Pesquisar este blog

quarta-feira, 5 de junho de 2019

A incredulidade e a razão



A incredulidade e a ciência
João Fontoura
Reformador (FEB) Janeiro 1924

Tratando da incredulidade dos homens, que tudo negam, sem estudar os fatos, assim se exprime Camillo FIammarion, em interessante artigo publicado na Revue Spirite:

O desconhecido de ontem será a verdade de amanhã. A ciência nos mostra grande número de homens eminentes que pararam na senda do progresso, imaginando que a sua ciência tinha dito a última palavra no assunto.

O imortal Lavoisier, que tinha revolvido a Flogística e que criou a química, ficou solidário com as ideias de seu tempo. Encarregado pela Academia de Ciências de apresentar um relatório sobre a queda de um aerólito, aliás muito bem observado, redigiu em 1769, um documento em que declarava o seguinte, sob o título: Relatório sobre uma pedra que se pretende tenha caído do céu durante uma tempestade.

“Se a existência de pedras do raio sempre foi olhada como suspeita em um tempo em que os físicos não tinham nenhuma ideia da natureza do raio, com mais forte razão o deve ser hoje que os físicos modernos descobriram que os efeitos desse meteoro são os mesmos da eletricidade.”

Depois de descrever a maneira por que, foi vista a queda do aerólito e preocupado com a lenda popular que dava essa pedra como produto do raio, acrescentou:

”Cremos poder concluir que a citada pedra não tem sua origem no raio, que ela não caiu do céu.”

No entanto várias testemunhas viram a pedra cair em pleno dia 13 de setembro de 1768 em campo raso. Ela lá estava, examinaram-na, analisam-na e concluíram... que não tinha caído do céu.

O testemunho humano é aí considerado como nulo, e, em nossos dias, certa escola continua a ensinar que as testemunhas, quaisquer que sejam, não tem nenhum valor probante.

Ora, não era a 1ª vez que se via cair do céu uma ou muitas pedras, Para citar a mais célebre, lembremos que a 1° de novembro de 1491, em Ensisheim uma pedra enorme caiu diante de todo um exército, perto de Maximiliano I, rei dos romanos.

Os seres humanos pensam ainda que os fenômenos metafísicos não são admissíveis, pela razão de que admiti-los seria pôr em dúvida certos princípios do ensino clássico.

*

Não é necessário remontar a um século para nos certificarmos desse espírito tão funesto ao avanço do saber humano.

Eu vi com meus olhos o fonógrafo negado, na Academia de Ciências pelo célebre Dr. Bouilland. Tive por mestre o não menos célebre Babinet que negou a possibilidade dos cabos submarinos; conheci o célebre geólogo Elias de Besumont, secretário perpétuo da Academia de Ciências, que sempre negou o homem fóssil.

Chevreul, Faraday, Tyndall, Huxley, sábios igualmente eminentes, nunca compreenderam nada dos fenômenos psíquicos e os rejeitaram cegamente.

Em 1831, o Dr. Castel dizia à Academia de Medicina, em seguida à leitura de um relatório de uma com missão dessa Sociedade, sobre o magnetismo animal:

“Se a maior parte dos fatos enunciados fossem reais, eles destruiriam a metade dos conhecimentos adquiridos em física. É pois necessário que evitemos propagá-los, imprimindo o relatório.”

Mme. Blavatsky conta (Isis dévoilée, t. IV, p. 366), uma anedota que corria entre os amigos de Daguerre, entre 1838 e 1840. Mme. Daguerre consultou uma das celebridades médicas da época a respeito da condição mental de seu esposo. Ella declarou, com as lagrimas nos olhos, que a prova mais evidente da loucura de seu esposo era a sua firme convicção de que conseguiria pregar a própria sombra na parede ou fixa-la em placas metálicas mágicas. O Dr. respondeu, por seu turno, que tinha observado ultimamente em Daguerre sintomas de loucura. Terminou aconselhando a esposa a que mandasse o marido para Bicêtre.

Dois meses depois um profundo interesse era despertado em todo o mundo das artes e da ciência pela exposição de imagens apanhadas pelo novo processo. As sombras haviam sido fixadas, não obstante, sobre as placas metálicas e a fotografia estava estabelecida.
           
Que dificuldades não tem a verdade que vencer para se impor!

Pois o grande físico inglês lord Kelvin não escreveu isto:

“Tenho que repelir toda a aparência de qualquer tendência para aceitar o magnetismo, a clarividência, as pancadas. Não há um 6° sentido de espécie mística. A clarividência e o resto são o resultado de más observações, misturadas com um espírito de impostura voluntária, agindo sobre almas incoerentes e confiantes. “
  
Tal o grau de cegueira que foi levado um dos maiores espíritos da nossa época.

Temos que juntar o nome de Ernesto Haeckel à lista dos sábios cegos por um
falso orgulho, que negaram os fenômenos inexplicáveis.

Em uma página infeliz de sua obra “Os Enigmas do Universo”, fala da leitura
do pensamento nesses termos: “O que se chama telepatia não existe mais que os espíritos e os fantasmas.” Em que pese a Haeckel e seus colegas, a transmissão do pensamento, o hipnotismo e muitas outras manifestações psíquicas tem a sanção de homens eminentes e a psicologia ousa aprofundar problemas em um terreno outrora considerado como um amálgama de embustes e mistificações.

A incredulidade é devida, parece-me - diz ainda Flammarion - à imensa e universal ignorância. É sobretudo nas questões psíquicas que essa ignorância é notável e lamentável, porque todos nós somos nelas interessados. O mundo psíquico é mais vasto que o mundo físico e ninguém deveria desdenhar o seu estudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário