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quinta-feira, 31 de março de 2011

32/50 'Crônicas Espíritas'




32CM

                V

            Pensando ter demonstrado a divindade da sua Igreja, monsenhor Martins, entrando nas lógicas conseqüências que daí advêm, diz:
            “Todo aquele que conhece a religião católica, se não procurar a ela pertencer, será um criminoso perante Deus e com toda a certeza não poderá salvar-se.” (Então estou perdido, mas antes só do que mal acompanhado). E continua: “Todos os que pertencem à igreja católica devem firmemente acreditar (se puderem) em todos os seus ensinos, mesmo em relação aos mais profundos e impenetráveis mistérios, mesmo que eles lhes pareçam absurdos, porque, se ela em um só ponto ensinasse o erro, não seria mais divina.
            Vejamos esses dois pontos.
            Monsenhor não ignora que cada criatura pensa como pode e como quer. Eu, por exemplo, nasci judeu, criei-me na religião israelita, e como os judeus eram o povo perseguido pelos católicos no tempo da minha juventude, naturalmente cresci com aversão à Igreja Católica, a qual era a instigadora dessas perseguições. Não conhecia a sua religião, e como o meu espírito nunca achou prazer em assistir a festas pomposas, não foi atraído pelas procissões carnavalescas da sua Igreja nem pelas festas às nossas senhoras onde o povo se embriaga, onde se adora o deus mamon e onde as criaturas vão levar promessas de bonecos, pernas, braços e velas de cera à Igreja, para ela, pelas costas do freguês, as mandar revender continuamente.
            Naturalmente, ao contato do mundo, cheguei a conhecer muitos dos atos e dogmas da Igreja, e agora pelo seu livrinho fui esclarecido sobre aquilo que ainda ignorava. E com toda franqueza lhe digo: eu preferiria ficar um criminoso perante Deus, a mentir à minha consciência.
            No entanto, um milagre se operou em mim, produzido por esse mesmo Jesus a quem neguei e a quem a Igreja invoca sem n’Ele crer. Por causa de um diagnóstico e um prognóstico sobre uma senhora doente em S. Paulo, a quem o médium daqui não podia conhecer e a qual foi por ele curada, li as obras de Allan Kardec e tornei-me sincero adepto do Espiritismo, um crente e venerador do Cristo e da Virgem, porém dos Espíritos e não das imagens que a Igreja explora em proveito dos seus sacerdotes.
            Quanto ao segundo ponto, já pela boca de Moisés, o Senhor proibiu a adoração das imagens. E a Igreja diz que se baseia a sua divindade no Velho e Novo Testamento! Moisés recebeu o mandamento: “Não vos virareis para os ídolos, nem farei para vós deuses de fundição: Eu sou o Senhor vosso Deus.” (Lev., 19:4), e, “Não fareis para vós ídolos, nem vos levantareis imagens de escultura, nem estátua, nem poreis pedra figurada na vossa terra para inclinar-vos a ela: porque Eu sou o Senhor, vosso Deus.” (Lev., 26:1). Nos Salmos diz David: “Confundidos sejam todos os que servem imagens de escultura, que se gloriam de ídolos.” (Salm. 97, v.7). No Evangelho ensina Jesus: “Deus é espírito e importa que os que o adoram o adorem em espírito e verdade.” (João, 4:23, 24)
            Logo, as imagens são proibidas tanto por Moisés, David e outros profetas como pelo Cristo; e para cúmulo de desfaçatez a Igreja pinta um velho barbado sobre o altar-mor, representando Deus! E assim seguem os preceitos sagrados!
            Depois vêm as indulgências. Monsenhor por acaso pode mostrar-me nas Escrituras uma só passagem sobre as quais elas se possam basear?
            Jesus claramente disse: “A cada um será dado segundo as suas obras”. “Quem com ferro fere com ferro será ferido”. “Não sairás do cárcere sem pagar o último ceitil”.
            No entanto, Roma vendia bulas a todos, e de acordo com as posses do freguês! Agora, não; mas enquanto tinha debaixo do seu guante os monarcas da Idade Média, um assassino, foragido da sua aldeia com medo das autoridades, ia ao primeiro convento que encontrava e comprava uma indulgência, a qual.
além de lhe servir de salvo-conduto, o absolvia do crime e ainda lhe dava o direito ao reino dos céus. Não é isso, monsenhor?  Semelhantes traficantes podem estar com Jesus? Não foram as bulas que deram lugar à cisão na Igreja e deram nascimento ao Calvinismo e ao Luteranismo?
            Não são já dois pontos e não somente um, em que está demonstrado que a Igreja está ensinando o erro? Confesse, monsenhor, que os dias da besta do Apocalipse estão contados?


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