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sábado, 4 de junho de 2011

12 Escravidão e Espiritismo



Os Negros do Brasil
Ismael Gomes Braga
 Reformador (FEB)  Abril 1958
           
            No capítulo VII de ‘Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho’, o Autor nos fala das multidões de Espíritos sofredores, já adiantados em conhecimentos, mas falhos de humildade, que habitavam em ambientes dolorosos, próximos da Terra, e, por ordem de Jesus, foram trazidos à penosa redenção nos trabalhos e humilhações da escravidão. Leiamos algumas  linhas. Depois de ouvir a ordem de Jesus,
           
            Ismael sente que luzes compassivas e misericordiosas lhe visitam o coração e parte com os seus companheiros mais próximos da Terra. Aí se encontram antigos batalhadores das cruzadas, senhores feudais da Idade Média, padres e inquisidores, espíritos rebeldes e revoltados, perdidos nos caminhos cheios da treva das suas consciências polutas. O emissário do Senhor desdobra nessas grutas do sofrimento a sua bandeira de luz, como uma estrela dalva, assinalando o fim de profunda noite.’ (Pág. 52)
           
            Convida-os todos para as lutas redentoras: para construírem um novo mundo com seu próprio sacrifício pessoal. Essa multidão imensa de condenados, por graves faltas no passado da História, vem renascer em corpos negros no Brasil, para pavorosos sofrimentos, enquanto desbravam os sertões e fazem surgir uma nova pátria.
            Reabilitam-se no trabalho e no sofrimento.
            Muitos deles já eram espíritos cultos, mas rebeldes e desumanos.
            Vejamos outro tópico do livro:

            Essas entidades evolvidas pela ciência, mas pobres de humildade e de amor, ouviram os apelos de Ismael e vieram construir as bases da terra do Cruzeiro. Foram elas que abriram os caminhos da terra virgem, sustentando nos ombros feridos o peso de todos os trabalhos. Nesse filão de claridades interiores, buscaram as pérolas da humildade e do sentimento, com que se apresentaram mais tarde a Jesus, no dia, que lhes raiou, de redenção e de glória.
            Foi por isso que os negros no Brasil se incorporaram à raça nova, constituindo um dos baluartes da nacionalidade, em todos os tempos. Com as suas abnegações santificantes e os seus prantos abençoados, fizeram brotar as alvoradas do trabalho, depois das noites primitivas. Na pátria do Evangelho têm eles sido estadistas, médicos, artistas, poetas e escritores, representando as personalidades mais eminentes. Em nenhuma outra parte do Planeta alcançaram, ainda, a elevada e justa posição que lhes compete junto das outras raças do orbe, como acontece no Brasil, onde vivem nos ambientes da mais pura fraternidade’. (Pág. 54.)

            Quantos escravos humildes e sofredores haviam sido orgulhosos intelectuais, sacerdotes, senhores feudais, guerreiros, em anteriores encarnações! E os seus proprietários, seus verdugos, não passavam de espíritos grosseiros e boçais, cheios de orgulho e preconceitos de raças, de cores, de religião! Pobres senhores!

            Essa fase de duras expiações ficou legalmente terminada em 13 de Maio de 1888, mas a obra de redenção não tem fim: ainda é imenso o número de pobres e sofredores em todos os países do mundo. O trabalhador pobre e humilhado muitas vezes ainda se aproxima muito da situação de escravo na vida de expiações, porque é obrigado a submeter-se a tremendas injustiças - pelo menos  aparentes - para viver a vida dos seus.

           Está abolida a escravidão, mas existem chocantes desigualdades; estas igualmente terão que ser abolidas pelo progresso moral dos homens.

         Durante muitos milênios a escravidão foi considerada situação normal; mas chegou o dia em que a consciência mais evoluída do homem lhe compreendeu a barbaridade e iniciou luta por aboli-la. Esta luta durou séculos, mas triunfou em toda a superfície do Planeta. De modo semelhante, as injustiças sociais foram tratadas como normais em tempos passados, mas o amadurecimento das inteligências e da moral começou a reclamar contra elas, e por toda a parte do mundo foi aberta luta para proteger os mais fracos contra os mais fortes. Hoje existe a consciência nítida de que é dever da coletividade proteger os fracos contra o excessivo poder dos fortes. Hoje existe a consciência nítida de que é dever da coletividade proteger os fracos contra o excessivo poder dos fortes. Esta luta igualmente não cessará enquanto não triunfar em seus anseios. No Brasil, como é da nossa própria índole, ela se vai fazendo pacificamente, pela legislação social progressiva, sem grande abalos nem derramamento de sangue.




 Espiritismo e Abolição
Reformador (FEB), pág. 129 -  Maio 1976

                Descoberta no século XV, a costa africana, Gil Eanes e Bixorda iniciaram, para o Brasil, o nefando tráfico de escravos negros, que, ao tempo da expedição de Martim Afonso de Souza, tornou possível que a cupidez inconsciente forjasse na colônia toda uma estrutura econômica baseada no trabalho servil de pretos e aborígenes, obrigados a laborar nas lavouras, nos engenhos e nos serviços domésticos, primeiramente no norte, em 1535, sob as ordens de Duarte Coelho Pereira, donatário da capitania de Pernambuco, e, depois, no centro-sul, através do Rio de Janeiro, onde o braço cativo foi introduzido por Gutierrez Valério, em 1583, sob o governo de Salvador de Sá.

            Tão vigorosa se tornou essa estrutura econômica anti-humana e anticristã, que mesmo após a independência, e malgrado a lei de Feijó, de 7 de novembro de 1831, que proibiu o tráfico de escravos; o Bill Aberdeen, de 1845, do parlamento inglês; a “Lei Euzébio de Queiroz”, de 14 de novembro de 1850, e outra lei de 1853, a importação de africanos prosseguiu até 1855, quando foram efetuados os últimos desembarques de cativos, de Sirinhaém e São Mateus.

            Já então os espíritas brasileiros desenvolviam grandes esforços, particulares e públicos, para ajudar a pôr cobro a tal iniquidade. Em 1822, José Bonifácio redigia, em Paris, uma Representação nesse sentido, dirigida à nossa Assembléia. Em 1869, Bezerra de Menezes publicou trabalho de repercussão, intitulado - “A Escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extinguí-la sem dano para a Nação”. Em 1871, José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco e presidente do Conselho de Ministros, fez sancionar a Lei do Ventre Livre.  Em 15 de julho de 1884, Manuel Pinto de Souza Dantas, Conselheiro do Estado, fez apresentar, por seu filho, novo projeto antiescravagista.

            Enquanto isso, Francisco de Sales Torres Homem, Visconde de Inhomerim, divulgava, sob o pseudônimo de Timandro, o famoso Libelo do Povo; Antônio Prado liderava no Senado, ao lado de João Alfredo, a campanha de reforma das bases econômicas não escravagistas do País, e Antônio Luiz Sayão transformava o próprio lar num céu para os escravos, que, segundo informa Zêus Wantuil, eram tratados como irmãos e amigos, a ponto de se constituírem em membros de sua família.

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