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quinta-feira, 24 de março de 2011

15/50 'Crônicas Espíritas'



15CM

Meu caro padre Dubois:

Quanto ao ponto em que diz: -- “Jesus prometeu que havia de ficar junto da sua Igreja até a consumação dos séculos, e declarou que as portas do inferno (o erro) jamais prevaleceriam contra ela, Igreja que, segundo S. Pedro, Jesus tanto amava e por ela havia derramado o seu sangue”, também, em termos, padre Dubois.
Em primeiro lugar, Jesus não disse que havia de ficar com a sua igreja até a consumação dos séculos, e sim, como consta no Evangelho, S. Mateus, 28:20: -- “Ensinai a todas as nações a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco até a consumação dos séculos.”
Portanto, Jesus prometeu estar com os apóstolos e conseqüentemente com aqueles que, como os apóstolos, guardassem (cumprissem) os seus mandamentos.
Dos seus mandamentos não consta que aqueles que não aceitassem os seus ensinos fossem perseguidos e queimados na fogueira, como fez a Igreja; pelo contrário, quando os samaritanos não quiseram receber Jesus, Tiago e João, indignados, perguntaram-lhe se deviam fazer descer fogo do céu para queimá-los, pelo que Jesus os repreendeu (Lucas, 9:52-56). Portanto, a Igreja não guardou os mandamentos e naturalmente Jesus não estava com ela. Não é lógico isso? E assim não foi também à Igreja Católica que Jesus se referia quando disse: -- “E também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, mesmo porque Jesus não podia pactuar com as barbaridades por ela cometidas. Para que o amigo refresque a memória, citar-lhe-ei algumas passagens da “História dos Papas”, 
e o amigo, espero, me dirá quem tem razão.

“Sob Estevão IV o furor chegou ao maior extremo; o clero dividiu-se em facções e o papa foi eleito no meio de horrorosa carnificina: o pontífice, em seguida à sua vitória, mandou arrancar os olhos e a língua ao seu antecessor.

“Pascal I, com uma audácia criminosa, mandou arrancar os olhos e cortar a cabeça, no palácio de Latrão, a Teodomir, primaceiro da Igreja Romana, e a Leão, seu genro, por se terem conservado fiéis a Lotário.

“Sérgio, cognominado Focinho de Porco, fazia publicamente o tráfico dos sacramentos e de todos os cargos da Igreja.

“Leão V teve o descaramento de garantir aos bispos a impunidade dos maiores crimes.

“Depois da morte de Leão IV, uma mulher sentou-se na cadeira de S. Pedro, celebrando missas, criando bispos, dando pés a beijar aos príncipes e
ao povo: a papisa Joana, que no segundo ano do seu pontificado ficou grávida, 
graças aos amores com um cardeal, e morreu de parto, 
no meio de uma cerimônia religiosa, na praça pública.

“Gregório V mandou cortar os pés, a língua e as orelhas de João VII 
e de Crescêncio, e passeá-los, assim mutilados, pelas ruas de Roma.

“Benedito VIII foi elevado a papa na idade de 12 anos, pela intriga e o ouro do Conde de Toscanela; cedo se entregou aos mais vergonhosos excessos de depravação e deboche. Os romanos, fatigados de tanta imoralidade, expulsaram-no de Roma e nomearam outro papa, Silvestre III. Benedito tornou a apossar-se do papado, mas vendo-se objeto de ódio universal e, prevendo uma nova queda, vendeu a Santa Sé e consagrou um terceiro papa, chamado João XX e, finalmente, tornou pela terceira vez a apossar-se do papado. Por fim os três papas resolveram dividir entre si os rendimentos da Igreja e reinaram um em S. Pedro, outro em Santa Maria Maior e o terceiro no Palácio de Latrão.

Daí em diante os escândalos se foram avolumando até atingir a altura suprema no pontificado de Rodrigo Bórgia, cuja história o amigo por certo conhece, 
e que é indecente demais para ser aqui publicada.

Se, porém, a Igreja de Roma se transviou da senda do bem e da moral de Jesus, não creia, meu amigo, que a igreja de Jesus desaparecesse do mundo. Não, ela está em toda parte onde pulsa um coração compassivo, onde corre uma lágrima derramada por causa de uma dor alheia, onde se mata a fome de um faminto, onde se veste um esfarrapado, enfim, onde um coração bate cheio de amor pelo seu próximo, 
sem distinção de crenças ou cultos exteriores.

Se a Igreja de Roma não soube ser digna da missão que lhe foi concedida, nem por isso deixou o Evangelho de Jesus de produzir seus efeitos salutares em multidões de almas simples que resistiram à bacanal do clero romano e alcançaram por isso mesmo o prêmio da felicidade nas moradas preparadas pelo Senhor.

O engano do amigo está justamente em supor que a igreja de Jesus é o papado e o que daí emana, enquanto ela está onde se pratica o bem, e Jesus o ensinou logo no princípio da sua missão, quando proferiu as palavras “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, e irmã e mãe”.



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