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quarta-feira, 30 de março de 2011

29/50 'Crônicas Espíritas'


29CM

                                              
                                                           II
           

            No terceiro capítulo do seu livrinho, monsenhor Miguel Martins, é um tanto incoerente, quando ensina: “O homem não tem o direito de, a seu capricho, nem mesmo à sua vontade (sem o especial consentimento do monsenhor), escolher para si uma qualquer das religiões existentes; porém, tem o dever de adotar unicamente aquela de que ele tem a perfeita certeza que é a religião verdadeira, a que foi revelada por Deus.” E adiante diz: “Em qualquer tempo que lhes sobrevenha qualquer dúvida, deverão consultar, estudar, ponderar, e logo que se convençam que a sua religião é falsa, devem imediatamente procurar professar aquela que julgam verdadeira.” Muito bem! Mas acaba o terceiro capítulo com a seguinte frase: “Por conseguinte, tributemos todo amor, dedicação e devotamento à nossa religião; (ainda bem) e, pelo contrário, votemos todo desprezo, ódio e rancor a tudo quanto convém, interessa, agrada a todas as outras seitas e associações contrárias e adversas à nossa religião.” (Mal, muito mal).
            Quase que sinto monsenhor dizer: ah! Pois que, de certo, o rev. seria logo elevado a Inquisidor-mor.
            Foi esta a tolerância que Jesus pregou e exemplificou? Então o freguês tem por obrigação escolher a religião que, de acordo com a sua consciência, seja a melhor, mas se esta não for a católica – fogo nele?
            Que bela lógica! Não, monsenhor, o rev. descarrilou, pois, como ensina logo no princípio do 4º capítulo: -- “O Evangelho é a história mais verdadeira que se possa imaginar” – e, sendo assim, como é que monsenhor pode pregar o que acima cito? Não será o que Jesus previu quando disse que os tempos teriam chegado “quando a abominação da desolação estivesse no lugar que deveria ser santo?” Não é a abominação das abominações?
            Não é a Igreja que desvirtua o que ela sabe ser o mais verdadeiro? Não ensina ela só os versículos que lhe convêm, do Evangelho, escondendo aqueles que a condenam? Monsenhor não ignora que lá está a condenação da grande Babilônia e dos atos que ela praticou e pratica.
            Lá, Jesus manda: “Ide e pregai o Evangelho, curai os enfermos, ressuscitai os mortos, expeli os maus espíritos”, “dai de graça o que de graça recebeis”; e, em obediência a esse preceito, a Igreja não cura, não ressuscita, não limpa os leprosos, não liberta os possessos e vende tudo o que de graça recebe, isto é, vende aquilo que finge ter recebido. Não é verdade, monsenhor?
            O Espiritismo, seguindo os preceitos, ensina a salvação universal, mostrando um Deus cheio de bondade e misericórdia, ao passo que a Igreja ensina a condenação eterna, fazendo representante de Deus um monsenhor Miguel Martins.
            O Espiritismo prega o amor a todos sem cogitar de crenças, seitas religiosas ou nacionalidades, pois que no Além não há divisões nem limites e todos somos irmãos, filhos de um só pai. Lá, cada um sofre, ou goza, de acordo com os seus atos. Ter pertencido a esta ou àquela seita nada vale, se os sentimentos não estiverem apurados, de acordo com os ensinos que têm baixado à Terra em diversas partes do mundo e em diversas épocas, e a todos ensinando igualmente a moral que Jesus exemplificou – o amor ao próximo.
            O Espiritismo ensina, ainda, que as práticas pagãs da Igreja Católica e os seus atos exteriores nenhum valor têm perante o Criador, pois só servem para deslumbrar a vista sem atingir o coração da criatura, e que, de acordo com os ensinos de Jesus, quem quiser orar e implorar a misericórdia do Pai deve fazê-lo fechado no seu quarto e não imitar o clero que, nesse mesmo capítulo, Jesus ordena. (S. Mateus, cap. 6)
            Pregando o ódio, o desprezo e o rancor, parece-me que monsenhor terá que voltar muitas vezes ao mundo antes que salve a sua alminha. Essa intolerância pode estar muito de acordo com a Igreja, mas não com o Evangelho, onde Jesus ensina a tolerância dizendo: “Não proibais que façam curas em meu nome; pois quem não é contra vós, é por vós” – e condena aqueles que, nada fazendo, lhe chamam Senhor, Senhor. Não é verdade também isto, monsenhor?


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