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segunda-feira, 16 de abril de 2018

Novos tempos, novas táticas



Novos tempos, novas táticas
por Roberto Coimbra
Reformador (FEB) Julho 1947

A um fluente e culto pregador ouvimos certa feita a afirmação de que a quase ninguém hoje amedrontam mais os pintados e celebrados horrores do inferno. Para salvar almas não vale o esforço de traçar, a cores vivas e a golpes largos, em sermões e artigos maçudos, os quadros dantescos reservados aos bodes no dia do juízo final. O povo já não liga para essas assombrações. É preciso mudar de tática - concluía o orador.

Posto o ilustre reverendo quisesse, com isso, reforçar argumentos outros com os quais não concordamos, absolutamente, por amor da lógica e da verdade, o certo é que ele tem carradas de razão e, honra se lhe faça, aceitou um fato indiscutível que muita gente boa inda não aceita, ou faz que não aceita.

De feito, o inferno descrito em certo palratório (= parlatório), que chega às vezes a parecer inflamado pelo próprio fogo daquelas bandas, só mesmo por um milagre da ignorância mantém nesta época o seu prestígio neste mundo de Deus, - neste mundo de Deus que alguns ministros, com a sua poderosa homilética (arte de pregar sermões religiosos), buscam à viva força convencer-nos de que é do diabo.

Essa história de céu e inferno vem sendo muito mal contada. E não pode ser doutro modo. Mas, depois que as vozes de além-túmulo repontaram aqui, ali e acolá, nas línguas mais díspares, entre os povos mais diversos, nos meios até mais adversos, depois que o Espiritismo, assentado em bases graníticas, entrou a espalhar luz sobre os ensinos do Cristo, uma nova, e mais justa, e mais segura concepção de Deus e do Universo veio transformar a vida de inestimável multidão de gente.

O preconceito, de mãos dadas a interesses e convenções sociais, ainda faz pé atrás e empenha-se, infelizmente, em conservar as consciências nas trevas, asfixiando-as, Mas dia virá em que desaparecerão os carneiros de Panúrgio (personagem de Rabelais; seguir alguém sem limites ou restrições) e todo o mundo aprenderá, por si mesmo, o rumo a seguir.

Até lá, muita luta, muito obstáculo, muita incompreensão terão de ser enfrentados, transpostos e vencidos pelos cristãos-novos, por aqueles que fazem por viver o Cristianismo em sua primitiva pureza e simplicidade. Ao presente, apesar de tudo que por aí vai, já temos fortes razões para considerar animador o progresso alcançado. Boa parte da humanidade pensa com a própria cabeça e sente com o próprio coração, o que não é pouco. Daí o crescente fracasso da verborragia dos que advogam a causa do inferno eterno, ou do céu ganho à custa alheia, do céu dependente até de salvo-condutos de homens como nós mesmos.

A verdade triunfa sempre. É das leis de Deus. Só ela libertará o homem do pecado, através das vidas sucessivas. Não obstante isso, certos religiosos multiplicarão seu zelo e sua energia no triste e inglório intuito de incutir falsidades na mente dos seus semelhantes. Poderão ir mudando de tática esses sectaristas, mas, dominados por dogmas, procurarão impô-las às criaturas, assim como quem está certíssimo de que o reino dos céus seja, exclusivamente, o reino dos seus.

Não esmoreçamos, pois, no combate aos erros, venham donde vierem. Orando e vigiando, assiste-nos, a nós, os espíritas, o dever de esclarecer os homens no verdadeiro caminho do Espírito de Verdade.


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