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quarta-feira, 23 de março de 2011

13/50 'Crônicas Espíritas'




13CM

Meu caro padre Dubois:

Quanto ao ponto em que diz: “Não se pode tratar de um objeto qualquer sem primeiro defini-lo. Que é o dogma? É uma realidade revelada por Deus, a qual não pode ser conhecida nem pela Ciência, nem pela razão humana ou raciocínio...
            Se nos aparecer um anjo e nos revelar um dogma, sem possuir meios, quer científicos, quer racionais, com os quais nos torne conhecida a verdade que o dogma encerra, ninguém de bom senso poderá crer que o dogma referido seja verdadeiro, seja a expressão de uma realidade”, parece ser o amigo mais um padre do que um simples crente. De um lado prega que se deve crer, ainda que seja um absurdo, desde que seja ensino da Igreja, e do outro lado: que não se creia sem que as provas sejam cientificamente provadas.
            O amigo já conheceu alguém que falasse com Deus, cara a cara, e assistisse às revelações dos dogmas? Qual é a prova provada que o amigo tem de que Deus pessoalmente revelou uma coisa qualquer a quem quer que seja? Tenha paciência, responda-me na sua primeira carta a estas duas perguntas, e se me der uma demonstração insofismável de que os dogmas foram revelados pessoalmente por Deus à sua Igreja, 
então, publicamente, darei as mãos à palmatória.
            Provas dei-lhas eu, quando em 5 de Maio escrevi que fulano, que se acha louco no Hospício, ficaria curado dentro de 3 semanas, como de fato ficou; mas isto nada valeu para o amigo; se, no entanto o amigo crê nos disparates acima citados dou-lhe os parabéns.
            Não é assim, meu caro padre Dubois, não é para crer num absurdo ensinado por qualquer padre Dubois que Deus deu o precioso dom da razão no homem e sim para que ele faça uso dela. Se o homem abdica do uso da razão, seja em que matéria for, coloca-se ao nível de um quadrúpede bem atrasado, pois os cavalos de Erbefeld, por exemplo, já raciocinam, fazendo cálculos, que muito homem é incapaz de realizar.
            Use da razão e deixe de lado o que a Igreja lhe ensina, pesquise e veja se ela recebeu alguma revelação. Tudo isso não passa de tal fábula, do rei que pensava estar vestido, até que uma criança gritou: olhem que o rei está nu!
            Leia e estude o Evangelho e, se o estudar com o simples desejo de conhecer a verdade que ele encerra, fatalmente há de descobrir que 
todos os atos da Igreja são nele condenados.
            É sobre o Evangelho que repousa a Doutrina Espírita. É nas suas páginas que encontramos alento para a nossa jornada, conforto para as nossas mágoas e a força necessária por Jesus prometida aos que procuram cumprir o seu dever.
            Jesus não instituiu igrejas de pedra nem altares com velas acesas (isto vem do paganismo), nem santos, nem velhos barbados representando Deus: pelo contrário, tudo isto está condenado no seu Evangelho. Também não mandou que se pagassem preces aos padres, mas, sim, que a criatura, quando quisesse orar, se encerrasse no seu aposento e aí orasse em segredo. Pedro foi um pescador; 
nunca pretendeu ser mais do que os outros apóstolos; 
pelo contrário, Pedro foi a eles subordinado, como consta nos “Atos dos Apóstolos”.
            Jesus erigiu a sua igreja sobre a fé que Pedro possuía. E a Igreja, no seu tempo, era a comunhão de crentes e não a comunhão dos padres que vivem à custa dos crentes. O meu amigo por certo não pensou ainda nestas coisas, mas fique certo de que já é tempo de pensar, como é tempo de todos pensarem e procurarem fazer obra de penitência, pois que o machado está posto à raiz da árvore e 
aquela que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.
            E se o amigo é um pouco observador, não pode deixar de ver que o fogo está aceso; pois, por toda parte, só se vêem os frutos da dor, e a dor que os nossos olhos não vêem é ainda mais intensa, requeimando com o remorso as consciências no Além.
            Já lhe disse e repito: nós não temos propriamente dogmas, como insiste em afirmar o amigo. Das revelações que de além-túmulo os Espíritos nos fazem, aceitamos aquilo que a nossa razão sanciona. Ninguém nos diz “crê ou morre” como no tempo da Inquisição o fazia a Igreja, mas o que é certo é que a morte não existe, e que os Espíritos (almas) não estão circunscritos a habitar um inferno, um purgatório ou um céu limitado como ensina a Igreja e, sim, que cada um tem o céu ou o inferno dentro de si mesmo, de acordo com as suas obras e não de acordo com a quantidade de missas que por ele são rezadas, as quais não podem modificar esse estado, como certo é que os Espíritos se comunicam com os encarnados. 

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