Pesquisar este blog

segunda-feira, 28 de março de 2011

'Liberdade e Intolerância' - Parte 01/02




Liberdade e Intolerância
por Vinélius Di Marco / Indalício Mendes
‘Reformador’ (FEB) Fevereiro 1974

            Quanto mais se estuda conscientemente a Doutrina Espírita, mais se compreende a necessidade da evangelização do mundo. Houve e há quem afirme ser o Espiritismo apenas uma ciência, recusando, consequentemente, dar guarida ao seu aspecto religioso, reafirmando pelas mensagens constantes dos ‘Prolegômenos’, de ‘O Livro dos Espíritos’, assinados pelos Espíritos (São) João Evangelista, (Santo) Agostinho, (São) Vicente de Paula, (São) Luiz, O Espírito da Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin , Swedenborg, e outros.
            Os cientificistas também se infiltraram no Espiritismo, desde o início, e Allan Kardec, ‘ a encarnação do bom senso’, segundo a expressão do cientista Camille Flamarion, aceitou de bom grado as respostas de Espíritos superiores, definindo Deus como a ‘inteligência suprema, causa primária de todas as coisas’, e considerando como incompleta a definição de que ‘Deus é o infinito’, expressão que é fruto da ‘pobreza da linguagem humana, insuficiente para definir o que está  acima da linguagem dos homens.’ Mesmo quando respondem à pergunta nº 4, do I Capítulo de ‘O Livro dos Espíritos’ – ‘Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?’ – eles respondem com a simplicidade que exprime toda a grandeza e toda a profundidade que confundem os negadores impenitentes: A prova Ada existência de Deus pode ser encontrada ‘num axioma que aplicais às vossas ciências: Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá’.  E vem o complemento: ‘Para crer-se em deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pode fazer alguma coisa.
            A natureza intrinsecamente cristã do Espiritismo, que realça a sua essência religiosa, está contida na resposta dos Espíritos superiores à pergunta nº 625:  ‘Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?’ – ‘Jesus’. E completa: ‘ Para o homem, Jesus constitui  o tipo de perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o espírito divino o animava. Quantos aos que, pretendendo instruir o homem na lei de Deus, o têm transviado, ensinando-lhe falsos princípios, isso aconteceu por haverem deixado que os dominassem sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regulam as condições da vida da alma, com as que  regem a vida do corpo. Muitos hão  apresentado como leis divinas simples leis humanas estatuídas para servir às paixões e dominar os homens’ (‘O Livro dos Espíritos’).
            Quando o nosso Allan Kardec lançou ‘O Livro dos Espíritos’, em 18 de abril de 1857, a situação européia já se encontrava poluída pela política da Igreja, cujos atos de intolerância ainda afetavam a liberdade de pensamento e eram passivamente aceitos na maior parte do mundo.  Como viesse, progressivamente, perdendo força política que possuíra, intervindo em setores profanos, fazendo valer a sua impertinência em países  secularmente ‘trabalhados’ por seus elementos, a partir do século XVIII, redobrava de esforços para demonstrar autoridade, insurgindo-se contra as conquista científicas, enraivecida com o desenvolvimento da liberdade de pensar, influenciava governos, como ainda hoje sucede em muitos países, notadamente nos chamados ‘subdesenvolvidos’.
            Sua posição perante a liberdade de religião e de consciência era ostensivamente adversa. As grandes massas populares, dominadas durante séculos pelo fanatismo sectário, nem sempre seguiam o caminho mais adequado à sua própria melhoria. A atitude de seus mentores religiosos, tendentes a dirigi-las contra o desenvolvimento daquelas elementares verdades, muitas vezes induziu o povo, pouco esclarecido, a comportamentos lamentáveis. ‘A liberdade de religião e de consciência, ‘liberdade de perdição’, segundo Pio XI, está muito condenada, inclusive por Leão XIII: não se pode deixar o homem com a liberdade de escolher entre a verdade e o erro, e dar a este as facilidades concedidas àquela’ (Henry Marc-Bonnet – El Papado Contemporâneo’).  Ora, se isso acontecia quando já estava sendo amortecido o antes arbitrário procedimento da Igreja contra a liberdade de religião e de consciência, ao tempo de Leão XIII, imagine-se o que era o ambiente ao tempo em que Allan Kardec, corajosamente, mas com extraordinária habilidade, lançava mais uma ‘heresia’ – o primeiro livro da Codificação – em 1857, ao tempo de Pio IX, que sucedera a Gregório XVI. 
            Se a Igreja romana se enfurecia com o desenvolvimento científico, a sua ira se multiplicava quando se tratava de mais um movimento destinado a iluminar a mente do povo e a mostrar que chegara o tempo de retificar os rumos do verdadeiro Cristianismo. Segundo o nosso ponto de vista, daí a conveniência de ser o Espiritismo apresentado exclusivamente como ciência – que também o é, indiscutivelmente – e como filosofia científica, mas sem qualquer objetivo religioso, para que não atraísse de início a perseguição daqueles que se consideravam senhores dos homens e da Terra. Mesmo assim, como lutou o Codificador! Como trabalhou e sofreu para que as obras fundamentais do Espiritismo pudesse firmar-se e captar a atenção e a simpatia do povo e das classes mais ilustradas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário