qual o maior campeão dessa obra?

            Diretor. – Penso saber, bem como os meus companheiros.

            Espírito . – Como quer que seja,  não estou autorizado a revelar-lhe o nome. A obra, entretanto, não é fácil. Eu aqui venho de há muito; mas apesar de haver modificado os meus sentimentos e ideias, ainda não comungo perfeitamente convosco. Compreendo que é necessária a reforma da igreja, porém não a sua derrocada.

            (O diretor observa que assim também o entendem todos os que se reúnem na Oficina de Ismael,certos de que a reforma da Igreja virá como efeito de evolução natural, porque assim é que ela se operará na conformidade das leis divinas.)

            Espírito. – Não é, contudo, geral esse modo de pensar entre os vossos companheiros e colaboradores. Tendes razão quando lembrais que o Cristo disse: quem não é contra mim é por mim. Mas, por isso mesmo, precisais distinguir o mau do verdadeiro sacerdote, assim como eu comparo, analiso e separo. Enquanto falavas e eu recolhido te escutava, ouvi do Alto, esta advertência: Se Deus é amor, contenta-te com essa explicação, porquanto, para a compreensão maior, é necessária a evolução,sem a qual nem o homens, nem os Espíritos adiantados jamais a teriam alcançado.
            A compreensão se vai dilatando e acelerando. À medida que o ser atinge um mais alto grau de moral,mais domina os conhecimentos científicos. Diz ainda o amigo que tenho a meu lado: não te apresses, não podes ir além do ponto, que os teus merecimentos te assinaram. Tem confiança e espera. Estas coisas,que são bens do Espírito, nenhum as pode adquirir de improviso, pois que, segundo a palavra evangélica,não se dão perolas a porcos.
            Estou satisfeito e confortado.

            (Breve silêncio)

            Aqui vim pela primeira vez e falei, há mais de 20 anos. Sentava-se ai onde estás o velhinho
cujas lágrimas muito concorreram para beneficiar o meu Espírito.
            Temos trocado ideias muitas vezes. E’ um campeão do Evangelho. Seu coração é um sacrário de sentimentos e é o seu coração que tem modificado o meu estado de alma. A par do ensino cristão, ele distribui o alimento do espírito. E’ um verdadeiro sacerdote.
            Agora me vou, porque ele vos quer dizer duas palavras.

*

Comunicação final,  sonambúlica


            Quem era o espírito que acabava de manifestar –se.- Debates com ele travados há vinte anos.- Disposições que inspiraram ao médium, mas que este não pode por em execução. - Abstração dos cuidados da vida material nos trabalhos do grupo.

Médium: J. CELANI


            Meus companheiros, paz e bendito seja o Cordeiro de Deus.
            Podeis dizer que ganhastes o vosso dia, não pelas palavras que ouvistes, mas pelos efeitos produzidos deste lado.
            E’ um velho combatente da Igreja, este que acaba de visitar-vos. Por muitos anos aqui esteve na estacada.
            O nosso Ulysses foi uma vitima sua, mas muito concorreu, pela mediunidade que possui, para o estado em que ele ora se encontra.
            Durante muitas sessões, aqui nos debatemos, ele arrimado nos seus conhecimentos, eu nas asas do meu Matias[1], graças a quem consegui tocar-lhe o coração. O merecimento, no entanto, se houve, foi coletivo.
Ainda aqui comparecem muitos dos que dessas sessões participaram.
            Quero, porém, fazer ressaltar, para vossa meditação, um fato que esta manifestação sugere: é que o médium vinha com o propósito de falar-te (ao diretor) sobre a disposição em que estava de abster-se desta tarefa, para a qual se julga incapaz. Mas, não teve ânimo, ou não pode.
            Meus companheiros, abstraí-vos de tudo o que pertence à vossa vida material, quando aqui penetrardes. Tornai de todo cristãos os vossos pensamentos e sentimentos, para  que os servos de Deus possam ressuscitar os lázaros morais do vosso ambiente, de modo que entre vós se faça o que fazia  o Cristo entre as multidões.
            É preciso compreendais a necessidade de separar completamente o que é do mundo exterior
 do que toca à vossa tarefa, quando aqui vos reunirdes.
            Eis o que tinha para dizer-vos hoje e permita o Criador que eu possa levar por diante o meu desejo,que é de produzir alguma coisa neste Grupo, do qual o meu Espírito recebeu muitas das graças que hoje o felicitam.
            Que a Virgem, a consoladora dos aflitos, não se esqueça do servo que se esforça por lhe reverenciar o Espírito excelso. Permita Ela que eu complete a educação do instrumento de que me sirvo, para que dado me seja cumprir a minha promessa. Que Ela vos acompanhe aos vossos lares e vos fortaleça o espírito para a continuação da nossa tarefa. São estes os meus votos. Deus vos abençoe. – Pedro. (Richard)




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