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segunda-feira, 10 de junho de 2019

O Mundo desconhecido



O mundo desconhecido

Carlos Imbassahy
Reformador (FEB) Abril 1925

Os fatos supranormais se vão impondo. Atualmente, à atenção do estudioso. É debalde que uns se fazem indiferentes e outros irritados. As coisas extraordinárias se vão manifestando progressivamente e sucessivamente desnorteando quem as procura interpretar fora do Espiritismo. As soluções explicativas que se apresentam são quase tantas quanto os seus autores. Poucas vezes tem sido tão certo o ditado:  Cada cabeça, cada sentença.

Os casos de curas, quais as que se referem como operadas por intermédio do Sr.
Mozart, do Sr. Hickson e outros instrumentos dos Espíritos pela complexidade com que se mostram, entram na categoria dos que embaraçam os observadores.

Não obstante, há muitos que pensam, como o Sr. Medeiros e Albuquerque, que
é vergonhosa a atitude dos que exploram tais curas, que não passam de casos banais de sugestão.

Ora, uma coisa é apreciar o fato de perto e outra comenta-lo de longe.

Com os predicados do taumaturgo brasileiro têm havido e há muitas criaturas por quem o mundo científico já se interessa. O neurologista francês, Dr. Eugene Osty, que se vem dedicando, há longos anos, ao estudo da fenomenologia paranormal, apresenta vários exemplos, mais ou menos idênticos ao de Mozart e essa atitude não pareceu vergonhosa a ninguém.

Também se não desdourou o Prof. Richet de falar das curas miraculosas que
poderiam ser introduzidas na ciência metapsíquica. É assim que diz: “peutêtre y aurait-il lieu d’introduire dans la Science métapsychique quelques unes de ces guérisons miraculeuses e authentiques.”

O Dr. Karl Happich, de Darmstadt, neurologista, fala da mediunidade de certo cavaleiro leigo em medicina que curava e fazia diagnósticos.  Chegou a publicar isso e não se enrubesceu.

            Mas, se estas curas existem, se se lhes pode chamar miraculosas, se a elas se acham ligadas outras faculdades que “touchent à la méthapsychique”, como dIjz Richet, não é de causar pejo deixar-se aqui de ver casos banais de sugestão nas que se atribuem a Mozart e que escapam, em absoluto, àquela hipótese.

É que a sugestão tem a vantagem de barrar o caminho das hipóteses temerárias, de torna-lo inacessível às ideias novas que principiam a invadir o planeta para alguns, assustadoramente.

É essa a razão porque o interessante cronista, que fez tal assunto entrar na Ordem do Dia, se refere ufanamente ao 2º Congresso de Pesquisas Psíquicas. O seu júbilo provém de ter esse Congresso declarado que a hipótese da sobrevivência é apenas uma das interpretações possíveis dos fatos chamados espíritas.  

Ora, pela declaração de princípios desse 2º Congresso, o que ao verifica é justamente o contrário. Se se tratasse de crentes, de adeptos que chegaram a tais restrições, poder-se-ia afirmar que esses, com aquele apenas, estavam afrouxando, que suas convicções começavam a empalidecer. Mas, nada disso. Eram, na sua grande maioria, os do Congresso, perquiridores indiferentes, ou materialistas declarados. Vieram da negativa categórica. Julgam, agora, que a sobrevivência é possível. Indubitavelmente, deram um passo para a a espiritualidade. A evolução tinha que se fazer por aquele caminho. Nem se poderia compreender que caíssem de chofre no seio da doutrina de Allan Kardec. Seria a natureza em saItos, o que talvez não agradasse muito aos admiradores de Leibnitz.

Há sempre nessas questões uns tantos enganos que se repetem axiomaticamente. Um deles é o de que a Grande Guerra, pela saudade dos mortos, tem trazido a conversão ao Espiritismo.

A causa deve ser procurada alhures. País em que essas conversões têm tomado grande vulto é o nosso. Calcula-se, mesmo, em três milhões o número dos adeptos das novas doutrinas, isto é, do Espiritismo. Não sabemos, porém, onde a Grande Guerra produziu aqui essa devastação que deixou tanta gente saudosa.

É nos fatos, no grande acervo dos fatos, que devemos achar a procurada explicação.

Dos patrícios nossos, ultimamente conversos, só de um se poderia dizer que a saudade é que o encaminhou à conversão:  mas, ainda aí, o que contribuiu para essa conversão foram os fatos, na sua espantosa realidade.

Crê o escritor a quem nos vimos referindo, que as referidas conversões têm um motivo ferozmente egoísta.

Tal não há. Egoísmo é o daqueles que fecham os olhos à luz dos ensinamentos. Para que aqueles não lhes tragam a certeza de que Deus existe, de que sua justiça é verdadeira, que as nossas faltas são passíveis de penas e que a nossa vida deve ser a do amor ao próximo.

Ora, isso implicaria uma série de restrições, uma grande reforma nos costumes, o sacrifício do interesse, das paixões, dos gozos materiais da vida, dos prazeres nefandos do mundo.

A certeza de uma justiça infalível trás nos muitos sustos, porque poucas consciências se podem julgar isentas de culpa. E a ideia de erros no passado, com abstenções no presente e castigos no futuro não será a muitos grandemente sedutora. Daí a grande acolhida de toda e qualquer hipótese que ponha de lado a da imortalidade, com suas consequências, mesmo que essa hipótese seja praticamente indemonstrável e teoricamente insustentável.


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