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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Solilóquio



Solilóquio
por Mó de Job
Reformador (FEB) Dezembro 1919

            Espíritos e companheiros de lutas, que tendes, como o que na hora presente vem confabular convosco, necessidade de paz e de progresso; encarcerados do mundo que, na aspiração da Verdade, da Justiça e do Direito, evocais os Mensageiros de Jesus, em nome deste suplicando a misericórdia do Pai Espiritual; almas que propendeis para a Luz, vidas que desejais a Eterna Vida para lenitivo das dores que vos experimentem; vinde ouvir a dolorosa história de uma vida que vos acompanha, tendo o pensamento voltado para o Infinito num soluço de dor e na súplica de uma esmola, para que, de ânimo forte, substituindo tendências que reprova por sentimentos bons que a edifiquem e recomendem a imortalidade, possa distribuir pelo exemplo de abnegação, de humildade, de fé, elementos de perseverança que vos animem e sustentem a coragem, quando tiverdes de atravessar os estreitos caminhos da maioria que punge, que a alma precipita para o abismo das tremendas dores, em cujo fundo entanto, mister se faz que o homem, a semelhança do Cristo, saiba agradecer ao Pai a graça que assim lhe conceda para a sua evolução espiritual.

            Vinde ouvir os episódios da vida de um companheiro vosso, que aplaudido ontem, quando os elementos materiais lhe sorriam e desdenhado hoje pelos que já lhe não reconhecem prestígio, nem por isso deixa de vos endereçar fraterno e festivo olhar, inda que este lhe possa ser levado à conta de atrevimento ou de imbecilidade...

            Vinde e meditai a tristonha história do pobre que vos bate à porta. Ei-lo que se aproxima. Vede-o. É um mendigo que se apresenta com o sorriso nos lábios. Não se revolta à indiferença dos que não o queiram ouvir, nem se deixa arrastar pelo desânimo quando o estômago lhe exige pão e as sociedades fartam gargalham... É um convencido da vida espiritual e, como se não queira deixar conduzir pelas sugestões mundanas e sim para a vitória da alma, ama e recebe compassivo e grato o que lhe dão de bom e o que lhe dão de mal...

            Em tempos idos, quando melhores dias lhe acenavam, distribuía com os que o cercaram o que era seu; e os que o cercavam, engrandecendo-se com o que recebiam dele, em luz, animação e conhecimento, progrediram e, aos assomos do orgulho, diante do mundo que os aplaudia, abandonaram-no dizendo: “Vamos aniquilá-lo, para que amanhã não tenhamos de confessar que a luz nos foi manifesta por ele: seria vexatório, pois teríamos de permanecer na dependência dele, escravizados e sem merecimento, o que, alem de vergonhoso, nos ofenderia o amor próprio.”

            Ele se apercebeu da conspiração dos que o rodeavam e lhes disse: “Sou vosso irmão e companheiro. Nada vos tenho dado e tudo tenho recebido de vós. Também, por isso, tendes prosperado e eu me sinto feliz, porque o Pai me fez; portador da luz que vos transmiti quando éreis pequenos: vós a tendes aumentado e nada me estais devendo, porém, sim, ao Pai.”

            Os conspiradores ouviram-no e disseram: “Impostor! -Fingindo-se de justo e bom, com um desprendimento que não possui, ei-lo a evidenciar a presunção de nos haver guiado os primeiros passos! Não tivéssemos Inteligência, capacidade para o trabalho, e nunca teríamos conseguido a posição em que nos achamos. Que luz nos trouxe ele para se apregoar intermediário do Pai? Conselhos? Presunção de nos haver instruído quando éramos pequenos? É um louco!”

            E, desde então, numa campanha surda, a soberba, a ingratidão e a intolerância movem guerra de extermínio ao mendigo que vos vem bater à porta!

            Espíritas, sede unidos! Transformai as vossas almas em templos de oração pela prática do Bem, da Caridade, do Amor, do Bem que se não orgulha, da Caridade que se não proclama, do Amor que se não envaidece!

            Sede unidos e compassivos uns para com os outros e todos para com a humanidade. Trabalhai para a organização de uma só família e amparai-vos mutuamente! Sede filhos de Deus, que, pelos lábios de Jesus, quando vos disse: “Amai-vos uns aos outros”, também quis significar que só reconheceria como dignos de sua Graça os que se unissem e lhe acatassem a recomendação. Uni-vos, pois, e sabei agora: o pobre que vos apresento, que vos vem bater à porta, é o que se sente fraco para violar a Lei de Deus e da fraternidade exemplificada pelo Cristo, e forte para sofrer resignadamente o desamor dos que se fazem grandes para o mundo e, escravizados à matéria de que se hão de despojar, não veem que se fazem pequenos perante a Eternidade!

            Espíritas, atendei ao pobre que vos bate à porta: dai-lhe amor, dai-lhe coragem, dai-lhe confiança em vossa fé pelo exemplo de humildade.

            Cristo, para que os humildes se não envergonhassem e melhor compreendessem o amor fraterno, lavou os pés a seus discípulos. Vós sois discípulos do Cristo e como discípulo se deve reconhecer menor que o Mestre, se o pobre vos vem aos pés, colhei-o em vossos braços e assim, não tereis de que vos envergonhar no dia da separação.


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